A London Mulligan começou a ser testada no Mol no dia 08 deste mês e eu, com interesse científico e por motivos estritamente profissionais (afinal eu tinha que escrever esse artigo e foi assim que justifiquei pra minha esposa), afundei-me nas ligas de Legacy que rolam no jogo e joguei, nesses 10 dias, 16 ligas, em outras palavras, 80 jogos do melhor formato de todos os tempos.
No que pese eu não considerar 80 um número suficiente de jogos para uma opinião definitiva, considero um número suficiente para passar minha impressão sobre a nova regra e seu impacto no jogo e no formato. Já adianto, foi uma delícia!
Antes de ler meu artigo, porém, para uma melhor conclusão a respeito da regra, sugiro que leia esse artigo do Frank Karsten sobre a regra. Lá tem todas as probabilidades importantes envolvidas na mudança, inclusive quais decks ele acha que serão beneficiados e os impactos disso no jogo e na construção dos decks. Registro, todavia, que esse artigo foi escrito por ele, antes dele jogar com a nova regra, sem experiência prática.
Bora para o que interessa e como diria Jack, the Ripper, vamos por partes, e por partes comecemos pelo número de jogos e arquétipos testados. Procurei jogar com 4 diferentes arquétipos do Legacy, decks que já tenho montados no Mol e que me pareceram que sofreriam um impacto maior da regra. Dos 80 jogos jogados, 25 foram com Control (UW e Esper Blade); 20 com combo (Storm), 15 com Tempo (UR e Grixis Delver) e 20 com Aggro Prision (Eldrazi Post); exatamente nessa ordem.
1) 25 Jogos de Control – UW e Esper Blade
O início dos testes da regra no Mol implantou o caos no jogo. Foi uma infestação de Dredge no formato, sem precedentes. Ark4n, um streamer conhecido do Legacy, chegou a intitular um dos seus streammings no Twitch de: DREDGE IS BUSTED WITH LONDON MULLIGAN! Acredito
que a galera passou a achar que o deck ia ficar quebrado, eu entre eles, afinal já perdi para um Dredge mulligado a 3, e isso antes da regra nova. Na prática, porém, tivemos um big SÓ QUE NÃO!
Fato é, que dos 8 que enfrentei, perdi apenas para 1. Meus oponentes mulligavam agressivamente e eu, não fiquei para trás, cheguei a mulligar para 4 em alguns jogos e, ainda assim, ganhar. O segundo maior vilão foi Reanimator, 4 jogos contra e 3 vitórias. Minha impressão geral, respaldada pela estatística mais óbvia, é que achar a resposta correta, efetivamente, é mais fácil que achar a mão perfeita do combo. Ora, eu precisava mulligar para achar apenas 1 carta (Surgical Extraction ou Containment Priest) e terreno, enquanto meus oponentes precisavam achar no mínimo 3 cartas (Mana, Entomb e Reanimate ou Mana, Faithless Looting e Dredge). Minha impressão enfrentando esses combos, foi que o G1 ficou mais dificil, com mulligans agressivos dos meus oponentes, mas as partidas pós-side ficaram mais fáceis, já passaram a ter mulligans mais agressivos de ambos jogadores, o que facilita para o jogador de control encontrar sua silver bullet, descendo, às vezes, até 4 ou 3 cartas na mão. Detalhe, em nenhuma partida eu deixei de fazer land por causa de um mull a 4, por exemplo.
Com relação às demais partidas, nas quais meus oponentes não tentavam me vencer de alguma forma injusta, os mulligans não apareceram com tanta frequência, nem pra mim, nem para meus oponentes. O jogo continuou da mesma forma que antes e eu mulligava somente quando a mão estava inadequada para uma boa partida, impressão que meus oponentes me passaram, também. A vantagem do London Mull, aqui, foi tornar o mulligan menos punitivo, e, claramente, contribuiu para menos jogos decididos por mulligans ruins. Ou seja, menos “não jogos”.
Minha impressão nesse jogos foi que tentar uma mão de 6 melhor que a de 7 já passou a ser algo completamente plausível, o que deixou o mulligan menos decisivo na partida. Para se ter uma idéia de quanto um mulligan pode ser prejudicial, ganhei apenas 20% dos jogos que comecei mulligado a 5 (estatística tirada do MORT, que é um programinha que tira os dados dos replays dos jogos que ficam gravados no Mol).
