Olá! Depois de ter participado do Neon Dynasty Championship em março, estava ainda mais tranquilo em relação ao meu posicionamento sobre o meu empenho no Magic competitivo/profissional - continuaria jogando os eventos que fossem interessantes enquanto produção de conteúdo, principalmente os "freerolls" que aparecessem pelo caminho.
Um deles era o "Torneio do Crokeyz", um Qualifier para o Streets of New Capenna Championship com 1.000 dólares de premiação em jogo e gratuito para jogar. Exatamente o tipo de torneio que me agradava.
Na preparação para ele, tivemos a chegada de um novo pacote de cartas para o Alchemy, que sacudiu bastante o formato nessas últimas semanas. Vinculo Doloroso era a principal delas, mas o elenco de suporte com Saqueamento do Submundo e Impacto Fundente não decepcionava.
Com essas novas ferramentas, o Rakdos Midrange rapidamente se tornaria o principal deck do formato, sendo capaz de lidar com os decks de criatura com suas muitíssimas remoções, bem como ganhar de outros Midranges e Controles com o pacote interminável de valor, especialmente com o "combo" de Connoisseur Espreitadora Urbana e Fabula do Quebrador de Espelhos.
Em questão de horas, Orvar das Formas Infindaveis virava uma "staple" (pilar) do formato, vendo jogo em todos os sideboards (mesmo dos decks sem azul) e até mesmo em alguns decks principais, já que funcionava como resposta direta para a Connoisseur ao copiá-la quando descartado.
A lista acima foi a que eu utilizei para alcançar o Top 4 no Torneio do Crokeyz, garantindo alguns dólares de premiação, porém sem conseguir a vaga. O resultado desse evento foi um formato completamente tomado pelas variações de Rakdos: além do Midrange, tínhamos uma lista também mid com Invocar o Desespero, um Grixis com Kaito Shizuki e Sacrifice com Pincelada Sangrenta e Bigorna do Culto dos Oni - e até mesmo listas que juntavam o plano Midrange com o Sacrifice alcançando relativo sucesso.
Os próximos dias desse formato ficaram bem complicados para os que continuaram jogando com o Rakdos Midrange (o que era o meu caso). Orvar estava realmente em todos os lugares, o que tornava impossível manter o plano de valor contra boa parte dos adversários. As mirrors eram complicadas, dependendo muito de cartas específicas vindo na hora certa (como não ter o Orvar quando você usa o descarte, ou ter de tê-lo quando o oponente descarta), remoções para a Fabula do Quebrador de Espelhos transformada, e encaixar o descarte no Invocar o Desespero do oponente.
Outras vezes, um dos jogadores só comprava muitos Vinculo Doloroso/Saqueamento do Submundo e fazia uma bola-de-neve absurda para cima do outro. Comprar mais cópias de cartas robustas, como Adversaria Sanguinaria, também era importante. Por todos esses fatores, o que normalmente seria uma boa e velha mirror de midrange justa, batalhada arduamente nos recursos, por vezes ficava com mais variância que uma corrida entre um aggro e um combo sem interação entre eles.
Um dos primeiros passos para tentar levar vantagem nesse tipo de confronto era adotar uma postura mais "aumente seu recurso" ao invés de "ataque o recurso do oponente". Quebrabanco Justiceiro era uma opção para fazer isso, embora fosse por vezes lento ou respondido por Abrasao. Mas ainda era difícil não depender do valor de Connoisseur Espreitadora Urbana. Até que cheguei nele:
Procurando listas por aí, encontrei uma versão de Izzet Midrange focada em Extrator Saiba junto de Fabula do Quebrador de Espelhos. Todo o pacote de interação vermelho estava lá, assim como Iteracao Expressiva para aumentar os recursos ao invés de atacar os do oponente com os descartes. Também tinha Orvar no deck principal, como forma de atacar os Rakdos diretamente.
