Olá! Nesse momento o Standard passa, novamente, por um período de turbulência e instabilidade similar ao que vimos na época de Kaladesh. Campo dos Mortos foi banido, e ao que tudo indica, Oko, Ladrao de Coroas ou algo relacionado à estratégia de Food deve se juntar ao terreno. Entretanto, é praticamente inadmissível aceitarmos que o problema Oko (que também está oprimindo outros formatos, em maior ou menor grau) é simplesmente um mero acaso no meio do design dos novos cards, mas sim uma consequência da filosofia de design atual. Senta que lá vem história, uma que não exatamente começa com Era Uma Vez , mas que também tem o card como parte do problema.
Comecemos falando sobre Power Creep. O termo é designado para quando temos novos cards lançados que detém um nível de poder maior, muitas vezes pelo exato mesmo custo de outros cards pré-existentes. A comparação "simples" é Choque x Raio, onde embora a Wizards já tenha concluído que Raio é poderoso demais para o Standard, portanto ela permanece lançando Choque nessa curva, o mesmo não se pode dizer dos demais cards, especialmente dos Planeswalkers.
Recentemente, Melissa DeTora e Paul Cheon admitiram, em uma transmissão da Twitch, que o Oko foi planejado para ser o card mais forte da edição. Faz sentido: Planeswalker de 3 manas, personagem icônico, a cara da edição, agrada tanto ao departamento comercial quanto aos jogadores. Só que o tiro saiu pela culatra, e a carta saiu poderosa demais. Entrar com 6 de lealdade, escapando do hate card presente no formato Frigir e sendo quase imortal no começo do jogo chega a ser ultrajante. Forrar a mesa com alces 3/3 travando tanto as estratégias pequenas quanto nivelando quem tenta "jogar maior" são parte do poderoso repertório do travesso Oko.
Outras cartas também me incomodam nesse quesito de Power Creep no Standard, mesmo que agora não representem um problema. Os Herdeiros Reais, apesar de ter habilidades menos impactantes na mesa, é outro Planeswalker de 3 manas que entra com 6 de lealdade. Fera das Demandas tem tanto texto que a fonte fica até pequena para caber na caixa, e incomoda infinitamente nas partidas onde não é transformada em um Alce já que monopoliza a zona de combate, impedindo tanto ataques quanto bloqueios efetivos com sua combinação letal de habilidades. Mesmo um card como Campeao Fervoroso, um mero 1/1 de uma mana vermelha com QUATRO habilidades chega a ser ridículo em alguns casos, principalmente quando o oponente larga com múltiplas cópias tornando-o um Guia Goblin melhorado.
Vale ressaltar que esse fenômeno sempre aconteceu por anos e anos, em alguns casos sendo mais crítico (Kaladesh) e em outros menos, e acaba sendo até um certo "mal necessário" para estimular a venda de boosters das novas edições - de fato, ninguém iria querer investir em pacotinhos de Throne of
Eldraine se todas as cartas que eles precisassem para jogar Standard já tivessem sobrevivido à rotação, e a questão de como balancear esse "conflito" de interesses cabe à Wizards e sua equipe de Design e Testes. Porém, o Power Creep em isolado não é o que torna jogar Standard atualmente uma experiência próxima do miserável, e eu diria que acaba até sendo um fator menor na conta.
Em Julho desse ano, tivemos novamente uma mudança na regra de Mulligan do jogo, passando do antigo Vancouver Mulligan (comprar uma carta a menos, com vidência 1 depois de manter) para o atual London Mulligan (sempre comprar sete cartas, e devolver para o fundo do deck cartas igual a quantidade de Mulligans realizados). Em tese, esse modelo evitaria que partidas fossem decididas por "não-jogos", onde um jogador mulliga a 5 e praticamente nem joga, geralmente com algum problema relacionado aos terrenos.
Para formatos como Limitado, ele é perfeito, e realmente ajuda a evitar zicas/floods e trazer mais partidas de Magic "jogadas". A experiência deveria ser replicada no Standard, tornando os jogos mais justos, mas o que aconteceu na prática foram os decks mulligando agressivamente atrás de "curvar" perfeitamente, devolvendo mãos de 7 ou 6 plenamente jogáveis em outros tempos para sempre ir atrás da "mão divina".
Parte disso é por causa do já citado Power Creep, em um mundo onde Oko, Ladrao de Coroas ou Nissa, Abaladora do Mundo valem por tantas cartas que incentivam esse padrão de jogo "não-saudável". Mas, por quê não é saudável?
Bom, o Magic foi um jogo intencionalmente criado com o sistema de terrenos/mana em mente. Zicar e floodar fazem parte do jogo, mas mais do que isso, esse sistema ajuda a manter a "ganância" em xeque, ao forçar os baralhos a respeitarem um número mínimo de fontes de cada cor, não tomar tanto dano dos próprios terrenos, entrar com terrenos desvirados e afins. O London Mulliga ajuda a burlar esse sistema, dando consistência aos baralhos que não deveriam ter tanta consistência.
