Olá galera, hoje será um conto clássico na essência da palavra. Um simples conto de Ano-Novo e uma linda aventura. Espero de coração que o ano novo que está vindo traga muita paz, saúde (sem Covid-19 é lógico), sorte, harmonia, dinheiro e muita energia boa nesse 2022 para todos. Muito obrigado a cada um de vocês e boa leitura. Que os Deuses do Magic abençoem a todos.
*********************************************
● PARTE ZERO: ENCONTRO INESPERADO
O plano era sobreviver como sempre. Era apenas sobreviver.
Estamos em Ravnica. Aqui tentamos sobreviver e melhorar sempre. Somos uma família simples composta por eu, meu pai, minha mamãe e meu irmão, o rebelde (e medroso) por natureza. Papai, nosso chefe da família, sempre lembrava com muito orgulho as mesmas palavras:
-Sobrevivência é fundamental. Para sobreviver devemos nos organizar e melhorar nossas vidas sempre. Somos comerciantes de artefatos e quinquilharias que todos querem e precisam. Compramos. Consertamos. Vendemos. Crescemos. Somos Orzhov. Buscamos poder pelo poder crescemos. Somos Orzhov.
As guildas estavam sempre em conflitos. Tramas. Traições. Nisso tudo não nos metemos. Não tomar partido era fundamental. Era sobrevivência. Sobrevivência sempre.
Sobreviver é tudo. Nossa guilda sempre nos protegia e por isso nossa obediência deveria ser total, cega talvez. Seria verdade?
(...)
Nesse dia eu estava cansado. Eu e meu irmão, que sempre questionava tudo, tínhamos que percorrer vários trechos da cidade para comprar artefatos e quinquilharias em pontos da cidade definidos por nosso pai, e eventualmente recolher alguns que tenham sido jogados fora. No caminho passamos por uma conselheira (uma Aristocrata do Cartel) e o famoso Barao Sangrento de Vizkopa, conversando no meio da rua. Paramos nossa carroça, que era bem pequena e puxada por nós mesmos, e que estava cheia de coisas velhas para dar passagem à nobreza. Respeito e obediência devem prevalecer. Respeito aqui também era sobrevivência.
Passamos por algumas ruas que davam medo, por isso não perdíamos tempo olhando coisas indevidas as vezes.
Um dos comerciantes do qual compramos alguns artefatos nos confessou:
-Há um burburinho que corre solto que uma guerra está por vir. As guildas estão tensas entre si. Tomem cuidado e avisem ao seu pai. Gosto muito dele, pois é um bom amigo.
Toda informação pode ajudar. A informação ajuda a combater doenças, febres, evitar problemas e salvar vidas. Uma vez ficamos com uma febre estranha, e nosso pai foi num curandeiro que nos passou uma poção certa. Salvou nossas vidas. A informação do curandeiro certo, que tinha o remédio certo, nos salvou. Meu pai era um homem bem informado. Nunca me esquecerei disso.
(...)
Estávamos quase perto de nossa casa quando um homem grande, que estava envolto numa capa que mal dava pra ver o seu rosto e suas mãos, se aproximou de nós. Ele nos chamou com um simples “psiu”. Tinha algo numa pequena sacola. Chegamos perto, mas não muito, e vimos que ele tinha rosto que parecia ser todo de latão. Perguntou se queríamos um artefato que ele estava segurando que parecia ser bem pequeno. Concordamos em comprá-lo e aí ele falou:
-Não quero dinheiro. Quero apenas informações. O artefato só pode ser usado uma vez, e uma vez usado ele se torna inútil. Se alguém está machucado, cansado, ou perto de morrer pode ser usado para salvá-lo. Me informem onde ficam esses lugares aqui em Ravnica nesse mapa em minha mão. Sou da paz. Estou aqui secretamente. Por algum motivo eu senti que deveria falar com vocês.
-Como podemos saber se salvará alguém? Qual o seu nome para começar? -Perguntei de forma honesta, séria e firme.
-Meu nome é Karn e sou um artefato vivo. Um golem. Sou um planinauta. Não desejo brigar. Posso consertar alguns artefatos de vocês em instantes. Aceitam? Estou em segredo por aqui. Peço sigilo.
