Esse ano com certeza não foi um ano fácil. Se me perguntassem como eu achava que estaria em Dezembro eu com certeza não chegaria nem perto da situação atual. Parece ter sido em outra época que eu estava jogando o Regional Players Tour e que planejava calmamente quais etapas do Latam jogar, ou mesmo como me preparar para o Magic Fest de São Paulo, de fato, dias antes do cancelamento desse evento eu tinha o Magic Fest como centro do meu planejamento do primeiro semestre e foi em uma mensagem de WhatsApp que tudo se desfez e eu começaria um ano muito diferente do que eu havia pensado.
Entre pandemias e ene mudanças, o Magic teve um ano atípico e tem sido um grande desafio se planejar para 2021. Tem um número muito maior de perguntas do que de respostas e é angustiante quando você olha para o futuro e tem pouquíssimas perspectivas, mas não é uma falta por uma ausência, mas uma falta por estar tudo difuso. Em uma linguagem de quem gosta de distopias com viagem do tempo, é como se uma série de futuros coexistirem e existem uma série de indeterminações que tornam muito difícil saber qual destes futuros é o real.
Com certeza a pergunta mais difícil que recebi neste final de ano foi “o que eu planejava para 2021”. Me vi pensando em diversas opções e todas elas pareciam realistas e ao mesmo tempo insanas, simplesmente porque é difícil prever o que acontecerá. Não sou exatamente uma pessoa que gosta de estar sempre no controle de tudo, mas sou ansioso, então digamos que não tem sido o cenário ideal
Todos esses pensamentos já estavam na minha cabeça, mas não sabia se queria transformar isso em texto ou mesmo como discutir o assunto. Eu sabia que outros pensavam no futuro, mas ao mesmo tempo ficava aquela impressão que essa minhoca talvez estivesse cavando mais fundo apenas na minha cabeça. Bom, não estava.
Por meio da minha conta no twitter, eu perguntei quais temas o pessoal queria ler neste que seria meu último texto do ano. Sinceramente, eu esperava algo sobre Histórico, ou preparação no Arena, talvez até um pouco sobre teoria. Mas boa parte dos comentários foi sobre 2021, o Arena e o Físico e como ver esse próximo capítulo do jogo. Para me convencer mais, o menino ousado e alegre Oreia fez a mesma coisa, mas na rede social azul e o resultado foi parecido, o que esperar de mais um ano, como ver o MTG tabletop e impactos desse longo período online, eram os tópicos mais pedidos e falemos então sobre isso.
O Magic Morreu
Poucos jogos tem tantas extremas-unções quanto o Magic: The Gathering. Eu comecei em 2003 e de lá pra cá é comum ouvir que alguma mudança fará o jogo morrer. O fato dos jogadores serem em uma grande maioria profetas do apocalipse é algo que sempre me divertiu. No geral essas profecias tem como seu fim dos tempos a mudança. Artefatos se tornarem mais do que coadjuvantes já foram a trombeta final do jogo, assim como planeswalkers e Companheiros, e dessa vez o online se faz presente em um evento digno de uma Matrix adaptado ao século XXI.
A pandemia fez um óbvio movimento para o online e se confirmaram os maiores medos dos apocalípticos do Umberto Eco, um mundo em que o jogo focava em sua grande parte no online e desaparecia sua versão física.
Como já ressaltei, o jogador médio de Magic é um conservador natural, ele tem medo da mudança e o desconhecido o assusta mais do que o fascina. Mais do que um plano, o caminho se fazia necessário, para o jogo Profissional não fazia sentido abrir mão de um ano inteiro de competições simplesmente porque precisávamos proteger o bebê-foca chamado Magic Físico. O Gathering é uma constante na valorização do jogo, mesmo entre os profissionais, mas é um fato que a saída encontrada, fazer toda a cena migrar para o online, foi mais do que interessante para a Wizards of the Coast. Não é recente vermos a nave-mãe cada dia mais abrindo mão de fazer pequenos eventos e querendo focar em design e no máximo em pisar nos grandes eventos do Magic, e mesmo assim com um certo grau de terceirização.
Sinceramente eu não vejo os eventos oficiais voltando ao jogo físico. Ficou claro que é possível fazer muito apenas online e que jogadores que procuram o caminho do profissional devem usar a plataforma principal do jogo para chegar aonde querem. As ferramentas são boas? Não, boa parte do sucesso passa muito mais por um esforço coletivo mesclado com um interesse neste sucesso do que necessariamente por uma facilidade à partir do objeto, mas o ponto é, o caminho é regredir para onde estávamos, com viagens caras e alugueis de espaços, ou podemos simplesmente aprimorar o que tivemos e tornar ideal? O caminho do esports abriu portas que sempre estiveram fechadas, pela primeira vez o Magic descobriu seu status como qualidade de jogo e viu que existe um universo gigante para explorar, mesmo após um quarto de século.
