O Design por trás das cartas.
Saudações, Planeswalkers!
Como vocês devem ter notado em meus textos da série “Novidades da Color Pie”, sempre deixo de fora a análise de cards dourados, artefatos e terrenos. Isto acontece porque é possível notar melhor os desenvolvimentos de cada cor individualmente, mas também pelo fato dos elementos citados serem qualitativamente diferentes dos cards monocoloridos.
Quando entreguei o texto sobre a coleção de Ixalan, o Rudá (editor da LigaMagic) me questionou: não tinha o que falar de terrenos, artefatos e multicoloridos? Expliquei que os dois primeiros não fazem parte da Color Pie, e que os últimos tornam a análise mais complicada, já que misturam mais de uma cor. Era um momento também no qual eu ainda precisava retomar a série sobre as mecânicas das cores (só havia publicado o texto sobre o Azul, até então).
Entretanto, eu sabia que o futuro estava exatamente aí, e nos comentários dos textos de cada cor, volta e meia surgia alguma questão sobre a possibilidade de fazer textos sobre as combinações de cores e também cards incolores. Como cereja do bolo, eu gostaria de aumentar o número de textos por mês – e uma série sobre estes conteúdos não caberia num único ano, visto que já tenho algumas séries fixas na coluna.
É por tudo isso, portanto, que anuncio uma nova leva de colunas da série “Color Pie como Sistema”! Como o intuito é ampliar nossos conhecimentos e, de quebra, a análise das novas coleções, achei por bem começar por artefatos e incolores, que serão seguidos pelos terrenos. Cumpridas estas duas etapas, farei uma longa viagem pelos pares de cores – ou seja, temos uma programação até dezembro! Apresentações feitas, hora de iniciar nossa jornada!
Artefatos e a Color Pie
O título deste texto soa estranho, pois na verdade, os artefatos não fazem parte da color pie. Eles foram criados porque, sendo um jogo de fantasia, temos em Magic uma variedade de itens mágicos. Isto foi de encontro à intenção de Richard Garfield, que pensava que deveria haver algum elemento do jogo que não estivesse dentro da color pie.
Para representar o fato de que qualquer mago poderia utilizar artefatos, foi decidido que o custo de mana para invocá-los deveria ser genérico. Portanto, os artefatos servem como ferramentas para quem os utiliza; e como objetos possuem apenas as características e funções para as quais foram criados, não há uma filosofia dos artefatos, como acontece com as cores.
Justamente por terem se tornado um tipo de card e não pertencerem a nenhuma cor específica, os artefatos desenvolveram relações com cada uma das cores. Estes parâmetros foram basicamente desenvolvidos durante o design de Mirrodin e se mantém verdadeiros atualmente:
Azul: Sendo a cor mais ligada à tecnologia, o Azul tem a melhor relação com os artefatos. Em geral, mecânicas e temas ligados a artefatos são desenvolvidos nesta cor – alguns exemplos são Afinidade por Artefatos (bloco de Mirrodin) e Improvisar (bloco de Kaladesh). Vale lembrar que um dos cards mais poderosos da história do Magic nasceu deste casamento (não sendo, curiosamente, nem Azul nem Artefato): o Terreno Academia Tolariana, da coleção A Saga de Urza.
![](https://i.imgur.com/JOFJMQs.jpg)
Verde: Os artefatos estão no centro do conflito entre o Azul e o Verde: enquanto o Azul acredita que qualquer coisa pode ser aprimorada e transformada em algo melhor (o que inclui a produção de artefatos), o Verde prega que nosso desenvolvimento está ligado à nossa natureza primordial, bastando olharmos para dentro de nós para descobrirmos qual é o nosso caminho. Além disso, como os artefatos não pertencem à ordem natural, esta cor possui uma relação de ódio com eles, sendo uma das que possui os melhores efeitos de destruição de artefatos.
