Quem Mexeu no Meu Mana?
Um assunto muito comum entre os jogadores, porém, através do Multiverso, ele desapareceu: O mana.
29/02/2024 10:05 - 3.297 visualizações - 8 comentários

Saudações caros planinautas. No artigo de hoje falaremos sobre um assunto muito comum entre os jogadores, porém, através do Multiverso, ele desapareceu: O Mana.

 

Então, Let’s rock!

 

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Para início de conversa, devemos acertar alguns detalhes. Não se diz “a mana”, e sim “o mana.” A palavra mana é masculino, mas eu sei que nós comumente falamos “a mana.”

 

Agora que acertamos os pormenores, iniciemos nosso artigo.

 

Todo jogador de Magic, desde o iniciante ao veterano, compreende o conceito de mana. Sem ele, você simplesmente não consegue realizar magia. Este conceito já era abordado dentro inúmeros jogos de RPG antigos, em outros, como em Castlevania, utilizava-se outro termo para exemplificar o “combustível” para magia: MP (magic power).

 

O termo mana ficou conhecido graças aos jogos de RPG da década de 80 e 90, mas seu real precursor foi o escritor Larry Niven, autor do famigerado livro The Magic Goes Away de 1976. Embora seja uma série de fantasia, o conto também serve de alegoria para a crise do petróleo de 1973 abordando também uma futura crise energética moderna.

 

 

- De onde surgiu o mana?

 

Let’s Wikiattack!

 

O Bruxo, cujo nome verdadeiro é desconhecido e impronunciável, é um feiticeiro muito poderoso com pelo menos 200 anos de idade. Ele observa que quando ele permanece em um lugar por muito tempo, seus poderes diminuem e retornam apenas quando ele sai daquele lugar. A experimentação o leva a criar um aparelho, agora conhecido como Roda do Feiticeiro, que consiste em um disco de metal encantado para girar perpetuamente. 


O encantamento eventualmente consome toda a mana nas proximidades, o que causa uma falha localizada em toda a magia. O Bruxo percebe que a magia é alimentada por um recurso não renovável , o que causaria grande preocupação entre os mágicos , pois era através de sua magia que as nações faziam cumprir suas vontades tanto internamente quanto no exterior. A diminuição generalizada do poder mágico em The Magic Goes Away desencadeou uma busca por parte dos mais poderosos dos mágicos da época para aproveitar uma nova fonte de magia, a Lua , que resulta nos eventos descritos no livro.


Foi finalmente descoberto (em The Magic May Return) que o mana foi originalmente transportado para a Terra e para os outros corpos do sistema solar pelo vento solar, que reabastece o mana lentamente ao longo do tempo. No entanto, em algum momento do passado “recente” (alguns milhares de anos atrás), um deus criou um escudo invisível entre a Terra e o Sol que interceptou o mana solar e causou o eventual declínio da magia na Terra.


Criaturas de fantasia tradicionais habitam o universo mágico de Niven, mas se transformam em animais normais quando privadas de mana. Por exemplo, um unicórnio se torna um simples cavalo.

 

- Percebeu alguma semelhança?


Não preciso dizer que nosso Multiverso bebeu da fonte de Larry, e não somente isso, mas tivemos homenagem ao escritor em duas cartas. Provavelmente os jogadores mais antigos já sabem de quem estamos falando.

 

 

Nevinyrral é um anagrama para o nome Larry Niven


Embora tenha sido um dos responsáveis por difundir o conceito do mana na fantasia literária moderna, Larry buscou inspirações da cultura polinésia. 


Mana refere-se a um conceito polinésio encontrado sob diferentes denominações em outros povos. A noção de Mana, fundante da magia e da religião, corresponde à emanação da força espiritual de um grupo e contribui para uni-lo. A Mana é, segundo Mauss, criador do vínculo social.

 

Mana é comumente interpretado como a "substância da qual a magia é feita", além de ser a substância que forma a alma. Essa força existiria não só nas pessoas, mas nos animais e objetos inanimados, instigando no observador um sentimento de respeito ou de admiração.

 

Além de precursor da religião está ligado também às origens da filosofia, sendo um conceito de significativo interesse antropológico.

 


- As Cinco Cores da Magia

 

 

Um dos diferenciais do Magic entre tantos outros cenários de fantasia medieval é o conceito de cinco cores de magia. Na literatura pré-revisionista, um conjurador ou mago, somente realizaria magias de acordo com sua identidade de cor e para realizá-la, havia a necessidade de conexão com a terra.


