O ano de 2022 começou bem para mim. Após uma vitória em um 5k e uma semifinal em um 2K no final de 2021, estava bem confiante com as minhas escolhas no Modern.
Ainda em Fevereiro, me classifiquei para a final do Manatraders Series de Death and Taxes, estava bem afiado com o deck e só perdia quando algo bizarro acontecia.
Resolvi jogar a final em uma streaming. Tudo deu errado, fiz 0-3 drop e tive uma crise bem tensa.
Foi neste dia que decidi que Magic competitivo não era mais para mim, pelo menos não enquanto não resolvesse meus problemas internos. Com isso eu anuncio minha aposentadoria do competitivo, e resolvo jogar Magic apenas para me divertir, ficando no commander IRL e jogando com decks de zueira durante as lives.
Esse foi o começo do meu ano, e foi graças a esse episódio depressivo pós-torneio que tomei a melhor decisão que podia tomar: abandonar o máximo possível de Magic.
O que mais me prendia ao Magic era algo bem simples: Magic é tudo o que eu faço!
Jogo Magic como profissão. Escrevo artigos sobre o jogo. Dou coaching sobre o jogo. Vivo do jogo, vivo pro jogo, vivo pelo jogo. Se eu me afastasse, faria o quê? Querendo ou não, não é apenas meu hobby, também é meu ganha-pão.
Meu maior medo era ter que resetar minha vida agora aos quase 30 anos. Deveria fazer outra faculdade? Deveria procurar um emprego “normal”? Perguntas que me assombraram por semanas, até mesmo meses.
Diversos amigos do Magic me ajudaram nessa fase, me consolando com palavras ou até mesmo com jogatinas de Commander.
Num certo dia tive um estalo: E se eu simplesmente não pensar nos problemas, fazer o que preciso fazer relacionado ao Magic, e jogar o mínimo possível, será que dá bom?
Foi aí que resolvi largar o Magic Irl completamente, e colocar minha coleção para vender.
Foram diversos decks Modern e Legacy desmontados, e configurei meus 36 commanders em “apenas” 8 hoje. Acabando com meu orgulho de ter uma coleção pela qual lutei tanto.
Sempre amei minha coleção de Magic, sempre fui atrás das versões que mais gostava das cartas. Já cheguei a gastar 100% do meu salário, durante muitos meses, exclusivamente em Magic.
Hoje vejo que a melhor parte da minha coleção jamais vai me abandonar, ou melhor, eu jamais vou abandoná-la, pois ela está em minha mente. Todos os decks que batalhei (ou batalhamos, não é mesmo, Nerdinho?) para montar, estão todos na minha cabeça, alguns têm foto, outros não. O importante é que sempre vou poder lembrar dos momentos bons, das trades, das cartas “holy grail” que jamais imaginei que conseguiria. Magic é uma parte importante da minha vida, e ficar fingindo que não é o que estava me fazendo mal.
Aceitar que não estou num bom momento para jogar competitivamente, aceitar que os meus maiores sonhos devem, no mínimo, serem deixados de lado temporariamente, isso se não para sempre, foi o que mais doeu.
Ainda penso nas oportunidades que tive que jogar um Pro Tour, e ser Player of the Year do ranking Legacy. De ser o jogador conhecido por ser o melhor de todos com algum deck que eu jogue. Tudo isso foi congelado. Talvez, no futuro, quando descubram a maneira de descongelar o Walt Disney, eu consiga usar essa tecnologia para descongelar meus sonhos. Até lá, eles estão comigo, a salvo.
Esse ano não foi apenas de sofrimento. Muita coisa boa aconteceu. Hoje trabalho como Streamer no meu canal na Twitch e sou comentarista oficial da Mont, onde narro torneios pelo menos uma vez por semana.
Desde que comecei a me aventurar pelo Magic, meu sonho era escrever artigos e ser narrador. A parte dos artigos eu consegui em 2017, graças ao Rudá e à LigaMagic. Ser comentarista demorou bem mais, mas isso só tornou a experiência mais prazerosa. Hoje narro pelo menos 4 horas de torneio por semana com muito gosto e prazer, com aquela mesma felicidade que o Bruno criança tinha quando olhava para a Oyobi, A que Rompeu o Ceu e achava a coisa mais dahora e mais linda do mundo. E esse é um sentimento que espero nunca perder. Já banalizei o Magic antes, e foi isso que acabou transformando a experiência de jogar em algo insonso. Não, não vou repetir esse erro. A partir de agora, o Bruno de 29 anos vai curtir, e está curtindo, o Magic como ele curtia com 13 anos.
Hoje eu estou mais tranquilo. Meu psiquiatra trocou alguns remédios e me sinto melhor. Sou uma pessoa mais calma, que se diverte muito mais do que antes.
Quando vou para a loja narrar, já sei que vai ser divertido, independente do que aconteça. Entendi que algumas coisas estão além da minha compreensão e do que eu posso controlar, e, apesar de ser meio chato pensar que nem tudo é possível controlar, entendi que está tudo bem e eu não preciso ser o control freak, nem tudo precisa estar na palma da minha mão.
Aprendi que eu julgava demais as pessoas ao meu redor, e que criava inimizades intangíveis, onde eu achava que a pessoa não gostava de mim quando não era isso que acontecia.
Me desculpei com grande parte das pessoas que magoei no passado, dentro e fora do Magic. Sentia precisar me redimir após magoar tantas pessoas que gostava, e até mesmo pessoas que eu não me importava.
Estou tranquilo, calmo e são? Com certeza não! No entanto, entendo que sou uma pessoa diferente, com outra cabeça, e com o foco de melhorar cada vez mais.
Comecei o ano quebrado, derrotado, fragilizado e achando que não tinha mais saída. Termino 2022 bem mais tranquilo, com muitas ideias e projeções para o ano que vem, com mais amigos do que jamais imaginei que teria. Com a ideia de disseminar o Magic em escolas públicas através de uma relação do jogo com as matérias escolares, com a ideia de ser sempre melhor no que faço, não necessariamente O melhor, mas sim melhor do que antes fui.
Termino essa carta de confissão com um sincero desejo de Feliz Ano Novo a todos que vêm me acompanhando todos esses anos, seja através da Liga, Twitch ou até mesmo dos torneios que jogamos juntos tantas vezes.
Feliz Ano Novo para todos nós e um grande abraço do seu amigo Orelha.
Eu fiquei preocupado vendo vc vender aquelas belezuras, mas agora entendi.
Belo texto
E pô, teu trabalho narrando tá show de bola. Feliz ano novo Orelha!
Compartilho algumas dificuldades que você descreveu e acredito no caminho que você está seguindo: tentar tornar as coisas mais leves.
Um grande abraço, e feliz ano novo!