Saudações caros planinautas, hoje falaremos sobre um assunto polêmico, entretanto, necessário. Quando devemos parar de jogar?? E não, este não é um artigo estimulando ao abandono do jogo, pelo contrário, é um texto cuja finalidade é evitar que isso aconteça, ou pelo menos, de forma tão abrupta.

Antes de iniciarmos, gostaria de dizer que este artigo é destinado a jogadores casuais de Magic. Sendo assim, se você visa ao jogo competitivo ou já é um pró-player, acredito que minhas palavras farão pouco sentido para você, mas sintam-se à vontade para lerem e discutirem logo em seguida. Trarei a vocês quatro apontamentos que acredito serem os que mais fazem sentido - pelo menos na minha cabeça - sobre esse tópico um tanto quanto paradoxal. Afinal, quando alguém procura ler um artigo sobre Magic no maior portal da América Latina, tudo o que menos se espera é falar sobre parar de jogar. 

Todavia, quero que saibam que quando trago esses assuntos que envolvem Magic dentro de um campo sociológico, trago os apontamentos com base no conhecimento empírico e na forma como observo nossa comunidade, seja online ou presencial. Às vezes, são resultados de observações de mim mesmo como jogador, sendo assim, trarei 4 pontos sobre quando alguém deve parar de jogar Magic.

Let 's Rock!

● Pare de jogar Magic antes de parar de jogar Magic.

Contraditório não? Mas por mais absurdo que minha alegação pareça, ela faz total sentido. Reflitam comigo… quantos colegas você conheceu que pararam de jogar Magic  e usaram a célebre frase “estou numa fase que agora Magic não é mais prioridade para mim.”? Eu já perdi a conta de quantas vezes presenciei casos assim; mesmo que o indivíduo não tenha usado a mesma frase, o que percebo é sempre a mesma situação: Magic deixou de ser prioridade para ele.

Meu amigo, deixe-me dizer algo para você; se em algum momento da sua vida você transformou seu hobby em prioridade, então algo muito errado havia com você. Para mim, quando falam que Magic não é mais prioridade, é a mesma coisa do que dizer “estou numa fase em que ir ao barzinho na sexta-feira não é mais prioridade para mim.” E se em algum momento, ir para rolês foi prioridade na sua vida, então significava que sua vida estava uma merda!

O maior problema desse tipo de situação não é Magic, tão pouco é porque o indivíduo casou, teve filhos ou o quer que tenha mudado em sua vida; o maior problema aqui era como ele lidava com seu próprio hobby, transformando-o em uma espécie de culto religioso. Para jogar Magic você não precisa transformá-lo em um dever sagrado, tendo que jogar religiosamente todo sábado. Magic é para ser um hobby, um momento de lazer e diversão. Para alguns, é aquele momento para relaxar, desestressar da semana puxada, rir com os colegas e/ou jogar com os amigos testando suas habilidades, seja na jogatina ou no deckbuilding. 

E por que inicio nossa conversa com esse tópico? Porque se você não der uma pausa e reavaliar a forma como percebe o jogo, acontecerá com você como acontece com essas pessoas que pararam porque Magic deixou de ser prioridade: vai se tornar um ex-jogador amargo E eu posso dizer com toda propriedade desse mundo, não existe nada mais insuportável do que ex-jogador de Magic! O camarada vem com esse discurso, para de jogar e, assim como uma pessoa traída no relacionamento, destila seu veneno sempre que possível sobre o jogo.

“Agora que parei de jogar Magic, está sobrando dinheiro.”

“Parei de jogar Magic, voltei até pra academia.”

“Parei de jogar Magic, arrumei até namorada(o).”

Essa é a minha mais sincera reação diante de tais falatórios. Simplesmente não dá pra ficar perto de uma pessoa assim. Isso quando em alguns poucos meses, a pessoa ressurge com um novo hobby que é melhor do que Magic, e ela faz questão de que todos saibam disso.

“Vocês deviam vir jogar esse novo cardgame, a empresa aqui não é mercenária igual à Wizards. As foils têm até holograma e a carta conversa contigo.”

Se você não percebeu seus erros enquanto jogava Magic, o ciclo se repetirá. Não importa o que você jogue, o círculo vicioso torna a se repetir. Ainda que você não comece a jogar nada, em algum momento, você substituirá Magic por algo para dar prioridade, e isso acontece porque há uma falta de sentido maior em sua vida. Magic não é algo para dar sentido à sua existência, é apenas um hobby e como tal, precisa ser encarado como é. 

Se você se identificou com algo, então meu conselho é dar uma pausa. Vá buscar por outras formas de lazer, evite um pouco as mesas de Commander por um tempo até você se reencontrar, antes que para de uma vez com o jogo que tanto ama.

● Pare de jogar Magic antes de ir à falência

Gente, por mais que eu ame Magic e quase tudo o que o envolve, precisamos falar com franqueza aqui. Precisamos dar as mãos, sentar em círculo em nosso grupo de reabilitação e tentar dizer há quanto tempo estamos sem gastar com Magic; dizer com sinceridade há quanto tempo você está sem olhar listas de decks no EDHREC.