Dentro do jogo, temos as cartas de terrenos geradores de mana, essa alegoria servia para exemplificar a conexão do mago com aquela terra ou região. Dentro da Lore, nos primórdios do Magic, a conjuração de magia estava associada à memória. O mago precisava se conectar com sua terra natal, trazendo à tona suas melhores memórias do lugar para que pudesse puxar o mana do local, e assim, conjurar um feitiço.


Um exemplo disso era o Mago Mestre, Barrin, que para realizar seus feitiços precisava se conectar com sua distante Tolária. Independente da distância de sua terra, o indivíduo conseguia canalizar o mana através da conexão com suas memórias. Esse tipo de realização de magia era muito comum em toda literatura pré-revisionista e nas HQ antigas de Magic da Dark Horse. Era uma forma de ligar o jogo (mecânica) com seu flavor (Lore).

 

 

Na antiga HQ, The Shadow Mage, que mostra a infância de Jared Carthalion, nesta cena ele estava aprendendo a canalizar o mana de suas terras. Dentro do jogo, o termo técnico é Tap, que é traduzido como Virar, mas também pode significar Drenar.

 

 

A ideia de cores de Magia também estava associada à personalidade do indivíduo ou, um termo melhor, seu alinhamento. Dessa forma, pessoas mais explosivas estavam sempre ligadas ao vermelho e fogo, enquanto pessoas mais ligadas à lei e cura estavam associados ao branco. Atualmente, o mana está vinculado às linhas de força de um plano, podendo existir em posições específicas no espaço físico e fluir por rotas específicas. Existem pontos de acúmulo do mana em certas regiões e artífices costumam construir monólitos em locais de convergências; certos animais, conscientes ou não, podem seguir o fluxo de mana e até mesmo árvores crescem em pontos de mana.

 

  

 


- O Éter


Além do mana, temos o éter, e nenhum deles pode ser criado ou destruído. O conceito antigo de Magic era que tínhamos dois planinautas duelando e para isso, precisavam da ajuda de criaturas que eram invocadas de outros lugares para o campo de batalha. Para realizar as invocações, o éter participava desse evento. Quando elas se materializam, significava que eram puxadas do éter, cuja matéria, era referida como a própria matéria do cosmos.

 

 

Se o éter estava ligado diretamente às invocações, logo, cartas com este termos sempre traziam o conceito de dificultar as invocações. Uma forma de ilustrar que havia algum problema com o éter, dificultando a passagem de criaturas através dele.


Em Theros, o éter é de particular interesse para os estudiosos Meletianos. Alguns deles acreditam que o éter é o reino de entidades abstratas, como números, conceitos e teorias. O éter também é um componente principal do etéreo. Em Kaladesh, o Éter molda o mundo natural em padrões rodopiantes e é colhido e refinado para alimentar as várias construções e invenções de seus artífices. Etergênitos são criados a partir deste processo. A centelha de um planinauta pode ser considerada um pouco de éter que é impresso em uma alma à medida que se incorpora a um ser.

 

 

- A Emenda

 

Agora que entendemos o que o mana representa dentro do jogo, voltemos ao motivo da criação deste artigo. Se você parar para observar o contexto da Lore atual, não somente com os contos, mas até mesmo os flavor text das cartas perceberá uma coisa curiosa: o mana desapareceu!

 

Se você pesquisar pela palavra mana no Scryfall, e pesquisar até o Trono de Eldraine, apenas 10 cartas trazem a ideia de mana em seus flavors. Sendo 3 delas cartas de Zendikar, 2 de Strixhaven e 5 de Dominária Unida. Os 3 planos foram escolhidos a dedo uma vez que, toda a premissa do plano de Zendikar era de ser um plano rico de mana, porém totalmente instável por causa dos turbilhões; Strixhaven está localizada em Arcavios e é uma academia de magos e Dominária, a fonte do conceito.

 

Tirando isso, o termo simplesmente desapareceu do Multiverso.

 

Não estou dizendo que a magia sumiu, pelo contrário, nos últimos contos houve uma retomada de magia de forma mais prática e cotidiana, algo que sentia bastante falta na Lore atual, mas digo que o conceito básico da construção da magia não existe mais como o conhecemos. 

 

E isso tudo é culpa da Emenda de Dominária!

 

A Emenda de Dominária foi a terraplanagem do Multiverso. Todos acreditam que o evento serviu para nivelar os antigos planinautas que eram deuses, ao nível de meros humanos, mas não somente isso. A Emenda serviu para transformar todo o universo de Magic em um universo comum de fantasia. Os eventos da Emenda se passam na novela de Time Spiral e essa trilogia é a última grande novela de Magic que traz personagens icônicos dentro do arcaico conceito sob o qual Magic nasceu.