Já tínhamos ouvido rumores de um planinauta golem. Fiquei com medo. Informação é tudo. Vimos o mapa em sua mão, então lhe demos as informações. Ele deixou o artefato conosco. Em poucos minutos olhou os artefatos da carroça e consertou vários menores como se fosse mágica gesticulando as mãos por cima deles. Falou por fim:
-Gostei de vocês, não sei por que. Os artefatos que consertei estão vivos agora e podem se unir formando um maior quando pedido. Sugiro escondê-los para a proteção de vocês. Eles obedecerão a vocês dois, ou um a outro, quando for pedido ajuda. Quanto ao artefato mágico que lhes dou sugiro que guardem para o uso de vocês ou da família. Gosto de ajudar jovens aprendizes.
Ele saiu logo em seguida de forma discreta. Tratamos de sair de forma ligeira e assim que chegamos conversamos com o nosso pai que nos orientou.
- O que ele lhes deu é de vocês. O artefato pode ser útil um dia. Você, que é o mais velho, guarde-o. Essa informação é de vocês. Usem com sabedoria. Sobrevivência é tudo. Guardem em segurança. Não comentem nem para sua mãe. Informação é poder.
Eu e meu irmão pensamos: vamos usar se precisarmos um dia. Os deuses nos abençoaram antes das festas de fim de ano aqui em Ravnica, que não estava muito longe. Todos se esquecem de brigar nessa época de fim de ano. As festas são compostas basicamente de alegria e são lindas, salvo alguns eventuais bêbados que fazem alguma besteira.
● PARTE UM: A ARENA
Era difícil não presenciar lutas no meio das ruas de Ravnica, às vezes dentro das próprias guildas ou entre guildas. Os líderes de cada guilda não se metiam. Eles mesmos chamavam alguém neutro para arbitrar a luta. As pessoas chamadas a esmo no momento da luta eram presenteadas. Ninguém na luta iria sair prejudicado financeiramente. Eles queriam apenas lutar por lutar. Era o prazer de provar que sua guilda era melhor que a outra, e isso muitas vezes ocorriam em becos. Era de certa forma uma arena improvisada. Uma arena de rua.
A cada dia havia mais lutas assim e cada vez mais a cidade estava mais tensa. Ninguém escapa de sentir essa tensão no ar.
Eu e meu irmão resolvemos parar num beco para verificar se haviam coisas velhos e pequenos artefatos que poderíamos eventualmente recolher.
Foi quando estávamos saindo que fomos encurralados por dois desafiantes. Um feiticeiro (e espadachim) Orzhov e um brutamontes Gruul. Não poderíamos fugir. Teríamos de passar por eles. Quando vimos estávamos sendo apontados pelos lutadores.
- Se lutarmos aqui e agora daremos a cada um algo de valor para os dois jovens ali. Eles serão os árbitros. Aceita besta Gruul?
- Eu sou forte e rápido! Gruul não tem medo. Eu vencerei. Você é fraco e magro. Aceito. Gruuuuullll!
Cada um jogou um objeto em nossa direção. E disseram:
-Artefato de força Gruul. Aumenta sua força se precisar sempre quando luta. Ataca. Não preciso disso para provar que sou forte. Fracote é você feiticeiro.
-Um pequeno artefato de proteção contra mágicas instantâneas. Muito útil às vezes. Tenho mais de um desse.
Recolhi imediatamente os dois artefatos para meu bolso. Meu irmão estava com medo e nem falou nada. Optei por ficar atento a tudo.
Eles lutaram. O gigante era rápido com a clava. Astuto. O feiticeiro tentava enfraquecer a besta Gruul, mas não conseguia e tentava acerta-lo com a espada. A luta não durou muito, pois os dois se cansaram. Nem precisaram de árbitro. Vi como os dois lutavam. Aprendi um pouco vendo. Tínhamos de ser espertos e ficar neutros, a escola da vida era nossa maior aliada.
Por fim nos deixaram partir, e saímos dali o mais rápido possível. Afinal, tinha dado empate.
Em casa contarmos tudo ao nosso pai, ele repetiu a mesma ladainha de sempre como “informação é poder”, “sobrevivência é vital” e “guarde e não conte a ninguém”. Assentimos como sempre.
Nosso pai estava certo. Tínhamos de aprender a sobreviver.
● PARTE DOIS: O SONHO
Hoje havia sido um dia cansativo. Por isso eu e meu irmão já estávamos em casa cedo. As brigas, confusões, atritos entre as guildas estavam cada vez piores. Havia um cheiro de guerra no ar.