![](https://i.imgur.com/670p7NK.jpg)
Vermelho: Emocional e caótico, o Vermelho tem uma relação de amor e ódio com artefatos. O fogo, elemento ligado ao Vermelho, é capaz tanto de forjar artefatos como de destruí-los. Até por este conhecimento de como os objetos são feitos, em termos de jogo, o Vermelho divide com o Verde a posição de destruidor de artefatos. No entanto, há muitas mágicas desta cor que utiliza os artefatos como recurso – o que não costuma significar um final feliz para estes, afinal.
Branco: Nos primórdios do Magic, o Branco era a principal cor em destruição de artefatos, mas isto mudou com o tempo. Embora ainda mantenha esta capacidade, o Branco, como cor da civilização, aprecia o desenvolvimento que os artefatos trazem. Dentro do jogo, isso é particularmente representado pela grande ligação entre esta cor e os Equipamentos, fundamentais para a existência de instituições caras ao Branco, como os exércitos:
Preto: De todas as cores, o Preto é a que possui menos relação com os artefatos – para o bem ou para o mal. A busca desta cor é por poder, então os artefatos aparecem como um possível meio de obtê-lo – mecanicamente, isso faz com que alguns cards pretos se relacionem com o número e/ou presença de artefatos para fortalecer seus efeitos. Uma questão que acho notável é o fato de o Preto (uma cor com grande capacidade de destruição) não ser capaz de lidar com artefatos – seria por apego aos bens materiais?
Há um outro aspecto da relação entre artefatos e a color pie, este mais ligado às mecânicas de jogo: como cada cor possui fraquezas inerentes, os artefatos não podem fazer nada melhor do que a pior das cores. Por exemplo: como o Vermelho é incapaz de destruir encantamentos, não podemos ter um artefato que lide com eles, ou ao menos que faça isso com custo baixo. Nestes casos, os artefatos sempre terão que ter custos altos, para não eliminar as vantagens e desvantagens que cada cor possui.
Este fator tem dois desdobramentos interessantes, no que diz respeito ao design dos artefatos:
1) Efeitos básicos – como uma maneira de auxiliar no funcionamento básico dos decks, muitos artefatos terão poderes comuns do jogo:
Produção de Mana
Mana Fixing
Compra de Cards
Incremento de Poder e/ou Resistência
Criaturas (no caso, Criaturas Artefato)
2) Inovações – sem a necessidade de se restringir a uma filosofia e a uma configuração mecânica de regras, os artefatos são os cards nos quais os designers podem tentar encontrar novos efeitos – em especial aqueles que ainda não figuram na color pie. Curiosamente, em muitos casos, a novidade acaba sendo absorvida por alguma cor, posteriormente:
Incolores
Recentemente, na coleção Juramento das Sentinelas, foi introduzido no Magic o símbolo para mana incolor – isto a distinguiu da mana genérica, que pode ser paga com qualquer tipo de mana. É interessante que esta inovação tenha surgido para representar os Eldrazi, pois este tipo de criaturas, e as mágicas relacionadas a elas, são legitimamente incolores, diferentemente dos artefatos.
![](https://i.imgur.com/0bf1Q4T.png)
Mesmo possuindo um símbolo próprio, que aparece nos custos de algumas mágicas, e até mesmo um terreno básico (os Ermos), a mana incolor não pode ser considerada como uma sexta cor. Assim como os Eldrazis, que vivem nas Eternidades Cegas entre os planos, a mana incolor mantém-se fora da color pie. Em termos de mecânicas de jogo, esta questão também ficou bem representada, pois os Eldrazi do bloco Batalha por Zendikar possuem mecânicas (Ingerir e os Processadores) que interagem com a zona do Exílio – espaço praticamente não explorado dentro do jogo. É literalmente como se coisas estivessem transitando pelas Eternidades Cegas, sendo manipuladas pelos Eldrazi:
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E assim termina nossa jornada! Foi uma passagem rápida sobre Artefatos e cards Incolores, por isso gostaria de perguntar: algum elemento que você esperava encontrar neste texto ficou de fora? E o que você achou deste texto? Aguardo vocês nos comentários!
Até a próxima viagem!