Olá!
Recentemente estava analisando o atual Standard com Battle for Zendikar, vendo decklists e a “cronologia” do formato desde o seu lançamento, pensando em novas ideias e possibilidades para “tunar” os decks que venho utilizando. Mas não precisa acompanhar muito para perceber que um dos decks sensação do Pro Tour, o Jeskai Black, deu uma sumida das primeiras posições dos últimos torneios. Esse fenômeno levou a uma reflexão com alguns colegas de treino – e uma das conclusões era que “coincidentemente” esse era o único dentre os principais decks justos (exceto Rally/Eldrazi Ramp e Atarka Red - por causa do Combo) que não estava utilizando Shambling Vent. Claro que por causa de sua óbvia restrição de ter que usar Battle Lands + Básicos para ter a mana perfeita, mas esse era um fator que realmente impactou a forma como o baralho interage com o restante do formato.
Todas as variações de Esper que pipocaram (Dragons, Control sem Dragons, Tokens, Mentor), Abzan Aggro com sua esmagadora dominância e até novos decks como o Mardu do Tulio Jaudy que venceu um PTQ no Magic Online, todo usam Shambling Vent, tanto que é atualmente o 12° card mais jogado nas decklists das principais competições Standard, ficando atrás somente das 5 Fetches, 4 das Battlelands e os sempre presentes Hangarback Walker e Gideon, Ally of Zendikar (segundo as estatísticas do MtgTop8).
À época de seu spoiler injustamente criticada por alguns baseados em inúmeros motivos, taxada até como a pior manland desde Lavaclaw Reaches. Quais fatores poderiam ter levado-a uma presença tão marcante no Standard competitivo?
Antes de qualquer coisa, vamos nos aprofundar um pouquinho nas “Man Lands” na história do Magic. O termo é utilizado para os terrenos cuja habilidade é de se transformar em criaturas, e elas sempre foram figurinhas carimbadas nesse álbum de competições.
As Man Lands tiveram várias caras durante essas duas décadas de Magic. Desde os primórdios com Mishra's Factory e Stalking Stones, passando pelo ciclo de Worldwake (Raging Ravine, Celestial Colonnade, Lavaclaw Reaches, Stirring Wildwood e Creeping Tar Pit), até chegar no ciclo atual, com Shambling Vent e Lumbering Falls.
Mas afinal, por que são tão fortes? Vários motivos. Um dos principais é que as man lands permitem você “cheatar” a contagem de terrenos nos seus decks. Vejamos o Abzan Aggro no atual Standard. Por se tratar de um deck Aggro, que precisa abrir com uma curva rápida, e não pode correr o risco de “floodar” para conseguir manter pressão no oponente depois dele estabilizar o começo, o ideal seria utilizar uma quantidade baixa de terrenos, algo como 23 ou 24 no máximo. Mas sabemos que essa quantidade nem sempre vai garantir aquele Siege Rhino, Gideon e principalmente Wingmate Roc no turno certo. A solução seria então utilizar uma quantidade maior, mas aí entra a variância e o que fazer quando o deck floodar comprando 6, 7 terrenos num jogo se utilizar 25, 26?
Aí que entram as Manlands. Utilizando-se de Shambling Vent, o Abzan consegue subir a quantidade de terrenos no seu deck para 26, aumentando em muito a chance de castar seus drops 4/5 em curva, ao mesmo tempo em que mitiga a chance de ficar sem ação nos turnos posteriores, atacando com os terrenos extras. Como bônus, ainda fixa duas cores de mana importantes para um deck com várias spells intensivas na mana, como Anafenza, the Foremost turno 3, Gideon, Ally of Zendikar duplo branco e outras.
O princípio também pode ser aplicado para os outros decks, que colocaram Wingmate Roc mais tranquilamente, vide Esper Tokens. Já no Esper Dragons/Control, Vent faz com que o deck consiga chegar a 27 terrenos para cumprir os requisitos de suas mágicas pesadas, sem se preocupar tanto em floodar no late game além de corrigir a mana para Utter End/Crux of Fate. Nos controls, as manlands podem ser utilizadas como Kill Condition depois de estabilizar a mesa e controlar com Jace, Telepath Unbound e Dig Through Time, no caso de Shambling Vent, também recupera a vida para fugir da zona de alcance do outro deck enquanto o oponente compra ameaças que podem ser respondidas.
Dentro do atual Standard, ser um atacante nem sempre ativo contorna remoções globais finalizando oponentes com pouca vida (Crux of Fate, Languish, Planar Outburst, Ugin, the Spirit Dragon ), e a maioria das spot removals (Ultimate Price, Utter End, Wild Slash, Ruinous Path , Silkwrap, Abzan Charm, Valorous Stance, Fiery Impulse sem Spell Mastery, Foul-Tongue Invocation/Crackling Doom se houver outra criatura, além de dificultar a ativação do -2/-0 do Jace, Telepath Unbound). Chega a ser surpreendente a quantidade de vezes que um oponente mesmo com manas abertas e uma quantidade razoável de cartas na mão é forçado a tomar o dano do Elemental.
