Olá, pessoal, tudo bem? Aqui quem fala é a Helô do perfil lá no Instagram @helo.magic.tcg e hoje a LigaMagic me cedeu esse espaço para falar com vocês sobre as recentes decisões da Wizards, mas trazendo dados.
Antes de tudo, gostaria de agradecer a LigaMagic pelo espaço, assim como, dizer que não estou defendendo a Wizards e suas recentes decisões, estou apenas trazendo dados para informá-los fazerem o que quiser com a informação.
Então vamos lá, usando como base o reels que postei recentemente, vou usar novamente uma comparação entre Brasil e Itália, e a escolha da Itália é apenas por termos excelentes criadores de conteúdo por lá e por não ser o país sede da Wizards, que é os Estados Unidos (a Hasbro).
Em primeiro lugar, acho que todos sabem que vivemos em uma economia capitalista e que neste mundo e nesse sistema econômico as empresas se importam prioritariamente com o lucro e em gerar mais lucro.
Pois bem, vamos agora olhar para os números da Wizards, dentro do balanço da Hasbro; em 2022 e 2023 vemos que teve queda no lucro operacional (a empresa não divulga o lucro líquido da Wizards, apenas da Hasbro como um todo). E olhando para o lucro da Hasbro, vemos que a empresa apresentou uma reversão do lucro de 2022, ou seja, tendo prejuízo em 2023.
Fonte: Site de RI da Hasbro e apresentação de resultados
Inclusive, destaco aqui um pedaço de uma notícia do Valor Econômico “No quarto trimestre de 2023, o crescimento de 10% no faturamento da unidade Wizards of the Coast, fabricante dos jogos “Dungeons & Dragons” e “Magic: The Gathering”, não compensou o recuo de 25% nas receitas de brinquedos e 49% nas de produções de mídia.”. Ou seja, sim, a empresa está buscando reduzir custos nas operações que estão dando lucro para buscar por um aumento do lucro da companhia como um todo.
Mas se a Wizards está apresentando lucro, por que não seguir com as traduções das cartas em português? Sim, apesar do lucro, podemos entender que uma das estratégias da empresa seja reduzir os custos, principalmente das frentes de negócio que estão apresentando lucro, para que assim eles consigam ter ainda mais lucro (sim, empresas milionárias buscam por isso e basicamente apenas isso) para quem sabe conseguir com que a Hasbro saia do prejuízo nos próximos anos (afinal a Wizards é apenas uma parte da Hasbro); afinal, querendo ou não, trazer diferentes versões da mesma carta, apenas com mudança do texto (tradução), faz com que os custos sejam maiores.
Então por que a empresa não para de fazer tantas coleções e tantos Universe Beyond, afinal isso deve ter custos elevados, principalmente por conta dos direitos autorais. Segundo notícias e a divulgação de resultados da empresa, os últimos lançamentos como Warhammer e Senhor dos Anéis foram grandes sucessos, alcançando recordes de vendas, como Warhammer que ajudou a empresa a atingir 1 bilhão de dólares em receita, precisando passar por três reimpressões para suprir toda a demanda.
Essa, inclusive, é outra das estratégias de retomada da Hasbro na frente de negócios da Wizards após o boom da pandemia que trouxe impactos negativos para diversas economias e empresas, que ainda estão se recuperando e buscando formas de driblar a inflação. Os pontos mencionados sobre Warhammer e Senhor dos Anéis estão logo abaixo em seus textos originais.
Fonte: Divulgação de resultados de 2023
Fonte: Divulgação de resultados de 2023
Fonte: Divulgação de resultados de 2022
“Ah, então eu vou então fazer tudo de proxy, assim a empresa não vai mais receber um centavo meu e vai ‘pagar’ pelo que fez aos brasileiros”. Bom, nesse caso a única empresa que estaria sendo prejudicada seriam as lojas aqui do Brasil que disponibilizam seus espaços, realizam torneios e eventos aos jogadores. Inclusive, infelizmente não me surpreenderia se a Wizards cortasse a distribuição para o Brasil, principalmente tendo cada vez menos compra dos produtos por aqui.
“Ah, mas eu não jogo em lojas, definitivamente eu posso jogar com proxy com meus amigos em casa e isso não vai me impactar”, nesse caso, infelizmente sua posição não está muito diferente da Wizards que “virou as costas para os jogadores brasileiros”, e acredito eu, que você não seja uma empresa que precise gerar lucro para continuar operando.
Outro ponto que li/ouvi bastante foi “por que a empresa continuou as operações em países tão pequenos, mas parou aqui no Brasil que é um país tão grande?”, e aqui a gente entra com os dados da Itália que falei lá no início do artigo.
A Itália tem 59,11 milhões habitantes (2021, segundo dados do Banco Mundial), o Brasil tem 214,3 milhões habitantes (2021,segundo dados também do Banco Mundial), sendo 3.6x mais que a Itália.
Lá, eles não possuem salário-mínimo, apenas um valor mínimo por horas trabalhadas que é de 11,20 euros, aqui no Brasil, fazendo a conversão do salário-mínimo de R$ 1.412 em 40h semanais e 22 dias úteis (e sabemos que tem pessoas que trabalham muito mais que isso, recebendo, consequentemente, muito menos por hora trabalhada), temos o valor mínimo da hora do Brasileiro de R$ 8,02.
Vamos agora pegar algum produto de Magic, um booster por exemplo de Terras Selvagens de Eldraine. Lá na Itália o valor dele na loja CardGame Corner (a primeira que achei) é de 5,75 euros, aqui no Brasil, no menor da LigaMagic, R$33,78. Para um italiano comprar esse booster ele teria que trabalhar meia hora, enquanto o brasileiro comprar esse mesmo booster, ele teria que trabalhar pouco mais de 4h.
