Olá! Nesta última segunda-feira tivemos nosso mais recente anúncio de Banidas e Restritas, um dos mais esperados pela comunidade em muito tempo considerando que a Wizards voltou a ter datas fixas para tais anúncios ao invés de simplesmente "qualquer segunda-feira pode ter banimentos", e que contava com muitos palpites por parte da comunidade considerando o Pro Tour Lord of the Rings Modern algumas semanas atrás e o estado atual do Pioneer, que se encontra há bastante tempo sem mudanças e com os mesmos decks dominando têm um bom tempo. 

Para quem perdeu o anúncio em si, basta olhar a notícia aqui na LigaMagic, e partindo dela, faremos nossa análise hoje em cima do que mudou de fato, e, principalmente, do que NÃO mudou.

- O QUE MUDOU?

● Preordenar: Eventualmente a Wizards sempre tenta mexer nos desbanimentos, e esse era um dos que sempre estava na lista de potencialmente seguros para o formato. Com o Izzet Murktide tendo caído no metagame por conta de Mestres Arqueiros Orcs, ter esse reforço é certamente favorável. Além disso, outras estratégias como Death's Shadow e alguns combos também se beneficiam de Preordenar.

Apesar de ter sido meio "sem sal", eu gostei desse desbanimento como um primeiro passo para irmos revisitando outras cartas do Modern, principalmente as que nunca tiveram a chance de jogar no formato.

● Desejo da Mente: Sem revelar a minha atual idade, apenas digo que num passado longínquo e distante, o Legacy e o Vintage eram atrelados. As cartas que eram restritas no Vintage eram automaticamente banidas no Legacy, e Desejo da Mente foi uma carta tão obviamente poderosa que foi lançada restrita/banida em ambos, respectivamente.

Talvez agora com um metagame se desenhando cada vez mais para o justo, com interação e trocas de recursos, a Wizards tenha visto a oportunidade para dar a chance de Desejo da Mente brilhar nos combos do formato, e dar uma ressurgida nos mesmos. É uma carta incrivelmente poderosa, que acredito até ter chances de ser banida novamente caso as coisas saiam muito de controle nessas próximas semanas.

- O que NÃO mudou (Modern)

● O Um Anel: A carta mais poderosa de Lord of the Rings: Tales of Middle-Earth, causando um alto impacto no Modern e sendo a mais jogada do último Pro Tour. Ela faz jus ao seu nome e status na história, sendo uma forma de garantir proteção para um turno e elemento gerador de vantagem de cartas quando não respondido por alguns turnos. 

Mesmo sendo um artefato capaz de se encaixar em qualquer deck, como vimos listas de 4C Omnath, Golgari Yawgmoth, Dimir Control e afins, ele realmente se destacou nos Big Manas/Ramps: Mono Green Tron e Amulet Titan foram os melhores decks de O Um Anel depois que a poeira baixou.

Os argumentos que a Wizards usou de ser uma carta incolor que joga em uma variedade de estratégias como fator positivo para permanecer no formato foi o mesmo argumento usado justamente para BANIR algumas cartas em outros formatos e momentos, casos de Quebrabanco Justiceiro e Coptero do Contrabandista. 

Dito isso, imagino dois possíveis caminhos para O Um Anel: o metagame evolui de modo que ele passa a ser uma "staple" (pilar de formato) somente de Tron/Amulet/Valakut, além de um eventual alvo de Karn, o Grande Criador no sideboard, e daí vai ser mais uma carta forte no meio de outras cartas fortes no Modern; ou ele continua dominante e presente no formato, e acaba eventualmente banido depois que Lord of the Rings já tiver passado seu momento de ser comercialmente relevante (simplificando: vender mais pacotinho antes de banir).

● Mestres Arqueiros Orcs: Apesar de ter sido uma das cartas mais jogadas do Pro Tour, me surpreendeu tantos pedidos de banimentos dos pequenos orcs. Ele é essencialmente uma carta interativa e justa, que não escalona o jogo de forma tão absurda quanto outras ameaças na curva que considero mais ultrajantes para o formato (estou olhando para você, Wrenn e Seis) e que ainda mantém em xeque outras cartas problemáticas, principalmente Ragavan, Afanador Agil e O Um Anel.