A palavra do dia era apenas uma: medo, muito medo. Porém tínhamos de ser corajosos e aprender a vencer nossos próprios medos. Uma das coisas que o meu pai havia me ensinado, e que havia sido passado pelo pai de meu pai, era aprender a meditar. Um pouco de meditação nos ajuda a aliviar o estresse e os medos do longo de dia de coleta e trabalho. Tranquiliza a mente.
Eu estava com seu irmão em meu quarto, e naquele momento o meu irmão estava tão cansado que dormiu logo. Ele nem meditou. Mas eu não, precisava meditar. Isso me acalmava.
Me concentrei, mesmo com medo, me esforcei ao máximo. Estava cansado e com medo.
Depois de algum tempo meditando eu dormi, parecia estar sonhando. Sonhando acordado ou ainda meditando? Eu não sabia o que era ou sabia?
A paisagem à minha volta mudou. Estava em outro mundo. Eu estava calmo, mas ao mesmo tempo sentia uma energia ruim ao redor. Tudo ali parecia ser maior. Nesse momento eu vi uma pessoa. Seu rosto, exibido somente em parte, parecia estar saindo fumaça. Usava as cores preto e azul.
- O que você faz aqui? Estamos no plano de meditação. E meu nome é Ashiok. A sua presença me pode ser útil. Eu sei que você estava sonhando.
-Não estou entendendo. Estava meditando e acho que dormi. Pensei que estava sonhando. Estou em Ravnica ou aqui é um sonho?
-Sinto medo em você. Isso é bom. Mas não é bom você estar aqui. Você não faz parte de meus planos. Você irá se esquecer e irá embora criança. Você me servirá pouco. Mas vou me alimentar um pouco de seus medos criança. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Ele, ou ela, fez um gesto com sua mão, que tinha unhas enormes. Senti algo sair de meu peito. Como se sentisse uma falta de ar. Uma espécie de energia sugada. Foi quando vi se materializar na minha frente um enorme guerreiro com o rosto em forma de esqueleto. Tinha medo de esqueletos e de guerreiros violentos.
- Foi bom saber através de sua energia que em Ravnica muitos estão com medo de uma guerra. Bom saber... Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Bom minha criança, muito bom. Vai me servir como degustação. Hummm... Como você conseguiu segurar o seu medo para sua idade vou lhe dar um pequeno presente. Será uma pequena lembrança para nunca mais voltar. Você não se lembrará que esteve aqui. Tudo foi um sonho ruim e estranho. Ao acordar você estará com esse pequeno amuleto. Se você segurar muito e focar em alguém, a pessoa começará a esquecer das coisas e terá cada vez mais medo e vazio em sua mente. Se segurar muito tempo a pessoa alvo poderá ficar sem memória. É uma espécie de moedor de memória, bem útil às vezes. Tenho alguns, mas esse é pequeno. Você acordará com ele ao seu lado e saberá o que ele é. No futuro você poderá me ser útil. Digamos que é uma troca. Agora suma daqui!
Novamente Ashiok fez um gesto e tudo à minha volta girou. Tudo parecia estar se dissolvendo como um borrão de tinta na água.
Abri os olhos. Tinha sede. Peguei um pouco de água que estava no vasilhame perto de mim e bebi. Sonho estranho que tive... O que era aquele pequeno artefato ao meu lado na cama? Sabia o que era, mas não me lembrava como o havia conseguido de fato. Graças aos Deuses tudo foi um sonho. Será?
● PARTE TRÊS: A LUTA
Guerreiros, feiticeiros, magos e espiões atacavam. Estávamos em guerra. A guerra entre as guildas eclodiu. Tínhamos de ter extremo cuidado.
Ficamos em casa a maior parte do tempo. Tínhamos comida para vários dias, conforme meu pai ordenara esconder num porão secreto dentro de casa dias antes da guerra explodir. Água nem tanto, mas guardamos o máximo que pudemos. “Informação é poder, informação é sobrevivência” lembrava meu pai sempre.
Eventualmente tínhamos de entregar alguns artefatos prometidos dias antes. Meu pai era um homem de palavra. Tínhamos de sair no meio da guerra, infelizmente. Meu irmão menor ficava em casa e eu saia com papai nesse caso.
No início era fácil, eram poucas entregas pendentes. Mas na última entrega, a guerra havia piorado. No meio da cidade de Ravnica surgiu uma fortaleza. Tudo havia mudado. Um exército havia invadido nosso mundo. Quem iria nos salvar?
Sempre optava por levar para me proteger alguns de meus pequenos artefatos.
