Hora do Pauper - A Fraternidade é Azul
Analisando os motivos da cor Azul estar diminuindo sua presença no formato
07/10/2024 14:21 - 5.735 visualizações - 5 comentários
E aí, galera, tudo bem?
Hoje venho retomar um assunto começado após o ban da Lanca Veloz do Monasterio – a presença da cor Azul no Pauper. No começo desse ano, escrevi um artigo (que pode ser lido aqui) enfatizando que a cor ainda estava tão presente no metagame quanto o próprio Mono Red. Além de ser uma boa opção para enfrentar a contínua ameaça do Vermelho, o Azul se mostrava presente em outras combinações de cores, adicionando consistência a vários decks. Naquele momento, fiz uma análise com os quinze decks mais jogados e apenas quatro deles não tinham a cor azul em suas listas. Lorien Revelada e os downgrades de Commander Masters tinham causado um tremendo impacto no formato, ainda mais com a crescente presença do Tudo que Reluz.
Avançando um pouco, chegamos em Junho e o lançamento de Modern Horizons 3. A edição trouxe várias ferramentas para decks existentes e até listas novas apareceram, reforçando o tamanho do impacto dessas cartas. Beliscadora Furtiva trouxe uma agressividade aliada com recorrência ao Rakdos Madness, elevando muito seu potencial. O Grixis Affinity recebeu o Familiar Recondicionado, melhorando seu early game, além de ser eficiente em atacar a mão dos oponentes. Amuleto de Thraben elevou o poder do White Weenie, deixando-o competitivo o suficiente para ser um dos melhores decks aggro do formato. Como se não bastasse, o novo combo que surgiu com o Escamoso Preguicoso e Prazer Sadico se tornou um dos três deck mais vencedores do formato, com membros da comunidade até comentando sobre banimento.
Isso sem falarmos da transformação do Gruul Ponza em Gruul Ramp, no BG Garden virando Jund e até o Mono Green Elfos tendo espaço para fazer bons resultados no formato. Sabe o que quase todas essas mudanças no metagame possuem em comum? Nenhum desses decks utiliza a cor Azul, exceto pelo Grixis Affinity. Mais do que isso, o metagame evoluiu para um cenário onde a cor Branca ganhou peças relevantes para evoluir, mas é a cor Verde que mais cresceu. Não somente um crescimento, mas sim ressurgimento, pois o que era padrão para a cor foi deixado para trás, dando espaço a novas formas de explorar as vantagens da cor. Obviamente, que a Crisalida Contorcida e Estrondo Malevolo são as cartas que mais impulsionaram o Verde no metagame Hoje, os decks Azuis precisam conviver num metagame onde eles possuem “irmãos”, alguns novos e outro mais velhos, que conseguem ser protagonistas tanto quanto eles já foram no passado. Claro que as mudanças impostas nas cartas comuns devido a adequação a power level do Standard, impacta diretamente na efetividade das opções que teremos. Ainda mais, se analisarmos a interação dessas novas cartas com o histórico do formato, que traz inúmeras cartas fortes que estão só aguardando uma oportunidade para brilhar.
E então, chegamos nos tempos atuais, onde temos mais números e informações que reforçam esse sentimento.
Essa imagem mostra o metagame dos últimos 90 dias, pelo MTGGoldfish. Infelizmente estamos com vários problemas para conseguir dados relevantes para esse tipo de estudo. São dois pontos que estão impactando em vermos melhor esse panorama do metagame:
• O trabalho iniciado pelo pproteus, em que os dados dos Challenges eram compilados em uma planilha. O trabalho sempre exigiu ajuda da própria comunidade e não tem tido mais atualizações. Isso se torna um problema grande já que não temos referências para o formato, pela falta de um circuito ou série de eventos que possibilite uma análise detalhada e mais próxima do real. Enquanto escrevia esse artigo, consegui conversar com o Kirblinxy, que tem feito um trabalho similar com o Challenge, porém ainda terei que trabalhar com os dados para apresentar algo mais amplo;
• A outra questão é pela falta de dados do MTGO / Daybreak Games. Quando houve aquela mudança em que um maior números de decks estavam sendo expostos nas Ligas e Challenges, a Daybreak liberou uma API para que a comunidade pudesse ter acesso a muitas informações das partidas e foi aí que os problemas ocorreram. Ficamos mais de uma semana sem dados e, quando eles voltaram a ser publicados, estavam mais limitados. Para a Ligas, somente uma lista escolhida pela Daybreak e nos Challenges apenas do Top 32 voltou a ser divulgado.