Imagino que boa parte de seus números foram inflados pelo fato dele se encaixar bem no Rakdos Scam, e o deck ter sido 20% do metagame do Pro Tour - e que mesmo que entre em outros baralhos como Yawgmoth e Dimir Control, sua presença para o formato como um todo é justa e talvez até saudável.

● Wrenn e Seis: Antes da chegada de Lord of the Rings, Wrenn e Seis era meu candidato mais forte ao próximo banimento no Modern, e por muito. É uma das cartas que mais exacerba a já delicada diferença entre começar/não começar, sendo absurdo quando entra no 2 e acerta uma criatura do oponente ou já vai para seu Ultimato rapidamente. 

Além do valor absurdo gerado com as Fetchlands, essencialmente fixando a mana de decks como 4C Omnath e Creativity por si só (transformando tudo numa sopa colorida de valor/recursos praticamente sem custo ou esforço de montagem), ele brilha de forma absurda com os Triomas para compras e com Boseiju para travar o adversário, além de ser um Planeswalker que só melhora com o lançamento de novas coleções (e potencialmente, novos terrenos). Ainda acredito que eventualmente acabará banido no Modern, embora talvez nesse momento isso ainda esteja longe de acontecer com outras cartas que apareceram no radar.
 

Karn, o Grande Criador: a carta do Pro Tour e o principal responsável pelo sucesso do Mono Green Tron do Team Handshake. Seu grande poder reside no conjunto da obra: trava os artefatos do oponente, efetivamente atrasando a mana/sinergias no cenário mais fraco e destruindo completamente estratégias baseadas em artefatos no melhor cenário; é a solução para qualquer problema, podendo desde tirar de situações difíceis com interações como Bomba de Catraca, Explosivos Fabricados e Ponte Traicoeira, segurar o oponente na mana com Revestimento Liquometalico e até ser a condição de vitória com Nivelador de Panorama Urbano, Balista Ambulante e Soberana Celeste, Capitania do Consul, efetivamente dando aos Ramps e Midranges as ferramentas para lidar com situações que normalmente não seriam possíveis; e faz tudo isso custando apenas 4 manas, o que permite sua ação mesmo quando os Ramps não conseguem fazer o jogo fluir de forma natural.

A presença de Karn no metagame já fez Trelica Micossintetizadora ser banida no Modern (depois de quase 20 anos fazendo absolutamente nada no formato), e sabemos quem foi o verdadeiro culpado disso. Apesar de ser uma das minhas cartas favoritas de se jogar com, eu entendo como pode ser frustrante jogar contra, e me parece bem justo ter de se despedir do nosso querido Planeswalker eventualmente (lembrando que ele já é restrito no Vintage).

Luto e Furia: agrupei ambos aqui por serem cartas cogitadas de banimento por alguns jogadores como forma de enfraquecer o Rakdos Scam, deck campeão e o mais jogado com 20% de fatia de metagame no Pro Tour. A ideia das mágicas grátis como interação para acompanhar a velocidade do Modern provavelmente não contava com uma presença tão grande dos truques de Simular Morte e Efemerar, e até que um arquétipo surgiria baseado nisso.

O grande problema de ambos é a capacidade de simplesmente acabarem o jogo no turno 1, dilacerando os planos dos adversários ao mesmo tempo em que avançam com uma presença de mesa e dano extremamente rápidos, dificultando a interação por parte do oponente e ao mesmo tempo aumentando ainda mais a discrepância começar/não começar (já que com o oponente começando, é bem plausível ter uma remoção para o elemental para ao menos evitar o "scam" ou algo como Capturar Pensamento).

Luto é o que mais causa "não-jogos", os ditos jogos frustrantes, enquanto que Fúria é muito mais sobre uma amarra no restante do metagame, punindo absurdamente criaturas pequenas e aggros.

● Surto Violento: Por fim, uma das alternativas de banimentos que achei mais interessante. Surto Violento dá uma velocidade absurda para os decks de Cascade, permitindo Rinocerontes ou Morte Vivída em velocidade instantânea, dificultando bastante a interação por parte de remoções globais ou anulações. Retirar esse ângulo de ataque deixaria todas as estratégias de Cascata mais justas, obrigando a usar mais cores e voltar para cartas mais condicionais como Súplica Ardente ou Terror Demoníaco, atacando a consistência dessas estratégias como um todo. Dentre os citados, acredito que esse seja o banimento menos necessário, já que mesmo que essas estratégias sejam fortes, ainda são parte do que é o Modern e seguem sendo bem combatíveis.

