Ascensão, queda e recomeço de uma ex-jogadora promissora
Minha trajetória como jogadora competitiva desde o dia um.
14/12/2022 10:05 - 5.292 visualizações - 12 comentários

Oi, amores! Para o nosso último artigo do ano, resolvi trazer o assunto que vocês mais gostam: fofoca. Então, nesse clima leve de final de ano, vamos bater um papo sobre o lado competitivo desse jogo que tanto amamos na melhor perspectiva que eu posso dar: a minha. 

 

Vocês me conhecem daqui como jogadora e produtora de conteúdo, mas acho que eu nunca trouxe minha trajetória e minha história no Magic para um artigo e, bom, faz sentido começar esse assim. Então hoje eu vou contar tudo que aconteceu desde o dia um, como eu cheguei aonde eu cheguei e como viemos parar exatamente aqui. 

 

Eu nunca fui uma pessoa ligada em jogos, nunca pirei com videogame e Magic para mim era o jogo que as pessoas jogavam no pátio do colégio. Lá para o final de 2015, meu ex (na época, atual) resolveu voltar a jogar Magic e me ensinou a jogar para eu o acompanhar nos torneios no fim de semana e acho que esse é um dos grandes diferenciais da minha trajetória: sabe aquela fase do Magic casual, que você joga em casa com os amigos, monta um baralho divertido e de repente participa de um open house ou um pré release? A minha versão do primeiro capítulo eram treinos com os meus amigos me dizendo para prestar muita atenção no que eu estava fazendo, porque alguém podia tentar me roubar. E torneios, muitos torneios. 

 

 

Eu joguei um total de 1 pre release antes dos meus finais de semana serem agendas frequentes de PPTQs (para quem começou a jogar agora, é o equivalente ao CCG Qualifier ou RCQ). Perdia muito, fui enganada várias vezes e passei por todas aquelas fases clichês de ser a namorada do fulano (que muita gente nem se interessava em saber o nome) até o “você joga muito bem para uma garota”. Em algum lugar ali por 2016, eu comecei a ver um avanço e, de lá, a coisa foi crescendo bem rápido. De top 8 em PPTQs, até ganhar os torneios, jogar os RPTQs, fazer day 2 em alguns GPs, tem um recorde impressionante de 7-1 num primeiro dia de GP e, por fim, um top 8 de PTQ em 2019. 

 

Eu passei de “tem uma garota no Rio que tá começando a jogar competitivo” para “a Carol, que tá sempre fazendo resultado”. Figurinha certa nos torneios, garota prodígio, única jogadora feminina do Brasil a estar num time competitivo, eu chamei atenção de todas as melhores formas possíveis como jogadora...até vir a pandemia. 

 

 

A quarentena acabou tendo um custo muito alto no meu desempenho, em 2020 eu decidi que queria ser produtora de conteúdo full time e comecei a fazer live todos os dias. Vocês podem imaginar que um volume tão grande de jogos pode ter tido um impacto muito positivo no meu desempenho, mas na real, as minhas lives eram (e ainda são) muito mais focadas em interação com o público. E jogar tantos jogos sem prestar atenção, olhando para o chat e jogando de qualquer forma tiveram um resultado assombroso que eu confesso que nem reparei pelos 2 anos seguintes. Não tinha torneio para jogar, não tinha onde testar meu desempenho e o termômetro que eu tinha, que eram as lives, estavam indo super bem, eu sabia que sentia falta dos treinos presenciais, mas era difícil medir a extensão do que tinha acontecido comigo como jogadora.

 

Entra 2022 e por obra e sorte do destino, acabei me reconectando com uma pessoa muito importante, que lá atrás foi o maior incentivador para que eu virasse streamer e continuasse jogando Magic, que vocês talvez conheçam como Lucas Caparroz. Em Fevereiro, eu e o Lucas fomos convidados para um projeto com outros seis grandes nomes do cenário competitivo/profissional. A maioria ali eram pessoas que eu sabia que jogavam muito melhor do que eu e a muito mais tempo, então estava preparada para não ter o melhor resultado do mundo, mas nunca imaginava que fosse ver uma performance tão pavorosa na tela. 

