Olá! Hoje pretendo falar sobre a combinação de cores que mais joguei desde o lançamento de Streets of New Capenna no Standard: os Rebiteiros, tradicionalmente conhecidos como Jund, que proporcionaram algumas variações de arquétipos nas cores preta, vermelha e verde.

Nesse último final de semana tivemos o New Capenna Championship (Pro Tour), com co transmissão da LigaMagic. Para esse evento, a minha escolha de baralho para competir foi a versão mais Midrange do Jund, com pouquíssimas mudanças em relação à lista que utilizei para ser campeão do Challenge no Magic Online na outra semana.

O deck se comporta como um Midrange clássico, com muitas formas de quebrar o jogo do oponente através das remoções e múltiplos 2x1s embutidos em suas ameaças - isso por si só já é suficiente para atiçar o espírito de qualquer um que curta um bom e velho "Jund Boomer".

Além disso, a combinação também reúne alguns dos pilares mais poderosos do Standard, como Carruagem de Esika (junto do infame combo copiando as fichas de Ob Nixilis, o Adversario), O Massacre do Gancho de Carne, Fabula do Quebrador de Espelhos e Lolth, Rainha Aranha.

As cartas-assinatura dos Rebiteiros também funcionam muito bem: Amuleto dos Rebiteiros possui três modos bastante relevantes, enquanto que Soltar o Inferno é uma remoção que lida com as principais ameaças do formato enquanto pune as ferramentas de valor inimigas destruindo opções como Anuncio de Casamento e Quebrabanco Justiceiro.

Algumas escolhas dessa versão em particular foram bem "metagamizadas", mirando em baralhos específicos: Raio do Enfraquecimento já no deck principal ataca o Esper com Raffine, Vidente Ardilosa e o Naya Runes diretamente, além de eventuais Orzhov Midrange/White Weenie. Sarulf, Devorador de Reinos é a tecnologia para punir o Verso Desvanescedor.

Depois de jogar com a carta por alguns dias, Ob Nixilis, o Adversario se provou bem longe de ser o novo Oko, Ladrao de Coroas - as listas foram gradativamente cortando-o, algumas chegando até ao ponto da versão acima, que preferiu apostar em Ladra de Joias como uma boa presença de mesa que pressiona Planeswalkers e joga para cima de A Imperatriz Errante e Lolth, Rainha Aranha ao combinar suas habilidades de combate bem-posicionadas (vigilância e atropelar). 

A aceleração também funciona bem para adiantar a curva cinco, com a própria Lolth, além de Incendiar a Casa e Chefe Guerreiro da Oficina. Esse foi o caminho que um dos colegas na preparação para o Championship de New Capenna optou.

Seguindo na direção contrária, uma das versões que testei foi focando mais numa curva baixa e em potencializar Ob Nixilis, o Adversario, com bem menos opções de curva 5 e sem Tita da Industria. Com as muitas remoções leves, Adversaria Sanguinaria começa a ficar viável, sendo tanto uma jogada rápida para ser sacrificada para Baixa quanto uma forma de gerar valor no jogo tardio com o excesso de mana. Ela também é um alvo particularmente interessante para copiar com Reflexo de Kiki-Jiki.

Entretanto, não se enganem - mesmo com a curva mais baixa, o potencial de "grind" (troca de recursos/atrito) desse Jund torna-o digno de ser chamado de Midrange, carregando o manto que os Junds clássicos faziam no início da década passada.

Uma versão mais Ramp também é plenamente possível, apostando na combinação de quatro cópias de Aprisionar os Antigos Deuses junto de três Tita da Industria (com o quarto na reserva!). Ainda assim, o núcleo Carruagem de Esika/Fabula do Quebrador de Espelhos/Ob Nixilis, o Adversario ainda se encontra presente, permitindo tanto as aberturas mais curvadas, quanto o poder de permanência conforme o jogo progride.

