Uma vez, um sábio disse “uma vitória no Magic depende de três componentes: um terço do deck, um terço do jogador e um terço da sorte”.
Vamos colocar isso matematicamente, cada jogador terá três variáveis: força do deck, talento e sorte. Cada uma dessas variáveis está em uma escala de 0 a 33, a variável do jogador (ou seja, o quão provável é dele ganhar) é a soma dessas três variáveis.
Por exemplo, um jogador com um deck excelente, tier 1 do meta, tem força do deck 33, suponha que esse jogador também seja super talentoso, também um 33, mas, o destino quer que hoje ele seja azarado, então sua sorte está em 4. A soma desses valores é 70. Outro exemplo, um jogador que tenha um deck tier 2, colocar uma nota de força de 30, e que seja bom jogador mas não excelente, uma nota aí de 30 também, mas hoje ele está sortudo, então vamos dar 25 pontos pra sorte dele hoje. A soma para esse jogador é de 80, logo, mesmo jogando levemente pior e tendo um deck levemente inferior, ele vai ganhar do jogador talentoso com deck tier 1.
Tudo isso pra dizer o que? Magic é um jogo de números.
Quer ganhar mais no Magic? Jogue mais Magic, mesmo que isso signifique jogar com decks tier 2, decks inventados, decks que tentam substituir cartas ou até mesmo substituir decks mais caros por versões mais budget do mesmos.
A proposta desse artigo é incentivar você a ir jogar Modern mesmo que seja caro montar um deck tier 1. Vamos ser honestos, o formato Modern está bastante caro, especialmente se considerarmos a realidade brasileira. A grande maioria dos decks tier 1 estão variando entre 5 a 10 mil reais, não é muita gente que consegue bancar isso em um hobby.
Mas, você não precisa jogar com Ragavan, Afanador Agil, nem com fetchlands, nem com outras cartas caríssimas. Dá pra jogar Modern na economia.
Seu deck não vai ser tão forte quanto um tier 1, verdade. Mas, por exemplo: imagine o UR que joga no Modern hoje, se você trocar as fetchlands por outras duais UR, a força do deck vai cair de 33 para 30, não é algo tão horrível. Se você fizer como o Evart sugere nesse artigo, você vai diminuir a força do deck para algo em torno de 20 pontos. Piorou sim, mas não é algo que te impede de jogar. Você ainda pode ser um excelente jogador e ter sorte e isso compensar pelo deck subótimo, ou você pode simplesmente jogar com o deck para ganhar experiência e se tornar um jogador melhor, além de incentivar sua comunidade de Magic com a sua presença.
Melhor ainda! Dê a sugestão à sua loja local para organizar torneios Modern com limite de preço no deck.
Ok, escrevi alguns parágrafos de 'coaching motivacional' mas chega, vamos falar de listas!
Inspirado pela série de artigos Budget Modern do Evart Moughon e pela série de artigos Modern on a Shoestring, eu montei três listas budget que, no momento que eu comecei a escrever esse artigo, têm o intuito de permitir que a pessoa consiga jogar com um deck funcional eque possa ser melhorado ao longo do tempo (e com dinheiro entrando na conta).
Os três decks que eu montei: BG Yawgmoth, BG Asmora e Hammertime.
BG Asmora (game win rate: 67%)
2-0 Burn
2-1 Elves
0-2 Enchantress
2-0 4c Yorion
2-1 4c Yorion
Amei o deck, super skill intensive e tem vários planos de jogo diferentes. Dá pra bater de Terror Sanguinario, dá pra castar Aparicao de Estrada no pêlo e bater imbloqueável com Urborg, Tumba de Yawgmoth na mesa. Dá pra acelerar um 7/6 trample em jogo, sem falar de controlar as criaturas do oponente com Asmoranomardicadaistinaculdacar, drenar lentamente com gato e forno (Familiar do Caldeirao e Forno da Bruxa) ou… Esperem por isso… ESQUILÃO (com Esquilo Voraz)!
Depois de jogar com o deck pensei em fazer algumas modificações na lista, por exemplo: eu talvez cortaria os Terror Sanguinario, pois apesar da recursão que eles dão, são facilmente ultrapassados pelas outras criaturas do formato e eles não oferecem a opção de bloquear um Ragavan, Afanador Agil. Asmora (Asmoranomardicadaistinaculdacar) é tão fantástica que eu provavelmente colocaria a sétima e oitava cópia da carta no deck na forma de Final de Devastacao.
Senti falta de alternativas para sacrificar o Familiar do Caldeirao, afinal, com a board cheia de food dá pra drenar muita vida mas, falta uma fonte de sacrifício irrestrito como o Andarilho das Aflicoes, já que o Forno da Bruxa permite apenas um dreno por turno.
Também senti falta de ferramentas de self-mill: o deck adora colocar cartas no cemitério mas não tem nenhuma carta como Fornecedora do Suturador que faz isso. Se eu fosse continuar a explorar o deck, iria por esses ângulos.
