Olá galera, hoje vou direto ao ponto. Vou falar sem rodeios. E talvez você venha me odiar por causa disso (Oba, polêmica! Ah ah ah ah). Você já jogou contra alguma criança ou idoso no Magic e se sentiu menosprezado? E contra uma mulher, perdeu e reclamou? E contra uma pessoa trans, seja ou homem ou mulher trans, tem raiva de ver a pessoa jogando ali? Teve vergonha? Se sentiu constrangido? Sentiu pena? Achou que perdeu tempo jogando? Então você está ficando “gagá” em não acompanhar a evolução dos tempos. Está ficando “dessincronizado” (peguei pesado com o português) em relação aos tempos atuais. Hoje não existe lugar pra isso. Porém (ainda essa porcaria de “porém”) ainda vemos isso muito por aí (e como!!!).
Não estou defendendo o grupo A, B ou C. Estou defendo a boa educação e o respeito para com todos. Estou tentando entender o que sentimos e talvez porque sentimos e respeitar cada pessoa.
Você não gostar de A, B, de C é um direito seu, o que não lhe dá direito é de desrespeitar a pessoa, por conta de um medo (medo sim!) embutido nas suas raízes. Para o desrespeito existem punições (não estou nem falando das leis) e é legal o ambiente saudável. Aquelas “piadinhas” bobas revelam um medo da sua falta de competência para se divertir, ou até mesmo ganhar de seu oponente (peguei pesado mesmo!).
Eu tenho na família uma avó (já falecida) que tinha preconceito com “nortista” (que nasceu na região norte do Brasil). Minha mãe nascida no Pará sofreu com isso, pois era sogra dela, mas conseguia sempre evitar discussões e sair sem brigar. É difícil se desvencilhar de conceitos ruins enraizados na sua alma. Ninguém é perfeito. Desculpem se toco nesse assunto.
A Wizards pune e seus juízes punem por ordem dela. Não tem jeito, vou roubar a frase “Pode isso Arnaldo?” e respondê-la com “a regra é clara”. É falta para cartão vermelho. Não vou discutir a regra, mas que tem punição e/ou advertência para o jogador isso tem. Mas o que desejo abordar é o sentimento que você sente e a sua reação perante algumas situações. Está preparado para elas? Vai ter coragem de se olhar no espelho? Venha comigo e se aventure comigo. Pode usar um D20 para dar sorte. Será light antes que você se questione.
Quando você vê, está sentado um garoto de 10 anos na sua frente em um FNM que mal sabe jogar. E agora?
Quando aconteceu isso eu estava na Point HQ de Ipanema (que hoje não existe mais). Eu simplesmente fui o mais educado possível e até deixei ele voltar algumas jogadas, dando dicas pra ele. Ganhar não importava ali. O que mais importava era ensinar ao garoto jogar um pouco mais. Achei lindo, sabe por quê? Porque ele queria aprender e não tinha medo.
Na mesma noite eu vi alguns jogadores “ditos mais experientes” zoarem com a criança de forma discreta e sutil. Outro jogador tratou com desprezo a criança, pois eles se sentiram humilhados por uma criança estar ali. Pior que as situações foram tão sutis que eu não podia reclamar com o dono da loja.
Esses jogadores tratam o FNM como torneio competitivo sério, como se fosse uma final de Copa do Mundo. O sentido do FNM é se divertir. No fundo a humilhação estava na cabeça deles. Ali o que vale é diversão.
Conselho: veja como uma criança joga feliz, mesmo algo mais simples. Fazer algo feliz e, por prazer, te dá mais ainda prazer e mais felicidade. Vide a medalhista olímpica de prata 2021 em Tóquio, Rayssa Leal, de apenas 13 anos de idade. Ela ganhou sendo feliz. Brincando por assim dizer. Muitos psicólogos em treinamentos de RH buscam realizar eventualmente brincadeiras bobas com toques infantis, porque a criança traz consigo uma felicidade natural e vontade de aprender. Traga a sua criança interior para jogar magic, e jogue feliz.
Estou em um pré-release e quando vejo tem um garoto de 8 ou 9 anos que ganha de mim jogando bem? Qual a minha reação?
Antes de comentar, eu tenho de falar de um antigo “articulista” e amigo meu aqui na Ligamagic, o Prof. Jorge Jacoh. Ele faz um trabalho com crianças em uma matéria opcional ensinando “magic” (isso mesmo!). Mas só faz a matéria se a criança estiver com os trabalhos em dia, notas boas, e muito mais. Isso trouxe ganhos a escola: as crianças queriam aprender mais, para poder estar bem nas matérias e para poderem jogar magic. E na matéria de “magic” a criança precisa aprender a usar lógica, aprender termos inglês, etc. Lindo de se ver. Ele levou alguns dos melhores alunos da turma a um pré-release na Bolsa do Infinito. E eu estava nesse evento.
