Lá estava eu, em 2011, treinando Modern, um formato recém-lançado. Quando vejo Ian, um amigo meu, se dando muito bem de 5c Zoo.

Um outro amigo meu aponta para Ian e fala: O moleque é bom! Ele tem Feeling pro Magic! Quase não treina e sempre se dá bem quando joga.

Passei os últimos 12 anos da minha vida tentando entender EXATAMENTE o que era o feeling ali citado. Acredito ter chegado numa resposta e hoje vamos entender as diferenças entre os jogadores com habilidade e os com talento.

Definição de habilidade:

1: a capacidade de usar o conhecimento de forma eficaz e prontamente na execução ou desempenho. b : destreza ou coordenação especialmente na execução de tarefas físicas aprendidas. 2: um poder aprendido de fazer algo com competência: uma aptidão desenvolvida ou habilidades de linguagem.

A habilidade é aquilo que adquirimos, no caso do Magic, através de treino e estudo.

Eu sou um jogador de habilidade, sofri muito para obter o conhecimento que hoje tenho. Horas de estudo teórico e prático do jogo, observando outros jogadores e recebendo dicas de pessoas mais experientes que eu.

Definição de talento:

(Alguém que tem) uma habilidade natural de ser bom em algo, especialmente sem ser ensinado.

Já viu aqueles vídeos de uma criança de 4 anos tocando Beethoven perfeitamente no piano? Então, isso é talento. Teoricamente(já que não é algo que conseguimos quantificar) é algo que já nascemos com. 
 

Nathan Steuer e Quinn Kiefer

Em 2018, Quinn Kiefer de 13 anos se classificou para o Pro Tour. Seu irmão mais velho(17 anos na época) já era famoso no circuito SCG. Uma criança de 13 anos ganhando vaga que adultos não conseguem. Isso é talento. Claro, ele treinou, ele estudou, mas o bruto de suas habilidades vinha de talento.

O primeiro ponto que gostaria de realçar é o que NÃO IMPORTA qual tipo de jogador você é, se é o da Habilidade ou do Talento, você não é melhor nem pior que os outros tipos, apenas aprende de forma diferente.

- Tem como saber que tipo de jogador eu sou, Orelha?

Bem, não tenho uma fórmula mágica para tal, mas vou dar um exemplo fora do Magic.

Existem alguns jogos onde o talento é uma porta de entrada muito maior que o da habilidade, como no caso de jogos como Free Fire ou Call of Duty. Você já deve ter visto alguém que se destacou, mesmo que dentro de um pequeno grupo de amigos, em jogos como os citados sem nunca ter jogado.

Quem é do talento não quer dizer que não pode melhorar ou que é “sem conhecimento”, apenas que a pessoa está mais apta a sair "matando geral" no Free Fire sem entender quais são as melhores armas, entender o mapa(saudades Dust2) ou aprender a sequenciar habilidades geradas pelas kills, como no Call of Duty.

Se você “pega fácil” algo, você está mais próximo do talento que da habilidade, o que não quer dizer que você não possa estudar aquilo e se aprimorar, simplesmente se deu bem de cara com aquilo.

Se você pega decks que nunca jogou antes e se dá bem de cara, provavelmente é do Talento. Agora, se você é aquela pessoa esforçada, que masteriza algo, provavelmente é da Habilidade.

- Ok, você tem uma ideia de qual tipo pode ser, mas há alguma maneira de jogar com um deck que seja “melhor” para você?

Sim e não, como todas as minhas respostas aqui.

A pessoa do Talento vai se dar melhor com decks intuitivos, sejam eles combos não tão complexos(esqueça Doomsday por enquanto) como é o caso de Jeskai Ascendancy, Lotus Field, UR Storm Modern e também decks mais agressivos como Mono Red e outros baralhos onde bater é o ponto principal da estratégia.

A intuição vai te dizer o que fazer na maioria das vezes, ajudando a tomar as decisões de qual criatura fazer e como trocar no combar.

Óbvio que isso não vai substituir o bom e velho treino e entender qual é o melhor sequenciamento do baralho, mas você vai ter uma boa ideia do que fazer no sightread(que era um termo usado em Guitar Hero quando você tocava a música pela primeira vez).

Já no caso da Habilidade, os decks de sequenciamento similar são ideais. Decks como Ramp, controls, Hardened Scales Modern e alguns combos como Ad Nauseam do Modern.

Decks “masterizáveis”, ou seja, aqueles onde seu resultado vai melhorar drasticamente uma vez que você se adaptar com o sequenciamento e mecânica específica do baralho.

A ideia é criar atalhos mentais para as jogadas mais comuns do baralho, assim você cria um estudo que fica marcado na mente para fazer a jogada de forma mais automática nas próximas vezes. Os estilos de decks com jogadas mais “ensaiadas”, mais similares, serão os baralhos ideias para você, aqueles que você vai pilotar com facilidade por absorver os sequenciamentos principais.

Eu mesmo fiz isso com o GR Titanshift, um deck de sequenciamento similar em todos os jogos. Joguei tanto com o deck que já tinha na mente o que fazer na maioria das partidas, já estava entalhado no cérebro.

Não há um estilo perfeito para jogadores. Claro, o do Talento tem chance de se dar melhor com menos conhecimento de causa, mas o da Habilidade tende a se especializar muito mais quando se dedica o suficiente.

No filme Hustle(2022) do Adam Sandler, o personagem principal está desanimado e acredita que não vai conseguir chegar até a NBA, que foi sempre seu sonho.

O que Sandler diz para ele? “Obsessão ganha de talento TODAS AS VEZES”.

Com isso, ele quer dizer que, se você se dedicar, se esforçar, aprender de maneira eficiente(podemos falar sobre maneiras eficientes de aprendizado num futuro próximo) você vai ganhar de alguém que “nasceu com o bumbum virado pra lua”, pra alguém que se dá bem mais rapidamente com o deck que você, você VAI superar essa pessoa.

Lembre-se que Reid Duke ficou em último no mundial de 2013 e decidiu que ia se dedicar como nunca para o próximo mundial. Resultado: ficou em segundo lugar em 2014.

A sorte é algo importante no Magic, mas se você tiver sorte e não tiver o conhecimento, não vai conseguir ganhar aquele jogo que faltou conhecimento.

Estude, se dedique, VAI valer a pena, te garanto!

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Um abraço do Orelha e até a próxima!