Mais que números, vidas
Decisões envolvendo a política da Wizards em relação a cartas consideradas racistas e/ou ofensivas.
Por
18/06/2020 10:05 - 5.566 visualizações - 29 comentários
Não é a primeira vez que eu escrevo sobre o tema inclusão.
 
Já falei sobre o tema outra vez no meu artigo “Magic precisa ser para todos”. Mas, toquei num ponto mais relacionado ao acesso ao jogo (ainda acredito em quase tudo o que falei ali), do que em como o jogo e a empresa por trás dele deveriam se conectar mais com seus jogadores. 
 
“MAS MIGUEL ISSO É MÓR BOBAGEM PRA QUE ISSO, VAI QUERER SER LACRADOR AGORA?” - Como estudante de publicidade, te garanto que o mínimo que isso vai gerar, é mais dinheiro para a Wizards. Mas possui um potencial de gerar muito mais.
 
A Wizards of the Coast decidiu tirar do Gatherer e banir de todos os formatos sancionados cartas com nomes, artes e/ou temáticas racistas, sendo elas Invoke Prejudice, Cleanse, Stone-Throwing Devils, Ciganos de Pradesh, Jihad, Imprison e Crusade.  (Não marcaremos as cartas por motivos óbvios)
 
Cada uma foi banida por um motivo histórico e social diferente, e o Rafael Seiz do canal Formato For Fun ( que é  licenciado e bacharel em História pela UFSC) fez um vídeo excelente explicando o motivo de cada uma delas terem entrado nessa lista. Conversei com o mesmo sobre o problema do racismo e do preconceito no Magic, e decidi trazer parte disso para um artigo. (Menção honrosa para a Beturba que também é historiadora, mas infelizmente estava ocupada).
 
Primeira coisa que perguntei ao Seiz foi se ele achava que o banimento das cartas tinha sido a melhor solução para o problema. Ele me respondeu, e eu me vejo obrigado a concordar com ele, que na verdade:
 
"Isso nem ao menos pode ser considerado uma solução. Banir cartas consideradas de tom racista é apenas reconhecer o erro que foi cometido, mas com um atraso de 20 anos. Se servir para melhorar a postura da empresa diante da questão, terá sido um ótimo primeiro passo, se ela voltar a fechar os olhos para o racismo no seu jogo então de nada terá adiantado."
 
Depois questionei se ele via alguma outra forma de discriminação dentro do jogo que não fossem as cartas. Não sabia dizer se havia algum elemento que pudesse existir, visto que o jogo é um 'cardgame', mas talvez ele pudesse ressaltar algo que eu não enxergava, mas segundo ele, não havia: 
 
"O principal elemento do jogo são as cartas e, provavelmente, é onde o jogo vai expressar qualquer discriminação que ele possa ter." - Seiz mencionou também o preço das cartas, mas disse também que isso é outro problema, e não quis entrar na questão.  
 
Aqui, eu entrarei na questão para elucidar: Como a parcela mais pobre da população é composta em sua maioria, por mais pessoas de pele preta, acredito que um problema na verdade cause o outro. É uma questão de segregação e estrutura da sociedade. É interessante pensar nesse ponto, de que um jogo de cartas e suas cartas caras ajudam a promover um tipo de segregação dentro da comunidade - não só racial, mas o jogo é elitista - e pessoalmente eu nunca havia pensado nisso antes de escrever este artigo.
 
Por fim, questionei o Rafael sobre possíveis soluções para o problema e novamente me vi concordando com sua resposta. Segundo ele:
 
"Não há uma fórmula mágica para resolver a questão. O importante é aprender com os erros do passado, identificá-los e ouvir as vozes oprimidas. Não só se gabar de poucos colaboradores negros, mas mudar sua postura interna, assim como o artigo de Zaiem Beg levanta, começar a contratar desenvolvedores, artistas, produtores de várias etnias diferentes para compor a sua staff e parar de tratá-los de forma diferenciada."
 