 

Ali foi o primeiro momento que eu reparei que estava jogando MAL, não distraída, não com azar, mal mal mesmo. Empurrando as cartas, jogando sem pensar e sem o menor planejamento de turnos. E, bom, é aqui que esse artigo começa. De jogadora prodígio para uma produtora de conteúdo que não conseguia nem sequenciar um turno de forma decente, coloquei na minha cabeça que alguma coisa teria que mudar e aqui está a lista e o passo a passo de tudo que eu fiz durante esse ano.

 


Lucas se ofereceu para me ajudar a treinar e acompanhar meus jogos, então nossa primeira linha de ação foi ter treinos semanais em conjunto, enquanto ele ia me ensinando como agir em cada situação e, mais importante, ele me fazia parar e explicar o porquê de estar fazendo cada jogada antes de fazer. Eu comecei a gravar todos os meus jogos do torneio para revisarmos juntos, ele ia parando e explicando cada linha de jogo e, de novo, perguntando qual foi minha linha de raciocínio em cada decisão. 

 

Eu acho que não consigo frisar o suficiente o quanto gravar os jogos ajudou, se ver jogando dá um ângulo completamente diferente para a situação, mas se obrigar a parar e explicar suas jogadas antes de fazer foi outro ponto de mudança gigante. E isso são coisas que vocês podem fazer com amigos, grupos de treinos ou grupos de loja, entrar em uma chamada de voz, debater jogos gravados, discutir jogadas, ter uma opinião de fora e precisar explicar o que vocês estão fazendo ajuda muito nessa curva de aprendizado.


Em seguida, eu fiz uma coisa que já escrevi sobre várias vezes e sempre falei para vocês que adoraria fazer, porque os melhores jogadores que eu conheço já treinam assim desde sempre: entrei no MTGO. Resolvi que queria me classificar para o primeiro Showdown e, para isso, teria que jogar Modern e Pioneer, dois formatos que eu não jogava desde o início de 2020. E, de novo, foi muito treino. 

 

 

O MTGO é uma ferramenta fantástica para isso e, não à toa, a grande maioria dos jogadores profissionais estão por lá. De novo, Lucas treinou comigo, me ajudou a fechar lista, plano de side e eu nunca joguei tanta liga na minha vida como eu joguei nessa fase. Outro grande passo que eu dei nessa fase foi trocar de baralho. É muito fácil se acomodar com o que você já conhece, especialmente nesses formatos de pouca variação. Eu fiquei tão insegura para trocar de baralho que carreguei o monored junto para São Paulo, mas bastou um torneio fazendo uma escolha melhor de baralho, jogando com calma e pensando sobre cada jogada antes de fazer que a vaga veio. 

 

Esse torneio deve ter sido muito esquisito para quem viu de fora, lembram que eu falei lá em cima que fiquei me obrigando a justificar todas as minhas jogadas? Eu sabia que o baralho que eu tinha escolhido era bem rapidinho, joguei de Boros Heroico, mas eu fiquei morrendo de medo de esquecer algum trigger. Então, durante 8 rodadas, basicamente eu ficava assim “tô anunciando a Jegantha de Companion, ok?”, “tô fazendo essa mágica, trigger aqui, ok? Posso comprar a carta? Agora posso colocar marcador? Resolve aqui?” Eu não sei como ninguém me pediu para ficar quieta, porque eu não parei de falar um minuto, mas essas coisas me custaram alguns minutinhos a mais e missão muito cumprida, não esqueci nada. 

 

 

O treino para o Showdown foi um pouco diferente, eu acabei precisando me afastar muito do Magic e diminuí bastante meu volume de trabalho para focar nos processos seletivos de mestrado que eu estava participando, então resolvi aproveitar minhas lives como treino. Aqui, foi um ponto de muita mudança de postura com as lives do MTGO, de tentar prestar mais atenção mesmo com o chat e a estratégia que eu adotei para essa fase, como o tempo era curto para estudar o meta foi: treinar com TODOS os principais baralhos do Pioneer. Toda semana eram pelo menos duas listas diferentes e fui repetindo aquela meia dúzia de baralhos sem folga. Se eu soubesse o que esperar de cada um, independente do baralho que eu escolhesse, não ia ficar perdida. 

 

Acabei escolhendo o Monowhite Humans e amei minha escolha. Tive jogos fantásticos no Showdown, joguei com muita gente que eu admiro, ganhei de alguns jogadores incríveis e não sinto que poderia ter feito algo diferente, tive meu melhor resultado em RPTQ e, de novo, senti que estava jogando bem e melhorando como jogadora. Esse ano foi bastante atípico, como os últimos também foram, com uma volta de torneios, mas sem uma agenda muito intensa de objetivos. 

