Desde o dia 22 de Fevereiro, quando a Wizards of the Coast anunciou que as edições do final deste ano não teriam mais impressões em português muitas reações aconteceram em nossa comunidade. Alguns falaram de parar de jogar, alguns resolveram que ainda jogariam, mas sem consumir novos produtos. Teve quem floodasse posts da Wizards of the Coast com comentários e fotos, ou quem defendesse que proxy fosse uma resposta à altura. O fato é que não foi uma situação que passasse sem alguma reação. E convenhamos, é o tipo de coisa que você pode discutir o impacto em ene níveis, mas não pode dizer que trouxe algum benefício.
Da minha parte, sou do grupo que defende que nossa grande força no Brasil é a nossa comunidade. Enquanto discussões sobre nossa capacidade como mercado consumidor não são favoráveis, e recomendo o artigo da Helo aqui para a LigaMagic falando sobre isso, nossos números em eventos são muito bons. Grand Prix com mais de mil jogadores, um dos maiores Nacionais do mundo, e eventos como CLM, Nacional Pauper e outros com números expressivos sempre foram nossa maneira que estamos aqui e temos que ser ouvidos.
Eu entendo que para alguns participar de torneios é fomentar um jogo de uma empresa que não está exatamente nos exaltando, mas eu também vejo como uma resposta a todo um mercado que sobrevive do Magic e pode ver no seu público a sua maneira de existir e não necessariamente na Wizards ou distribuidoras. E tem uma baita diferença entre fazer seu negócio pensando na comunidade e pensando em uma multinacional.
Menos de uma semana após o anúncio eu fiz um tweet onde falava de duas comunidades que representam tudo o que falei e como elas fizeram algo muito difícil, fomentar ambientes de alta competitividade em formatos que tem pouco apoio oficial.
Tanto Legacy quanto Pauper têm comunidades apaixonadas e que se organizam a muito tempo. Para quem joga o “circuito oficial” pode parecer estranho jogadores que gastam e se mobilizam por algo que não vai levá-los ao Pro Tour (pensando apenas no IRL). Mas é sobre jogar o Magic como você gosta e ter a glória entre os seus pares, e não necessariamente sobre grandes eventos Ainda que, muitos jogadores importantes tenham saído desses circuitos.
Hoje o Pauper é consolidado em várias lojas e tem sido um formato crescendo após a pandemia, mas por muito tempo era um formato que não era sancionado e que era jogado no Magic Online e raramente no tabletop. Isso mudou, as listas de cartas válidas do Magic Online e do tabletop foram unificadas em 2019 e o formato se tornou sancionado e popular, especialmente por conta de sua comunidade, que foi ativa por quase uma década antes do “reconhecimento”.
O Nacional Pauper é uma das melhores iniciativas independentes do Magic brasileiro e teve quase 200 jogadores na sua última final, ano passado. Com classificatório por todo o território nacional e durante todo o ano, tendo desde classificatórios regulares até eventos com premiação maiores, o Nacional marca o calendário do formato, tendo visibilidade internacional.
Não discutindo o formato Pauper em si, eu vejo o Nacional Pauper como um dos principais eventos para quem gosta de competir no Magic. A estrutura é simples e tudo leva à grande final, que tem uma premiação pesada em dinheiro. Como você tem o ano todo para pegar vaga, considero tranquilo encaixar uma janela para tentar essa vaga é uma oportunidade única para quem está “no grind”. Não é sobre gostar ou não do formato, mas o quanto você gosta de competir e quanto gosta de um circuito competitivo ativo Pauper tem uma das comunidades mais ativas que já conheci e não vejo uma iniciativa como o Nacional deixando de existir.
Eu podia falar mais sobre o Nacional Pauper enquanto iniciativa, mas hoje, explicadamente vou falar sobre outro formato: O Legacy.
Minha relação com o formato está ligado diretamente a como a comunidade dele se organiza. Em 2011 eu joguei meu primeiro Nacional “tradicional” e já tinha lido, aqui na LigaMagic mesmo, sobre o Nacional Legacy e como esse evento acontecia no final do ano, juntando jogadores de todo o país, mais do que isso, com um circuito organizado e repleto de eventos.
Após conversar com alguns amigos que poderiam emprestar as cartas, em 2012 eu tentei a vaga para o Nacional Legacy, e mesmo não tendo jogado muito e não ter aproveitado o calendário de eventos que esse circuito oferecia, eu me classifiquei e joguei o Nacional daquele ano, curiosamente de RUG Delver, o Canadian Threshold:
A lista não era exatamente essa, mas a ideia está aí, jogar com a carta revolucionária da época, e que eu amava no Standard, o Investigador de Segredos.
