Olá WebWalkers! Depois de um pequeno intervalo, eu Felipe Bracco, estou de volta! Bom, no meu artigo A importância do Gathering um rapaz chamado Diego Martins Cunha entrou em contato comigo sobre um projeto que ele estava aplicando na escola onde trabalha, o Magic do Futuro, o qual leva MTG para os estudantes. Desde então mantivemos contato e parceria e é dele que vamos falar hoje neste artigo e realizei também uma entrevista com o Diego a qual será intercalada com minhas colocações.

Tudo começou em novembro do ano passado (2015), quando ele teve a ideia de aplicar o Magic: the Gathering como uma oficina de atividades extras para as crianças da Escola Municipal Professora Margarida Rosa Marques Galvão, na cidade de São Gonçalo/RJ. Essas oficinas fazem parte do Programa Mais Educação**, um sistema que proporciona às escolas públicas de ensino fundamental atividades educativas em tempo integral que expandem o tempo diário de escola para o mínimo de sete horas:

O que te motivou a levar o MTG para escola?

“Dou aula na oficina de Matemática e a escola possui jogos como xadrez, jogo de damas, bingo, jogo da velha, uno e outros joguinhos de tabuleiro ou educativos para serem utilizados em algumas oficinas caso o professor deseje, porém nenhum jogo despertava o interesse das crianças. Então, comecei a pensar na utilização do Magic. Ao ver a dificuldade em cálculos e leitura que as crianças possuem, percebi que o MTG ajudaria e muito nesse sentido e não só na leitura e cálculos, como também na interatividade entre elas.”

Após objetivos firmados, foi hora de colocá-los em prática:

Qual foi a recepção inicial dos estudantes com o jogo? (pré impressões)

“Todos ficaram curiosos com o jogo e gostaram muito das ilustrações das cartas, querendo saber mais sobre as cartinhas e aprender logo para começar a jogar. Após saberem que aos poucos eu daria um baralho para cada um, o entusiasmo cresceu mais ainda, tornando o Magic um sucesso entre a criançada!”

Como foi a adaptação ao jogo, como ele se estabilizou entre as crianças? (pós impressões)

“De início, foi muito difícil. Ensinar a um adulto provavelmente seja mais fácil, talvez ensinar a uma criança seja até fácil, mas ensinar a uma sala inteira de crianças querendo aprender o mais rápido possível se tornou um caos no início: milhares de perguntas por minuto. Mas com muita paciência, aos poucos as crianças foram aprendendo... Muitas dúvidas tinham que ser tiradas várias vezes, às vezes a mesma dúvida retornava em dias diferentes, inclusive com as mesmas crianças, mas com o tempo isso foi diminuindo... Os alunos que aprenderam mais rapidamente passaram a ajudar os que ainda não tinham aprendido e aos poucos todas as crianças foram aprendendo.“

De novembro às férias não demorou muito e a oficina teve um pequeno intervalo. O que por um lado possibilitou ao Diogo formatar e refletir sobre sua ideia e consolidá-la de vez, até que em abril ela retornou com força total:

Quando e como você decidiu transformar essa oficina em um projeto? Por que o nome escolhido?

 “Percebi a necessidade de aumentar o alcance das atividades com Magic e conversei com amigos que também estimularam a ideia. Amigos que junto comigo enxergaram o potencial desse jogo em melhorar a aprendizagem das crianças para muito além da matemática. Fiquei fascinado com o interesse das crianças pelo jogo que eu comecei a jogar há quase 20 anos atrás e hoje elas jogam com a mesma empolgação que eu tinha quando criança. "Magic do Futuro" foi um nome que veio desse sentimento e da ideia de que, quem sabe, uma delas daqui a 20 anos possa estar ensinando a futuras gerações?”

Nasceu a página do Facebook, foi feita a divulgação e centenas de pessoas passaram a entrar em contato para elogiar o projeto e oferecer espontaneamente seus cards até então parados em caixas de sapatos. Mas como até flores têm espinhos:

Quais foram as maiores dificuldades até agora?

“Além da dificuldade no ensino de tanta criança ao mesmo tempo, outra dificuldade foi na distribuição de cartas: conseguir cartas suficientes para fazer um baralho para cada uma das muitas crianças não tem sido fácil, acabo tendo que revezar os decks entre as crianças que não possuem ainda.”

    Apertou aqui, ajeitou ali e contornou a incompreensão de algumas pessoas até que ganhou amplo apoio da direção da Escola, e também começaram a vir os ganhos em relação ao objetivo do projeto:

Quais as maiores conquistas até agora?
 

“Além da felicidade das crianças que estão aprendendo enquanto brincam, as principais conquistas têm sido na prática da leitura, de cálculos e a melhora na interatividade delas... Algo que tem me deixado muito feliz tem sido ver algumas crianças que odiavam ler seja em público ou sozinhas, que costumavam ler somente o que era obrigatório e muitas vezes nem assim liam muito, hoje, sem timidez, lendo cada carta que o adversário utiliza no jogo, lendo cada carta que compram para saber se irão jogar e em certos momentos lendo até o “flavor text” das cartas, mostrando aos amigos que aquela carta tem uma “historinha”... De tanto jogarem e de tanto ficarem lendo as próprias cartas e cartas de cada adversário (e são muitos adversários diferentes por serem muitas crianças) as crianças acabam praticando e muito a leitura... “

Como você vê o MTG e o seu projeto influenciando a vida dos estudantes?