 

 

Por enquanto, eu me encontro aqui, depois de um bom resultado na primeira temporada de Showdown, tendo jogado alguns torneios da segunda temporada e esperando 2023 para ver como a vida vai ficar. Mas toda essa evolução contribuiu demais para me motivar como jogadora e estou bastante feliz com o lugar que eu cheguei. Então, para recapitular, aqui vão minhas principais dicas para quem quer traçar uma trajetória competitiva:

 

1 - Quantidade não necessariamente imprime em qualidade: quando for jogar, escolha momentos de concentração, evite jogar muitas horas por dia no automático;


2 - Tente justificar para você mesmo suas jogadas e linhas de raciocínio;


3 - Reúna os amigos ou parceiros de loja para um grupo de treino;

 

 


4 - Grave suas partidas e reveja elas sozinho(a) e/ou com seus amigos, tente explicar para eles suas decisões e suas linhas de jogada e debata linhas diferentes;


5 - Jogue com calma, principalmente torneios, não apresse jogadas com medo do relógio. Na esmagadora maioria das situações, você vai ter tempo mais que suficiente para raciocinar (mas também não vai ficar 5 minutos pensando com uma carta na mão e dizer que foi dica minha);


6 - Não tenha vergonha de anunciar todos os seus triggers, jogadas e intenções em voz alta, nem tenha medo de chamar o juiz para tirar dúvidas. É sempre melhor pecar pelo excesso, você não perde em nada deixando tudo o mais explicado possível;


7 - Varie o baralho. Sempre. É muito fácil a gente se acostumar com o mesmo arquétipo, mesmo baralho, mesmos hábitos. Quando for possível, não só estude o meta, explore ele de verdade. E para isso vale tudo, pegar baralho emprestado com os amigos, usar as plataformas online para teste, o que for possível;


8-  Todo material que você julgue que pode te ajudar, é legal de consumir. Então lives, artigos, transmissão de torneios, consultoria, qualquer conteúdo de jogadores que você acredite que podem te enriquecer são legais de explorar.


Acho que a única dica extra que eu posso dar além dessas é uma que foi minha resolução de ano novo a uns bons 4 anos atrás: se estresse menos jogando. Vocês ficariam chocados de perceber quantos jogadores bons sofrem quando deixam o psicológico tirar o melhor deles. Se irritar jogando te tira o melhor no jogo, então é muito importante trabalhar a cabeça e manter a calma. Vai ser sempre possível? Não, às vezes você vai achar que o jogo está ganho e seu oponente vai te mostrar que a última carta na mão dele é a única resposta possível nas 75 que ele tinha. Às vezes você vai perceber que jogou errado logo depois, vai sonhar com a jogada, vai refazer ela mil vezes na sua cabeça, mas tente fazer um esforço ativo para essas coisas te atingirem menos. Prometo que vai ajudar bastante.

 


Então é isso, amores! Espero que minha história sirva para ajudar ou inspirar alguns de vocês, ou que pelo menos tenha sido uma fofoca interessante de acompanhar. Que 2022 tenha sido incrível para vocês e que 2023 seja ainda melhor. Nos vemos nas lives, nos artigos, nas redes sociais e nos torneios. Boas férias e boas festas.


Um Beijo,
Carol Anet

 

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Carolina Anet ( carolinaanet)
Jogadora competitiva desde 2015. Pode ser encontrada jogando com decks aggro em torneios, independente do formato. Ou falando sobre representatividade com outros jogadores.
Redes Sociais: Instagram, Twitter
Comentários
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(Quote)
- 18/12/2022 13:10:38
Muito bom o artigo, sucesso
(Quote)
- 16/12/2022 21:57:31
Carol parabéns pelo artigo e por representar tão bem as mulheres no magic.
(Quote)
- 15/12/2022 21:24:39
artigo muito bom, deu até vontade de jogar lendo esse relato!
(Quote)
- 15/12/2022 09:35:48
Muito bom Carol, vou ate voltar a jogar e incentivar ainda mais minha companheira a jogar junto XD
(Quote)
- 15/12/2022 08:00:53
Excelente artigo Carol, que venha um otimo 2023 pra voce
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