Eu enfrentei dois alunos do Jacoh. O primeiro perdeu para mim por 2 a 1 jogando bem. O segundo me deu “uma lavada” por dois a zero, jogando muito bem. Não há humilhação aí. Procurei jogar o meu melhor, mas em eventos de lançamento em geral nunca tive boas colocações. Vou mais para conhecer a nova coleção.
Algumas pessoas estranharam, mas aceitaram. O que sei isso foi motivo de orgulho dos alunos. Ambos que jogaram comigo tiveram reações distintas. O primeiro ficou frustrado, e parecia que havia perdido uma final. Procurei acalmá-lo. Já o segundo que me atropelou parecia um aluno calmo, tranquilo. Quase “zen”. Trocamos ideias e eu percebi sutilmente que ele estava nervoso, mas também orgulhoso de estar em um evento daqueles.
O que muitos não entendiam era que ali era um momento único para eles. Ganhar ou perder não importa ali. Aprender e se divertir é o que importa no final. Por isso muitos jogadores não evoluem: continuam não querendo ou conseguindo aprender. Nem tudo é jogo. É atitude. É o jeito como se trata as pessoas.
Lembre-se: eles não serão pequenos para sempre. Eles vão crescer e o magic se usado de maneira certa vai ajudá-los a serem melhores pessoas, com menos preconceitos e respeitando os seus adversários. Isso vale para a vida. Sacou?
Estou num FNM e quando vejo um senhor com cerca de 75 anos senta na minha frente pra jogar. E agora?
Sim. Eu vi e joguei. Era um senhor na época com cerca de 75 anos ou mais. E eu joguei com ele na Point HQ de Ipanema. Ele levava uma maleta e lá colocava várias cartas de Magic, decks, Playmat e muito mais. Ele era muito simpático. Conversamos e ele não jogou todas as rodadas. Saiu antes, pois naquele havia perdido todas. Ele jogava bem. O mais legal é que me recordo dele afirmar que “adora Magic, de paixão”. Isso é algo para pensarmos. Ele lembrou que vinha pouco jogar ali, e que gostava mais de colecionar.
Sabe o que mais gostei: foi ele ter mostrado (e não falado), que o prazer da diversão não morre. Encontrei-o uma ou duas vezes depois na loja, mas ele estava sempre alegre. A reação era a mesma de qualquer um ao entrar na loja que é a de se sentir vivo. Essas lojas são templos nerds, que de certa “recarregam nossas baterias”.
Ele mostrou que magic não morre com a idade. A diversão não morre com a idade. Se estiver bem, manda um sinal. Obrigado por ter jogado comigo.
Sento pra jogar contra uma mulher entre 19 e 21 anos, depois de pouco tempo ela me atropela de rdw. Nem vi a cor do jogo.
Incrível. Minha experiência na Point HQ de Ipanema me lembrou de mais uma história. Nunca havia visto uma mulher jogar Magic, e para tudo há uma primeira vez na vida. É sério.
Ela séria por demais e tímida. Jogava de RDW. Tentei acompanhar o nível dela, mas não consegui. Jogava bem demais. Não vi diferença nenhuma ao jogar com uma mulher. Fiquei num primeiro momento surpreso, mas logo depois passou. O mais legal é que como ela era frequentadora da loja havia um certo respeito. Todos a conheciam. Mas havia sim um preconceito sutil. Uma piada aqui. Outra ali. Lógico que não na frente dela.
Para muitos magic é um jogo para “homens”. Ok, os jogadores de Magic são em sua maioria homens, mas não existe isso de “sexo” superior. Existem grandes jogadoras ao redor do mundo. E cada vez mais vemos mulheres tendo bons resultados nos torneios. Nem preciso citar.
Para aqueles que ficaram cochichando que “lugar de mulher é na cozinha”. Eu retruco: o lugar dela é onde ela se sente feliz. Não existe categoria de magic somente para mulheres ou somente para homens. Então trate de se atualizar.
Joguei com a mesma mulher entre 19 e 21 e dessa vez ganhei por 2 a 1. Ela me olha de cara feia, mas me cumprimenta. O que será que fiz?
Sim. Será que ela se sentiu inferior por perder para mim, que na época era um jogador mediano que jogava de Midrange Mono Green? Eu não a humilhei. Falei de boa com ela, masnotei um certo nervosimo (não me venham com maus pensamentos, respeitem!), mas ela era sempre muito educada. Acho que o deck dela não encaixou e o meu funcionou 100 %. Acontece.
