Joao Bosco fez ficar conhecido um já famoso poeta russo, chamado Maiakóvski, por essas bandas aqui, ao citar um de seus poemas no início da música Corsário. Trata-se de um poema sobre adversidades e como lidar com elas e nele tem um trecho bem interessante, que destaco:
“Nesses últimos vinte anos, nada de novo há, no rugir das tempestades, não estamos alegres, é certo, mas porque razão haveríamos de ficar tristes, o mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de travessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.”
Considerando o ano de 2020 e tudo que aconteceu fora do nosso amado joguinho, acho esse trecho excelente, vez que se trata da única forma possível de lidar com todos os problemas que esse ano possa ter trazido a cada um, individualmente, ou mesmo coletivamente falando.
Agora, trazendo para o Magic, insuperável e impossível de ser cortado por qualquer quilha é o caminho que o jogou tomou, que acabou transformando o que era antes um jogo foda, numa mistura insossa de Pokemon, Yu Gi Oh e Super Tazo.
Confesso que depois do crossover com The Walking Dead, toda vez que abro um pacote de Fandangos fico na dúvida se vou encontrar ou não uma carta promo do novo Secret Lair lá dentro, ou toda vez que abro a Ligamagic fico com medo de encontrar a próxima ideia exclusivamente caça níquel que a Dona Uizardes teve, esperando que não encontre uma versão pixelada de Capturar Pensamento, baseado em Minecraft, que custe mais de 1 salário mínimo o pacote.
Contudo, melhor resistir, do que desistir, no que pese eu ter jogado parcamente nesses últimos dois meses, tendo sido a última vez Vintage no Eternal Weekend que teve no MTGO.
O melhor jeito de resistir, creio eu, é respondendo a essa pergunta constante que nossos editores recebem: Como começar no Legacy, sem gastar muito dinheiro?
Infelizmente não tem jeito, vejo vocês no próximo artigo. Abraços!
(...)
Brincadeiras a parte, tem jeito sim, ou pelo menos tinha antes do dólar bater quase seis reais. Acontece que eu já escrevi um artigo sobre os decks mais baratos do Legacy e pra não ficar repetitivo, vou fazer diferente dessa vez. Eu vou listar as duas opções que eu acho que são extremamente competitivas, que possivelmente estão entre os 5 melhores decks do formato atualmente e que com certeza podem garantir além de diversão alguns top 8 por aí, dada a devida dedicação ao arquétipo.
Além disso, vou dar umas dicas de como começar a montar esses decks. No entanto, caso nenhum dos dois seja sua praia, você pode voltar no link do meu artigo mais antigo aqui e dar uma olhada nas demais alternativas, tenho certeza que lá você deve encontrar algo que te agrade.
A primeira lista é meu atual queridinho. Eu sei que historicamente sempre joguei de azul e raramente empacotei um deck sem Tempestade Cerebral e Forca de Vontade, contudo, considerando o caminho que o formato tomou, eu peguei gosto por decks que grindam menos e resolvem o jogo de forma mais rápida, ignorando ameaças do tipo Oko, Ladrao de Coroas.
BUG Depths
Isso mesmo, um deck sem Old Duals, que você pode montar, conforme preço médio da liga, por R$ 3.500,00, mas tenho certeza que pechinchando bastante e correndo atrás de outros jogadores que vendem cartas, esse preço pode cair para baixo de R$ 3.000,00.
Essa lista foi montada por um dos melhores jogadores de Depths que conheço, Tom Hepp, cujo nick no MTGO é Negator77. É basicamente um BG Depths ou Turbo Depths com Asfixiar e Tempestade Atordoante, metacall necessário para combater os combos que estão em alta no formato, como Sneak and Show e Doomsday.
Além da aplicação óbvia, acima, Asfixiar pode proteger seu combo de Karakas, Terras Ermas, Asas da Inexistencia, e muitos outros, funcionando com uma Agulha Medular instant speed. Sem contar que pode virar uma carta surpresa e parar Gavinhas da Agonia. Ademais, o upside de não usar florestas é óbvio, pois com isso você vai se proteger naturalmente de quem usa Submergir.
A lista não possui old duals, não possui fetches, possui muitas cartas várias vezes reprintadas, o que facilita a aquisição, dado que o preço costuma ser mais baixo. Além disso, uma boa parte dessas cartas pertence ao Modern, principalmente os descartes, que veem bastante jogo em ambos os formatos.
O segredo aqui é começar pelas comunzeiras e pela base de mana. Depois disso tente conseguir Petala de Lotus e demais cartas que não jogam Modern, já que as que jogam talvez você consiga emprestadas com mais facilidade, para jogar um campeonato ou outro.
É comum quem joga Legacy também jogar Modern ou já ter se aventurado no formato, por isso é mais provável que você consiga emprestado um set de Capturar Pensamento do que um set de Abismo Sombrio, tendo em vista que quem tem Abismo, geralmente usa no próprio deck, já que ele não é tão comum em várias listas do Legacy ou em variados arquétipos como o Seize.
