Review de As Terras Selvagens de Eldraine
Uma fábula de Heróis, Bruxas e Gigantes com um final agridoce.
13/09/2023 10:05 - 4.061 visualizações - 5 comentários

Uma princesa, uma maldição e bruxas malvadas. As Terras Selvagens de Eldraine tinha tudo para ser um conto de fadas clichê, e mesmo se esse fosse o caso, ainda funcionaria de maneira excepcional. Essa fórmula secular continua se repetindo simplesmente por continuar funcionando, nos permitindo nos sentir inspirados por valores como sagacidade, coragem e compaixão. Terras Selvagens tem todos os elementos de um conto de fadas clássico, mas não para Rowan ou Will.


Nessa Review, eu direi de maneira resumida os principais pontos da história e direi se achei WOE uma boa história de Magic. Esta review considera os meus gostos pessoais e possuirá spoilers. Sei que muita gente pode não concordar comigo, mas podemos discordar educadamente. Dados os avisos cruciais, apertem os cintos, pois iremos nos aventurar pelos caminhos escuros das Terras Selvagens.

 

 

- UMA JORNADA DE DOIS

 

 

Acho que o primeiro ponto a ser dito sobre a lore de WOE é que ela não é sobre os Gêmeos, como eu acreditava que seria no meu último artigo. Eles estão ali desde o começo, mas essa jornada nunca foi a deles. Desde que veio para o formato digital, a Lore de Magic: The Gathering quase sempre se dividiu entre um principal (que acompanhava a jornada de algum planinauta tentando resolver o conflito principal da história) e uma secundária (abordando uma série de lendas secundárias e problemas mais internos daquele plano, para nos mostrar um pouco da vida naquele lugar). Isso nos permitiu ver um pouco das lendas mais interessantes de cada coleção, e foi algo bem forte, principalmente a partir do momento em que cada coleção passou a ter seus decks de commander, pois poderíamos nos conectar mais com a principal carta de cada deck.


Todavia, Terras Selvagens foge dessa lógica, possuindo apenas 5 capítulos, mas com duas linhas de história que acabam se encontrando durante os eventos finais da história. Em minha opinião, isso não nos tirou a experiência de conhecer melhor as lendas dessa coleção, visto que durante a linha principal, muitas delas dão suas caras. Dito isso, irei primeiro me concentrar na lore principal de Kellan e Ruby na sua jornada de matadores de bruxas para depois fazer algumas considerações sobre a linha de história de Rowan


Um dos pontos que mais me agradou de início foi a forma com que o primeiro capítulo foi escrito. Como disse no último mês, sou MUITO fã do musical Into The Woods (creio que. Arsenault Rivera, autora dessa história, também deve ser), e um dos pontos que mais gosto e de como sua história é construída para parecer um conto de fadas desde seu Prólogo, algo que WOE acertou precisamente. No primeiro capítulo somos apresentados ao nosso herói Kellan por um narrador misterioso, que descreve sua vida pacata nas regiões mais distantes de Eldraine (isso me leva a questionar o formato dos planos, mas isso é um detalhe e será discutido em um texto futuro). Kellan sofre muito bullying e é um típico pária para a população de seu vilarejo. Um estereótipo de histórias infantis que eu amo que Eldraine quebra é o de Madrasta e Padrasto ruins, sendo a mãe e padrasto de Kellan as únicas pessoas que o tratam bem, apesar de sua natureza meio fada.


Kellan então tem um encontro com o Talion, o Lorde Gentil, que lhe oferece informações sobre seu pai em troca de um serviço: derrotar as 3 bruxas e acabar com a Maldição do Sono. O Meio-fada então segue viagem, conhecendo Ruby. A dupla se alia visando derrotar a bruxa e achar o irmão da menina. Um primeiro embate com um Cavaleiro lobo (furry) acaba levando a se conhecer melhor e encontrar Agatha, que está pronta para devorar Imodane. A dupla derrota a bruxa e livra o irmão de Ruby do feitiço que o tornava o cavaleiro lobo.

 

 

Nossos heróis, com o auxílio do Ravnicano Troyan, sobem um pé de feijão e se encontram em um baile dos gigantes, onde Yorvo e Beluna Granborrasca os ajudam a usar o Espelho Magico para descobrir o paradeiro de Hylda. Uma ressalva a ser feita, uma das melhores coisas dessa Lore foi a relação de Kellan e Ruby, que começa a se desenvolver durante esses 3 capítulos. Kellan é um rapaz inocente e às vezes até ingênuo, mas como um grande coração e coragem. Já Ruby é uma garota mais maliciosa e sagaz, mas com criatividade e lealdade. Não apenas eles se desenvolvem como amigos, mas também aprendem e inspiram-se mutuamente, e tudo isso foi feito de forma gradual durante suas aventuras, sem ficar parecendo forçado. A última vez que vi algo tão natural e bonito assim acontecendo nas histórias de Magic foi na Lore de Ixalan (A minha preferida). Por isso não consigo julgar Hylda por se sentir tocada por essa amizade e desistir de seus planos ao ser inspirada pela determinação de Ruby de sacrificar a própria vida para garantir o sonho de seu amigo.

 

 

 

- UM ASSUNTO IMPORTANTE

 

Chegamos no Quintorius na sala de aula. A linha dos Kenriths foi… Decepcionante. Basicamente quase nada aconteceu durante 4 capítulos. Em resumo, Rowan é lentamente levada a um desequilíbrio emocional que a faz acreditar em Eriette e Ashiok, levando a um confronto entre os gêmeos. Sinceramente eu não teria muito para falar sobre essa parte da história se ela não tocasse em um ponto muito importante: depressão.