O resultado final dessas 25 partidas, foi uma das melhores sequências que já fiz no MOL, 21-4. Control é o arquétipo que mais tenho experiência no Legacy e, de quebra, meu arquétipo preferido, então isso pode ter contribuído, de modo que não posso atribuir tudo à mudança de regra. Mas, tenho certeza que ela contribui para muitas vitórias, afinal, nunca ganhei tanto de Dredge, antes.
2) 20 Jogos de Combo - Storm
O único deck combo que eu tinha no Mol – do verbo não tenho mais, porque vendi para comprar o último deck testado (Eldrazi Post) - era o ANT. O ANT, apesar de um deck combo, é um deck que precisa de uma quantidade de mágicas maior que a maioria dos combos no Legacy, logo a quantidade de cartas em sua mão deve ser maior para que o combo funcione. É certo que eu queria ter testado a nova regra com um Reanimator ou um Show and Tell (que acredito que vai ser o combo mais beneficiado), mas infelizmente não foi possível. Na teoria, combos de apenas duas cartas são mais fáceis de moldar em mãos menores (3 ou 4 cartas), enquanto no Storm, um mull agressivo tem mais chance é de significar uma derrota.
Considerações feitas, os jogos com Storm, pricipalmente G2, melhoraram. Por exemplo, um mulligan para tentar uma Hurkylls Recall, quando enfretando Eldrazi, ficou mais possível, e o mulligan a 6, em razão de uma mão ruim de 7 cartas, passou a punir consideravelmente menos. Minha sequencia com Storm, porém, não foi nada impressionante. Com o meta infestado de Reanimator (que agora comba evidentemente mais fácil que eu) as coisas ficaram mais difíceis e terminei 10-10. É verdade que estou enferrujado e Storm exige dedicação e prática constante, o que, com certeza, afetou meu resultado, já que me falta bastante prática com o deck. Diferentemente do Control, jogando contra Reanimator ou Dredge, mulligar para o hate especifico, de Storm, pune consideravelmente meu plano de jogo, já que posso conseguir responder a primeira tentativa em combar do meu oponente, e, eu mesmo, não conseguir combar depois, pelo baixo número de cartas na mão.
Minha impressão é que o G1 ficou consideravelmente melhor para o Storm e combos em geral, principalmente aqueles que dependem de 2 cartas para combar. Afinal, seu oponente não sabe do que você está jogando e você pode aproveitar isso para esculpir uma mão inicial melhor (combada). Os mulligans G1 ficaram mais agressivos do que antes. G2 e 3, porém, ficaram mais dificieis, principalmente em se tratando de combo que pode ser respondido por apenas um hate especifico (Leylines, Calices, Espinhos, Surgical, etc). Nesse ponto, acho que decks baseados em Show and Tell sofrem bem menos, já que não existem hates especificos que punem a estrategia a ponto de para-la por si só, ainda mais quando esses decks estão usando Omniscience para contornar Containment Priest.
3) 15 Jogos de Tempo – Grixis e UR Delver
Aqui joguei duas ligas de Grixis Delver e uma liga de UR Delver. Tempo, atualmente, é meu segundo arquétipo preferido do Legacy. Acho extremamente intrigante jogar com ele, já que o segredo da vitória reside em saber gastar todos seus recursos na medida correta, para matar o oponente. Em outras palavras, é como passar o dedo no bolo de aniversário, sem deixar que outras pessoas percebam, principalmente o aniversariante, sem atrapalhar a estética do bolo e ao mesmo tempo conseguir saciar a vontade de experimentar o danado. Se você achou difícil, acertou, é mesmo.
Nesse caso específico, não acho que a regra tenha acrescentado grandes avanços para a estratégia. Por óbvio que ela melhorou, mas melhorou daquela forma geral, afinal mulligar é menos ruim, agora. Entretanto, mulligans extremamente agressivos também punem a estratégia. Afinal, seus recursos são limitados e suas respostas são o suficiente para assegurar uma vitória rápida. Se o jogo se prolonga, a inevitabilidade de decks com mágicas mais caras e melhores, acabam sobrepujando o arquétipo.
Eu acabei por mulligar algumas vezes para hate e criatura, de forma que, contra os combos, eu pudesse responder a primeira tentativa de combar do meu oponente e, em seguida, colocar um clock em jogo, mas só fiz isso a título de teste, contra decks que sofriam muito para cartas específicas. Algumas vezes deu certo, outras não! Meu recorde final foi 10-5 com ambos os decks. Minha impressão geral é que esses decks não ganharam tanto com a nova regra, a não ser o beneficio inerente de um mulligan melhor.
