Jogando com Decklists Abertas
Uma peculiaridade dos torneios online independentes é jogar com decklists abertas - fenômeno que traz suas próprias características na escolha de decks, mulligan e sideboard, todos aspectos que Sandoiche aborda em seu artigo de hoje na LigaMagic!
21/07/2020 10:05 - 3.672 visualizações - 5 comentários

Olá! Nos últimos meses, os torneios online independentes com premiações relevantes aumentaram de forma exponencial, trazendo a peculiaridade de jogar com as listas de baralhos públicas para a grande massa dos jogadores - algo que antes era uma característica somente de eventos maiores com cobertura, como os Mythic Championship e os Players Tour.


No artigo de hoje, trataremos alguns dos pontos pertinentes em utilizar as ditas "decklists abertas" e em como isso afeta as decisões de jogo dos envolvidos. Existem alguns motivos para que torneios online optem por essa modalidade ao invés das listas ocultas. Um deles é a conferência: como não é prático que um juiz cheque lista por lista, o próprio oponente consegue verificar alguns dos cards envolvidos durante o jogo.


Entretanto, o principal ainda diz respeito à cobertura nas streams, enriquecendo a experiência dos espectadores sem causar uma desvantagem competitiva nos que forem chamados para jogar na câmera, mantendo assim a integridade competitiva dos envolvidos.


No que tange ao jogo, ambos conhecerem as listas significa que o fator surpresa é eliminado. Isso implica em informação perfeita para a tomada de decisões, permitindo formular desde o anúncio da rodada qual o melhor plano de jogo para enfrentar especificamente as 75 do oponente, quais mãos que normalmente seriam jogáveis têm de ser mulligadas, quais interações precisam ser respeitadas/jogadas em volta, e quais delas podem ser ignoradas.


A hora de fazer o sideboard é um dos momentos onde é possível extrair máximo valor da informação. Planos transformativos (por exemplo, entrar criaturas em um deck combo) ficam inferiores, com o oponente podendo optar por deixar remoções que normalmente não teriam alvo no primeiro jogo. Por outro lado, é possível também adaptar-se frente a presença (ou ausência) de determinados cards na reserva do oponente.


Durante a disputa de um determinado torneio online com Temur Reclamation, cheguei a enfrentar um Bant Midramp em partida eliminatória que possuía uma reserva carregada de ódio para encantamentos - Cavaleira do Outono, Intervencao de Heliode e afins, em grandes números. Embora eu não tivesse certeza que meu adversário ia trazer todos esses cards, optei por cortar todas as Reconquista da Natureza e atuar mais voltado para as jogadas favoráveis em tempo, criaturas com lampejo e anulações.


O plano funcionou perfeitamente - meu oponente não conseguiu lidar bem com criaturas como Emboscador da Matilha Noturna e Tubarão voador, e acabou perdendo a partida travado com vários cards na mão (que no momento do desespero virou uma Cavaleira do Outono para bloquear).


Da mesma forma, jogando com um baralho como Rakdos Sacrifice já cheguei a adotar planos que envolviam cortar todas (ou quase todas) as criaturas vermelhas caso enfrentasse um oponente com 4 cópias de Rajada de Eter nos segundos e terceiros jogos. Muitos decks como Bant, Sultai e Temur acabam obrigados a manter alguma quantidade deles, e dependendo de como o plano deles opera para essas partidas, pode ser que agredir somente com criaturas preta faça com que as respostas alinhem mal gerando vantagem para o Rakdos.


Um bom plano ao enfrentar um oponente com muitas formas de interagir com cemitério (Lodo Necrofago, Lanterna Guia-almas) é diminuir em cartas que dependem demasiadamente do mesmo, como Chamado do Mortivago ou Croxa, Tita da Fome da Morte.


No final das contas, não é que jogar com as decklists abertas exija menos habilidade dos jogadores - e sim que as habilidades colocadas à prova são diferentes. Ao invés de poder contar com um elemento surpresa, uma "pegadinha do malandro" na hora de fazer o sideboard, ou blefar cartas que não estão listadas, o jogo fica muito mais técnico, com quem consegue tomar as melhores decisões e linhas em variados aspectos, que vão desde mulligar atrás de uma mão mais "certa" para a partida ou quais cartas incluir nas 60 iniciais que podem fazer a diferença.