Havíamos atravessado vários quarteirões até o nosso destino final. Sempre íamos pelas sombras e indo o mais rápido que podíamos. Entregamos e voltamos. Na volta vimos uma mulher ser morta ao fugir. Era um guerreiro Rakdos sedento de sangue. As pessoas fugiram ao ver o guerreiro, inclusive nós.
Quando estávamos saindo discretamente o guerreiro cismou conosco apontando para nós.
Desespero. Medo. Sentimos tudo junto. Não tínhamos palavras.
- Não desejamos nada. Apenas ir embora eu meu filho, por favor. – Meu pai falou calmo.
O guerreiro sedento por sangue parecia que estava cheio de fúria e sedento por sangue ele resolveu vir para cima de nós. A espada cimitarra estava em sua mão direita caindo sobre nós quando ela bateu em algo invisível.
Era uma espécie de escudo invisível. Sim! Um homem de branco estava perto de nós e gesticulava parecendo comandar uma parede, ou a barreira invisível. Milagre ou mágica?
O guerreiro Rakdos batia, batia, batia cada vez mais forte na parede invisível que aguentava. Foi quando o homem de branco gritou:
- Saiam daí. Vou segurá-lo, mas não muito. Fujam.
Meu pai queria fugir mas eu tomei uma atitude diferente: eu iria ajudar. Tinha de enfrentar meus medos. Eu sabia como ajudar.
Saquei do bolso o artefato pequeno do qual havia acordado com ele noites atrás. Segurei-o apontando para o guerreiro Rakdos e me concentrei.
Me concentrei. Forte. Abri a mente para focar no guerreiro. Foquei.
Conforme batia o poderoso guerreiro batia com a espada começou a diminuir o ritmo. Batia cada vez menos e menos forte.
De repente parou. Ele nos olhava com cara de burro. Sua mente parecia vazia. Sua boca aberta sinalizava que ele não sabia o que fazer.
Ele caiu. Caiu de olhos abertos como se estivesse em choque. Ele babava. Horrível! O artefato era cruel. Tive de escolher. Era ele ou nós.
O homem de branco ficou me olhando. De repente ele falou:
-Meu nome é Teyo Vereda. Obrigado por me ajudar. Eu tentei ajudar vocês. Gostei disso aí hein. – Apontava para o artefato.
- Eu e meu pai é que agradecemos. Você nos ajudou. Salvou nossas vidas. Eu só dei uma pequena ajuda. Eu tenho esse amuleto, mas nunca o havia usado. Simplesmente eu sabia que seria útil, mas não sabia direito como.
- Te entendo. Mas de qualquer forma foi um prazer. Vou te dar presente esse outro pequeno artefato. É um pequeno cristal. Vou colocar um pouco de minha energia nele. Quando precisar, pode usar. Criará uma barreira invisível. Basta segurá-lo e se concentrar. Mas quando a energia do cristal acabar, já era. Acho que ele aguenta cerca de uns 15 minutos.
- Muito obrigado mesmo. Foi um prazer. Sigam em paz.
Continuamos pelo nosso caminho e o homem de branco pelo dele. Tratei logo de esconder o presente.
No caminho meu pai pouco falou, a seguinte frase:
- Muito obrigado meu filho. Fico feliz pela sua atitude. Como eu te ensinei. A informação nos salvou. O seu conhecimento aplicado certo nos salvou. Esconda o seu artefato muito bem. Não contarei a sua mãe. Vamos logo!
Sim, meu pai estava certo. O conhecimento nos salvou. Será que a nossa cidade será salva com algum conhecimento milenar?
● PARTE QUATRO: O SOFRIMENTO E A FÉ
Meu pai é meu amigo e professor. Minha fonte de inspiração. Tudo o que eu e meu irmão, sabemos hoje devemos à determinação de meu pai em nos ensinar. Informação é poder. Informação certa pode salvar vidas. Informação errada ou falsa pode tirar vidas, e em muitos mata em curto ou longo prazo.
A guerra estava declarada. Esqueletos invadiam Ravnica em legiões. Eles sugavam a alma e matavam em seguida. Vidas eram tiradas e transformadas em servos para o novo Senhor da Guerra, Nicol Bolas. Ele era o nêmesis de Ravnica.