Acredito que a lição final aqui é que, nós temos que Ouvir e Educar. Prestar atenção nas atitudes. No final, os jogadores não podem ser tratados como apenas números e fontes de renda pela empresa que produz o jogo. 
 
Ao fim de tudo, por trás de todas as cartinhas, há uma comunidade, há sempre uma pessoa. Igual a mim, igual a você. Mais que um número, uma vida.

Assim como a Wizards, a LigaMagic também removeu as imagens das cartas de sua busca e está estudando a alteração em algumas ferramentas para diminuir a exibição destas cartas.
Comentários
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- 23/06/2020 19:54:07

Carrma pessoal, pra mim se MTG fosse impresso no Brasil tb seria ótimo. Só falta convencer quem realmente importa: a diretoria da Wizards™, bora lá mandar e-mail pro Mark Rosewater. Foi só em meados de 2010 que eles contrataram uma segunda gráfica nos EUA, fora da Bélgica.E dizem que essa gráfica americana é a que massacrou a qualidade das cartas.

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- 23/06/2020 16:40:03

Mas como ficou claro com a situação da Terese Nielsen, quebrar laços produtivos de mais de 20 anos por nenhum motivo pertinente pro jogo e de tabela reduzir a qualidade do mesmo é algo que a Wizards não vê problema em fazer.

Pau na impressora!

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- 23/06/2020 15:57:33

20 anos e daí? Tudo que ta atrasado tem que se atualizar.. 20 anos e os cards estão uma bosta - ou pelo menos, numa qualidade que não tem ARGUMENTO pra dizer que a COPAG não tem como fazer cards com a mesma qualidade. Fui lá agora, peguei um de cada, fiz os mesmos testes.. passa em tudo.. (dobra, espessura, toque, etc) Como tu falou, tem aquele aspecto mais plastificado no COPAG, mas é infinitamente melhor que algumas cards hoje em dia que vem com a sensação de serem de folha sulfite.. (aliás, ta aí outro ponto, os cards não tem continuidade na qualidade mais.. na mesma edição o feeling que eu tenho é diferente a depender do card).

Lembrando que nesse tempo o custo do booter não mudou, foi o real que perdeu valor..
Mas não adianta falar em bons tempos - eu me lembro do dolar a 1,50 e o estrago que eu fiz no meu cartão internacional na época. Galera não sabe votar, elegeram um louco que arregaçou a balança de vez - e sim, considerando a pandemia, ainda assim é o pior governo a passar pela crise.

O pack à $4 não é uma restrição de produção.. é papel impresso, poderia ser vendido à $1.. e nem vamos entrar na discussão de como a empresa explora, pois esses produtos "collector" aí é a prova disso. Sendo produzido aqui, o valor do pack poderia ser adequado aos valores regionais. Isso não quer dizer que o booter sairia a 4 reais, mas poderia facilmente ficar nos 12 pila de antigamente..

E só estamos falando de valores.. tem mais coisa envolvida, como já comentei.

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- 23/06/2020 13:12:58

Eles iriam quebrar laços de mais de 20 anos com a impressora. Depois tentar firmar contratos de licenciamento com cada país individualmente. E cada gráfica teria uma diferença na qualidade e características do papel (se a Copag produzisse MTG aqui, as cartas iam sair com uma textura plástica)

(Quote)
- 23/06/2020 12:31:22

Não é jogar tudo na culpa do imposto, mas só a taxa de conversão do dolar, pura, sem imposto nenhum, já impediria de a box custar menos de 500 reais, sem contar custos de logistica e etc. Temos que entender que a nossa moeda é desvalorizada no cambio com o dolar. Quando eu comecei, 20 reais comprava dois boosters e hoje não compra meio, dependendo da loja. O Brasil enquanto país é um caso a parte, até produtos produzidos aqui saem com um custo muito alto e no caso de Magic, teria que reproduzir a fábrica de magic da Belgica aqui no Brasil, para manter a qualidade (mesmo que essa qualidade tenha caído).

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