- O que NÃO mudou (Pioneer)
 

● Karn, o Grande Criador x Nykthos, Shrine to Nyx x Kiora, Invocadora de Behemoths: Nessa altura do campeonato, é quase que certo que algo do Mono Green Devotion vai acabar indo embora em algum momento - um deck extremamente poderoso, explosivo e consistente, que embora tenha seus pontos fracos e seja vencível por outros, ele restringe e muito o que é viável de ser jogado no Pioneer / Explorer como um todo. 

O deck segue ganhando boas ferramentas nas últimas coleções, Karn, o Grande Criador é uma carta opressivamente forte em múltiplos formatos, e cada novo artefato lançado tem potencial de torná-lo ainda melhor. Como já citei na parte do Modern, é ele que permite ao Ramp acesso a recursos que normalmente não teria, ganhando jogos que normalmente não ganharia, além de travar estratégias e sinergias baseadas em artefatos.

Já Nyktos, Santuário de Nyx é o que permite a explosão da mana, e os turnos praticamente infinitos com quatro, cinco, seis Invadir o Festival e trocentas criaturas parrudas na mesa. É nela que reside o elemento injusto do baralho, já que sem a grande quantidade de manas, dificilmente o Karn seria capaz de fazer tantas jogadas no mesmo turno e até mesmo "combar" com O Veu Metalico / Caldeirao Pestilento.

Com qualquer uma das duas banidas, é bem provável que víssemos o Mono Green Devotion caindo fora dos Tiers altos do Pioneer, perdendo ou sua versatilidade ou sua explosão. Existiam versões com Vivien, Patrulheira do Arco Bestial, mas eram muito mais unidimensionais, quase que pendendo para um Aggro-Stompy.

Kiora, Invocadora de Behemoths é outra opção de banimento para não matar o deck de vez, mas reduzir drasticamente seus turnos explosivos e resiliência. A melhor abertura de Elfos de Llanowar para Kiora e outro Elfo permitindo um Festival fácil de turno 3 com o valor adicional das compras da Planeswalker quando revela Trol Vetusto, Polucrano Renascido e Cavaleiro dos Espinhos é o que torna o deck tão parrudo, enquanto ainda assim explosivo. Sem a Kiora, o deck teria os turnos explosivos com menos frequência ao mesmo tempo em que o "jogo justo" de fazer os drops 3 da mão e pressionar aumentando os recursos também sofreria. Mas, ao mesmo tempo, ambos os cenários ainda aconteceriam, e continuariam sendo frustrantes para os adversários.

● Fabula do Quebrador de Espelhos: Foi muito cogitada quando Rakdos Midrange era o melhor deck do Pioneer, e ainda é uma possibilidade remota em um mundo onde o Rakdos Sacrifice tomou seu lugar em termos de presença como o principal Rakdos. Gera grande valor, filtra a mão, alimenta o cemitério, precisa ser respondida ou ganha o jogo quando transformada, e mesmo se respondida ainda deixa seu controlador a frente em recursos, a Fábula exige que os decks justos tenham vermelho para utilizá-la. 

Bani-la abriria espaço para outros decks, como Golgari, Abzan, Orzhov e afins dentro do espectro dos Midranges/Controles mais justos, assim como diminuiria a consistência do Rakdos Sacrifice em achar suas peças importantes (acertando também os decks de Fogos da Invencao). Entretanto, em um momento onde o Mono Green Devotion segue fazendo coisas mais injustas e ainda mais em evidência, é improvável pensarmos em seu banimento agora - no máximo, caso seja interessante por parte da Wizards banir algo do Mono Green e junto algo do segundo melhor deck, como já fez no passado.

- Desbanimentos
 

Há um ano atrás, em agosto de 2022, escrevi este artigo para a LigaMagic comentando sobre possíveis desbanimentos para o formato Modern. Da lista colocada, Preordenar acabou sendo liberado, enquanto outras cartas seguem em discussão. A maioria dos pontos pró-desbanimento seguem os mesmos:

● Cardume Flamejante: Possível em um mundo de mágicas grátis e respostas eficientes, talvez não desejável do ponto de vista fechar jogos muito rapidamente quando não é respondido.

