Olá! Assim como meu artigo "Diário de Bordo - Treinos para o Top 8 LATAM" ao final de 2020, para hoje pretendo compartilhar com vocês a minha preparação para o Neon Dynasty Championship, que já ocorreu nesse último final de semana dos dias 11 ao dia 13. O artigo foi escrito e enviado antes do torneio, provavelmente por volta do domingo dia 6, o prazo final de envio das listas, embora tenha sido constantemente atualizado durante toda a preparação, desde o finalzinho de janeiro.
Isso significa que eu não sei dizer exatamente o resultado que veio da minha preparação, e com certeza vai ser muito interessante voltar para ler esse artigo depois do torneio para um balanço de erros e acertos, e o que pode ser melhorado para a sequência da temporada no grind, que provavelmente virá junto do meu report de participação no Championship ainda essa semana aqui na LigaMagic.
Conforme eu citei no meu report do Qualifier, eu não estava exatamente perseguindo uma vaga para o Pro Tour, mas ela acabou "caindo no colo" durante o torneio da Five Color Hub que eu jogava em live, com foco maior na premiação e na produção de conteúdo.
Como ela veio no formato Standard, um que não seria utilizado para o Championship, para mim não fazia tanto sentido continuar jogando o formato mais a sério, e ainda haveriam anúncios de mudanças grandes no Alchemy (que respinga no Historic de tabela) na mesma semana, então em um primeiro momento apenas foquei em descansar, comemorar e até mesmo adiantar um pouco do trabalho para poder focar mais na preparação a partir daí, e especialmente a partir do momento em que tivéssemos a entrada da nova coleção, no dia 10 de fevereiro.
Assim que o meu Qualifier acabou, uma das primeiras pessoas que me mandaram mensagem foi o Leandro Meili, o "stalker_br", que também tinha ganho sua vaga através do Qualifier do Hooglandia Open jogando Historic. Daquele momento em diante, combinamos de nos preparar juntos e também "caçar" outros brasileiros que pudessem ter ganho a vaga para se juntar à equipe: caso do Thales Augusto, o "thaleslap", que levou a vaga através do Qualifier Weekend do Magic Arena em novembro de 2021.
Como o formato Historic tem a tendência de se manter mais estável através de períodos maiores de tempo, e por ser um dos formatos que menos me agrada jogar a nível pessoal, decidi que começaria os trabalhos ao menos até Kamigawa chegar focando completamente nele: aprendendo a jogar minimamente razoável com todos os baralhos do metagame, como eles funcionavam e interagiam entre eles.
Outro motivo relevante para começar por ele era que logo no dia 5 de Fevereiro teria o primeiro Qualifier Weekend para New Capenna no Magic Arena. Participar do Kamigawa Championship automaticamente me classificava para esse evento, e essa seria uma das minhas algumas chances de sequenciar participações nos PTs nas próximas semanas.
Costumeiramente, minhas preparações para os torneios acontecem em live, com no máximo colhendo alguns palpites de amigos próximos que por ventura estejam trabalhando nos mesmos decks/formatos que eu. Isso costuma funcionar bem para mim, porque me permite usar meu tempo de forma eficiente, além de entrar na premissa da minha produção de conteúdo mais voltada para o competitivo, trazendo também a preparação além dos torneios de fato.
Porém, é evidente que a questão "pessoa pública/lives" vs. "preservar informação" chegaria à tona para essa preparação em particular, especialmente por envolver outros jogadores que não fazem stream com frequência. Alguns tipos de preparações poderiam ser feitas em live, como testar decks já conhecidos do metagame - enquanto outras, como decks que estaríamos trabalhando e tecnologias secretas ainda desconhecidas seriam mais "guardadas". Balancear isso seria mais um dos desafios da preparação.
Desde os primeiros dias, sempre trocamos algumas informações sobre listas, tecnologias que poderiam ser adotadas e algumas impressões jogando com alguns decks. Assim que tivemos o desbanimento do Teferi, Manipulador do Tempo versão digital, corri para montar uma base de Kethis Combo, baralho que poderia se aproveitar muito bem dele. O Thales, que também sempre gostou bastante do deck, logo pegou e foi jogando direto, mudando algumas coisas como base de mana e planos de sideboard. Enquanto isso, o Meili ficava bastante de olho em listas novas, cartas esquecidas e nos spoilers de Kamigawa.
Essa foi uma das versões mais "cruas", que explorava o máximo do Teferi e focava mais em combar, com no máximo um plano de sideboard transformativo. A base de mana era bem ruim, então Encruzilhada Esquecida foi adicionada em 1, 2 e chegou até as 4 cópias para melhorar nesse sentido.