“Ver que crianças que não eram muito enturmadas na sala de aula começam a andar com todas as crianças por perto enquanto jogam, são convidadas a duelar, conversam sobre cartas, ficam sempre por perto enquanto assistem ou jogam com outras crianças que talvez nem conversassem antes, tem sido algo muito positivo! O aperfeiçoamento da leitura é outro ponto que certamente ajudará em todos os sentidos da vida desta criança, afinal fazer uma prova da disciplina que for, sem conseguir ler com perfeição ou demorando muito para ler cada palavra, errando a leitura da maioria delas, faria com que qualquer criança acabe indo mal em muitas provas.”

    O Diego atualmente já até realizou uma reunião com a Secretária de Educação e todos amaram o projeto, com possível oportunidade de apresentá-lo na Secretária Nacional de Educação em Brasília! Muitas conquistas! Muitas vitórias e que assim continue caminhando!

    Mas não pensem que eu me esqueci de perguntar sobre nós, a comunidade MTG, e o perfil dele de jogador, afinal é o jogo que nos uniu nessa caminhada e que agora une as crianças atingidas pelo Magic do Futuro:

Como e quando você conheceu o MTG?

“Em 1997, através de um primo que apresentou o Magic ao nosso grupo de RPG”

Como você vê a comunidade do MTG em relação ao seu projeto?

“Tenho recebido muitas mensagens de apoio de muitos jogadores, perguntando sobre o projeto e parabenizando esta iniciativa!“

O que o MTG significa para você? Qual sua carta e cor preferida?

“O Magic, assim como o RPG, significou muito em minha infância, pois estimulou e muito a minha imaginação se tornando um dos meus passatempos preferidos. Me fez aprimorar a leitura através das cartas de Magic e livros de RPG, hoje em dia não costumava jogar Magic com tanta frequência por falta de tempo e companheiros para jogar, mas isso não diminuiu a minha paixão pelo jogo, ensinei minha esposa a jogar e hoje em dia ela é a minha adversária favorita! 

Não sei se tenho uma carta preferida, tenho utilizado baralhos Golgari na maior parte do tempo, talvez a Vraska, a Oculta seja uma das que mais gosto, mas antigamente gostava muito de ficar anulando tudo com meus decks azuis.”

Tenho certeza que muitos de nós criamos uma significação particular com o MTG, e fico extremamente grato em ver cada vez mais gente explorando possibilidades mil por trás do Magic. Então por fim, já que comentamos sobre presente e passado, melhor dar jus ao nome batizado na última pergunta da entrevista:

Quais objetivos para o futuro? O que você anseia?

“Nas atividades onde trabalho, planejo que em breve todas as crianças tenham o próprio deck e conforme esteja ao meu alcance, que todas as crianças tenham seus decks reforçados e possuam cartas suficientes para montarem elas mesmas seus próprios decks, acredito que a criação de decks é uma parte importante do jogo que estimula muito o raciocínio das crianças na percepção de quais cartas encaixariam com cada carta e quais tipos e custos de cartas estariam precisando.

E quanto ao Magic do Futuro em geral, tenho o objetivo de expandir o projeto: Ando mantendo contato com profissionais de escolas e cursos de outros estados, visando ajudar a iniciarem o projeto em outros locais, quem sabe não teremos outras escolas ou cursos utilizando o Magic em suas atividades? Seria extraordinário saber que outras crianças se beneficiariam através do Magic. Dependendo da distância que a escola esteja, eu poderia ajudar pessoalmente ou se não for possível, ajudaria à distância mesmo!”

Conversando com o Diogo via internet, uma de suas frases que mais me marcou foi “posso ver que o gosto pelo jogo ainda segue em algumas crianças, algumas estão com as cartinhas sujas de tanto jogar pelo chão, nos quintais ou ruas de onde moram”. Quem nunca, não é mesmo?!

E após entrevistar essa pessoa sensacional e vir acompanhando o Magic do Futuro desde fevereiro, só tenho a desejar todo sucesso do mundo e continuar oferecendo minhas habilidades no que puder ajudar! 

Em relação à Oficina, atualmente ela funciona na escola de terças e quintas das 9:30 às 15:00h, e está atendendo crianças de 10 à 13 anos de idade. Caso queira entrar em contato com o Diogo deixo novamente o link da página aqui, e para entrar em contato comigo, só me mandar uma mensagem :) quem sabe sua idéia/projeto não é a próxima a ser entrevistada.
 

Comentários são sempre muito bem vindos!

Abraços, e até mais!

**O Programa Mais Educação é coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Sua operacionalização é feita por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).