Todos temos nosso pet decks. Para quem não sabe, o pet deck é aquele que você tem um carinho maior. Não precisa ser bom. Não precisa estar no metagame. Só precisa dar aquele calor gostoso no peito quando embaralhados, ou quando faz uma jogada mais bonita.
Por muito tempo eu tive uma relação desse tipo com o BGx, midranges baseados nas cores Preto e Verde, que já foram Golgari, Jund e Abzan, sendo a base do Modern. Por mais que big mana tenha crescido por um tempo, e essas matchs são historicamente ruins para midranges, saber que meu dia teria Capturar Pensamento, Liliana do Veu e Tarmogoyf deixava tudo melhor.
Mas as coisas mudam, o tempo passa, e começamos a jogar com coisas diferentes, tendo assim pet decks novos.
Em 2018 eu comecei a jogar com o Mono Green Hardened Scales, muito por influência de um amigo, Antônio Zanutto (que inclusive já escreveu aqui pra LigaMagic), um mestre do deck e que aproveitou muito do potencial do baralho enquanto Mox Opal foi válido no Modern. O grande ponto sobre esse deck é como suas interações não são óbvias e a partida pode ser bem complicada para o oponente simplesmente por ser difícil de prever quais as próximas jogadas. O lema de “sempre procurar por letal” é o resumo de como o Scales funciona e como cada peça nova na mesa pode mudar completamente um panorama.
Por mais que eu goste do deck, fazia um bom tempo que eu não tentava jogar com ele. Pet Deck? Sim. Mas eu não gosto de fazer drop2 justo enquanto meus oponentes fazem jogadas injustas. Tanto que quando precisei jogar Modern, na Season 3 do Showdown, optei pelo Hammer Time, que também utiliza artefatos, mas que conseguia competir com o que o Modern propunha.
No entanto, com Terras Selvagens de Eldraine temos o lançamento de uma carta que me animou novamente a jogar com o Scales, vendo agora uma chance de jogadas injustas para meu querido baralho que sempre esteve em uma velocidade mais lenta que os demais. A carta é o Caldeirao de Almas de Agatha.
Caldeirão é uma carta absolutamente fantástica e esse artigo será basicamente sobre isso, como se o artigo que o Bruno “Oreia” fez não tenha sido propaganda suficiente.
A primeira linha de habilidades do Caldeirao de Almas de Agatha já me agrada, porque habilidades ativadas de criaturas que eu controlo podendo ser feitas com mana de qualquer cor faz com que Zabaz, a Vespa Tremeluzente seja uma criatura muito melhor. Pode não aparecer, mas boa parte das discussões sobre base de mana desse deck estão ligadas a Zabaz, a Vespa Tremeluzente usando suas habilidades, seja uma fase com mais fontes brancas, seja a fase atual, onde a mana vermelha tem preferência, sempre existe uma discussão de quais terrenos usar simplesmente pra essa carta e Caldeirão vem zerar a conversa.
Na segunda linha, temos que todas as nossas cartas com marcadores +1/+1 terão as habilidades da criatura exilada no Caldeirão de Almas de Agatha. Aqui também é um ponto importante porque caso você não tenha notado, tudo nosso é sobre marcadores. Quando eu vejo o Caldeirão de Almas de Agatha no BG Yawgmoth, entendo que existe um potencial enorme da carta ali porque com duas cores você ganha uma pool de cartas gigante para explorar e deixar o Caldeirão melhor, mas no Scales, ainda que com uma pool mais limitado, nossa vantagem é que nossas criaturas terão marcadores, exilar apenas uma criatura é “espalhar a palavra”, ou seja, exile um Devastador Arconexo e basicamente todas as suas criaturas serão ele, e só quem já jogou com essa carta sabe o quão inebriante é ter várias cópias na mesa. O mesmo para Balista Ambulante e afins.
Por fim, a habilidade ativada do Caldeirão de Almas de Agatha, “Vire: Exile a carta alvo de um cemitério. Quando uma criatura é exilada dessa maneira, coloque um marcador +1/+1 em uma criatura alvo que você controla”. Claro que a parte óbvia é exilar algo do seu cemitério, colocar um marcador e suas criaturas ganharem habilidades, mas é importante lembrar que você pode exilar criaturas do cemitério do oponente, fazendo o papel de Grave Hate, além de ganhar habilidades deles, como exilando uma Doadora de Runas e agoras minhas criaturas protegem umas às outras. Ou mesmo exilando mágicas.O Caldeirão de Almas de Agatha é uma carta de sinergias, mas também é um hate que está de maindeck e deve ser usado como tal.
Mas por que eu voltei ao deck depois de ver essa carta?
Ela não faz o Scales sair mais rápido, como Mox Opal fazia, mas Caldeirão de Almas de Agatha te permite um pulo de vantagens que te coloca de volta ao jogo. Ao transformar todas as minhas criaturas em Devastador Arconexo eu ganho mais sinergias para o combate, usando apenas duas manas. Ou posso ganhar várias cópias de Balista Ambulante, tirando um letal que eu não teria.