O baralho funcionava bem, conseguia combar relativamente rápido, mas a própria inconsistência e o fato de sofrer para "hate" (ódio) de cemitério sem ter um plano B suficientemente forte fez com que descartássemos a ideia.
Nos dias seguintes, joguei com outros baralhos do metagame em live, conseguindo níveis diferentes de sucesso com eles. Azorius Lotus Control, Izzet Phoenix, 5C Niv-Mizzet, Temur Ramp/Control. Dentre esses, o Izzet Phoenix é o que mais me agradou, e seria ele a minha escolha para o Qualifier Weekend no dia 5 de fevereiro.
Algumas sutis mudanças na lista base, e cheguei a testar uma versão mais experimental com Niv-Mizzet, Parun como forma de ganhar vantagem na mirror, além de ter uma ameaça que diz "eu ganhei" caso desvire em algumas partidas mais arrastadas. Entretanto, embora o Niv tenha ganho alguns games, em outros ele ficava bastante pesado na mão, e no final das contas não fazia tão diferente de um Dragonete Fagulhante não respondido. Fora outras escolhas na minha lista e reserva que não foram tão interessantes, e acabei eliminado no Dia 1 com um resultado de 4-3.
Meus colegas também não tiveram muito mais sorte, eliminados com três derrotas no primeiro dia ambos com o Selesnya Heliod, deck que tinha ganho a vaga para o Meili algumas semanas antes, mas não parecia mais tão bem posicionado no metagame com tanto Azorius Control por aí.
Apesar desse resultado, Izzet Phoenix ainda era a minha principal escolha no Historic - muitos jogadores conseguiram a vaga no próprio Qualifier Weekend com ele, com versões que estavam bastante "tunadas" para acertar bem o metagame do Historic.
Na véspera da entrada de Kamigawa: Neon Dynasty no Arena, esse seria o deck que liderava como minha escolha. E por muito, graças à combinação de consistência, velocidade e capacidade de contornar "hate" de cemitério, além do "boost" de confiança de ver vários outros jogadores indo bem com o baralho, e o fato dele seguir no topo do metagame mesmo em evidência.
O mês de fevereiro ainda viria cheio de Qualifiers, que seriam tanto uma "prova de fogo" para testar nossas impressões e ideias dos treinos, como também a possibilidade de ganhar a vaga para o Pro Tour seguinte, o New Capenna Championship. Os primeiros testes com Kamigawa foram bem agradáveis, com Otawara e Sokenzan (principalmente o terreno azul) sendo as únicas mudanças no Izzet Phoenix, baralho que ainda liderava a escolha. Entretanto, o novo baralho de Presa-de-graxa, Chefe Okiba e Parelio II parecia bastante promissor, e valia ao menos o teste.
A versão Mardu era mais rápida, capaz de combar no turno 3 com bastante frequência, embora não tivesse tanta margem de manobra nos jogos. Já a versão Esper, possuía as anulações, mas era um pouco mais lenta, e algumas cartas ainda não convenciam totalmente (como Ancorar na Realidade). O baralho surpreendeu bastante, mostrando seu poder nas partidas do dia-a-dia no MagicArena - parecia já ter passado do território "meme", e era hora de colocá-lo em um teste mais direcionado.
Enquanto isso, testar Alquimia era uma dificuldade - as partidas no Arena demoravam para parear, e por vezes não parecia que estava enfrentando decks/oponentes realmente competitivos - mas o Gruul Werewolves continuava sendo uma boa arma, capaz de entregar um plano proativo forte que contornava até mesmo alguma camada de interação, embora seja o deck mais "nível 0" e óbvio dentre todos no formato (especialmente por não ter contado com nenhum "nerf" em suas cartas, além de teremo arrumado o bug de cor da Rahilda, Degoladora Procurada).
Mesmo enfrentando uma quantidade considerável de "hates" (cartas de ódio), como muitos decks cheios de remoções rápidas, globais e estratégias baseadas em sacrifício, o deck seguia correspondendo, e pouco antes do Qualifier do Hooglandia Open para New Capenna (que seria Alchemy) alcancei o Mítico com ele durante as lives.
Teria também outro Qualifier no formato Histórico no domingo, e nele provavelmente teríamos o Meili de Rakdos Arcanist e o Thales de 5C Niv-Mizzet - onde usariam o torneio também como mais uma forma de testar esses decks em um campo mais amplo e competitivo. O Meili acabou ficando em nono, enquanto que o Thales foi mal. Ainda eram opções cogitadas por ambos, mas o plano Izzet Phoenix ficava cada vez mais próximo.