Nos escondíamos o melhor que podíamos dessa morte viva. Muitos viam nossa casa entreaberta e olhavam para dentro. Iam embora, pois não viam ninguém. A casa dava um ar de assustadora e abandonada, e isso espantava boa parte dos ladrões. Estávamos escondidos e víamos tudo lá de fora. Somente ao fim do dia quando as coisas estavam bem calmas é que fazíamos algo para comer na cozinha que ficava nos fundos da casa. Não ficávamos mais que uma hora fora de nosso esconderijo. O perigo eram os saqueadores gananciosos.
Numa das noites da guerra, depois de muitos morrerem, ouvimos um barulho dentro da casa. Aguardamos mais de 1 hora, e vimos que tudo estava quieto. Resolvemos sair do buraco.
Meu pai saiu primeiro e minha mãe depois. Foi quando tudo aconteceu. Rápido demais. Meu pai foi atacado por dois seres que pareciam mais cadáveres putrefatos. Na verdade, estavam mais para dois doentes que já estavam quase mortos, ou quase em estado zumbi. Eles gritavam: Gritavam muito.
- Comida. Queremos comida. Morte a quem negar.
Eles lutaram com meu pai. Um deles chegou a segurar minha mãe pelo braço. Meu pai lutou de uma forma agressiva como nunca tinha visto. Dando socos e os acertando com uma espada que não sabia que ele tinha escondida. Meu pai também tinha seus truques.
Meu pai cortou o braço de um. Atingiu outro no ombro com sua espada. Mas eles foram rápidos também. Enfiaram uma faca no peito do meu pai. Mas ainda assim meu pai ainda teve forças para espantá-los. No meio da luta conseguimos proteger nossa mãe com o artefato que criava uma parede invisível.
Os "doentes" fugiram cambaleantes, mas vários metros depois eles caíram mortos. Meu pai estava morrendo. Ele estava morrendo bem na frente de nossa casa. Nosso pai estava morrendo!
Tentamos nos aproximar, mas meu pai alertou:
-Posso estar com alguma doença. Não me toquem. Cuidado. Vejam se sua mãe não ficará doente. Amo vocês dois. - Depois de uma pausa, e já sem forças ele continuou – Você meu filho mais velho irá assumir o meu lugar... Estarei sempre com vocês...
Ele morreu. Ele se foi. Não havia tempo para chorar.
Minha mãe foi prática e nos lembrou que devíamos juntar os corpos e queimá-los, mas não devíamos tocar nos corpos.
Depois de arrastar todos segurando-se com alguns panos, conseguimos queimá-los perto de casa. Logo em seguida voltamos a nos abrigar.
Minha mãe começou a passar mal. Febril. Ela havia ficado doente. O braço onde o ladrão louco a agarrou estava muito vermelho e dolorido. Logo ela nos aconselhou.
- Você meu filho mais velho vá até a casa da curandeira. Você deve descrever o que aconteceu e pedir alguma poção. Ela nos deve alguns favores. Lembre-a disso. Vá e volte em segurança. Ficarei com seu irmão. Leve a espada e o que mais desejar. Faça o que tiver de fazer.
Decidi que meu irmão ficaria com o artefato que forma uma barreira (ainda havia energia nele), com a poção e com os outros artefatos, exceto que eu irei com o outro artefato que leva a perda de memória e a espada. Seja o que os deuses desejarem. Tenho de ser rápido.
(...)
Ao longo do caminho, lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu as secava com o braço e seguia em frente.
Fui me escondendo pelas sombras e consegui chegar à casa da curandeira.
Na casa havia um guerreiro muito forte do lado de dentro. Fiquei assustado. Estava protegendo a curandeira. Por incrível que pareça era o marido dela.
Expliquei tudo à feiticeira. Ele observou que eu levava a espada de meu pai. Foi nesse momento que ela falou:
- Lhe darei a poção como parte do que devo de um favor antigo ao seu pai. Cuidado ao levá-la. Ministre um pouco e guarde o resto. Existe uma doença que tem passado de pessoa para pessoa pelo toque ou pelo ar, não sei ao certo. Eles devem estar infectados. A doença deixa você fora de si, com febre, e depois de 24 horas começa a putrefar. Depois é a morte. Isso ajudará a sobreviver. Muitos têm mentido dizendo que um outro remédio pode ajudar. Mentira, pois esse somente piora a situação. São loucos e interesseiros. Eu desejo algo em troca também, mas lhe darei outra coisa além disso. Para você será muito melhor. Eu desejo a sua espada. Ela estava em minha família e a entreguei para seu pai em troca de vários favores, que sempre de boa vontade ele me ajudou. Em troca da espada lhe darei uma outra espada melhor ainda. Na minha mão essa espada que você carrega me protege de espíritos malignos por conta de minha natureza. Na sua mão tem pouca valia. Concorda?