Não gostou dos rainbow lands e prefere jogar sem azul? Então fique com versão BG, abaixo:
O problema, aqui, são as duas Bayou. Mas nesse caso, sugiro substituir por duas Tumba Abandonada, não será o melhor dos mundos e as vezes o dano causado por ela pode fazer diferença, principalmente contra os Delver decks do formato, mas como diria minha avó, “quem não tem cão, caça com gato”, e nesse caso eu acho que o gato pode fazer um excelente trabalho. Tenho certeza que desse jeito você vai conseguir finalizar o deck bem antes do que está imaginado.
O deck parece fácil de jogar, mas jogar da forma óbvia não vai te garantir excelentes resultados. Para se aprimorar, treine bastante, conheça as linhas do combo e de proteção do combo, principalmente as linhas que aceleram o combo e escolha combar quando você não vislumbrar uma resposta adequada do oponente e/ou tiver proteção pra ela, saiba o que contornar e quando contornar e invariavelmente você terá sucesso com esse deck.
Quer ganhar muito e gastar pouco? Essa é a escolha. Ainda mais que acho que a curva de aprendizagem desse deck é menor do que a do próximo. Sigamos!
Death and Taxes
Um pouco mais caro que o Depths, já na faixa dos R$ 4.000,00, esse é um dos decks mais icônicos do formato, que também é um dos mais baratos e mais competitivos. O Death and Taxes é um deck de controle, que usa a estratégia de mana denial, combinada com criaturas que possuem os mais diversos efeitos quando entram em jogo, para dificultar sobremaneira a vida do oponente. A finalidade é impedir o oponente de jogar e devagarzinho reduzir os pontos de vida dele a 0.
Recentemente ganhou um reforço importante, Aparicao do Enclave Celeste encaixou como uma luva na estratégia do deck, que atualmente é um dos mais jogados no MTGO. Essa cartinha dá uma flexibilidade incrível pro deck, principalmente para enfrentar Oko e cia, ainda mais quando criaturas burras, que só têm corpo, do outro lado da board, raramente fazem mal ao Death and Taxes
Novamente temos um deck sem Old Duals, o que já impacta positivamente no preço. A estratégia para montá-lo, porém, é diferente. Não comece pela base de mana. Nesse caso, muita gente do Legacy tem a base de mana para emprestar, principalmente as Terras Ermas, por isso comece comprando as comunzeiras e criaturas baratas, que já são cartas mais difíceis de conseguir emprestadas.
Esses tempos de jogo me ensinou que no Legacy você vai achar muita gente com Terras Ermas e Porto, mas bem menos gente com Aparição, Thalia, Guardia de Thraben ou Recruiter of the Guard ou Cruzado Mirraniano. Depois que você comprar todas as criaturas baratas, parta para as mais caras, tipo essa Aparição nova, mas deixe Mistico Litoforjador e os equipamentos por último, principalmente as espadas, que estão mais caras, porque essas formam um pack, conhecido como pack de Stoneforge, que é bastante comum e fácil de se conseguir emprestado no Legacy.
Já tem todas as criaturas e mágicas do deck? Agora vá para a base de mana, começando pelas Terras Ermas e por último compre o pack de Stoneforge. Do mesmo jeito que o Depths acima, você nem vai perceber que terminou de montar o deck, quando efetivamente termina-lo.
Esses dois decks são os mais competitivos que você vai conseguir montar nessa faixa de preço. Particularmente considero ambos decks tier 1, porém sua win rate vai depender de quanto você se dedicou a aprender cada um desses decks, já que ambos são bastante skill intensive, pelo menos quando o objetivo é ganhar bastante.
O que quero dizer é que para jogar realmente bem com qualquer um deles, o nível de dedicação vai ter que subir exponencialmente. Ou seja, na minha mão um Death and Taxes pode até parecer tier 2, mas na mão do Thomas Enevoldsen, tenho certeza que você vai achar que é o melhor arquétipo do formato.
Lembre-se, o Legacy é feito pela comunidade, já que tem 0 suporte oficial. Por essa razão, a comunidade do Legacy costuma ser bastante receptiva, por isso pra começar, antes de tudo, basta ter vontade. Tenho certeza que você vai achar jogadores dispostos a emprestar decks inteiros para você jogar, eu mesmo já fiz isso e tenho vários amigos que fazem.
Logo, nem precisa escolher um deck barato pra começar, basta se enturmar na comunidade, demonstrar interesse que você vai acabar achando alguém disposto a emprestar as cartas ou mesmo vários alguéns que juntos conseguirão emprestar o deck todo.
Mas se você quiser montar um deck seu e quiser começar por um barato, qualquer uma das alternativas acima é uma excelente alternativa e um ótimo começo no formato. Siga as estratégias que eu passei, que rapidinho você vai estar com um deck Legacy na mão e nem vai doer tanto no bolso.
Por fim, aviso que vou tirar umas férias do MTG e com isso devo ficar um tempo sem novos artigos, mas tenho certeza que deixo vocês em boas mãos!
Um grande abraço e até uma próxima!