A situação que Rowan está passando é comparável a uma adolescente entrando na puberdade durante a pandemia de COVID-19. Ela tem algo dentro dela que nem ela entende ou controla, todos a sua volta a julgam e passam a tratá-la de maneira diferente e quase todos a sua volta ou estão em um estado de sono ou morreram. É natural sua instabilidade quando está passando por todas essas questões em um curto espaço de tempo. O pior é quando a pessoa que sempre esteve a seu lado, seu irmão Will, não sabe como lidar com tudo isso, por também estar sofrendo com o luto e as responsabilidades.


Em vários momentos vemos Rowan sem dormir, sem comer, obcecada com apenas um objetivo. Muitos desses são sintomas clássicos de uma crise depressiva. A situação chega ao ponto em que a mesma passa seguir Eriette por acreditar que escapar e viver em um sonho é melhor do que estar realmente viva. Por coincidência, esse texto está saindo em setembro, mesma da prevenção contra o suicídio, e acho importante tocarmos nesse assunto e tentarmos aprender um pouco com nossas histórias. Muitas vezes somos os Wills, e não percebemos como pequenas coisas acontecendo em abundantemente acabam definhando as pessoas que mais amamos e a nós mesmos. E muitas vezes somos Rowans, e deixamos esses momentos de vulnerabilidade permitirem que pessoas mal intencionadas nos convençam de tomar atitudes que não nos fará bem. 


Se você se sente desesperançoso, sem vontade de nada, sem conseguir comer, dormir ou querendo dormir o tempo todo, por favor procure ajuda. Não existe vergonha em não conseguir lidar com tudo sozinho e precisar de amigos e familiares. E quem perceber que alguém está passando por uma fase ruim, procure tentar mostrar que está lá para dar seu apoio. Caso sintam que não têm apoio por perto, liguem 188. Estamos falando de Setembro Amarelo, mas isso é para o ano inteiro. Todos temos de estar aqui para fazer nosso combo favorito e jogar mais um mesão.

 

 

 

- CONCLUSÕES E REFLEXÕES

 

Em resumo, eu acho que o ponto principal desse nosso conto de fadas é o crescimento. Kellan e Rowan passam por um momento de evolução. Esquecemos que nem sempre evolução significa melhorar. Kellan teve o apoio de Ruby, e mesmo quando percebeu que estava sendo enganado, tinha alguém do seu lado. Rowan acabou caindo nas mãos de uma literal bruxa, que a convenceu de coisas terríveis. Como no fim de uma história de ninar, nossos protagonistas terminam diferente do que no começo da história. Às vezes mais maduros, às vezes mais ambiciosos. Quem pode nos dizer como crescer ou o melhor caminho? Kellan está no processo para encontrá-lo, procurando seu pai pelos Omenpaths e descobrindo o Multiverso.


Como disse, eu achei uma das linhas de história bem melhor que a outra. Todavia, achei uma boa história, sendo para mim a jornada Kellan o ponto alto e uma das melhores histórias recentes em Magic: The Gathering. No próximo mês, teremos o meu preordenado de Cavernas Perdidas de Ixalan. Se você tem curiosidade de saber oque aconteceu e se minhas expectativas foram alcançadas, esteja atento para esse artigo. 


Falando em nossos companheiros, peço que me ajudem nessa empreitada compartilhando esse e outros textos meus com seus amigos. Deem também uma olhada nos meus artigos na LigaYuGiOh! e conheçam um pouco da Lore desse jogo incrível. Também ficaria honrado em ter a participação de vocês na sessão comentários deste artigo. Como sempre vou deixar uma pergunta para vocês: Qual seu conto de fadas favorito e como você imagina uma carta lendária do mesmo?


Um grande abraço a vocês e até o mês que vem!

Bruno de Montenegro Trujillo ( DinoDille)
Bruno Trujillo, conhecido também como Dingo, é jogador de Magic: The Gathering desde 2018 e de jogos de carta desde 2015. Apaixonado por cardgames e por mundos fantásticos, produz conteúdos escritos sobre eles desde 2017, sendo estudante nas horas vagas e pesquisador de Lore em tempo Integral, também tem como Hobby Boardgames e RPGs. Se for para explorar um novo mundo, ou desvendar suas historias perdidas, este Hobbit estará pronto!
Redes Sociais: Facebook, Instagram
Comentários
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- 18/09/2023 13:20:48
A parte da história que eu fiquei mais curioso era esse esquema da Terra dos Doces, mas parece q nem short disso tem...
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- 18/09/2023 13:10:55
Parabéns pelo texto!! ainda mais por elucidar a analogia sobre depressão e trazer informação sobre esse assunto, mostrou mta responsabilidade ao tratar de uma questão delicada. Mandou bem demais!!
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- 18/09/2023 09:19:42
massa o texto
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- 15/09/2023 11:20:18
Muito boa a analogia da história da Rowan e do Will.. parabéns pelo texto!
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- 13/09/2023 13:09:48
Ótimo texto, Bruno.

Só queria comentar um ponto que não ficou claro na história: a maldição do sono acabou ou não?

Vimos Kellan entregar ao senhor das fadinas o caldeirão da Agatha e a coroa da Hylda, mas e a maçã da Eriette?

Ficou esse furo aí...

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