Um ótimo exemplo é o quanto baralhos com remoções globais ganham nessa guerra de informação. O "dilema da Furia dos Deuses" sempre foi uma grande questão que estava presente no meu "vidência no topo/qual carta colocar no fundo" de acordo com a regra de Mulligan vigente nas listas desconhecidas.


Ele funciona da seguinte maneira: caso você tenha a opção de manter no topo/devolver para o fundo um Furia dos Deuses (ou insira aqui remoção global da sua preferência; no meu caso, eu jogava com R/G Valakut), você o faz? Normalmente a resposta seria "sim, já que é muito mais provável eu perder uma partida contra um aggro por não ter a resposta em tempo hábil do que perder contra um control por ter uma carta morta na mão".


Ainda assim, algum percentual de vezes era uma carta que ficava na mão e com uma compra de um Raio ou outra carta inútil significava uma sentença de morte no primeiro jogo contra um deck control/combo. No mundo das decklists abertas, esse dilema não existe mais, e é possível tomar uma decisão muito mais informada que favorece a partida de Magic mais "jogada", por assim dizer.


E quanto a vocês, leitores, quais as suas opiniões sobre jogar com decklists abertas nos torneios?


Acreditam que ainda é necessário manter "o segredo" em alguns torneios e modos de jogo, ou todos deveriam adotar esse método? Quais outras diferenças percebem entre jogar com as listas ocultas em relação às abertas? Deixem suas opiniões nos comentários!


Abraços e até a próxima!

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Matheus Akio Yanagiura ( sandoiche_13)
Matheus Akio Yanagiura, mais conhecido como Sandoiche, é jogador profissional, escritor e streamer de Magic: the Gathering, produzindo conteúdo com foco para o competitivo do jogo desde 2012. Membro da equipe de e-Sports LigaMagic Bolts desde sua formação inicial, dentre seus resultados destacam-se a classificação para o Neon Dynasty Championship, o título do ManaTraders Series Legacy, o vice-campeonato da Twitch Rivals e o Top 8 do Magic LATAM Challenge, além do bi-campeonato do Circuito LigaMagic Modern e Top 16 Grand Prix São Paulo 2018 no Magic Tabletop.
Redes Sociais: Twitch, Facebook, Instagram, Twitter
Comentários
Ops! Você precisa estar logado para postar comentários.
(Quote)
- 21/07/2020 19:40:42
Temos um grupo de Whatsapp que joga de do inicio da pandemia em março, em nossos eventos por video chamada os jogadores garantem sua inscrição usando a Decklist que dia aberta antes do evento para ser consultada. é uma forma de ter mais honestidade no jogo e tem trazido grandes partidas com decisões mais pensadas.
Para o jogo "Virtual" acho que é a unica forma possível, quando não se tem um Juiz cuidando do evento.

Dá uma olhada em nosso blog:
https://virtualpaupermtg.wordpress.com/

Próximo domingo tem jogo!!
(Quote)
- 21/07/2020 16:32:26

Concordo com você, alem disso sem os decks que "pegam de surpresa" ou até os deck anti-meta, o metagame vai ficar cada vez mais concentrado.
É preciso a surpresa pra manter a diversidade.
A partir do Top 8 ele acaba essa necessidade.

(Quote)
- 21/07/2020 12:28:56
deck list aberta pode prejudicar o cara que inventa uma tech pra pegar a galera de surpresa.

na minha humilde opinião, deck list aberta deveria ser pra depois do corte pra top 8/top 4 do suíço. aí seria a galera que realmente faria bom uso dela.
(Quote)
- 21/07/2020 12:19:32
Muito legal o artigo,acho que no magic online tem ser lista aberta mesmo ,mas no fisico pode variar
(Quote)
- 21/07/2020 10:59:40
Muito bom o artigo Sandoiche!
Eu gosto de jogar com as listas abertas, gosto de ser transparente no jogo e saber contra qual deck estou jogando, penso ser mais honesto. Acho que todos que jogam Magic já viram o oponente que se acabou de jogar trocar a deck list de um oponente para outro. Deck list aberta é como xadrez que já se sabe quais as peças do jogo e então gira em torno de fazer o seu melhor.
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