O plano geral do deck era bem simples, como um Midrange convencional: destrua o jogo do adversário com interações leves, e comece a gerar valor com ameaças que fazem 2x1 (ou mais), assim como obter o domínio do jogo tardio quando os Saibas ficarem voltando para o deck ao morrer ou fossem clonados com o Kiki-Jiki.
Entretanto, acabei executando algumas mudanças estruturais importantes para chegar na lista que eu usaria no Qualifier Weekend do próprio Magic Arena. Cortei Dividir por Zero junto do pacote de lições, fazendo o deck jogar muito mais como um Midrange e podendo se fechar nas manas com mais frequência, inclusive entrando com Adversaria Sanguinaria para ir ainda mais nesse plano e melhorar na guerra de topo nas partidas arrastadas.
Depois de algum tempo jogando com a lista, otimizei algumas outras escolhas sutis, como Visao de Silundi para aumentar o número de terrenos e sinergizar com a Adversária, assim como fui lapidando a quantidade das remoções e, principalmente, a reserva. Um dos achados mais relevantes foi Comando de Prismari, uma excelente forma de atacar Fabula do Quebrador de Espelhos e Bigorna do Culto dos Oni enquanto gera valor, além de ajudar a arredondar o dano de Impacto Fundente.
Por fim, optei por um sutil "splash" branco, encaixando Arconte de Emeria como forma de atacar diretamente o Naya Runes, baralho que andava em baixa após o Kamigawa Championship, mas que alguns profissionais como o Kowalski colocaram em evidência nos dias antecedendo ao Qualifier - e que foi muito bem na mão de alguns jogadores, especialmente os japoneses que conseguiram mais de uma vaga com ele.
Com oito Trilhas/Sendas no lugar de oito terrenos que gerariam azul e vermelho, e as já utilizadas quatro cópias de Encruzilhada Esquecida trazia doze fontes de branco a um baixo custo de oportunidade - basicamente, abrir mão de usar Otawara e Sokenzan, assim como mais duplas-faces/Covil do Bugurso e mais básicos para jogar em volta de Campo da Ruina.
A mana funcionava bem, mesmo abrindo mão de uma certa utilidade nos terrenos para comportar uma carta de "hate" específica. Em dezoito partidas jogadas no final de semana, em nenhuma as fontes "brancas" atrapalharam, embora o Arconte só tenha sido utilizado uma única vez. Essa foi a lista que utilizei no Dia 1:
Além do Arconte de Emeria, a reserva trazia Devorador de Mentes e Anular para a partida contra Naya Runes. O Devorador cumpria função dupla, sendo muito relevante contra Gruul Werewolves, Mono Green e White Weenie, assim como o Anular entrava contra Sacrifice (sendo a melhor resposta possível para lidar em paridade de recursos com Pincelada Sangrenta).
Elixir do Cosmos era uma das melhores tecnologias tanto para as batalhas de atrito contra os Midranges, como forma de ganhar vida para sair do alcance do dano residual do Sacrifice (lembrando que o artefato foi modificado digitalmente para o formato, dando vidência 1 junto com o 2 de vida antes de começar a comprar, o que melhora bastante a carta).
Algumas opções a mais complementam o pacote de interações na reserva, com mais cópias de Abrasao, Comando de Prismari e Teste de Talentos. A única carta que não trabalhou tão bem no Dia 1 foi a singela cópia de Mergulhadora Celeste Ladra (que seria contra Sacrifice), tendo sido substituída no Dia 2 por um segundo Anular (que foi bastante importante nas duas vitórias contra Rakdos Sacrifice nesse dia).
O primeiro dia não começou exatamente promissor. Vieram três vitórias mais tranquilas contra decks mais "fora" do metagame (White Weenie, Azorius Control e Esper Clerics), mas também derrotas fulminantes para decks que eu esperava enfrentar com frequência (Rakdos Sacrifice e Rakdos Midrange/Despair). Logo, na quinta rodada eu já estava contra a parede, e teria de arrancar quatro vitórias seguidas para avançar ao Dia 2.