-Sim. Honrarei a memória de meu pai. E pode contar comigo. Sempre lhe ajudarei sempre que puder, salvo se for para fazer o mal. Mas se for para se defender do mal, conte comigo. Amigos de meu pai já são meus amigos. Está aqui a espada. Muito obrigado, de coração. – Estendi a espada e a lhe dei.
- Muito obrigada. Essa espada que estou lhe dando, se chama “Espada da Vinganca”, pois é assim que a chamam. Lhe dará mais proteção ainda. Ela tem poderes, ou lhe darão poderes. Mas você precisa empunhá-la com fé, verdadeiramente. Acredite nela e ela acreditará em você. Ela está dentro deste saco. Cuide bem dela.
Ela me deu a espada. Eu logo a desembainhei. Senti-me mais confiante com ela. Mas rápido talvez.
-Lhe darei algo mais por conta de sua boa vontade. Mais da mesma poção.
Fiquei feliz. Agradeci e tratei de ir embora. Tinha de voltar logo.
(...)
Estava chegando em casa quando me vi cercado por três esqueletos. Não havia como escapar. Logo deduzi que o artefato que confundia a mente não funcionaria neles. Afinal eles tinham as mentes vazias. A única solução era utilizar a espada que havia acabado de receber.
Logo a desembainhei e ataquei de forma confiante um dos esqueletos. O primeiro caiu. O segundo e o terceiro não desistiram foram para cima de mim. Tentava acertar com a espada, mas na verdade apenas os conseguia evitar.
Estava perdido.
Nesse momento vi uma chama viva acertar todos eles. O último que sobrou ficou distraído e fui para cima e tratei de acertá-lo. Ele morreu esse desgraçado. Ou melhor, desintegrou. Esqueletos já estão mortos.
Olhei para trás e vi que os deuses me ajudaram. Estava a famosa Chandra me ajudando. Fiquei feliz e corri para abraçá-la. Comecei a chorar. Ela não entendeu nada e falou:
-Sou Chandra. Não chore criança. Você foi bom com a espada.
-Meu pai morreu nessa guerra, e minha mãe está doente. Estou indo levar um remédio que a curandeira me orientou.
Nos abraçamos e ela falou:
- Vou te ensinar um velho feitiço que pode te ajudar. Barreira de chamas. Vai te proteger e dar tempo de fugir. Segure essa pedra avermelhada que estou lhe dando. Eu concentrarei minha energia nesta pedra, e com ela você poderá invocar o feitiço quando desejar. Esse é um pequeno truque que Karn me ajudou a criar, mas acho muito bobo, porém com você será útil. Segure a pedra e se concentre quando desejar invocar a Barreira. E não perca a sua espada. Ela é muito útil aqui. Que o multiverso te abençoe.
Agradeci e fui correndo para casa. Cerca de 5 minutos depois cheguei. Logo que cheguei ministrei um pouco da poção em minha mãe. Algumas horas depois ela estava boa.
Os deuses estão me ajudando. Mas meu pai se foi. Meu pai morreu. Tive fé e minha mãe sobreviveu. A poção a salvou da doença. Informação salva. A informação certa salvou minha mãe. O multiverso me salvou. Havia esperança.
● PARTE CINCO: A SEMENTE DO NOVO DIA
As coisas haviam finalmente melhorado. Nicol Bolas foi derrotado e suas tropas estavam desorientadas. Mas alguns bandidos e renegados se aproveitaram dessa época de incertezas e tentavam roubar. Os nossos mantimentos foram economizados ao extremo, e por isso conseguimos aguentar até o fim da guerra e um pouco mais, mas havia ainda muitos famintos e doentes.
Alguns bandidos tentaram invadir e roubar nossa casa, mas estavam fracos e consegui dar conta deles com a espada. Porém havia guerreiros que eram ladrões e esses eram os mais perigosos e fortes.
Haviam três guerreiros que eram na verdade uma gangue. Lutavam e roubavam como nunca. Já havíamos ouvido falar da fama deles. Foi quando logo ao fim da tarde eles chegaram na frente de nossa casa e foram gritando:
- Alto lá. Passem seus pertences e a comida. Quem manda aqui somos nós. Mandamos aqui, obedeçam!
As suas faces demonstravam ódio. Raiva.
