O Preço do Magic
Ou como pouco a pouco a Wizards of the Coast transforma o Magic físico em um hobby cada vez mais caro
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06/08/2020 10:05 - 11.987 visualizações - 151 comentários
"Esse produto não é pra você."

Essa frase ficou estranhamente familiar nos últimos anos. Vários e vários lançamentos de produtos em que os desenvolvedores do jogo vêm dizendo a mesma coisa para os jogadores. 
 
Primeiro foi Ultimate Masters, uma coleção que trouxe muitos reprints necessários em vários formatos como Modern e Legacy, mas que possuía uma faixa de preço absurdamente acima do normal para uma coleção Masters. Depois vieram os Collector Boosters, que além de tudo possuíam cartas com legalidade no formato padrão e não poderiam ser achadas nos boosters normais das coleções. Em seguida, os Secret Lair, que além de caríssimos ainda têm problemas muito sérios em relação a distribuição e qualidade. 
 
Double Masters não foi o primeiro, e provavelmente não será o último dos produtos dessa linha, mas o modo como essa coleção fez isso, deixou os jogadores realmente em alerta dessa vez. E a resposta da Wizards of the Coast às reações da comunidade ao invés de tranquilizar, só deixaram as coisas ainda piores…
 
 
1 - Modern Masters e o MSRP
 
 
 
 
Até o lançamento de Guerra da Centelha, no começo do ano passado, a Wizards tabelava o preço dos seus produtos, assim vocês sabiam mais ou menos quanto um produto poderia variar de preço (já que no Brasil nós precisamos fazer conta com câmbio, impostos que variam de lugar pra lugar, etc.), o que ela chamava de MSRP, sigla em inglês para Preço Sugerido pelo Fabricante para Venda no Varejo. Mas porquê a WotC parou com essa prática?
 
A história remonta à primeira coleção da série Masters. Modern Masters estreou em 2013 e tinha como objetivo aumentar a oferta no mercado de cartas, conhecidas por ver jogo no formato Moderno, que precisavam de um reprint. Tarmogoyf, AEther Vial, Dark Confidant, Manamorfose, entre outras foram escolhidas para serem reimpressas nessa coleção histórica que deveria ser vendida nas lojas a USD $6,99 por pacote. Esse preço por si só já é algo diferente, já que até ali o booster das coleções normais custava USD $3,99 (como custa até hoje). Além disso, a caixa da coleção só tinha 24 pacotes, ao contrário das outras que normalmente tinham 36. Mas OK, Modern Masters era diferente das outras.
 
O que provavelmente a gente não sabia era que a coleção fosse ser feita numa quantidade limitadíssima de vezes, assim ficou quase impossível que esse material chegasse até todos os lojistas, e os que tinham, vendiam seus produtos quase que imediatamente. E todos nós sabemos que quando existe pouca oferta e muita demanda, o preço sobe. E foi isso mesmo que aconteceu, as poucas lojas que tinham o produto, vendiam a um preço mais alto porque só elas tinham, e mesmo assim vendiam. 
 
Passada a experiência de Modern Masters, os jogadores ficaram com um gostinho de quero mais. Várias staples baixaram de preço e a coleção tinha um valor esperado que costumeiramente se pagava. A esperança é que a Wizards visse o sucesso da coleção e fizesse mais experiências como aquela e em maior volume, evitando o problema do sobrepreço, mas a verdade é que o feedback que a empresa parece ter recebido da situação foi “Quer dizer que se o produto fica mais caro as pessoas compram mesmo assim?”
 
 
2 - SECRET LAIR: ULTIMATE EDITION
 
 
 
 
Depois de sucessivas falhas com a série Masters, Ultimate Masters veio pra colocar ela em hiato, mas mesmo ela já tinha um preço consideravelmente alto, mesmo ainda possuindo MSRP. A questão é que sem a série, os jogadores começaram a se perguntar qual seria, então, o próximo produto que a Wizards usaria para reimprimir cartas. Com o lançamento de várias coleções T2 que se passavam em Ravnica, os Guild Kits nos trouxeram alguns bons reprints, mas eles não poderiam ser feitos todos os anos, já que não haveria espaço para eles em um formato Padrão que não estivesse em Ravnica. A coleção de Commander costuma nos trazer bons reprints, mas eles precisam ser focados na gameplay dos decks, o que ficaria difícil ao tentar enfiar reimpressões ao lero.
 