4) 20 Jogos de Aggro Prision - Eldrazi Post
Finalmente chegamos no último arquétipo testado. Explico que não testei os aggros puros, ou super aggros do formato (Merfolks, Fractius, Goblins), simplesmente por não achar, na teoria, que a regra traria muito impacto para esses decks. Além disso, não tenho nenhuma carta desses decks no mol e para montar esse Eldrazi Post tive que me desfazer do Storm e dos Delvers (chorando copiosamente neste momento).
O Aggro Prision é um arquétipo relativamente recente no formato. Surgiu com o Eldrazi Winter e só por causa desses aliens que o deck realmente funciona. Geralmente, parte-se do princípio de se conjugar um disrupt (Calice do Vacuo, Trinisphere ou Thorn of Amethyst) com um clock rápido (bichos gigantes na mesa). As vezes uma carta só é clock e disrupt, como é o caso no Thought-Knot Seer.
Aqui, senhores, é que percebi um grande salto de qualidade, principalmente quando se enfrenta combos. Esses decks ganharam absurdo com o London Mulligan. Mas porque? Simples, uai. Eles são altamente dependentes de uma mão inicial boa e, ao mesmo tempo, precisam de poucas cartas nessa mão inicial para funcionarem bem. Em conjunto com isso, no sideboard, possuem uma série de silver bullets contra os demais arquétipos do formato. Moral da história: mulliga pra hate piece, com land, que o clock chega rápido, e seja feliz!
Efetivamente, o Eldrazi Post já tem um bom jogo contra decks control, em razão da inevitabilidade. É dificil segurar um Ulamog, mesmo no late game. Além disso, a peça do prision combinada com o clock, garante bons jogos contra combos, também. O problema do Eldrazi Post são os super aggros e os Delvers com suas Wasteland e clocks rápidos. No entanto, com a nova regra, ficou muito mais fácil esculpir a mão inicial em torno de uma peça chave de hate (Calice, Trinisfera ou Espinho) e desenvolver seu plano de jogo a partir daí. Consequência disso? Em 20 jogos, perdi apenas 6, sem nunca ter jogado com o deck antes. Por mais que o deck não tenha grandes segredos, isso representa 70% de win rate, com um deck completamente estranho pra mim. Inclusive, minha primeira liga com ele, foi um 5x0. Era risível eu fazendo conta de mana e vendo minha própria lista na internet pra saber qual o melhor busca que eu podia fazer com Eye of Ugin (na dúvida, Ulamog haha).
Um dos principais jogadores do arquétipo do Mol, Pathy, ganhou o Challenge com 140 jogadores, do final de semana passado com o deck, com apenas uma derrota no suíço. Minha impressão? Se antes o deck era considerado um Tier 2 do formato, com a nova regra passa a Tier 1 facilmente. Da mesma forma, todos os decks que abusam da mesma estratégia melhoraram consideravelmente: Eldrazi Aggro e Big Red. Isso se deu repita-se, pelo fato de serem decks que dependem de poucas cartas para funcionar, construídos com hates especificamente poderosos e com uma ampla variedade de threats eficientes.
Conclusão
Eu acho que ainda seja cedo para uma conclusão definitiva. São apenas 10 dias de teste, apenas 80 jogos. Mas de forma geral, os combos já diminuiram no Mol, não vejo mais Dredges saltando por todos os lados, nem outros combos. Pelo contrário, passei a ver mais prisions tipo Eldrazi and Taxes, alguns Mavericks e uma presença forte de controls.
Parece-me que as vantagens da nova regra (diminuição de não jogos e mulligans menos punitivos) deixam o jogo menos dependente da sorte, mais competitivo e são mais relevantes que os possíveis prejuízos que ela pode causar. Pelo menos, até agora, ninguém quebrou o formato com alguma build absurda que abuse da regra e tudo está correndo bem. Digo, tudo está correndo melhor, já que mulligar a 6, agora, é tão bom, que quase da vontade de fazer, só pra ver como a mão fica!
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Foi mal ta certo msm
Na hora que li , interpretei diferente ..vo ate deleta..valew
Concordo, o teste é sempre válido. Se der errado, é só descartar a regra. Bem importante ver o impacto da regra na prática, do que apenas conjecturar sobre suas consequências.
Abs