Já no Alchemy, eu e o Meili terminamos na premiação com o Werewolves, ele testando a tecnologia da Cobra de Lotus, eu com uma lista mais convencional. Só que nesse final de semana surgia o baralho que tomou nossas atenções na sequência, sendo cogitado até mesmo como uma possível opção para o torneio: o Naya Runes, explorando as sinergias de Kamigawa com encantamentos e o Campeao da Forja Runica, fazendo criaturas gigantescas com vínculo com a vida e atropelar, além de turnos que remetiam a combos cheios de mágicas grátis quando o Naturalista Jukai sequenciava inúmeras runas.
Jogar com o baralho me surpreendeu: ele era capaz de turnos explosivos caso não respondido, mas ao mesmo tempo tinha um poder de permanência no jogo forte graças ao Confronto dos Skalds e Assombracao Sagrada, além de ameaças que incomodavam caso ficassem na mesa como Visitante Generoso e Kami da Transitoriedade. Com o plano bom não só contra Werewolves, mas contra qualquer baralho que não estivesse mirando diretamente nele, parecia uma sólida escolha para o Championship.
Porém, os problemas de dificuldade de teste no dia-a-dia do Arena puniam bastante - mesmo no Mítico com um número, frequentemente era pareado contra jogadores no Bronze ou Prata, com decks de Draft ou com muito mais de 60 cartas, impossibilitando qualquer treino real. Precisaríamos sincronizar nossos horários e fazer os testes entre as partidas mais importantes: Runes, Werewolves e Controls. Combinamos, então, de jogar somente Alchemy quando estivéssemos em mais de um disponíveis ao mesmo tempo, e Historic quando não conseguíssemos sincronizar os horários ou durante as minhas lives, onde a ranqueada poderia ser um pouco mais proveitosa.
Ao mesmo tempo, o grind implacável dos outros Qualifiers para New Capenna também consumia o tempo, no meu caso dividindo a atenção também para o Standard. E como se não bastasse, no dia 24/02 (dez dias antes de enviar as listas para o Championship!) o Alquimia sofreu algumas mudanças, com Tirano Arrasador de Cidades sofrendo um novo "nerf" e os zumbis ganhando todo um pacote de melhorias que poderia tornar o deck viável. E Fogos da Invencao passaria a valer no Histórico custando uma mana a mais (esse um impacto que acreditamos ser menor, e provavelmente não valeria o teste em prol do seguro Izzet Phoenix).
Com essas mudanças no formato, o Meili julgou interessante testar a base de Zumbis (a maior parte das cartas que receberam ajustes), e ela se comportou surpreendentemente bem - ganhando de Naya Runes e Control bem com as criaturas rápidas, sinergia e disrupção na medida certa, tendo jogo também contra Werewolves. Parecia um baralho bastante promissor de se trabalhar, com destaque para algumas cartas como Kaito Shizuki trabalhando bastante.
Entretanto, depois de uma noite de testes mais dedicados da minha parte, o baralho se provou bastante inconsistente, e até fraco em termos de nível de poder, com várias cartas que eram, de fato, comuns de draft. E até mesmo as matchups que acreditávamos ser boas, na prática foram mais alguns poucos jogos em que tudo deu certo.
Com isso, acabamos voltando as atenções para o Naya Runes, que mesmo sendo o principal e mais visado deck do formato no momento, continuava demonstrando um ótimo poder. O Thales chegou com uma lista cortando por completo Comungar com Espiritos e apostando em Circulo de Confinamento e Aparicao do Enclave Celeste para ganhar vantagem nas mirrors e contra outros baralhos com permanentes hate, como Buraco Portatil e afins. Tanto o corpo 2/2 encantável, quanto a capacidade de resolver várias ameaças relevantes no formato fez bastante diferença, e valia o esforço na base de mana para encaixá-la.
Já no Histórico, o Izzet Phoenix seguia fulminante para mim, e mesmo com os testes sendo em sua maioria na ranqueada, o índice de vitórias (win rate) beirava os 90% mesmo com dezenas de partidas jogadas - e as últimas horas de preparação definiriam quais seriam os últimos espaços no deck principal e na reserva.
Enquanto isso, o Thales tinha a semente da dúvida no Histórico: se mantinha seu fiel 5C Niv, ou se embarcava no bonde dos bem-te-vis que voltam do cemitério. O Meili tinha decidido jogar com o Rakdos Arcanist, baralho que ele tinha um grande expertise e conhecimento das matchups. Nessa parte do Histórico, mesmo optando por baralhos diferentes, a gente tinha alguns consensos sobre o formato e escolhas, com cada um pendendo mais para sua própria zona de conforto.