Tentaram entrar à força. Invoquei a barreira de fogo com o artefato. Isso os assustou. Comecei a usar o artefato em um deles que enfraquecia a mente. Levantei a espada também para lutar com o outro. Ainda assim mesmo eles continuaram avançando. Invoquei os artefatos vivos que Karn havia nos deixado. Pedi ajuda a eles.
Eles se assustaram. Os artefatos se uniram e criaram um homem de lata bizarro com quase 2 metros de altura. Um dos ladrões lutou com ele. O segundo ficava cada vez mais mentalmente fraco. O terceiro não parou e começou a lutar comigo.
A luta tirou minha concentração e o segundo conseguiu se recuperar e partiu para cima de mim.
Minha mãe e meu irmão optaram por se esconderem. O medo tomou conta deles. Eu estava perdendo e em desvantagem. Eu lutava ao máximo como meu pai. Eu não ia morrer como ele morreu.
De relance vi uma sombra grande cruzar a frente da minha casa. Era na verdade um Ent, uma espécie de árvore gigante que se movimentava de forma lenta. Uma árvore viva. O Ent agarrou o primeiro que lutava com o homem de lata e deu um tapa forte. O bandido caiu já desacordado.
Em seguida, o homem de lata e o Ent vieram em minha direção e cada um deles agarrou um bandido. O Ent mais forte deu um tapa e o outro ladrão caiu também desacordado. O outro logo em seguida levou um soco do homem de lata que caiu no chão. O homem de lata era bem mais forte que eu imaginava.
Os bandidos foram detidos. No fim os mesmos foram amarrados e entregues por mim, mais tarde, aos líderes locais da minha guilda.
Foi quando vi uma elfa (sim uma elfa!) toda de verde que estava ali comandando o Ent. Apaixonei. Ela chegou logo falando:
- Já ia partir, mas resolvi dar uma volta pela cidade e vi você lutando. Você estava em desvantagem. Sou Nissa. Sou de paz. Parabéns, vi que você tem muita afinidade com artefatos e faz um bom uso deles. Parabéns. Gostei da espada.
Fiquei abismado. Ela era uma bela elfa, muito linda! Não tinha como não se apaixonar por ela. E ela percebeu! Falei:
- Muito obrigado. Você me ajudou muito. Se desejar pode comer conosco em minha casa comigo, minha mãe e meu irmão menor. Seria um prazer e honra. Meu pai morreu recentemente.
- Obrigado, mas tenho de viajar. Foi um prazer. Vou lhe dar um presente por conta de seu convite e de seu bom coração: uma semente de um Ent. Plante-a com cuidado que em pouco tempo ele crescerá. Ele sempre o acompanhará. Será seu companheiro. As florestas tem muito a nos ensinar. Vou colocar minha energia na semente que irá acelerar o seu crescimento. Em meses estará enorme. Poderá ser o guardião de sua casa e também seu amigo.
-Muito obrigado Nissa. É uma honra.
Ela partiu. Uma simples semente pode fazer muita coisa. Uma simples informação pode ajudar muito. O multiverso me abençoou. Realmente vivemos novos tempos. Um novo dia.
As festas de fim de ano estão chegando e podemos finalmente nos alegrar, infelizmente teremos algo triste para nos lembrar, nossas perdas. Não somente gente que foi morta nessa guerra do louco titã, mas gente que foi morta por assassinos e loucos que se aproveitaram para saquear e matar. Porém muita gente morreu por conta da peste sem nome, e muita gente morreu por conta de informação falsa divulgada que havia uma cura milagrosa.
Vivemos tempos sombrios, mas agora é hora de luz. De renascimento. De esperança. O fim está chegando. O ano novo virá. Será que algo mudará? Acredito que sim, pelo menos para minha família.
● PARTE SEIS: A PASSAGEM
Estávamos na antevéspera de ano novo e havia saído com meu irmão para cumprimentar vários clientes pela cidade e desejar-lhes um feliz ano novo. Os negócios iam ser retomados após a passagem para o ano novo. A cidade precisava viver. Pulsar. Reviver. Renascer.
No caminho de casa meu irmão e eu havíamos achado dois artefatos perdidos nos escombros. Estavam num pequeno baú jogado no lixo. Sentimos que precisávamos abri-lo. Sempre pesquisamos no lixo em alguns becos. O baú estava trancado e forçamos sua fechadura com algumas ferramentas que sempre carregamos.