A última das versões é ao mesmo tempo uma das mais interessantes: Jund Destruição de Terrenos, preparado para punir um metagame repleto de decks de três cores cheios de valor, mas com poucos básicos totais em suas bases de mana. Incendio Purificador + Campo da Ruina são o "kit básico" de início de jogo, enquanto Pisoteador de Topiaria e Aprisionar os Antigos Deuses fazem a ponte de acelerar a mana enquanto desenvolvem a mesa ou interagem com o oponente.
A grande estrela do baralho, entretanto, é Despertar os Trols. Uma carta esquecida, que sempre teve um potencial interessante quando pensamos principalmente em mirrors de Ramp (chegando, por um tempo, a ter 1 cópia em algumas reservas na época do Temur Ultimatum), mas que em conjunto com os outros elementos para atacar os terrenos causa bastante estrago, sendo a principal condição de vitória (tendo uma ótima sinergia com os aceleradores e com Wrenn e Sete).

 

E quanto a vocês, leitores, quais das versões de Jund citadas curtem mais atualmente no Standard? Quem sabe tenha alguma lista que não tenha sido citada? Ou alguma tecnologia que poderia entrar bem nessas listas? Compartilhem suas opiniões nos comentários!

 

- REPORT DO CHAMPIONSHIP

 

 

Nesse último final de semana tivemos o Streets of New Capenna Championship, evento bastante importante para definir o futuro de vários dos jogadores do cenário profissional, o último dos Championships digitais considerando a volta dos Pro Tours físicos e com vagas para o Mundial em jogo, inclusive para vários brasileiros.

No meu caso, a situação era bem mais modesta - se atingisse as nove vitórias após o Dia 2, eu conseguiria vaga para o primeiro Pro Tour físico em 2023, sendo esse um certo "marco" a ser almejado, mesmo que num geral eu só busquei me preparar com os decks que vou jogar e fazer o melhor possível com eles.

Para esse Championship, a maior parte da minha preparação foi novamente nas lives - consegui organizar um pequeno grupo de jogadores classificados, junto do Marcelo Cavalcante, Eric Kang e Nicholas Bruno, mas sem conseguir repetir a estrutura de super time dedicado exclusivamente aos treinos como outras equipes fizeram para esse Championship.

Quanto à escolha dos baralhos, pode-se dizer que travei nelas relativamente cedo. Quando entrou New Capenna no Standard, foquei no Ob Nixilis, o Adversario em alguns decks como Grixis e Jund, esse logo alcançando a minha atenção pela resiliência e nível de poder. Então comecei a investir cada vez mais nele, eventualmente percebendo que o Ob Nixilis não era exatamente a bomba que parecia ser na temporada de spoilers (o que fez com que eu fosse diminuindo a quantidade de cópias dele sendo usadas).

Testei variações do Jund, sem Ob Nixilis, com mais ramp como Ladra de Joias e Aprisionar os Antigos Deuses, com Incendiar a Casa como global, mas após a vitória no Standard Challenge no dia final para o envio das decklists, acabei decidindo por manter a versão que estava mais acostumado.

Para o Championship, as melhores escolhas a nível macro acabaram sendo os anti-Midranges, como Jeskai Combo e Temur Ramp, mas considerando os pareamentos que tive (três Esper Raffine), meu baralho estava bem preparado e acabou não correspondendo (vencendo de um e perdendo dos outros dois).

Caso tivesse um pouco mais de tempo para treinar e enviar as listas, existia uma boa possibilidade de eu acabar cortando os Ob Nixilis, o Adversario por completo - seria meu próximo passo nos testes, focando em mais remoções leves e uma curva rápida, mas outras escolhas foram muito boas e seriam mantidas, como Sarulf, Devorador de Reinos.