É real! Magic é altamente viciante, pois todo o jogo, e não somente o jogo em si, mas o contexto que o envolve, desde as artes das cartas até o fator colecionismo, nos impelem em consumi-lo. Até hoje, nunca conheci um jogo pago que liberasse tanta dopamina em quem o joga. O que acaba nos levando à uma dependência, ouso dizer, quase que química. Para aqueles que não estão familiarizados com o conceito de Dopamine Addiction, aqui vai uma explicação simples.

Dopamina é um neurotransmissor liberado quando o cérebro espera recompensa. Este neurotransmissor regula a motivação, funções motoras e o aprendizado associado à recompensa. Quando possuímos níveis saudáveis de dopamina, nos sentimos motivados a realizar atividades repetitivas, algumas até que antes necessitavam de extrema força de vontade para que a realizássemos. O exemplo mais clássico para isso está entre a relação de indivíduo e academia; a princípio, ele se recusa a ir, mas começa as atividades físicas por conta de problemas de saúde; após algum tempo, seu aspecto muda, aparência, humor e elogios surgem, o motivando a continuar os treinos.

Nada disso é ruim, pelo contrário, sem dopamina a vida seria muito insuportável. O grande problema aqui não é a dopamina, mas a forma como você estimula seu corpo a recebê-la criando vícios. O vício - a dependência de dopamina - surge quando o indivíduo realiza ações ou consome substâncias que desencadeiam uma superabundância de liberação de dopamina, resultando em padrões obsessivos de comportamento. Enquanto a experiência de prazer e recompensa associada à liberação de dopamina impulsiona comportamentos viciantes, ou seja, nós não nos viciamos em dopamina, o que é praticamente impossível, afinal, você não pode consumir dopamina como se fosse remédio. Todavia, nos viciamos em ações que causam picos de dopamina em nosso organismo e é aí onde mora o perigo.

Essas ações obsessivas tendem a se tornarem em comportamentos padronizados, porém, à medida que isso se intensifica, atividades antes prazerosas perdem sentido e buscamos novas formas de estímulos. Não é à toa que as redes sociais são os maiores causadores de Dopamine Addiction, principalmente entre os jovens. Agora, voltemos à questão financeira; Magic se encaixa perfeitamente nesse quadro de comportamento obsessivo compulsivo, pare para refletir. Quantas vezes vocẽ esteve obcecado por montar aquele deck, vendeu cartas, trocou, comprou e após finalmente montá-lo, após jogar algumas partidas com ele, toda a tesão se foi?

Isso acontece porque o sistema de recompensa já fez seu trabalho. Você montou o deck, conseguiu deixá-lo do jeitinho que queria, ficou lindo, bom e jogável. Após alguns meses, você se encontra em uma nova busca por um novo deck altamente diferente que irá trazer partidas emocionantes a você. E é nesse momento que encontramos um dos diversos gatilhos e estímulos que Magic nos traz, ao ponto de nos endividarmos, usarmos cheque especial ou compras parceladas no cartão de crédito.

Não estou dizendo que você não deve gastar com Magic - afinal, é seu lazer, compra mesmo  - só estou dizendo que se faz necessário organizar seus gastos ou criar uma planilha de gastos, enfim, qualquer ferramenta que te ajude a controlar seu consumo compulsório com Magic.

Caso algum de vocês tenha descoberto como fazer isso, por favor, não hesite em entrar em contato comigo!

● Pare de jogar Magic antes que te peçam para parar de jogar

Para finalizar esse artigo, deixei esse tópico por último propositalmente. Se você é do tipo de pessoa que, mesmo jogando casualmente, discute, arruma briga, grita, se estressa e estressa os outros, você deve parar de jogar Magic imediatamente!!! 

Meu amigo, se você não consegue levar o jogo de forma leve e relaxada, você tem sérios problemas, principalmente de validação ao ponto de criar problemas com toda a mesa. O típico cara que não aceita perder na pelada de quarta-feira com os colegas, a diferença é que ele trouxe isso para o Magic. Eu já joguei com vários indivíduos assim, já presenciei colegas de anos quase trocando soco por causa de jogadas erradas e quando digo a você que você deve parar de jogar imediatamente, não estou brincando. Se você ainda tem um POD que o aceita para jogar, acredite-me, eles o fazem porque ainda não possuem coragem de te dar um ultimato para que vocẽ pare com esse comportamento tóxico.

Tenho certeza de que alguns até ficam aliviados quando você diz que não conseguirá comparecer ao Game Night da semana; se você joga em lojinha, certeza que muita gente detesta jogar com você por causa dessas atitudes suas, mas acabam cedendo jogar com você porque não querem ser o “chato” que impede alguém de jogar. É quase certeza que falam mal de você pelas costas na loja que frequenta e só te aturam por mera conveniência social.

Se você não repensar sobre suas atitudes, chegará uma hora que pedirão para você se retirar ou simplesmente, pessoas começarão a se negar a jogar com você. Então, pare um pouco com a jogatina para refletir. Faça isso antes que o façam por você.

_________________________________________________________________________

Bem planinautas, ficamos por aqui. Eu poderia estender o artigo por mais alguns pontos, mas preferi ser mais incisivo, pois acredito que esses são os principais.

Até a próxima