A partida seguinte foi contra um Orzhov Midrange, e após vencer o G1 com tranquilidade, perco um G2 que nunca parecia que ia escapar, com tudo sendo decidido no fatídico terceiro jogo. E logo após descer meu primeiro terreno, meu computador trava e preciso correr para reiniciar. Mesmo com o SSD carregando, pelo fato do jogo estar muito no começo, acabo passando o turno dois sem descer terreno e volto bastante atrás na partida, além de com pouco tempo no relógio total.
Um grande susto, mas a partida até que flui bem pra mim, e consigo fechar rapidamente tomando rotas agressivas com minhas criaturas. Um susto, e seguido de uma partida tranquila contra Rakdos Midrange/Despair onde o oponente nem viu a cor da bola.
Na penúltima rodada do Dia 1, enfrento um Izzet Saiba (uma mirror!), embora com algumas escolhas diferentes das minhas. Perco a primeira partida de forma dura, mas consigo virar os dois jogos seguintes com muito sufoco. A partida que decidiria o passaporte para o segundo dia era outro Rakdos Midrange/Despair, e após dois games trocados onde um atropelou o outro, no terceiro jogo meus Orvar fazem a diferença, e consigo acelerar muito nos terrenos para fechar com Salao dos Gigantes da Tempestade e uma Colmeia do Olho Tirano copiada (junto com Encruzilhada Esquecida para preto para ativá-la).
O segundo dia começa com um pouco mais de tranquilidade - venço dois Rakdos Sacrifice (com aquela cópia esperta a mais de Anular) e um Rakdos Midrange/Despair, perdendo de forma contundente para o Mono Green Aggro do Matt Nass. Até aí tudo bem, 3-1 ainda era uma ótima abertura.
Enfrento na sequência um Naya Runes, e para minha surpresa, consigo levar o primeiro jogo com uma combinação rápida de Fabula do Quebrador de Espelhos e várias interações, fazendo jogadas favoráveis no tempo. "Agora é a hora do Arconte de Emeria brilhar!", logo pensei.
De fato, tenho ele no turno três em ambos os jogos, mas em ambos ele é prontamente respondido por um Circulo de Confinamento, não me dando sequer um turno de vantagem. Na segunda partida sou simplesmente dizimado, mas no terceiro jogo ainda tenho chances mesmo assim, e vou pressionando o adversário na vida. Ele consegue construir um Kami 15/15 atropelar gigantesco, mas ainda sem vínculo com a vida o que me permitiria chances de achar algo para tentar ganhar o jogo em dois turnos.
Porém, duas Iteracao Expressiva que não revelaram nada além de terrenos sacramentaram o jogo, me forçando a ir para um letal que não seria letal caso ele tivesse uma Eiganjo na mão (e que eu não tinha escolha, já que a mesma Eiganjo também me mataria no bloqueio na volta). Ele tinha, e ali fiquei 3-2, precisando novamente arrancar quatro vitórias seguidas, sem falhas.
Nessa sequência, o deck resolveu mostrar o seu poder, e porque a combinação das melhores interações com os melhores mecanismos de vantagem de cartas funcionam tão bem. Golgari Elves, Boros Invoke/Dragon Combo e Orzhov Dungeon foram os três adversários seguintes, trazendo três vitórias de 2x0 em partidas extremamente seguras.
E de repente eu estava lá novamente, na "final de PTQ", aquela uma partida em que ganhar significaria jogar o segundo Pro Tour consecutivo, enquanto que perder no máximo garantiria o Dia 2 direto no próximo Qualifier Weekend. Quando percebo que meu oponente está jogando com Mono Green, o mesmo deck que havia me esmigalhado sem nenhuma chance mais cedo, a situação parece que vai ficar esquisita.
Entretanto, consigo ganhar o G1 com tranquilidade, curvando bem e interagindo contra um oponente meio travado no desenvolvimento inicial. No segundo jogo, uma combinação de três Trol Vetusto torna impossível alinhar a interação. Até que vamos para o fatídico e decisivo terceiro jogo.