Tomando como exemplo o Modern. Fazer Karn Liberto no turno 3 com o Tron é parte do que torna o formato característico, assim como potenciais aberturas fortes envolvendo múltiplas Sombra da Morte, combar no turno 3 com Druida Devotado e Vizir dos Remedios ou até mesmo Tita Primordial de segundo turno com Amuleto de Vigor e Azusa, Perdida mas Procurando são todas linhas que fazem do Modern o que ele é.
Mas começa a ficar chato quando esses decks conseguem diminuir o índice natural de falha deles a números ínfimos com a ajuda do London Mulligan. Uma hora cansa tomar Karn no turno 3 todo santo jogo. Ser combado no turno 1 para um Neoformar, ainda mais tendo a resposta na mão, é a sensação ruim suprema. Assim como ser sempre forçado a mulligar atrás de uma mão com remoção pro Druida Devotado, que vai estar ali na respectiva curva batendo o ponto faça chuva ou faça sol.
Quando isso acontece, o jogo passa menos a ser "Magic interativo", com situações diferentes acontecendo, e passa a ser muito mais repetitivo. Como um roteiro, um script. Todo jogo é necessário mulligar atrás da remoção pro Devotado, e nada mais importa. Assim como ter a Forca da Negacao para o Neoformar. Esses padrões acabam cansando um pouco depois de acontecerem consecutivas vezes, exacerbadas pelo London Mulligan.
"Ah Sandoiche, mas isso também acontecia antes com o Vancouver Mulligan. Meu oponente sempre tinha Karn na 3!", você pode dizer. Só que em termos de proporção, as mãos divinas aconteciam bem menos no modelo antigo, justamente porque a penalidade do Mulligan era muito alta. Jogar com 6, e principalmente 5 ou menos cartas era um custo muito real e tangível, que levava os jogadores a realmente questionarem se valia a pena devolver uma mão "apenas jogável", com uma boa dose de terrenos e mágicas sem necessariamente ser a curva perfeita. E que acabava, por consequência, nos contemplando com partidas de Magic mais interessantes, que acabavam desenvolvendo os turnos iniciais de maneiras totalmente diferentes, quase que imprevisíveis.
Só que não vemos isso acontecer atualmente no Standard de Sultai Food. Todos os jogos parecem exatamente iguais - os jogadores mulligam agressivamente atrás de uma mão que tenha um acelerador de mana e um Planeswalker capaz de carregar o jogo sozinho, com no máximo algumas peças intercambiáveis como "meu acelerador é Ganso Dourado ou Druida do Paraiso, minha interação que gera vantagem de cartas é Lobo Mau ou Vraska, Rainha Golgari, minha jogada gorda é uma Krasis Hidroide ou uma Liliana, General da Horda Medonha", e por aí vai.
Junto do London Mulligan, a existência de Era Uma Vez incentiva ainda mais esse tipo de jogo, aumentando de forma brutal a consistência para fazer um Ganso Dourado ou Estalajadeiro de Beiramuro de turno 1, tornando quase certo que os decks que jogam com esses cards consigam acessá-los nos turnos iniciais, estruturando assim seu "plano injusto" com consistência invejável. E embora Nissa ou Oko sejam os agravantes carregadores da culpa de "curvar a todo o custo para cima do oponente" no atual Standard, eles são tão e somente uma peça a mais na fórmula do "Standard ruim".
É interessante pontuarmos, também, que esse precedente já foi aberto desde a entrada de M20 no Standard - vimos decks como Vampires mulligando super agressivamente atrás de Sorin, Senhor Vampiro Imperioso e uma mão curvada sem praticamente sentir um mulligan a 5 (eu mesmo já ganhei jogos mulligado a 4 com o deck), e estratégias como Golos, Peregrino Incansavel e Metapaisagem sempre acelerando mana nos turnos iniciais do jogo. Elfos de Llanowar e Recife Soerguido também eram peças importantes de determinados decks as quais se valia a pena mulligar atrás.
Como dito no início do artigo, a expectativa é de algo do Sultai Food banido na segunda-feira que vem. Embora o pensamento que ressoa cada vez mais forte dentro de mim é como o Magic de agora poderia ser diferente sem a implementação do London Mulligan no jogo, e em menor escala, uma melhor administração do Power Creep nas últimas coleções (sem o estrago de Veu do Verao, Karn, o Grande Criador, Narset, Rasgadora de Veus e o próprio Oko, Ladrao de Coroas nos formatos Eternal, mas isso é assunto para um outro dia).
Nada contra a Inglaterra, mas nunca quis tanto "voltar para o Canadá" como atualmente!
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E quanto a vocês, leitores, qual a sua opinião sobre o Power Creep das últimas coleções? E em relação ao London Mulligan? Acreditam que o jogo ficou muito "roteirizado", com todo mundo tentando curvar o tempo inteiro? Ou gostam mais dessa regra do que a anterior? E qual o palpite de vocês para banimentos na próxima segunda-feira? Deixem suas opiniões nos comentários!
Abraços e até a próxima!
As questões que você colocou sobre o London Mulligan são super válidas, e tem que ser colocadas na balança. Mas acho que nada justifica um jogador viajar para um GP e correr o risco de não jogar por ter que fazer Mulligan para 5.
A solução é banir todas as criaturas drop 1 além de cavalcade, pinto da chandra e o Oko e fires of invention tmbm por precaução.
to be continued...