Já para a Alquimia, eu e o Thales estávamos totalmente no plano Naya Runes, confiando na Aparição + Círculo para levar vantagem nas mirrors, e com o plano de Magilacador de Elite na reserva. As outras ameaças, como Anuncio de Casamento, Toski e quem sabe Arlinn ainda não agradavam tanto.
Outra opção seria ficar mais no "plano principal" e aumentar a disrupção com mais cópias virtuais do "PV" usando Maldicao do Silencio, principalmente para nomear Adeus mas que também serviria muito bem num ambiente com listas abertas, tendo sinergia com o baralho por ser um encantamento e por manter a curva do deck baixa pós-side pensando no Confronto dos Skalds. Reidane também seria uma opção pelo mesmo motivo, jogando mais em um plano "taxar a global" ao invés de fazer outras ameaças que atacam por um ângulo diferente.
Enquanto isso, o Meili às vésperas do prazo de envio se encantou por um Golgari Midrange, apostando principalmente em Invocar o Desespero e Shigeki, Visionario Jukai (carta que, inclusive, ganhou bastante tração nas últimas horas pré-envio, aparecendo em vários tipos de estratégias focadas em recursão de globais contra o Runes). Ele acabou decidindo por esse baralho após algumas várias partidas na ranqueada, assim como o Thales fechou com o Niv no Historic depois de alguns testes mais direcionados para resolver a matchup contra Azorius Control. Nesse dia não consegui testar muito por outros compromissos de transmissão na live, mas já estava decidido nos decks, faltando só alguns ajustes finais.
No último dia de envio das decklists, todos terem a certeza do baralho a ser utilizado certamente ajuda bastante. No meu Izzet Phoenix, a dúvida era se mantinha Dragao Silfide ou cortava-os de vez para outras ameaças, como mais um Dragonete Fagulhante e Entidade da Asa Tempestuosa (que contornavam melhor algumas remoções baseadas em custo, como Empurrao Fatal e Marcha da Luz de Outro Mundo).
Na reserva, cogitava também voltar com mais uma "ameaça anti-Descanse em Paz", como Chandra, Piromestra, Chandra, Artesa do Fogo ou mais cópias de Caloteiro Descarado // Pequeno Furto/Buscadora de Tempestades Temeraria, jogando o Caloteiro Descarado como opção no deck principal ao invés do Dragao Silfide. O Final de Promessa foi um corte relativamente tranquilo em um mundo com cada vez mais hate de cemitério no primeiro jogo, e o Abrasao me agradava bastante como forma de responder Forno da Bruxa, Bigorna do Culto dos Oni e Arcanista da Horda Medonha.
Já para o Naya Runes, o ajuste era na base de mana - 23 ou 24 terrenos, assim como qual plano de sideboard contra controle seria melhor, aumentar nas disrupções taxativas ou colocar ameaças que atacam por outro ângulo. Essas seriam as respostas a serem buscadas para o último dia de treinos antes de enviar as listas, o fatídico domingo de 6 de março.
Nesse dia, focamos principalmente em buscar respostas para o Alchemy. O plano de Maldicao do Silencio funcionou muitíssimo bem no pós-side contra Controle, tanto que ao final fomos para quatro cópias dela na reserva, além do Magilacador de Elite e da Reidane. No Izzet Phoenix, optei por ir mais no plano da Buscadora de Tempestades Temeraria, e cortando completamente Dragao Silfide do deck principal.
Com isso, essas foram as minhas duas listas enviadas:
Os últimos dias após-envio seriam utilizados para aperfeiçoar alguns planos de sideboard, e principalmente ganhar volume de jogos com os baralhos em questão, mas sem poder executar mais mudanças nas decklists.
As minhas duas escolhas foram bastante óbvias, mas ainda assim são dois decks bastante poderosos, consistentes, que têm chances de ganhar de qualquer outro baralho no metagame, e onde contávamos que algumas das tecnologias poderiam fazer diferença (Aparicao do Enclave Celeste/Circulo de Confinamento deck principal, Maldicao do Silencio na reserva do Naya Runes; Buscadora de Tempestades Temeraria e o plano "anti-Descanse em Paz" na reserva do Izzet Phoenix).
E essa foi a minha preparação para o Neon Dynasty Championship. Desejem sorte ao Sandoiche e seus parceiros de treino do passado!
Abraços e até a próxima!