O Amuleto Mágico
Cuidado! A responsabilidade é sua ler esse conto.
Por
29/10/2021 10:05 - 2.814 visualizações - 8 comentários

Olá galera, hoje desejo contar uma nova história, meio absurda. Alguns duvidam. Será? Está sentado? Se segure e tenha fé.


... era uma vez um jogador mal humorado e muito irritado...


/ Pera lá Molinari, se vai dar lição de moral é melhor nem começar... Sacou? /
/ Fique calmo, hoje é uma história legal. Relaxa. /


Seu nome, não importa, estava de mau humor. Ele disparava indiretas e ironias para todos.


Ao comprar um refrigerante, reclamou que estava quente demais. Foi grosso. Estava no limite.


Ao comprar um booster reclamou que ele estava ligeiramente amassado. Foi mais grosso ainda. Qualquer coisa era gatilho.


Ao sentar na mesa para jogar reclamou da poeira, da limpeza que não era perfeita e do oponente que demorou um minuto. Estava de muito mau humor. Estava à flor da pele. 


Ao jogar reclamou do oponente que fez uma jogada “burra” como ele mesmo falou. Da demora ao embaralhar. Do ar condicionado. Foi grosso ao extremo com tudo e com todos. 


As pessoas começaram a cochichar. O mau humor traz uma energia ruim consigo. 


Ao ganhar a partida do oponente reclamou porque o “idiota” foi lento demais. Reclamou até de cumprimentar o oponente. “Babaquice” reclamou. Até reclamou de estar cansado de reclamar. 


O dono da loja olhou para ele e pediu com educação para ele parar. ele disse que não estava num bom dia. Pediu desculpas. Depois reclamou menos. Reclamou baixinho. Mas reclamou.


No fim, ganhou três partidas e perdeu uma e empatou outra. Ao sair da loja reclamou de si mesmo. Reclamou de ter de ir embora. Pelo amor de Deus.
Aí...


/ Ô Molinari, vai falar sobre “reclamação” agora? Pirou? Seja direto. /
/ Calma, tem história que é assim, tem aperitivo antes. /


... ele passou por uma pessoa no corredor ao sair da loja, que ficava num prédio. Para ir embora ele precisava ir até o fim do corredor e pegar o elevador. Essa pessoa estava encostada na parede. O jogador sem nome olhou de relance.


A pessoa estava de casaco com um capuz que cobria a cabeça e parte do rosto. O casaco era em tom azul. A pessoa estava de cabeça baixa. Era um rapaz. Coisa estranha.


O nosso jogador, sem nome ainda, ao olhar de relance fez com que o rapaz encostado levantasse os olhos e olhasse para ele. Em seguida, baixou os olhos de novo. Foi tudo em menos de um segundo. Rápido. 


O nosso jogador sem nome sentiu um arrepio na alma. Puro calafrio.


Ele continuou caminhando, e depois de uns dez passos ele ouviu:


- Psiu! Ei. Psiu! Ei.


Nosso jogador parou e se virou. Ele olhou para o rapaz de azul. Os dois se olharam. O rapaz de azul o encarava. 


Outro calafrio e agora pior ainda. 


/ Molinari, agora virou história de terror? Para com isso. /
/ Não fique impaciente. Presta atenção em tudo. Calma. /


O jogador sem nome ficou tonto. Viu tudo ao seu redor girar como se estivesse caindo num buraco.


Sua mente apagou. Branco. Vazio. 


Ele despencou no chão. Mas não atingiu o chão. Parou no ar, ao menos era o que ele sentia ou dava a impressão...


Pouco depois parecia estar num outro lugar. Num outro tempo. Um outro agora.


Ele via ele mesmo no passado, jogando Magic quinze anos antes com seu amigo Nathaniel em um mesão. Ele via ele mesmo jogando com alegria. Energia pura. Ali ele valorizava o prazer de jogar magic. Ele estava feliz ali. Muito feliz.


