Magic é um jogo privilegiado. Não apenas pelo jogo em si, que tem se desenvolvido muito nesses 25 anos e chega, a cada edição, a um novo nível. Mas também pelos eventos, que criaram uma estrutura que nos leva desde o casual, até o competitivo. Essa estrutura é muito clara no Magic, um caminho simples de entender e de certa forma até simples de planejar.
O Pro Tour foi criado em 1996 como um torneio que fazia os jogadores aspirarem por algo. Nos primeiros mundiais de Magic os campeões ganhavam apenas cartas, com a criação do Pro Tour foi possível o começo de um circuito Profissional dando dinheiro e que criava a lendária figura do pro player..
A importância real do Pro Tour não é o evento em si, mas a estrutura que leva à ele. Classificatórios para o Pro Tour tem sido a base dos torneios mais importantes nas lojas e foi criado toda uma estrutura ao redor deles, estrutura essa que faz muitos jogadores não apenas participarem de um pré lançamento, mas também comprarem o mais rápido possível as cartas novas, claro que teríamos vendas de cartas novas de qualquer maneira, mas esses torneios criam um desejo pelas novas cartas e aumentam as vendas. Temos aqui o jogador que valoriza o objetivo final e não necessariamente quanto ele está pagando para chegar à esse destino. Até o final do ano passado o caminho para o pro Tour começava em diversas lojas locais, com os Preliminary Pro Tour Qualifiers (PPTQs), mas o sistema mudou e teremos os Mythic Championship Qualifiers (MCQs), e a ideia aqui é discutir justamente esse novo sistema além de compará-lo com o antigo.
O sistema de PPTQs foi implantado como um primeiro passo para o Pro Tour, falamos de um torneio que pedia um mínimo de 8 jogadores, um juiz nível 2 e um nível específico no WPN. Essas exigências têm impacto em como as regiões vão encarar o competitivo. Mais do que um simples evento, é indicado uma premiação alta e valores maiores na inscrição, ou seja, uma mensagem para o jogador de que aquele evento será diferente. O lojista que realizará o PPTQ tem que fomentar em sua comunidade o jogador grinder, aquele que vai usufruir desse novo evento. Importante apontar que o lojista não precisa fomentar necessariamente a comunidade local, ele pode fazer um evento que tenha em grande parte o público de outras cidades, situação comum em alguns PPTQs. Já vemos um dos problema desse sistema, para subir de nível no WPN a loja devia (e conjugo no passado porque o WPN também está mudando e não terá mais nIveis) fazer uma série de eventos e crescer sua comunidade, então ela chega à determinado status com a comunidade e depois faz um evento que não gera interessa nessa mesma comunidade, existe uma discrepância entre o que a LGS (local game store) apresenta e o que os jogadores querem, lembrando que nenhuma loja Core ou Core+ era obrigada a fazer o PPTQ. Na questão do juiz, o nÍvel 2 é um nível realmente importante no programa de juízes, onde além da prova são exigidos outros quesitos. Para facilitar a expansão dos PPTQs, que em um país como o Brasil, com proporções continentais, encontrava diversos problemas geográficos, o programa de juízes mudou os pré-requisitos e tivemos assim uma expansão do número de níveis 2,podendo atender mais lojas e tornar possível mais torneios. Juízes de level mais baixo são compelidos ao nível 2 pela sua própria comunidade, que até então tinha zero demanda para um juiz competitivo (sim, o juiz nível 2 tem mais preocupações além de tirar sua dúvida na loja, apesar dele também fazer isso) e na verdade continuam com uma demanda irrisória para um juiz desse tipo, mas pressionam para que esse requisito do PPTQ seja completo. Pressão e facilitação criam uma enxurrada de juizes inexperientes quando o assunto são grandes eventos, mas com uma experiência incrível quando o assunto são eventos de 20 jogadores, ou seja, o mesmo que um juiz nível 1 de loja. Por fim, sobre o Core, o lojista que tinha zero preparação, seja de logística, seja de estrutura, para um evento maior, se vê querendo o PPTQ e força dados “reais” para pegar o Core necessário, depois força a presença de um juiz, sem também saber como funciona trabalhar com alguém com tal especialidade. O resultado é um sistema que gera um cenário de magic facilmente inchado, que gera um grande número de profissionais inexperientes fazendo eventos importantes, além de que, quem tem mais chance de juntar jogadores, juízes e core? Exatamente, o eixo Rio-SP, que concentra quase 80% dos PPTQs, sendo que grandes estados do Magic, como Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia, atrofiam na cena de PPTQs e RPTQs(Regional Pro Tour Qualifier), devido a problemas básicos para cumprir as novas métricas.