O Império dos Sentidos
Nesse ponto do texto já deve ter alguém abraçado com suas cartas e indo furioso ao comentários para lembrar a todos o quanto o jogo físico lhe é caro, mas eu lembro que meu último parágrafo foi sobre a cena profissional que em muito difere da cena que vivemos todos os dias. A facilidade de cobertura e a diminuição dos custos são fatores importantes quando online x tabletop entra em nível profissional. Mas não é uma surpresa o quanto os jogadores querem jogar em mesas novamente após uma longa pausa. Mais do que isso, não é novidade que mesmo com a proibição dos jogos em loja muita gente tem se reunido para jogar pelo simples fato que:
“Como todo assassino em série já sabia que eventualmente só fantasiar,não me satisfaria mais”
Kickass.
A rotina de acordar para o trabalho e colocar o deck na mochila, sabendo que ao final do dia você jogará Magic é o que agrada diversos jogadores em vários lugares do mundo. Esse sentimento de que “A felicidade só é real quando compartilhada” (Na Natureza Selvagem) não é incomum e explica muito do sucesso do Magic, um jogo analógico, em um mundo digital. Mas se não existe dúvida com relação ao gosto dos jogadores, existe sobre o comércio do jogo; No início do ano falei sobre como via o jogo e a pandemia, daquele texto o que pode ser levado para o cenário é que as lojas vivenciaram esse cenário onde um espaço de jogo é descartável (não confundir com espaço físico, já que um dos grande problemas de comercializar Magic: The Gathering é justamente a capacidade de armazenamento) e que existe sim um mundo onde você pode apenas vender o jogo físico e não depender de pequenos eventos.
De fato, em um mundo de Amazon, IFood e LigaMagic, uma série de degraus da cadeia de vendas se tornaram obsoletos. Não seria estranho que a bolha de diversas lojas de Magic finalmente chegasse ao ponto onde teríamos menos espaços de jogo e mais vendedores de cartas (como na verdade já acontece, vide este site). Não significa que o jogo acabaria em sua porção de loja, mas que esse universo com diversos espaços lutando por um grupo pequeno de jogadores não se manteria. Lojas como as conhecemos seriam ainda possíveis, simplesmente porque os jogadores querem esses espaços, mas está mais do que claro que do ponto de vista comercial não é possível para todos manter um espaço em um mercado tão nichado.
Inclusive, me foi levantada a questão se seria um processo natural as pessoas saírem do MTG físico e irem para o online. E eu discordo radicalmente. Na verdade essa “transição” é possível faz muito tempo e acontece todos os dias com grinders ou pessoas que simplesmente encontram alguma dificuldade em acompanhar o jogo físico. Mas o ser humano como ser social e que valoriza a experiência que está vivendo (aqui uma característica recente que vem sendo trabalhada muito) também entra nessa balança. Pensar que os jogadores naturalmente fariam a migração é partir de premissas falsas como a de que “o online é melhor que o físico” e que “as pessoas não conheciam a opção do online”. Não é porque você prefere banana à maçã que deve esperar o mesmo de todos os outros.
O Ano começa depois do Carnaval
Como eu disse lá no começo do texto, um futuro difuso está a nossa frente e tem sido desafiador tentar ver através dele. O relaxamento das medidas contra a pandemia tem tido resultados alarmantes e ainda estamos em planejamento da distribuição de uma vacina, que já é sabido que não estará disponível para toda a população. Por mais desanimador que seja esse cenário, ele ainda aponta um fim de uma Era e o começo de um novo mundo. Eu não espero lojas abertas e cheias e imagino uma demora para retomarmos grandes eventos, mas existe um grande aprendizado em como o Magic lidou com tudo isso e que nos ensina o que valorizamos de verdade no jogo. Ele ainda tem um design experiente e um OP que consegue se manter, duas características que boa parte dos seus concorrentes ainda não conseguiu.
Um feliz Natal, um próspero Ano Novo e nos vemos em 2021!
Ruda
Como assim "Foi permitido voltar"? Na minha cidade (POA) nem se cogitou jogo nas lojas eu acho.
Aqui em Vitória-ES tem poucas opções de lojas que tenham estoque de cartas pela região e a maior que tem também tem um espaço considerável para jogadores, torneios e etc....depois da flexibilização das medidas de isolamento, eu fui lá 2 vezes apenas pegar cartas e sair, mas a loja estava cheia(não no normal fora da pandemia) com a galera jogando físico(tanto MTG como Pokémon, Yu-Gi-Oh).
E concordo quando diz que é o caminho natural do profissional partir para o on-line porque diminui drasticamente os custos que, mesmo no on-line, são caros para um jogador profissional, além de divulgar a plataforma da WOTC