Outro ponto forte das Manlands é a constante ameaça que representa aos Planeswalkers alheios. Algumas vezes não vai ser possível se tapar vantajosamente para um PW devastador se tiver um Manland do outro lado. Deixar Ob Nixilis Reignited, Jace, Telepath Unbound e Sorin, Solemn Visitor em dois marcadores é um convite para a ativação do Shambling Vent, fazendo com que o simples fato de descer o terreno atrapalhe com possíveis planos do oponente, já que ele sempre terá de considerar que você pode ativar o terreno e eliminar o PW a 2 de lealdade mesmo sem mais nada na mesa.
Aumentar a contagem de terrenos para consistência em conjurar mágicas pesadas na curva, maior densidade de ameaças, resistência contra remoções globais e boa parte das direcionadas, ameaça aos Planeswalkers alheios, fugir do alcance pós-estabilização e corrigir mana colorida. Lavam, cozinham e passam.
Como tudo isso afeta o Jeskai Black? Simplesmente pelo fato dele não possuir, até o lançamento de Oath of Gatewatch, nenhum desses terrenos nas suas cores principais (UWR). Se o deck chegar ao late game, como acontece contra Espers frequentemente e Abzans de vez em quando, o Jeskai costuma floodar sem ter o que fazer com o excesso de mana, fica com uma densidade menor de ameaças, não consegue responder os Vents do adversário com eficiência (permitindo-o recuperar vida perdida no começo e ficando sem alcance pra fechar o jogo) e dificuldade em lidar com alguns Planeswalkers, que podem cair impunes temendo no máximo o Mantis Rider. Todos pontos em que a Man Land ajuda a corrigir, e que acabam ficando na mão dos adversário do Jeskai Black.
Por sua vez, Lumbering Falls, a irmã do Shambling Vent não está tendo o mesmo lugar ao Sol já que nenhum dos principais decks do Standard possui U/G como base. A mesma chegou a figurar listas de Bant Megamorph e de U/G Part the Waterveil Ramp, mas atualmente esses decks estão longe do Tier 1 apesar de eventuais aparições.
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Para finalizar, vou deixar três decklists Standard de diferentes momentos do Magic, ajudando a elucidar o poder que torna as Manlands tão icônicas e competitivas em vários contextos diferentes através dos tempos.
O Bant Mythic, utilizado pelo Josh Utter-Leyton para a vitória no Nacional Norte-Americano de 2010, consegue utilizar 25 terrenos + 16 criaturas de mana para acelerar seus Planeswalkers e o combo de Sovereigns of Lost Alara -> Eldrazi Conscription. O deck dificilmente floodava já que Lotus Cobra, Knight of the Reliquary e Noble Hierarch são relevantes na zona de combate, e Celestial Colonnade + Stirring Wildwood davam opções de jogada contra Day of Judgment, mantendo o fluxo de ameaças quando os Junds e UWs da vida conseguiam quebrar o “plano A”. Raging Ravine foi peça importante do Jund, e Creeping Tar Pit jogou bastante em UBs/Grixis da época.
Com 4 Treetop Village e 4 Mutavault, o B/G Elves do brasileiro Francisco Braga, vulgo “metroid”, é um dos decks que pôde aproveitar uma “era de ouro” com ambas as Manlands. Chameleon Colossus, Profane Command e Garruk Wildspeaker são cards que pedem uma quantidade um pouco maior de mana que o restante da curva para funcionarem bem, e os dois primeiros aproveitam-se bem da alta contagem de mana das Manlands + elfos de mana. Por escaparem de muitas das removals da época, Treetop Village e Mutavault ajudavam a arredondar o clock junto das outras criaturas sem comprometer a mesa para o Wrath of God , e fechavam o jogo quando o oponente tinha 5 ou menos de vida e precisava dar a remoção global para a já presente mesa. A Mutavault, por aproveitar-se das sinergias Tribais do bloco de Lorwyn, viu jogo em vários outros decks como Faeries, Merfolks e Goblins.
O Mono Blue Control do Randy Buehler, imortalizado como um dos decks comemorativos de borda dourada do Mundial de 1998 em Seattle, pode não conter Manlands exatamente iguais às outras do tópico, mas entra por outros motivos. Stalking Stones faz o deck não precisar comprometer slots com kill conditions, dessa forma tendo mais respostas para parar as ameaças dos adversários. Parecido com o Esper Control sem dragões do atual Standard que mata de Ugin, the Spirit Dragon (também uma resposta pra limpar a mesa) + Shambling Vent.
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Para quem achava que Shambling Vent era praticamente injogável ou ruim, o atual contexto do Standard discorda bastante, além da história mostrar que as Manlands sempre jogaram em vários Standards diferentes. Fica uma das frases que ouvi em uma das discussões – Manland é como pizza ou sexo, até quando é ruim é bom! :P
Abraços e até a próxima!
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Acertei em cheio! Hahaha :P
Acho Golpe Duplo uma mecânica muito forte para ter um custo mais baixo de ativação. Se eles fazem algo como 1RW 1/1 Golpe Duplo seria fraco, e se fazem 2/1 Golpe Duplo pelo mesmo custo ficaria MUITO forte (4 de dano por 3 manas de ativação).
Mesmo assim, parece bem interessante de combinar com Titan's Strenght/Become Immense em baralhos como aquele Naya Prowess do CalebD.
Parabéns.