Largo bem com interações, mantendo a mesa sob controle, mas um Libertador Jukai acaba escapando por um turno. Consigo estabilizar com a Adversaria Sanguinaria, forçando as trocas, e o jogo vai avançando até um ponto onde ambos estão jogando pelo topo. Era aquele momento: as minhas cartas eram melhores e mais poderosas individualmente falando, mas caso eu falhasse achando só terrenos por alguns turnos e ele comprasse bem, poderia acabar perdendo o jogo também.
Só que isso não acontece - e quando ele vem de Lider de Matilha de Lobisomens, a minha compra na volta é Devorador de Mentes, e após o oponente comprar a da sua vez depois disso... ele explode!!! E era isso: Streets of New Capenna Championship, aí vamos nós!
No mais, sinto que a montagem, escolha do baralho e reserva realmente me carregaram durante os jogos nesse fim de semana - todas as cartas dentre as 75 foram usadas, e salvo o Arconte de Emeria que foi instantaneamente respondido em ambos os jogos sideados contra Naya Runes, todas foram muita decisivas para ganhar algum jogo ao menos uma vez. Até mesmo "one-ofs" diferentes como Visao de Silundi (como terreno, cavando cartas ou gerando recurso com Adversária) e Esmagamento de Quebra-cranio (matando dois Aventureiro Triunfante) tiveram seus momentos de glória!
O saldo foi de 3-1 contra variações de Sacrifice, 3-1 contra Rakdos Midrange/Despair e 8-1 contra baralhos diversos do metagame, mesmo estando bastante "metagamizado" para os Rakdos (vitórias contra White Weenie, Azorius Control, Esper Clerics, Izzet Saiba, Golgari Elves, Boros Invoke/Dragon Combo, Orzhov Dungeon e Mono Green, além da derrota para outro Mono Green). Houve também o 0-1 contra o Naya Runes, nas circunstâncias previamente citadas.
Mesmo com o resultado tendo sido "no limite", sem poder perder uma match a mais sequer, estando contra a parede desde a quinta rodada em ambos os dias e tendo como último jogo em cada um deles um terceiro game bem disputado, num geral o deck "sobrou" durante a competição, mostrando muito do seu nível de poder e consistência - Iteração Expressiva é uma senhora carta de Magic afinal, e Extrator Saiba é ridiculamente forte dentre as cartas com mecânicas exclusivamente digitais.
Pensando nos próximos passos para o Jeskai Saiba, provavelmente algumas mudanças podem ser feitas para "ajustar" melhor o deck, tanto ele próprio quanto em relação ao metagame. O "splash" branco continua interessante de ser mantido, dado a quantidade de Naya Runes que foram bem no Dia 2 do Qualifier Weekend. Porém, as remoções podem ser mais balanceadas. Explosao Eletrostatica pode ser diminuída para uma cópia ou até cortada, considerando que nem sempre é simples extrair mais valor dela, e é bem ruim exilar o Extrator Saiba no começo. Provavelmente entraria com mais Abrasao e Comando de Prismari já no deck principal.
Na reserva, seria interessante ter acesso a alguma remoção maior, como Explosao Quebradica ou Maos Flamejantes, assim como a uma anulação que acertasse outras mágicas além de instantâneas e feitiços - Negar pensando em Planeswalkers e Encantamentos ou Golpe Desdenhoso para algumas criaturas maiores. Uma terceiro Esperanca Evanescente também é uma possibilidade.
E assim foi a "jornada" de um fim de semana de Qualifier Weekend no Arena que culminou na minha classificação para o meu segundo Championship/Pro Tour, o Streets of New Capenna - consecutivamente ao primeiro, de Kamigawa: Neon Dynasty. Gostaria muito de agradecer novamente a todos que acompanharam e torceram pela Twitch, mandando boas vibrações, e também à minha esposa Geni e meu filho Tales, que sempre estão juntos na comemoração das vitórias aqui pelo Magic Arena!
Abraços e até a próxima!