 

 

Considero Time Spiral a última grande novela de Magic por trazer as lembranças de como a Lore de Magic nasceu. Um exemplo disso são os duelos entre planinautas. Quando iniciei a jogar, nenhum de nós naquela época sabia o que era um planinauta, para nós, a ideia de Magic era um duelo entre magos; somente anos depois que o termos se popularizou-se por aqui.

 

Em Time Spiral presenciamos o duelo entre alguns planinautas icônicos, entre eles, Nicol Bolas contra Teferi, Nicol Bolas contra Leshrac e Jeska contra Leshrac; é bastante latente também a presença do conceito das cores da magia em alguns textos, vinculando Leshrac aos pântanos e Freyalise à floresta. Porém tudo isso se foi após a Emenda de Dominária, tudo foi nivelado e padronizado dentro do conceito moderno de magia.

 

Não há mais necessidade de invocações; não há mais necessidade de conexões com a terra ou com um plano; a magia se tornou algo comum dentro do Multiverso sem a necessidade de uma fonte em si, agora, magia é apenas magia. Em Zendikar tentaram trazer novamente esses princípios com um ambiente rico em mana e totalmente selvagem, mas a ideia não pegou.

 

O foco de Zendikar sempre foi e será Eldrazi. Parece até impossível visualizar o lugar sem esses seres rastejando pela superfície.

 

Enquanto o mana desaparecia do Multiverso, a magia se tornava algo mais simples já que você não precisava mais se associar a uma cor ou identidade, muito menos precisava mais de uma terra natal para drenar energia. Isso tudo aconteceu por causa dos novos planinautas que emergeriam na era moderna. Dessa forma, eles não precisam estar vinculados aos seus planos de origem e muito menos, seus poderes precisam estar diretamente ligados à magia.

 

Todo planinauta possui algum poder, mas isso não significa que todo planinauta faz magia. Entenda a magia de planinautas como se fossem poderes, inerentes à própria centelha, mas não se encaixam em alguma escola de magia. Muito menos que por realizar magia e atravessar planos, ele é um ser mágico; vimos isso recentemente com Kellan em Eldraine e os farejadores de bruxas, pois, embora possua sangue feérico, isso não o torna um ser mágico.

 

Em termos práticos, a Emenda teve seus proveitos. Afinal, facilitou a forma como os escritores narram e descrevem a manipulação da magia simplificando o conceito, entretanto, Magic perdeu um de seus maiores diferenciais entre inúmeros mundos de fantasia medieval e para nós, seres nostálgicos, estes detalhes eram o que faziam total diferença em nossas leituras e aventuras durante as partidas. Mas não adianta lamentar pelo mana esvaziado, vamos aguardar para ver o que o futuro nos trará nessa nova saga que se desenrola.

Leandro Dantes ( Arconte)
Leandro conheceu o Magic em 1998 e, desde então, se apaixonou pelo Lore do jogo. Após retornar a jogar em 2008, se interessou por lendas, o que resultou por despertar a paixão pela escrita. Sempre foi mais colecionador do que jogador e sua graduação em Pedagogia pela Ufscar cooperou para que ele aprimorasse e desenvolvesse um estilo próprio. Autor de alguns contos, todos relacionados ao Magic, já traduziu o livro de Invasão e criou sua própria saga com seu personagem, conhecido como Arconte.
Redes Sociais: Facebook
Comentários
Ops! Você precisa estar logado para postar comentários.
(Quote)
- 04/03/2024 23:26:49
Ou seja tudo culpa do ronaldinho
(Quote)
- 03/03/2024 13:17:33
"Mana refere-se a um conceito polinésio encontrado sob diferentes denominações em outros povos. A noção de Mana, fundante da magia e da religião, corresponde à emanação da força espiritual de um grupo e contribui para uni-lo. A Mana é, segundo Mauss, criador do vínculo social"

Não entendo nada de esoterismo, e não me interesso, mas isso parece um conceito chamado egregóra que esotéricos costumam usar
(Quote)
- 29/02/2024 14:36:09

Infelizmente, é complicado ambientalizar o jogo sem detrimento sa dinâmica.

(Quote)
- 29/02/2024 14:35:26

Este é o sentimento que também tenho. Havia coisas que eram inerentes ao Multiverso de Magic, e agora, se foram.

(Quote)
- 29/02/2024 14:34:36

Simmmm!!!

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