Situações como essas dificultam demais a produção de conteúdo, ainda mais de um formato fora do circuito competitivo. Tenho visto um aumento de grande eventos na Ásia e Europa, mas acho que ainda é pouco para termos uma visão ampla do formato.
Pensando nos decks em si, Grixis Affinity, Mono Red e o Broodscale Combo brigam diariamente pelo posto de Tier 0 e isso só reforça o equilíbrio do metagame atual. O Mono Blue Delver tem sido o representante dos decks azuis nessa lista, mas mesmo que façam volume, seus resultados em eventos mais relevantes vêm diminuindo. Seu plano linear tem sido complementado com cartas que visam ganhar tempo, como Boomerang e Julgar Inferior. Já o UB Control é o deck que eu vejo com o maior potencial para lidar com a amplitude que o metagame vem apresentando. Seja a versão Fadas, Control puro ou Terror, o deck consegue ter respostas genéricas e ainda sim definir as partidas. Inclusive quero apresentar umas lista de cada tipo e comentar um pouco sobre elas:
Esse deck é um clássico do formato. Aliando as interações de fadas e ninjas com um belo pacote de anulações e remoções, o deck ainda consegue ser eficiente no metagame. É um deck que consegue se adequar muito bem nas partidas, saindo de uma postura mais agressiva com a evasão das fadas ou ganhando vantagem de cartas sendo o Monarca, segurando o campo com as fichas de pássaros do Mistico dos Murmurios. Inclusive, vejo que essa é a carta que tem possibilitado manter os decks Ux como decks competitivos. O poder definidor do Místico é algo que beira a justiça, já que podemos controlar o jogo ao mesmo tempo que aumentamos a ameaça no campo de batalha.
Já numa ideia de self mil, visando colocar suas ameaças em campo o mais rápido possível, essa lista também consegue controlar as jogadas do oponente, mas vejo que o momento do jogo onde isso ocorre, acaba sendo diferente. Sabemos que o plano do Terror Tolariano cedo é muito efetivo, ainda mais por contarmos com o Gurmag Angler. Novamente, temos o Místico aqui como um plano secundário, que consegue tirar ainda mais valor da quantidade de mágicas que o deck roda.
Claro que poderíamos chamar esse deck de UB Fadas. Entretanto, a função das fadas nesse deck é ligeiramente diferente, já que não temos ninjas. A Silfide Magioclasta vai funcionar como cópias extras de anulações, ainda mais por podermos ter mais controle sobre a quantidade de fadas em campo. A Beliscadora Furtiva é uma estrela nessa lista, já que temos várias formas de levá-las para o cemitério, seja morrendo ou sendo descartada com a A Era Moderna. Essa foi a lista que eu joguei umas das etapas do CLM por aqui, fazendo 2-1-1. Venci um UR Control e um Mono Green Ramp, empatei com um BG Glee e perdi para um Mono Red. O deck funcionou muito bem e me senti confortável. Acredito que as duas partidas que eu perdi, poderia ter feito escolhas melhores, que influenciaram no resultado final.
Antes de irmos para as considerações finais, quero apresentar a lista do MTGGoldfish que mostra as cartas mais utilizadas do formato.
Durante vários anos eu verifico essas informações, a cor Azul sempre foi absoluta, mas claramente isso mudou. Lembro de um quadro desse onde das dez cartas mais jogadas, nove eram azuis e a décima era Explosao de Chamas. Tirando Contramagica, as outras duas cartas azuis estão ali devido a predominância do Vermelho no metagame. Inclusive, se olharmos as 50 cartas mais jogadas, apenas doze delas são azuis.