Então a Wizards trouxe Secret Lair. Um produto que trazia artes exclusivas de cartas icônicas do jogo, mas com um preço bem salgado, e com uma distribuição extremamente limitada, além da dificuldade que era conseguir comprar o produto. A princípio Secret Lair nos parecia apenas um produto para colecionadores até que aparece a ULTIMATE EDITION. A desenvolvedora do jogo trás um produto com 5 fetchlands, uma de cada inimiga, e diz em seu anúncio oficial, que ele deve custar “um pouco mais que 165 dólares”. Isso significava que ele custaria bem menos do que de fato comprá-las no mercado secundário (na época o valor se aproximava de 250 dólares). Seria esse o tão esperado reprint das fetchlands depois de anos?
 
Então o que tivemos foram lojas vendendo o produto por cerca de 400 dólares. É isso. Não tem o que falar. E esgotou. Porque se você queria aquelas Fetchlands você precisava desembolsar aquele valor. Esse já foi um sinal de alerta do que estava para acontecer. A Wizards cada vez mais nos dizia que se quiséssemos jogar com as cartas físicas, cada vez mais precisaríamos gastar mais e mais dinheiro, e nós cegos não víamos os sinais, bem na nossa frente. 
 
 
3 - Double Masters
 
 
 
 
Double Masters foi nosso alerta vermelho. Com o fim do MSRP, conseguimos ver boosters saindo na Amazon a 16 dólares. E a caixa com 24 pacotes custando mais de 300 dólares. A comunidade tentou reagir e falar como a Wizards estava dando um tiro no pé ao simplesmente focar nas chamadas “baleias” (jogadores que gastam quantidades imensas de dinheiro com o jogo) e simplesmente impedir que os jogadores comuns tivessem acesso à coleção. E quando questionados, sua resposta foi simplesmente “sabemos que é chato não ter acesso aos produtos, mas como vamos fazer produtos pra vocês e não magoar esses jogadores mais ricos?”. Sim. A resposta da empresa foi dizer que se os produtos fossem acessíveis, o pessoal que tem mais dinheiro ficaria chateado por não haver nada pra eles. Como se o fato de eles gastarem muito dinheiro com o jogo os impedisse de comprar qualquer coisa que custe menos de dez dólares. 
 
Ninguém acha ruim que a empresa faça produtos mais caros e que tenham como público alvo jogadores mais abastados, mas isso deveria ser feito quando todo o resto da base de jogadores já possui acesso às peças necessárias para o jogo. Quer fazer um Raio com uma arte exclusivíssima e que só pode ser encontrado num produto caríssimo?! Ok. Mas antes garanta que existam versões de Raio que qualquer um que precise da carta possa encontrar e comprar.
 
Até a próxima!
Comentários
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- 11/08/2020 13:11:16

Também tô só nos Unbox do Youtube jkkkkk.

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- 11/08/2020 12:49:34

Podcre, acho perfeitamente normal a empresa querer variar os produtos e aí msm tempo avaliar o que funciona ou não e a maioria dessas inovações ambiciosas já tava preparadas antes da pandemia e pegou todo mundo de surpresa. Eu não vou abrir nenhum booster fico só assistindo na internet rsrs

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- 11/08/2020 11:33:36
A wizard está cada vez mais querendo trazer relevância para seus produtos lacrados, só ver essa estratégia dos boosters novos de zendikar que tem um "tema", jumpstart também tem essa filosofia. O mercado secundário é necessário e deve continuar, mas com esse flood de reprints, possivelmente diminua o preço.
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- 11/08/2020 11:31:21
A galera que tá reclamando é a galera que quer abrir box. O caro da coleção são os cards premium o resto tá jorrando a mais no mercado. As peças do jogo estão vindo alimentar acessibilidade. O momento não é oportuno devido a crise mas o mercado vai floodar de qlqr jeito
(Quote)
- 11/08/2020 11:13:34

Obrigado pela correção, isso mesmo que quis dizer, acessibilidade traz mais jogadores para o hobby, permitindo um ambiente mais diverso e saudável.

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