Nosso jogador sem nome olhou para o lado e aquele cara de casaco azul estava ali. Olhando pra ele, fazendo sinal para ele olhar para aquela cena. 


Outro arrepio na alma. Meu Deus o que era aquilo?


Ele olhou e não entendeu. Ele via e não via. Ele estava ali e ninguém via.


O cara de casaco azul fez um gesto com a mão direita e dois dedos estendidos. Era algo em forma de círculo.


Nosso jogador sem nome estava tonto de novo. Tudo girou. Tudo girava. Tudo mudava.


/ Molinari, que é isso? Está repetindo aquele conto de natal? Lição de moral? /
/ Talvez sim, talvez não. Um conto pode tangenciar muitas outras coisas. Pode até dar outro prisma a mesma situação. /


O jogador sem nome despertou sem dormir de pé. Estava de frente a uma cena que ele viveu há pouco tempo. Novamente o cara de capuz azul indicou para que ele visse aquilo na frente dele. Até agora o homem de azul nada falava. Somente apontava.


Ele via a briga que teve com a esposa. Na hora ele organizava as suas cartas na mesa da sala e foi tudo muito rápido. Ela reclamou que ele só ligava para aquilo. Ela tinha ciúme de tudo. Ele falou que a amava, e que às vezes tinha de organizar as cartas. Ela às vezes cobrava demais. 


No meio da discussão ela gritou com ele. Ele gritou com ela. Minutos depois ela teve um ataque do coração. Amor virou raiva. Ele revia tudo e refletia sobre tudo. 


Ela faleceu no meio da discussão. Mal súbito. Nada pode fazer. Ela se foi rápido demais. A filha pequena que estava perto não entendia nada. Ele chorava e tinha raiva. Ódio. Amor. Saudade. Eram todos os sentimentos ao mesmo tempo. Ele viu que mesmo sem jogar, manusear as cartas ajudam a relaxar. Era uma diversão mesmo sem adversário. Ela não entendia isso. Ela não era nerd e nem gostava do jogo. 


Rever aquilo era um choque. Chorou um pouco de novo. Mas estava ali de pé. Firme. Era como um filme triste que passava à sua frente, mas às vezes precisávamos rever para amadurecer. 


Depois de algum tempo o homem de azul se aproximou dele e lhe deu uma carta. Era o Trevo da Sorte (Lucky Clover). O jogador sem nome estranhou a atitude. Ninguém falou nada. A carta estava em protetor transparente. Era bonita. Brilhava. Ele falou:


-Guarde sempre. Lhe trará sorte. Não duvide.

 

O jogador sem nome colocou a carta no bolso. Foi uma atitude natural. 


Novamente o homem de azul fez o gesto circular com a mão. Novamente o jogador sem nome ficou tonto. Tudo girava.


/ Molinari, isso é triste. Pegou pesado. Isso não se faz. /
/ Calma. Faz parte do conto. /


Ele estava agora na loja onde jogava, mas era um outro momento. Era em algum momento futuro.


Nosso jogador sem nome ouviu as pessoas falarem:


- Ele ficou abalado depois que a esposa se foi. Ficou agressivo. Briga com todos. Saiu na porrada outro dia com um colega nosso.


- A gente adora o maluco. A gente entende, mas paciência tem limite.


- Se ele continuar assim vou dar uma advertência nele. A gente ajuda, mas se a pessoa não quer ser ajudada nada podemos fazer. Ele é gente fina. Ou era.


- Ele é legal. Ele me deu várias dicas. Agora me dá patadas. Assim fica chato quando ele vem nessa loja. 


- Super colega de todos, mas está intragável. Isso está assim há meses. Ele tem de superar essa perda. Ninguém tem culpa. Ninguém aqui é uma privada.

 


/ Estou chorando Molinari, isso não vale! Cruel... /
/ Calma, pensa positivo. Ele fez amigos. Amigos de verdade tem paciência e ajudam. /


Nesse momento o jogador de azul se vira pra ele e fala:


- Está vendo? Não esqueça da carta.
- Sim. Agora eu entendi.