● Ponte das Profundezas: Carta que funcionava nos arquétipos de cemitério com Trepadeira Vingativa e que sofreu o banimento para fazer Hogaak, Necropole Erguida durar mais tempo no Modern na época, sendo ele de uma coleção recente. Possivelmente o desbanimento mais seguro da lista.

● Relance da Natureza: Tanto os decks tribais quanto os combos andam muito em baixa no Modern, e essa poderia ser uma carta para dar um incentivo para ambos arquétipos com o Elves Combo de Druida da Heranca. Tanto Furia como Engenheiro da Pestilencia mantêm esse tipo de estratégia em xeque, então poderia ser um desbanimento possível.

● Trol de Tumulo Golgari: Dredge sumiu do ambiente, principalmente porque Resistencia e Reliquia de Progenitus seguem a todo vapor para lidar com decks como Izzet Murktide, Golgari Yawgmoth e o próprio Rakdos Scam. Ter essa ferramenta a mais de poder e consistência dificilmente faria o Dredge se tornar absurdo (talvez nem Tier 1 novamente), mas é compreensível mantê-lo banido considerando que já foi desbanido uma vez, e precisou ser banido novamente.

● Zenite do Sol Verde: Com Pequenina Deliciada sendo uma opção forte para o ramp de turno 1 nos decks Toolbox / Valor e com remoções como Mestres Arqueiros Orcs, Fim Prismatico e Wrenn e Seis mantendo Arvoredo Driade sob controle, acho bem difícil que Zênite domine o formato. Mas é uma adição forte que causa certa homogeneização dos baralhos verdes, então embora seja possível, talvez não seja tão desejável.

● Hipergenese: Sem a mana rápida de Simian Spirit Guide, um Hipergênese indo para o combo turno três parece bem menos ameaçador - e o ódio em forma de Calice do Vacuo e Teferi, Manipulador do Tempo continua altíssimo para Cascata. Possivelmente o Hypergenesis não seria nem o melhor deck de Cascata, e o que impede ele de voltar é um medo/respeito a um Extended de quase quinze anos atrás que já não é mais a realidade do Modern 2023.

● Fogo Punidor: Uma forma de gerar valor e interação recursiva, embora também punitiva para os já quase inexistentes aggros, possui um nível de poder bem razoável e possível para o Modern. Acredito que o único freio para ela no momento seja mesmo ser mais uma carta anti-aggro em um mundo de Furia e Solidao.

● Trapaca de Tibalt: Entra em um categoria parecida com Hipergênese, em que provavelmente não é nem a melhor coisa para se fazer com Surto Violento e amigos, mas talvez a simples possibilidade da aleatoridade agir em favor de jogos frustrantes a mantenha banida por enquanto.

● Jitte de Umezawa: Citada como menção honorável no meu artigo do ano passado, hoje acredito que seja perfeitamente possível que ela jogue no formato. Exceto pelo Hammer Time, nenhum deck mais do metagame usa equipamentos - ou passa sequer perto de utilizá-los. Nenhuma espada, Batterskull, nada. E a Jitte seria um equipamento bem poderoso para talvez incentivar o tipo de permanente de jogar novamente. Pesa contra o fator "anti-aggro", mas, novamente, Furia e outras interações mais recentes punem muito mais, com Jitte pelo menos permitindo um jogo justo de combate.

● Mox de Cromo e Ponderar: essas coloco juntas pelo simples fato de que, hoje, não as desbaniria. Ainda não sentimos todos os impactos possíveis de Preordenar no formato, e se ter Ponderar seria redundância demais para algumas estratégias estilo Xerox ou combos. E Mox de Cromo, embora tenhamos as mágicas grátis e Karn, o Grande Criador punindo artefatos, seria basicamente a única mana rápida e grátis possível, que poderia acelerar muito mais o formato.

E quanto a vocês, leitores, quais as opiniões de vocês sobre o último anúncio? Gostaram de Preordenar e Desejo da Mente? O que vocês gostariam que tivesse acontecido? Alguma carta que foi citada no artigo deveria ter sido banida? Ou desbanida? Compartilhem suas opiniões nos comentários!

Abraços e até a próxima!