Já no Historic, minha pretensão era mudar do Izzet Phoenix para outro baralho, considerando a quantidade de "hate" (ódio) que enfrentei usando o baralho em alguns torneios pós-Kamigawa Championship. O Esper Control parecia promissor, com a Torre de Raffine para melhorar a base de mana e algumas opções douradas interessantes, além de Capturar Pensamento e Empurrao Fatal. 

O baralho não foi mal nos testes, mas quando chegou a vez de testar Picotador de Livros-caixa no Phoenix, a carta simplesmente superou toda e qualquer expectativa - dava uma velocidade absurda ao baralho, melhorava a resiliência dele à algumas remoções baseadas em resistência como Helice de Raios e O Massacre do Gancho de Carne, permitia ativar o descarte da Fenix Arco-lume sem depender de cartas tão voltadas para o cemitério e que dão desvantagem de cartas nos jogos pós-side (Pilhagem Infiel), ajudava a atingir o delírio rapidamente... enfim, a adição perfeita.

Bastou alguns poucos jogos para perceber que era aquilo que eu gostaria de estar fazendo nesse Championship, e de fato Izzet Phoenix se provou uma escolha fortíssima mesmo sendo o baralho mais jogado e visado. Entretanto, na minha versão em particular, sinto que poderia ter trabalhado melhor o sideboard (mirei muito em Azorius Control que praticamente não veio), e podia até mesmo ter apostado em Rabecao Clandestino no deck principal, antecipando uma quantidade maior de mirrors.

No mais, acho que minhas escolhas de decks foram bastante razoáveis, mas faltou lapidar ainda mais as escolhas finais das listas para ter mais chances contra o metagame, ganhar alguns pequenos percentuais aqui e ali.

E falando nesses pequenos percentuais, apesar do resultado geral de 2-5 ser desastroso, as partidas foram muito mais próximas - e salvo a derrota na sexta rodada, todos os outros jogos poderiam ter se convertido em vitórias para mim com uma coisinha ou outra sendo diferente.

 

- Standard

 

R1 Esper Raffine - Dominic Harvey - 1x2

 

A primeira partida do dia foi o deck que eu estava mais bem preparado contra, e que tinha um ótimo histórico nos treinos e torneios pré-Championship. Trocamos formalidades nos primeiros dois games, até que no decisivo terceiro jogo eu acabei mulligando a 5 começando, o que me deixa totalmente atrás em recursos. Após algumas pequenas trocas, meu gás acabou e fui completamente dominado.

 

R2 Esper Raffine - Louis-Samuel Deltour - 2x1

 

Aqui consigo uma vitória bastante dura no segundo jogo, e o terceiro venho com uma excelente curva de ameaças culminando em Carruagem de Esika  para Wrenn e Sete que ele simplesmente não tem chances.

 

R3 Esper Raffine - Andrei Klepatch - 1x2

 

Após a troca dos dois primeiros games, no terceiro game eu fui muito punido zicando a terceira cor (verde), e não conseguindo assim desenvolver a minha mão curvada com Carruagem de Esika. O tempo a mais que eu acabo dando ao oponente se mostra decisivo, e ele consegue um desenvolvimento muito superior ao meu quando finalmente consigo começar a emplacar minhas ameaças, elas se tornam perfeitamente contornáveis.

 

- Historic

 

R4 Izzet Phoenix - Ivan Floch - 1x2

 

As duas primeiras partidas foram um massacre para cada um dos lados, com um jogador curvando e comprando absurdamente melhor que o outro. O que nos levou ao fatídico terceiro jogo - eu largo melhor com Picotador de Livros-caixa que fica na mesa e crescendo, e em um determinado turno em que ele se fecha nas manas mas compra várias cartas com Pilhagem Infiel e Iteracao Expressiva, tenho a chance de fazer um Dragonete Fagulhante pequeno ou de forçar duas Fenix Arco-lume caso encontrasse uma terceira mágica com algumas cavadas. 