Novamente o homem de azul fez o gesto com a mão. Tudo girou.
Tudo girava de forma mais forte agora.


/ E agora? O que virá? /
/ Calma. Espera pra ver o final! /


O jogador sem nome estava novamente (ou ainda) no corredor e na mesma posição olhando para o rapaz de casaco azul e capuz. O que aconteceu? Sonho?


Ele voltou para a loja. Passou pelo homem azul que estava de cabeça baixa. Ao passar pelo rapaz de azul ele observou que o seu casaco tinha uns toques de branco, e seu rosto parecia ter alguma tatuagem.


Quando estava na porta da loja ele olhou pra traz e o homem de azul olhou para ele e deu uma piscada. Ele estranhou e se assustou.


Ao entrar na loja, falou:


- Fala. Esqueci de pedir algo pra beber. Voltei.


Ele meteu a mão no bolso e sentiu algo. Era a carta Trevo Sorte. Ele ficou assustado e falou:


- Você viu que tem um cara no corredor? Pode ver.


O dono da loja respondeu:


- Você esqueceu que temos câmeras. Eu vi você sair e em seguida voltar. Não tinha ninguém no corredor.


Arrepio na alma. Nosso jogador se assustou ainda mais e falou:


- Me confundi. Pensei então que tinha alguém. Desculpa pelo mau humor. Estou “malzão” pelo falecimento da minha esposa. O jogo está me ajudando a não entrar numa depressão. Obrigado pela mega paciência. Prometo que vou tentar não reclamar tanto. Prometo. Vou tentar ter pensamento positivo.


Os dois se abraçaram. Foi um abraço de amigo. O dono da loja deu um booster de brinde. Ele havia ganho no sorteio. Oba! Olha a sorte aí. Adivinha qual carta que veio no booster? Trevo da Sorte


Ele teve outro susto. Arrepio e alegria ao mesmo tempo. Sim. Sua sorte tinha voltado. 


Dali em diante ele nunca deixou de estar com a carta que estava em seu bolso ou na carteira ou na mochila, seja no trabalho ou em outro lugar Ao jogar nem sempre ganhava mas sentia sempre algo de bom vindo da carta.. Era seu amuleto. Podemos dizer que ele se tornou uma pessoa um pouco melhor depois do que aconteceu. Ele descobriu que tinha amigos. Ele tinha de cuidar da filha. Ser feliz e trabalhar. E jogar Magic. Sempre Magic


/ Depois de algumas lagrimas minhas e de meu alter ego, agradeço quem leu essa pequena aventura. /

 


Conto algumas outras histórias e reflexões no meu romance nerd, “Comportamento Aleatório”. Quem leu gostou e tem na Amazon e na Altabooks (aqui tem 3 capítulos free para ler em pdf). Até breve. 


Obrigado galera e “vamo” que “vamo”.

( lm7k)
Comentários
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(Quote)
- 03/11/2021 19:42:33

Muito obrigado de coração. O conto do dia 31-dez será mais lindo ainda.... ups....spoiler..rsrs

(Quote)
- 03/11/2021 01:17:01
Adorei o conto, achei bonito 3
(Quote)
- 03/11/2021 01:16:48

KKKKKKKKKK SIM xD

(Quote)
- 31/10/2021 21:16:37

Kkkkkkkkkk rachei

(Quote)
- 30/10/2021 16:39:12
Muito obrigado pelos comentarios. Tem toque de suspense... e nao de terror. Valeeuuuuu de coração.
Somente observo que ja vi dono de loja dando booster extra de brinde (1 por fnm), além.dos da wiz de premiacao, e que saiu do proprio bolso, pra estimular jogadores a não disistirem. As vezes sorteavam booster antigos (mais validos no t2 na epoca) ou que iam sair do t2 na epoca.
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