Pensando em trabalhar o deck novamente eu fui no Modern Competitivo, da Limiar Store, em Sertãozinho, no interior de São Paulo, para que, em um evento tabletop, que é um desafio a mais para quem joga de Scales (por conta de todos os marcadores e sinergias), eu pudesse ver como está esse deck e avaliá-lo para alguns RCQs.
Essa foi a lista que usei:
Tem alguns detalhes nessa lista que eu testei no Magic Online, apliquei nesse torneio na Limiar Store e queria discutir:
Supervisor de Aco foi muito bom. Fiquei um bom tempo não usando essa carta porque entre Wrenn e Seis e Mestres Arqueiros Orcs, ser uma criatura com 1 de resistência que precisa desvirar era só um plano horrível. Com Caldeirão de Almas de Agatha essa carta fica ótima. Eu não me importo mais que ele vá para o cemitério, apenas quero ter essa carta em algum momento e transformar todas as minhas criaturas em cópias dela desviradas e que farão minha mesa gigantesca em um turno. É um caso clássico de jogada do Caldeirão que vence jogos com uma janela.
Agitacoes do Passado é uma ótima carta, mas devo diminuir. Já vinha namorando com essa ideia fazia um tempo por achar a carta muito lenta, sendo feita em turnos que eu dava uma volta gigantesca até chegar aonde queria. Diminuir as cópias dela é algo que farei nas próximas semanas e posso aumentar cópia de alguns artefatos que são chave para proteger meu jogo, como Jarro de Solda, que pós-side protege meus hates, ou mesmo outra cópia de O Ozolito, que tem um alvo.
Meu core de cartas de custo 1 ou 0, foi Jarro de Solda, O Ozolito, Acaro do Curto-circuito, Zabaz, a Vespa Tremeluzente e Tambor das Folhas Vernais. Eu não sinto necessidade de cartas como Lanca Sombria, e nem de uma Agulha Medular de maindeck, preferindo uma linha que seja mais focada em me auxiliar a vencer rápido, do que dando hate e atrasando meu oponente.
Por fim, a base de mana. Eu usei uma base com 5 terrenos que se tornam criaturas, o que me agradou, mas na parte do “splash” do deck, preferi usar pain lands e Bosque dos Salgueiros Igneos, isso porque eu quero a mana colorida em poucas oportunidades e por muitas vezes o acesso a uma mana colorida já resolve tudo. Existem linhas que usam Pathways, o que não acho errado, ainda mais com Yavimaya, Berco de Crescimento. Para um futuro devo testar outras abordagens, ainda que eu saiba que em ponto de terrenos com utilidade, meu core já seja muito bom. A Cavernas de Pedras Preciosas é maravilhosa e devo usar sempre de side.
Sobre o sideboard, o que mais me incomodou foi faltar um hate dedicado ao cemitério. Durante a semana que fiz testes foquei muito no dilema de usar uma carta como Karn, Rebento de Urza ou Syr Gengibra, Finalizadora de Refeicoes para matchs como Rakdos Scam e 4C Control. Minha conclusão foi que a match vs Rakdos podia ser ganha com proteções e Caminhante Aerodromo, além de que um Desmembrar no Caminhante do Vazio Dauthii, fazia muito. E versus 4c, Syr Gengibra, Finalizadora de Refeições era muito boa, porque não era uma match que eu conseguiria trocar recursos em um jogo longo, mas fazer Automato de Retalhos e atacar pesado enquanto meu oponente sofria para interagir, e as Syr Gengibra, Finalizadora de Refeições eram potenciais cópias extras do Autômato, que matavam quando meu oponente fazia um planeswalker. O plano era uma criatura difícil de lidar, somado a destruir encantamentos. E ficando com esse foco eu não trabalhei tanto em partidas com cemitério, perdendo a ideia de ter alguma carta interessante para trazer na Saga de Urza e deixar a vida de combos e outros decks que sinergizam com o cemitério, mais difícil. A Esfera Amortecedora também deixou a desejar, porque por mais que Tron seja uma match complicada, é mais sobre Karn, o Grande Criador, do que sempre ser acelerado, então fazer mesa e pressionar é mais importante do que fazer um hate, que eles lidam bem, digasse de passagem.
No final fiz 4-1 no Modern Competitivo da Limiar Store, perdendo para Living End e vencendo Izzet Murktide duas vezes, Living End e 5c Cascade. E o mais curioso de tudo, foi que outro jogador com Scales ficou em primeiro, fazendo um total de 8-1-1 do deck, o que é bem surpreendente.
Eu devo atualizar o deck durante esse mês, testando desde uma nova abordagem na base de mana, até mais cópias de Supervisor de Aco, Jarro de Solda e O Ozolito. Já que o Caldeirão pode ser um upgrade que esse deck espera faz um bom tempo e me faz abrir a procura à criaturas artefatos com habilidades artefato interessantes.
Até mais!
Ruda
Seria possível uma versão desse deck de artefatos scales no Pionner mesmo sem ballista e outros?