“Mas a população brasileira é bem maior!” Então vamos entender qual o salário-mínimo que um brasileiro precisaria ter para comprar o mesmo booster trabalhando apenas 0,5h. Com o booster sendo R$33,78 a sua hora teria que custar R$67,56, considerando 40h semanais e 22 dias úteis, precisaríamos de um salário de R$11.890.
Usando dados do infográfico de panorama das classes ABCDE da Globo, um brasileiro que receba um salário de R$12.000 por mês (para arredondar) é considerado como uma pessoa pertencente à Classe B1 (renda média familiar acima de R$10.361 até R$21.827). O total de brasileiros que estão inseridos nessa classe social é de 5,1%, que usando o dado do Banco Mundial de 2021 de 214,3 milhões de habitantes, temos 10,9 milhões de habitantes no Brasil pertencentes à classe B1 e mais 6,2 milhões (2,9%) pertencentes à classe A, o que corresponde a 28,9% da população da Itália, se somarmos Classe B1 e A do Brasil. Ou seja, a população brasileira com o mesmo poder de compra da italiana é de apenas 30% (aproximadamente) da população total da Itália, cerca de 17,1 milhões de pessoas.
Vale mencionar o ponto que é claro que existem pessoas na Itália que ganham menos do que esse valor mínimo por hora, assim como no Brasil, pessoas que ganham menos que o salário-mínimo, inclusive que também há pessoas que estão abaixo da Classe B1 e que jogam Magic (eu mesma sou uma delas, rs). Os dados acima foram apenas para conseguir mensurar quanto da população brasileira que teria o mesmo poder de compra dos italianos. Destaco aqui também um artigo que descreveu os 10 países que mais jogam Magic e os 10 que menos jogam, considerando 44 países; tanto Brasil, como China (que também não terá mais tradução) não estão nesses 2 rankings, estando então presentes nos 22 países entre os que mais jogam e os que menos jogam.
Depois dessa pequena demonstração de alguns dados, vamos ao real apelo deste artigo que nada mais é que buscar e auxiliar a comunidade a se tornar cada vez mais inclusiva, de realmente acolher novos jogadores, ensinar, mostrar o caminho das pedras, ajudar a interpretar uma carta, e ajudar também a traduzir.
Falar sobre inclusão é um assunto delicado, principalmente quando você tem acesso a algo e pode acabar ficando “cego” para aquilo, mesmo se colocando no lugar do outro, não é capaz de entender, pois não é você que está de fato naquele lugar.
Pode parecer clichê, mas acredito que juntos podemos ir além, e eu tenho certeza de que diversas pessoas estão dispostas a ajudar e fazer valer o Gathering que tantas pessoas sempre encheram a boca para falar, mas recentemente não mostraram esse apoio e disposição para a comunidade. Então vamos para algumas sugestões do que pode ser feito (e sintam-se à vontade para contribuir com ideias nos comentários):
Lojas: Poderiam fomentar mais eventos para iniciantes, ensinando o jogo, as mecânicas, falando sobre o Arena (que é excelente não só para aprender, mas para testar decks e cartas – inclusive ele segue tendo a tradução das cartas em português); fomentar campeonatos no formato mesão usando apenas decks pré-construídos; realizar campeonatos “promo” com opção de aluguel de decks mais “competitivos”, sob reserva.
Jogadores: Ter paciência e calma com os novos jogadores; explicar as cartas e tirando dúvidas sempre que for necessário; acolher os novos jogadores que chegam nas lojas chamando a pessoa para jogar junto; traduzir as cartas em outros idiomas e se possível apontar o texto original da carta (seja usando o google tradutor, app ou mesmo a LigaMagic).
Criadores de conteúdo: Continuar fomentando o jogo de maneira positiva, a fim de atrair novos jogadores; tirar dúvidas, trazer sugestões e ser o elo – sempre que possível – entre jogadores, comunidade e lojas; trazer a tradução e explicação das mecânicas das novas coleções (algo que a LigaMagic aqui faz muito bem, assim como diversos criadores de conteúdo pelo YouTube).
É óbvio que as coisas como estão e a forma que estão caminhando na Hasbro deixa cada vez mais difícil para todos os jogadores e principalmente para aqueles que tem o “ganha pão” nisso, mas eu acredito que se juntarmos nossas forças entre criadores de conteúdo, lojas e jogadores, conseguiremos deixar a “dificuldade” um pouco mais fácil. E aí, vamos nessa?
"Alguém discordou da minha insanidade, eu quero que seja banidooooooo!".
Não é assim que funciona o mundo e, ironicamente, vocês são estão dizendo que vão abandonar o jogo? Então vão lá, deixem o jogo e o site pra quem tem um mínimo de resistência e não gelatina no lugar do couro.
Podemos concordar ou discordar de decisões de negócios da Wizards mas quem está enchendo o saco, chorando e sendo bloqueado em ondas nas redes são vocês, as crianças mimadas que não conseguem ouvir um "não".
Você que está dizendo que a empresa não pode ganhar dinheiro, criatura. Hahaha
Ela começou a imprimir cartinha em outros idiomas pra alcançar novos públicos, hoje ela já alcançou o que tinha pra alcançar com essa estratégia e como eles disseram e todo jogador sabe, a maior parte do público brasileiro prefere cartas em inglês mesmo, imprimir em português é perder dinheiro, vai você tocar fogo nas suas cartinhas pra ver o que é bom. Hahaha