Opto pelas Fênix, já que ele tinha três cópias de Rabecao Clandestino no pós-side e tinha comprado muitas cartas. Só que nesse ponto o deck desaponta - eu falho em achar a terceira mágica, e meu turno é medíocre. Ele volta com dois Rabecão, e perco a janela de gerar valor com o cemitério. Vou remontando a mesa, e quando penso que "OK, mesmo se ele volte duas Fênix eu tenho interação e volto dando letal pelos céus", ele descarta e retorna nada mais nada menos do que QUATRO Fênix Arco-lume, e daí o jogo trava por alguns turnos. Quando finalmente consigo esculpir uma mão para forçar múltiplas remoções e letal, ele esvazia a mão dele exatamente limpando dois Dragonete Fagulhante meus com Calor Profano e atacando para exatos letais.

 

R5 Rakdos Arcanist - Marcelo Rodrigues Cavalcante - 2x0

 

Em ambos os jogos ele consegue atacar um pouco da minha mão e da minha mesa enquanto desenvolve uma certa pressão, mas consigo engatar turnos fortes voltando Fenix Arco-lume, virando a corrida do dano em meu favor. Dragonete Fagulhante depois que a "poeira baixou" foi responsável pelo golpe final.

 

R6 Rakdos Arcanist - Nico Bohny - 0x2

 

Nunca tive chance em nenhuma das duas partidas - meu oponente simplesmente curvou todos os descartes em Arcanista da Horda Medonha e eu virei um sócio-torcedor PLUS VIP ULTIMATE que assistiu a partida de dentro do campo. Essa é uma match que considero muito boa para o Izzet Phoenix, tendo sido minha outra vitória no Historic nesse Championship, e que eu ganhei duas vezes no anterior também, mas mesmo uma boa partida também está sujeita à variância e eu só fui curvado sem nenhuma chance.

 

R7 Red Deck Wins - Michael Egolf - 1x2

 

No primeiro jogo consigo remover as criaturas pequenas e "virar a chavinha" rapidamente com as Fenix Arco-lume, mas em ambos os jogos pós-side a Lanterna Guia-almas faz diferença, não consigo extrair valor do cemitério e ir respondendo às ameaças curvadas a tempo.

 

Gosto de falar que é praticamente impossível ganhar, fazer Top 8, premiar, fazer Dia 2 e afins em um torneio grande sem ter um pouquinho de sorte. Não necessariamente topdecks insanos, oponente zicando ou floodando, mas as pequenas sortes - manter uma mão forte de dois terrenos e comprar os que faltam, arriscar um keep faltando uma cor e achá-la, quando o jogo estabiliza comprar ameaças ao invés de terrenos, fazer uma jogada mais arriscada torcendo para o oponente não ter a resposta e ele, de fato, não ter. Tudo isso faz parte das "pequenas sortes" que são necessárias para ir bem, e em meus muitos anos de carreira nos torneios de Magic, isso se aplicou em maior ou menor escala em todos eles.

Se eu pudesse resumir minha participação nesse Streets of New Capenna Championship, seria um torneio onde essas pequenas sortes não estiveram em meu favor. Um mulligan a 5 começando em um decisivo G3. Zicar a terceira cor quando a mão estava curvada. Não acertar a terceira mágica cavando no deck para voltar as Fenix Arco-lume, ou um oponente capaz de jogar quatro Fênix Arco-lume no cemitério no mesmo turno, quando apenas duas seriam suficientes para eu voltar de letal mesmo assim. Essas pequenas coisas, algumas delas acontecendo mais de uma vez no mesmo jogo, foram cruciais para decidir partidas em favor dos oponentes.

Por fim, gostaria de agradecer pelo carinho de todos que ficaram na torcida e mandaram mensagens durante essa minha participação no Streets of New Capenna Championship - infelizmente dessa vez não consegui alcançar o Dia 2, mas o grind continua com o Organized Play do Arena e Tabletop na sequência da temporada. E ambos o Qualifier Weekend Limited e Explorer já estão logo aí!

Abraços e até a próxima!