Eu não fui bem no Nacional, mas o que me marcou foi conhecer, pela primeira vez, uma comunidade que não estava focada em Pro Tours e afins, mas em jogar o formato que mais gostava. Como eu disse, muita gente boa saiu desse circuito, sendo que o Patrick Fernandes, que foi da LigaMagic Bolts, é um desses nomes, tendo sido Jogador do Ano em 2014.
Doze anos depois eu voltei a falar sobre Legacy com um amigo, Bruno “Oreia” e fui lembrado como a competitividade no formato estava a todo vapor. No ano anterior, Oreia fez uma série de Top 8s em etapas da Liga Paulista de Legacy, ficou em 9º na grande Final, além de bons resultados no semanal da Mont, de Campinas, que conta com quase 30 jogadores toda semana.
Para quem não conhece a Liga Paulista de Legacy, é organizada pelos próprios jogadores e tem etapas todo mês, em São Paulo e em Campinas. A LPL premia em dinheiro e tem uma grande final, que você pode se classificar pegando vaga diretamente nas etapas, ou acumulando pontos. Ou seja, um circuito com etapas até o fim do ano e uma grande final, simples e direto.
A LPL também tem um diferencial, que também aparece nos semanais da Mont e começa a ser adotado por outras Ligas, as proxys. Eu não preciso dizer que um dos maiores impeditivos do Legacy são os preços das cartas. Uma Underground Sea sai facilmente por R$2.000 e pensar o preço de um deck completo é bizarro. Mas quando seu objetivo é jogar e de preferência com o máximo de jogadores possível, porque você ama o formato, é possível tentar algo. O uso de Proxys de Reserved List, ou seja, cartas que não terão reprint, foi uma medida encontrada pelos organizadores para deixar o formato mais acessível. Claro que não é porque você pode usar proxy de RL que agora todos terão decks Legacy na pasta, mas derruba uma barreira e deixa ele bem mais próximo, por exemplo, do público do Modern. Como podemos observar no Temur Delver:
As cartas de Reserved List e Forca de Vontade são o que estou falando. É o que distancia o jogador competitivo do Modern de um circuito mensal com premiação de 5k e 96 e 94 jogadores, nas duas últimas etapas, e que você pode saber mais aqui twitter.com/LPL_mtg.
Em março eu resolvi novamente jogar Legacy e minha aposta foi no Dimir Scam:
Enquanto em uma semana jogando o formato online eu tive certeza que Subir no Pe-de-feijao, Mestres Arqueiros Orcs e Luto não deveriam ser válidos, vou assumir que foi bom jogar novamente com cartas como Pasmar e Forca de Vontade e lembrar como os jogos de atrito acabam sendo vencidos nos detalhes.
Não fui bem na etapa, o que faz todo sentido, dado o tempo que eu não jogava o formato, mas foi a mesma sensação de 2012, sobre uma comunidade que se organiza para jogar Magic como ela gosta.
Por mais que eu pretenda jogar mais etapas da LPL e tentar me classificar para o Nacional Pauper (felizmente esse formato eu tenho jogado com maior frequência), esse artigo não é sobre isso. Acho o Nacional Pauper uma baita iniciativa? Sim. Pretendo jogar? Sim. LPL é foda? Muito. A iniciativa das proxys, com controle e que convido a conhecerem, é muito boa? Sim. Assim como a Liga Mineira de Legacy, a Liga Catarinense, ou o Bagual, no Rio Grande do Sul.
Tudo isso é sobre como a nossa comunidade, mesmo pensando em nichos específicos, é ridiculamente forte quando se organiza. E não precisa ser em grande nível, se você se juntar com o público da sua loja e resolver fazer uma liga própria, tá ótimo, e vai funcionar. Eu mesmo participei de um grupo de jogadores que se organizaram para que um formato que não ia nada bem das pernas, o Standard, funcionasse em uma loja e lá vão dois anos. Seus eventos tem potencial de serem tão grandes quanto a sua comunidade é, em 2012 eu vi muita gente jogando um formato que não tinha eventos, mas que eles se organizaram para que os eventos acontecessem.
Uma das grandes certezas que eu tenho sobre esse jogo é que se ele for descontinuado amanhã, ainda terão circuitos grandes em ação.
Até mais.
Ruda
![](http://repositorio.sbrauble.com/arquivos/up/artigos/redator/1532516485_1359.jpg)
da mesma forma tem varios decks que o que é caro é a parte da RL, barateando significativamente o deck (tipo storm e madness que caem horrores pelas LEDs)