Olá! A temporada de City Class Qualifiers segue com tudo Brasil adentro, com torneios acontecendo todo final de semana valendo vaga direta para o Regional Qualifier - o primeiro passo para chegar até os Pro Tours e o Mundial de Magic: the Gathering.
Se dicas de baralhos, listas, metagame e planos de sideboard são úteis, mas variam semana a semana, existem alguns conhecimentos que vamos adquirindo através da experiência que são bem mais "permanentes" para aqueles muitos que estão chegando agora para trilhar esse caminho do grind - e como alguém que joga Magic há 19 anos e já passou por essa caminhada nos antigos Regionais, e posteriormente nos Pré-Pro Tour Qualifiers (PPTQs), pretendo compartilhar com vocês um pouco da minha própria vivência em meu artigo de hoje aqui na LigaMagic!
O que sempre "aprendemos" enquanto jogadores de Magic competitivos é que basta começar a treinar com seu baralho, se preparar para as matchups, elaborar bons planos de sideboard, dormir bem, se alimentar de forma saudável e tomar água que as vitórias vão vir. Mas a realidade não é tão glamurosa, tampouco "roteirizada" assim.
(imagem retirada do bootcamp da LigaMagic)
A estrutura de torneios de Magic acaba por formar aquela que chamamos de "fábrica de perdedores". Afinal, em cada um desses classificatórios, para um vencedor que leva a vaga, premiação máxima e glória, temos 31 "perdedores". Claro que essa é uma forma um tanto quanto extrema de se levar a questão - jogadores diferentes têm pretensões diferentes.
Fazer um Top 8, enfrentar outros grandes jogadores do cenário em partidas importantes, faturar uma premiação e umas cartinhas promos ou até mesmo só se divertir em um evento mais "sério" junto da galera podem ser os objetivos de muitos, senão até mesmo da maioria, em contraste aos poucos que estarão lá duelando com sangue nos olhos "pela alma do avô".
Ainda assim, é natural que quando estamos preparados e buscando o objetivo máximo, venha a frustração de não conseguir, que pode ser ainda acumulada após consecutivos "quase lá"s. E é nessa hora que a questão da perspectiva tem de entrar. Se estatisticamente falando, ser o 1 em 32 já é difícil, pode ser ainda mais difícil quando temos outros jogadores que também são qualificados, treinados, etc. correndo atrás.
(13° de 15 roodadas, 2 jogadores do bootcamp na mesa 1 e liderando o torneio)
Por isso também é importante focar no processo e na jornada, não no resultado ou destino. Por mais preparado que você esteja, vitória ou nada é a receita para a miséria e frustração. Acredite, eu já estive lá - na época dos PPTQs, onde só o campeão levava a vaga, cheguei a perder quatro finais seguidas. Sim, todo o caminho, viagem, pagar inscrição, passar pelas rodadas do suíço, as primeiras eliminatórias no Top 8 e Top 4, para na hora da final algo não dar certo e a vitória escapar. Seja faltando um de dano para dar o letal, perdendo terreno em um turno crítico, enfim, não importa.
Mas quando pensamos nessa interessante outra perspectiva, vêm algumas conclusões. Se eu cheguei em quatro finais seguidas, em formatos diferentes, alguma parte do trabalho está sendo bem feita. Provavelmente estou fazendo boas escolhas de decks, sabendo me preparar em nível técnico para esses eventos, só está faltando algum detalhe. A diferença entre campeão e vice-campeão de um torneio às vezes é essa mesma, um detalhe que pendeu em favor de um jogador ou outro, e que nem sempre temos controle sobre.
Parece clichê, mas pense nos aspectos positivos desse torneio, independentemente do resultado. O deck foi uma boa escolha para o evento? Ele conseguiu atacar o metagame esperado? Os planos de sideboard encaixaram? Seria necessário mudanças para o próximo final de semana?
Ou até mesmo uma pausa - só porque tem Qualifiers acontecendo todo sábado e domingo, não significa que você tenha de jogar todo sábado e todo domingo. Vão haver outras oportunidades - de novo, como alguém que já perseguiu essa "cenoura imaginária" das vagas no passado, é extremamente estressante e custoso ir atrás de literalmente TODA oportunidade possível.
Foram muitos fins de semana na estrada, do litoral à capital ao interior atrás de eventos, e que raramente se converteram em vagas de fato. Foram boas experiências, momentos construídos com amigos, algo que se tornou parte primordial do jogador de Magic que eu sou hoje? Com certeza! Agora, se eu repetiria as aventuras dessa forma, viajando tão longe com tanta frequência, hoje com família e filho pequeno para criar? Muito provavelmente não. Mas eu aproveitei muito do meu "grind pelo grind", e hoje caso decida participar de alguns dos City Class Qualifiers, provavelmente vou optar por alguns mais próximos e com intensidade bem menor que outrora.
O Magic competitivo pode ser duro às vezes. Mas ao mesmo tempo em que há a montanha-russa de emoções, a árdua jornada e as frustrações, há também os momentos de alívio, de alegria e de glória. O verdadeiro tesouro são as amizades que fazemos no Gathering pelo caminho - e isso é insubstituível, algo que recomendo a qualquer um com pretensões minimamente competitivas de saborear esse gostinho de uma temporada de Magic tabletop ao menos uma vez.
Abraços e até a próxima!
Uma partida seria um jogo finito, pois há um ganhador e um perdedor. Mas se manter como jogador (competitivo) de Magic é jogar um jogo infinito, o objetivo não mais somente ganhar, mas sim se manter como jogador, indo para os torneios, curtindo com os amigos nas lojas ou na mesa da cozinha, e tudo o mais!!