Chegando aqui você deve pensar que eu vou agora rasgar elogios ao novo sistema de MCQs, isso porque eu apontei por muito tempo como o sistema de PPTQs era injusto e focado em São Paulo e o sistema antigo de PTQs (Pro Tour Qualifiers) era mais democrático com outras regiões. E a princípio eu diria isso, mas temos o seguinte problema: você iria comprar pão em uma padaria a 1km da sua casa depois de ficar anos com uma ao lado da sua casa? Só se você gostasse muito de pão. Para o jogador que tinha 4-6 PPTQs próximos a ele, era um contato muito próximo ao competitivo, ele via os eventos, convivia com os ganhadores, o que lhe dava contato com o RPTQ, era algo próximo. Agora você vai dizer para esse cara que ele vai ter que viajar para os grandes centros, por mais que sejam vários eventos em um período curto, por mais que as seasons sejam menores (aproximadamente dois meses), viagens longas cansam e pedem tempo, é muito diferente ir para a cidade próxima e gastar o dia entre 9h da manhã e 8h da noite e agora ir para um aeroporto e perder o fim de semana todo. Isso e o fim de um circuito independente como o CLM criam uma nova figura problemática, o jogador que não vê mais motivo para jogar Standard. Ele não é o cara que se preocupa com rotação, ele não é o apreciador de outros formatos, ele era o jogador competitivo que sabia que no Standard ele teria a fonte de eventos que ele queria, eventos para algo maior e isso não é tirado dele, é pior, isso é colocado a uma distância maior.
Adendo importante, fenômenos como Arena pouco tem haver com um desânimo dos jogadores. Na verdade nunca se jogou tanto Standard como acontece atualmente. Mais do que isso, como todo psicopata sabe, a fantasia online tem seus limites e tem a hora que queremos colocá-la no mundo real. Além de que, o Arena faz o grind via ladder e isso é bem distante da experiência do grind de torneios que o Magic IRL proporciona. Achar que o Arena matará o IRL é achar que o FIFA 2019 vai acabar com o futebol de quarta com os amigos.
Nesse cenário novo temos que analisar algumas coisas. Os MCQs tem frequência alta, as temporadas são pequenas e a partir da Season de Richmond (e lembro que agora estamos na Season de Barcelona) teremos um número mínimo de pontos, pontos esses que você terá que fazer jogando na loja. Duzentos pontos é a pontuação estipulada para as primeiras temporadas e te garanto que isso em 3 meses não é tão fácil quanto parece, ainda mais dependendo de jogar eventos pequenos nas lojas. Com isso, os grandes centros (Rio-SP como polo, mas também Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador podendo entrar na brincadeira) se garantem em seus cenários competitivos, já que teremos a figura do MCQ, dos eventos, dos ganhadores, próximo ao jogador local e essa proximidade anima o jogador, que vê o torneio como algo para ele também e não algo elitizado e distante. Para os centros menores (especialmente interior de São Paulo), os lojistas se verão em um cenário onde ou eles criam um circuito próprio, ou verão uma grande debandada de jogadores do Magic no Geral, ele pode ir para o Arena em um primeiro momento, mas a perda de interesse será gradual. É hora dele pensar que o público para eventos maiores já está lá, ele só precisa é dos eventos. No sistema de PPTQs era comum a criação de pólos, regiões de um raio de 100km onde diversos PPTQs aconteciam, criar algo dentro desse pólo é uma saída para dar vasão ao jogador grind que foi criado nos últimos anos. É a liga local que dá dinheiro, que concede uma passagem para algum lugar, qualquer coisa que faça o grinder levantar a orelha.Claro que uma Loja não é feita apenas de grinders, mas perder um grupo de jogadores simplesmente porque você alimentou ele por anos e agora a Wizards cortou a fonte, me parece bem ruim.
Junto com os MCQs começa um novo WPN que valoriza mais eventos com os mesmos jogadores e nos formatos Limited/Standard, o que acaba sendo uma notícia que vai de encontro ao que sugeri para as lojas que não querem perder grinders órfãos de PPTQ. Basicamente, o sistema está mudando novamente e não é apenas para um lado ou outro, mas para todos, se alinhar com ele o mais rápido possível é a melhor solução.
Até mais!
Ruda
Termina no final de Junho. Realmente já foi mais bem divulgado.