Descobrimos que um dos artefatos aumenta o poder de outros artefatos, pois saímos testando-o em tudo que vimos. O outro artefato testamos em outras coisas e tinha um efeito oposto ao primeiro. Estranhamos. Optamos por deixá-los no mesmo baú e trazer o baú conosco. “Muito perigoso deixá-lo ali” pensamos.
Chegamos em casa e meu irmão foi colocar o baú no local combinado, um pequeno depósito em casa. Eu fui falar com mamãe que deveria estar cozinhando.
Quando fui entrar na cozinha escutei uma conversa e fiquei escutando.
- Pena que seu marido morreu, é realmente uma tristeza. Mas a missão de educar as crianças é sua agora. Elas pelo que li em sua mente estão crescendo fortes e são de bom coração. O mais velho lida muito com artefatos, o que seria natural. Com o menor você deve ter cuidado, pois ele pode se encaminhar para o mal. São duas almas que o multiverso decidiu que renasceriam aqui. Ugin, que descobriu, me orientou para eu vir aqui sempre que possível e intervir (ou ajudar) se for caso. Vejo que o verdadeiro nome de ambos foi atraído de volta para eles naturalmente A guerra atrasou a minha visita apenas. Mas vejo que está tudo no caminho certo. Voltarei em breve.
- Jace, o antigo pacto vivo das Guildas, amigo de meu marido, é uma honra vê-lo aqui. Agradeço a sua visita. Almoce conosco. Eles adorariam vê-lo. Aceita?
-Infelizmente não posso.
Resolvi entrar no ambiente e saí falando:
- Jace? É uma honra conhecê-lo. Acabei conhecendo também, alguns amigos seus nesses últimos tempos. Karn, Chandra, Nissa.
- Muito prazer. Não poderei ficar. Encontrou com eles? Não sabia. Deixe-me ver.
Ele fez um gesto e alguns segundos depois disse.
-Foram experiências lindas pelo que vi. Guarde muito bem o que lhe foi dado. Use sua imaginação e criatividade e não esqueça de seguir as orientações de sua mãe. Muito obrigado. Sigam em paz.
Eu e minha mãe nos despedimos dele. Meu irmão chegou no momento em que ele estava indo embora. Deu tempo de vê-lo ainda. Mas um amigo de meu pai que vai embora pela porta.
Minha mãe me falou:
- Me conta mais dos artefatos depois. Ee vi que você usou alguns. Eu percebi, mas não havia te questionado. Me conte tudo. Agora.
- E a senhora me conte essa história de almas renascidas.
- Eu perguntei primeiro. No caso de Jace, o seu pai é que sabia de tudo. Eu não tenho ideia do que ele falou. – Mamãe ficou séria. Ela não mentia quando estava séria - Quero minha resposta agora. Sou sua mãe. Urza, me conte logo.
(...)
Estávamos já na noite da véspera do ano novo.
Na refeição à noite comemos o que pudemos. Nesse dia ficamos acordados até tarde. Estávamos todos alegres. Pelo menos tentamos esquecer das nossas perdas e seguir em frente. Precisamos sempre seguir em frente.
Quando deu meia-noite nos alegramos. Nos abraçamos. O céu foi varrido por vários fogos de artifício. Era lindo, realmente muito lindo. Estamos sorrindo e chorando quase ao mesmo tempo. Falamos um para o outro:
- Feliz ano novo! Oba!
Era um momento de passagem.
O ano velho se foi. O ano velho foi um ano de doenças, de guerra e de morte. Muita morte.
O ano novo chegou e que ele venha com muita coisa boa para minha família, para a cidade e para o Multiverso. Que venha com paz, saúde e alegria para todos. Seja bem-vindo ano novo, com muita vida.
*** FIM ***
*********************************************
Oi Andrew. Obrigaduu.
Não fiquei ausente. Apenas estava agendado pra hoje. A liga me pediu pra escrever algo nessa virada, e eu quiz cativar e mostrar que o mundo de magic é vasto e que existem historias lindas por contar.
Se observar existe algo do mundo atual no texto. O ano de 2021 foi sofrido com perdas para muitos.
Que 2022 traga o frescor e a renovacao a vida.
Um mega abço e um lindo 2022.
Muitos anos de inspiração (e o que mais for necessário) pra ti!
É uma honra e um prazer escrever aqui na liga. Fiz com tanta alegria esse texto que no fundo ele é um espelho do que vivemos e de mim.
Feliz 2022 a todos.
Grande abraço!!