Na versão não budget, a querida Saga de Urza entra, junto com fetchlands. Honestamente, as fetchlands não importam. Só são cartas caríssimas que melhoram sua base de mana em uma porcentagem negligenciável em termos de jogo casual ou semi competitivo (se você for jogar 10 torneios de 15 rodadas, já deixa de ser negligenciável). Não joguei com a versão que utiliza Saga de Urza, mas também não senti falta. Claro que a carta consegue carregar o jogo sozinha, mas o resto do deck já funciona bem sem precisar de ajuda. O deck vai melhorar com a Saga? Sim, mas não quer dizer que você não faça resultados sem ela.
BG Yawgmoth (game win rate: 50%)
1-2 Niv to Light
2-1 Belcher
0-2 Mill
2-1 4c Omnath
2-1 UW Control
O deck é funcional e a versão budget não é tão diferente da versão não budget. Sim, na versão full-money Resistencia teria ajudado bastante no jogo contra Mill, mas a partida contra os outros decks tinha sido bem parecida.
Existem várias formas de combar com esse deck, mas, invariavelmente, todas elas vão precisar do Yawgmoth, Medico de Thran. Eu queria enfatizar o quanto a carta consegue carregar o jogo sozinha. Tá, não sozinha, mas se você tiver qualquer punhado de criaturas na board, você vai conseguir colocar em cheque qualquer estratégia baseada em criaturas que o oponente estiver tentando. Por exemplo, como jogador de Hammer, eu sofro muito nas mãos de Yawgmoth porque o Hammer tem poucas formas de interagir com o deck.
A partida contra controle depende de você conseguir comprar a melhor metade do deck. Os dorks não vão fazer nada, você vai ter bastante dificuldade em combar. Nessa partida, existem dois caminhos para a vitória: bater com Geist da Raiz Estrangulante ou resolver um Grist, a Onda Faminta.
Uma das dificuldades do deck é com os dorks. Em muitos games você vai comprar apenas dorks e não vai fazer muito no jogo. Eles compensam te rampando e servindo como fonte de sacrifício para Evolucao Arcana e Yawgmoth, Medico de Thran . Por isso, em matches com muita troca de recurso, diminua o número de dorks.
Hammertime Budget (game win rate: 20%)
0-2 UW Faith’s Reward
0-2 BG Yawgmoth
1-2 WG Hatebears
Não rolou :(
Reconheço a derrota. Troquei Mistico Litoforjador por Ferreira Engenhosa, removi Saga de Urza e adicionei Presente do Molda-aco para encontrar mais cópias do Martelo do Colosso. O deck não rodou legal. A Saga de Urza era a ponte do Early para o Mid e Late game, e sem essa ponte, o deck precisa ganhar no early, coisa que não acontece sempre. Além do mais, Mistico Litoforjador era uma fonte consistente de card advantage. Sem isso o deck acaba se tornando um combo ruim de duas cartas.
Em conclusão, eu recomendo o BG Asmora, que é um deck extremamente forte mesmo sem Saga de Urza e fica ainda mais potente com a carta. Em uma escala de 0 a 33 eu diria que a versão budget está em um nível de força de 25 e a versão com Saga de Urza em um nível de força de 30. Também recomendo o BG Yawgmoth, ele foi um deck funcional; apesar de um pouco mais fraco, o deck budget ganha uma nota 20 e a versão não budget, 28.
Agora meu querido Hammertime decepcionou (sadface), o deck não chegou nem a ser funcional. Saga de Urza era a carta que fazia o trabalho de me dar um midgame quando o jogo não permitia um letal cedo. Sem a carta o deck simplesmente vira um Tron-style muito pior, você fica dependendo de comprar as pecinhas, mas elas são bem mais frágeis e geram um payoff bem menor do que quando você monta tron. As notas aqui são de 15 pontos para o deck budget e 30 pontos para a versão não Budget.
Muito coerente.
Esse tipo de proposta, penso eu, é fundamental pra inserir novas pessoas em uma comunidade.
Eu sempre digo que, pra que alguém entre numa comunidade, é preciso ir jogar. Não importa o teu deck, mas a tua presença e a tua vontade. Com algum tempo de frequência a torneios e lojas, tu farás amigos, terás contato com muita gente (legal, espero), vais aumentar o networking e, consequentemente, poderá chegar a usar cards emprestados por esses amigos. O que pode melhorar bastante a nota da tua decklist. Já joguei muitos torneios com o popular "deck Frankenstein" (onde as 75 cartas do meu deck, pertenciam a umas 10 pessoas diferentes).
Obrigado por mais um ótimo artigo, Zanutto.
Tu entendes do formato e sabes escrever de um jeito que faz o leitor ter vontade de continuar a ler.
Espero poder ler mais conteúdo produzido por ti.