Temos que entender nosso oponente e respeitá-lo. Saber ganhar deve ser igual ao saber perder. Já vi pessoas ao ganharem humilharem os seus oponentes. Como diria uma professora de escola: "ai, ai, ai, isso é muito feio, seu menino, vai ficar de castigo seu menino mau!" Ah, ah, ah, ah, ah!
Tempos depois nunca mais a vi jogar por lá. Universidade e compromissos sociais fazem com que as vezes mudemos nossas prioridades.
Em um torneio que ia jogar soube depois que duas mulheres fizeram a final? Achei demais. O que está mudando?
Sim, na Bolsa do Infinito, duas mulheres fizeram uma final de um torneio. Algo bem legal na loja. Isso prova que nem tudo é uma questão de sexo. É uma questão de que elas naquele torneio jogaram bem e isso foi lindo.
Por que criticar? Por que menosprezar? Por que desmerecer a vitória delas naquele dia? Será que vou ter de repetir: "Ai, ai, ai, isso é muito feio, seu menino, vai ficar de castigo seu menino mau!" Ah, ah, ah, ah, ah!
Pare e pense: em vez de criticar pense onde você errou, como pode melhorar e se divertir mais. Aprenda com ela.
Uma mulher-trans ia sempre num torneio “for fun” que acontecia em um shopping. De tanto jogarem piada, ela deixou de ir jogar lá. Onde iremos parar? O preconceito já te expulsou?
Isso é feio. Seja a pessoas homem-trans ou mulher-trans, ou N-binário, não importa. Respeito é algo que todos querem e merecem.
Já vi jogadores serem “expulsos” de forma indireta por conta do preconceito com pessoas novas. Já vi tanta coisa que às vezes acho que precisa haver um respeito com a pessoa.
Um aviso aos que foram expulsos: fique tranquilo, tudo tem mudado e procure uma galera que te respeite. Não deixe de se divertir por conta de meia dúzia de “gagás”.
A você que não respeita, lembre-se que um dia você poderá ficar sozinho porque você expulsa amigos ao invés de fazer novos amigos. Ter 1000 seguidores não quer dizer ter 1000 amigos.
A Autumn Burchett, trans-não-binária ganhou um Mythic Championship. O mundo mudou ou quem joga magic mudou? Estou atrasado?
Autumn Burchett ganhou e mostrou ao mundo inteiro do Magic que o Magic está de portas abertas. Então se você tem receio, nojo, ou desprezo tome cuidado para não ficar atrasado no quesito respeito. Se você achou que está atrasado, pense: você está atrasado mesmo. Parabéns Autumn.
O mundo tem se utilizado. Hoje vemos mulheres, crianças, idosos, homens-trans, mulheres-trans e muito mais vencendo torneios nas lojas e tendo mais espaço. Muitos jogam bem demais e a Wizards de certa forma celebrou isso quando Autumn ganhou. Certo ou errado para alguns, devemos nos mudar por dentro. Novos tempos estão chegando. Como falei em outro artigo: “a única certeza certa é a mudança. Ou a gente muda ou se muda”.
Se você tiver a síndrome do parado no tempo, você não aceitará as mudanças (tentando resistir a elas) e poderá se tornar um jogador que ao invés de jogar feliz, passará jogar de forma infeliz vendo defeito em tudo. Cuidado! Ninguém quer isso.
Conto algumas outras histórias e reflexões no meu romance nerd, “Comportamento Aleatório”. Quem leu gostou e tem na Amazon e na Altabooks (aqui tem 3 capítulos free para ler em pdf). Até breve.
Obrigado galera e “vamo” que “vamo”.
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Onde eu era um iniciante, bobalhão comprando meu primeiro deck, fazendo meu primeiro naya, e tirando uma carta super lendária no booster q eu nem sabia se era uma carta cara ou não.
Após jogar com o pessoal, tentar aprender, me aconteceu o pior. O jogador conhecido na loja, antigo nos grupos. me rouba esta carta absurdamente cara.
Isso me deixou tão triste, que me desfiz do que tinha comprado. doei para meu amigo que jogava e nunca mais quis voltar a jogar. pois não tinha respeito nenhum com iniciantes.
Hoje voltei a jogar, me divirto com o pessoal e conhecendo cada dia mais as pessoas boas desses grupos.
Obrigado por este artigo em reviver este episodio e ver que mesmo tendo esse mundo toxico e fudido, estamos melhorando aos poucos!