Sinceramente, não vejo isso como um problema, porém exige adaptação. O formato tem refletido a política de mudança do power level das cartas e a cor Azul também já foi protagonista solo em outros formatos. O Azul foi a cor mais forte do MTG, durante muito tempo. No Pauper, isso era muito evidente, ainda mais por termos um desequilíbrio monstruoso entre as cores. Inclusive, podemos dizer que vivemos um momento único:
• Decks Monocoloridos
• Branco – White Weenie / Azul – MonoBlue Terror / Preto – Mono Black Sacrifice / Vermelho – Mono Red Kuldotha / Verde – Elfos
• Deck de Duas cores
• Azorius – UW Familiar / Dimir – UB Control / Rakdos – Rakdos Madness / Gruul – Gruul Ramp / Selesnya – Bogles / Orzhov – BW Blade / Boros – Boros Ephemerate / Izzet – UR Control / Simic – TurboFog / Golgari – BG Garden
Se formos para três cores temos: Grixis Affinity, Jund Broodscale, Jeskai Ephemerate, Abzan Food e Naya Gates. Ou seja, estamos há apenas cinco combinações de fecharmos decks jogáveis para com uma, duas e três cores. Em momento algum do formato vimos algo similar. Entendo que algumas opções ali são bem menos significativas do que outras, mas não tira o mérito da situação.
E vocês, também acham que a cor Azul perdeu sua força dentro do metagame? Também avaliam isso positivamente? Ainda não sei qual o fato que impactou mais na saúde do formato: a queda do Azul ou mais ferramentas para as outras cores. Talvez seja uma soma de fatores, mas é inegável que o formato alcançou um momento raro e que devemos desfrutar. Deixem nos comentários suas opiniões e sugestões.
Galera, vou ficar por aqui, um abraço a todos e até mais!
Heli Mateus ( helimateus)
Heli Mateus conheceu o Magic em 1998, mas começou a jogar em 2015 quando conheceu oformato Pauper. Hoje é entusiasta do formato e produtor de conteúdo, principalmente como
podcaster sendo cohost do RakdosCast.
Comentários
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- 08/10/2024 20:05:09
Por mim o formato tá excelente, a unica coisa que eu não estou gostando é o quão o affinity está estúpido de forte, o combo de krark+toxin inviabiliza um monte de estratégia e o deck só não é tier 0 porque quase metade dos decks estão rodando gorilla shaman e mesmo assim em boa parte dos casos nem resolve
Deglamer uma cartinha horrorosa estar custando 20 reais revela que o formato ta desesperado pra lidar com esse deck
Se não aparecer nenhum counterplay decente, acho sinceramente que o deck merecia algum ban, mas é muito dificil pois todas as cartas problema tem muita redundância, não é a toa que uns gringos chamam o deck de 12cast
Deglamer uma cartinha horrorosa estar custando 20 reais revela que o formato ta desesperado pra lidar com esse deck
Se não aparecer nenhum counterplay decente, acho sinceramente que o deck merecia algum ban, mas é muito dificil pois todas as cartas problema tem muita redundância, não é a toa que uns gringos chamam o deck de 12cast
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- 08/10/2024 11:02:37
Inclusive, depois que terminei o artigo, lembrei que ainda temos um Mardu Wildfire e o Sultai Proliferate...
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- 08/10/2024 09:48:35
Olá amigo! obrigado pelas informações! mas sim, estou ciente sobre os nomes dos filmes e sobre o contexto histórico da Revolução Francesa. o primeiro artigo (A Liberdade é Azul) teve exatamente esse nome e acabei pensando em seguir a proposta...obrigado
(Quote)
- 08/10/2024 01:29:00
A liberdade que é azul.
Liberdade, igualdade e fraternidade são as três palavras que representaram os ideais da Revolução Francesa. Ainda hoje, mais de 200 anos depois, Liberté, Égalité et Fraternité é o lema oficial da França, representado em sua bandeira de três cores.
Em meados dos anos 1990, o polonês Krzysztof Kieslowski produziu uma das maiores trilogias da história do cinema inspirado por essas três palavras: a Trilogia das Cores.
São três filmes excelentes, contando três diferentes histórias, cada um permeado pela sua palavra chave e associado a uma das cores da bandeira francesa. A Liberdade é Azul. A Igualdade é Branca. A Fraternidade é Vermelha.
Liberdade, igualdade e fraternidade são as três palavras que representaram os ideais da Revolução Francesa. Ainda hoje, mais de 200 anos depois, Liberté, Égalité et Fraternité é o lema oficial da França, representado em sua bandeira de três cores.
Em meados dos anos 1990, o polonês Krzysztof Kieslowski produziu uma das maiores trilogias da história do cinema inspirado por essas três palavras: a Trilogia das Cores.
São três filmes excelentes, contando três diferentes histórias, cada um permeado pela sua palavra chave e associado a uma das cores da bandeira francesa. A Liberdade é Azul. A Igualdade é Branca. A Fraternidade é Vermelha.
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