Olá para todos!
Faz um tempo que não apareço por aqui, mas os temas relacionados as imagens e seus contextos nunca se esgotam. Por isso, cá estou eu.
Não é atípico que muitos jogadores notem que algumas cartas possuem certas imagens que despertam memórias sobre alguma outra carta, seja através de seu efeito ou menção em um texto literário dela (ou flavor text, como muitos conhecem).
Apesar disso, as imagens não são tão evidentes quando tentam realizar essa tarefa; seja pela necessidade de ter visto necessariamente a imagem da carta da qual ela se remete – já que o efeito pode ser lembrado sem ter essa necessidade específica de ter sido visto impresso na carta, como no gatherer, por exemplo – ou talvez pelo intencional ar de easter egg (do inglês “ovo de páscoa”, que também simboliza algum segredo de caráter humorístico/descontraído escondido em qualquer tipo de mídia) que muito se vê em jogos de videogame, quadrinhos e filmes.
Algumas cartas revelam essas relações de forma mais clara e muitos parecem nota-las sem muita dificuldade.Um exemplo comum desse tipo de flavor, no que diz respeito a ser conhecido, é de Niv-Mizzet, the Firemind, da coleção Pacto das Guildas:
O flavor text da carta parece supor alguma relação com a matemática, exemplificando sua soberania neste quesito do conhecimento, mas a verdade é que não passa do nome do dragão lendário estampado. O mais interessante é que a própria carta nos dá as coordenadas para que o jogador compreenda esse easter egg: leia a primeira palavra em 90 graus, como está descrito em frente a parêntese fechada, depois repita o processo na segunda parêntese, como descrito, e então, adicione 1 letra “t”. Teremos Niv Mizet. Quanta criatividade, não é?
Mas algumas vezes esse prazer de descobrir algo secreto exige ainda mais perspicácia, e como havia dito, ter visto mais de uma carta. É comum que nos blocos mais recentes de Magic as cartas falem da história de forma direta, inclusive com as mais recentes “Spotlights”, que são cartas que falam de momentos chave da coleção em questão, então não é surpresa ver uma ação ocorrendo na carta que ‘figuralize’ um ocorrido. Mas em algumas cartas não é exatamente isso que ocorre, mas uma espécie de jogo, onde as cartas se complementam ou dialogam, criando uma narrativa. Vejamos o exemplo de Krenko, Mob Boss (que também já foi muito visto pela comunidade):
Caso ainda reste dúvidas para os mais desatentos, na carta do goblin lendário, ao fundo da imagem que o representa, podemos ver os goblins do Krenko's Command em ação.
Mas não para por aí a criatividade dos artistas e muito possivelmente dos pedidos que partem da Wizard para estes.
A coleção Eternal Masters, que trouxe o reprint de algumas cartas muito desejadas pelos jogadores, também carrega consigo alguns easter eggs.
Vejamos a arte de Wasteland:
Em Wasteland tem como função principal destruir o terreno alvo não-básico. E qual seria a melhor forma de fazer isso na criação da sua representação em imagem? Atrelando seu contexto a destruição de um local não básico – haha. Tá, isso não é tão óbvio porque o que é básico dentro do magic são os terrenos padrões, mas qualquer outro tipo de terreno não é, então poderia ser qualquer coisa em ruínas descrito imageticamente acima. Mas é possível notar algumas características desta peça que se relacionam com outra arte do Magic. Você sabe qual é? A visão frontal da carta, tão como a perspectiva central, que enaltece um possível passado simétrico dessa cidade em ruínas, além da escadaria com muitas semelhanças, é uma referência à carta City of Brass:
Apesar de não ser um Easter Egg, a Chandra, Torch of Defiance, tem a mesma proposta visual de Jace, the Mind Sculptor. Quando a carta foi anunciada, muitas pessoas fizeram comparações – precipitadas, evidentemente – sobre o power level da carta e sobre um possível plano de jogo dela, inclusive se relacionando ao Jace, the Mind Sculptor, devido as quatro habilidades disponíveis. De fato, não era de todo errado as referências ali levantadas pelos entusiastas na planeswalker do fogo.
Indo um pouco pro campo acadêmico – mas prometo que não muito – o crítico de arte René Huyghe e o historiador Leonardo Benevolo, no livro O Poder da Imagem, de 1997, mostram que as intenções artísticas, mesmo quando ocultas e impossíveis de um total desvelamento (isto é, mesmo quando é impossível ter certeza sobre uma intenção ou referência) são capazes de modificar nossa codificação sobre um objeto, mesmo quando isso parece não estar interligado diretamente a imagem.
Talvez, tendo por base as teorias d’O Poder da Imagem, a figuração dos personagens que dialoga em pose, demonstração de poder e intenção em funcionalidade (mesmo que não ocorra na prática) tenham transmitido aos jogadores a visualidade de uma possível carta tão poderosa quanto o famigerado Jace, banido em Modern e vívido em Legacy e Duel Commander. O poder da imagem está relacionado não apenas a essa capacidade intuitiva de comparação, mas também a percepção, por mais que muitas vezes subliminar, entre narrativas e propostas.
Hum, não está convencido?
Tudo bem, talvez você precise de algo mais fragmentado, porém ainda assim, concreto. Vamos dar uma olhada no traz “Jitte do cemitério, land e muito mais”, Sun Titan:
Pois bem. No bloco mais recente de Modern Masters não ficou dúvidas que a carta Terminate estava destruindo nosso pequeno amiguinho:
Aí você já fala: “caramba, que legal isso! ” e se dá por feliz de ter presenciado essa clara referência. Mas você qual outra carta mostra o Titan voltando das cinzas? Se você ainda não sabia, então olhe essa arte de Animate Dead, de Graveborn:
É, parece que quem voltou do cemitério dessa vez foi ele mesmo!
Apesar dessas referências visuais acontecerem com certa frequência, nem sempre elas são tão óbvias, e nem sempre tem seus espaços de tempo próximos para serem revelados (como no exemplo acima ou mesmo entre Jace e Chandra).
A coisa fica mais hard quando visitamos cartas bem antigas, como Soul Net:
Após o surgimento dessa carta, outras foram criadas utilizando seu nome como anagrama, como o exemplo de Onulet:
Anos depois, alguém deve ter tido vontade de resgatar esse anagrama e deixa-lo mais complexo, na carta Anodet Lurker, que é um anagrama de Darker Onulet, e portanto, um semi anagrama de Dark Soul Net (sem o ‘s’), e claro, tem seus efeitos relacionados ao ganho de vida, criando uma conexão diegética (leia mais sobre a diegese no Magic aqui):
Um outro jogo com palavras é o de Koth of the Hammer, onde seu nome, Koth, é a abreviação do nome e título dele mesmo:
Para os mais assíduos, provavelmente Stroke of Genius não traz nenhuma novidade ao ter os esboços do Karn ao fundo, naquelas sketchs na parede. E mesmo Goblin Grenade, com sua lança forjada com o nome de um amigo do artista, Ron Spencer, Mike, não é nada de secreto, certo?
Mas creio que poucos tenham visto esse crânio escondido em Flame Wave, não é mesmo? Ou estamos lidando apenas como Mestres das Easter Eggs?
Pois se estivermos, deixo aqui o desafio: você consegue identificar todas as referências de ambas as artes abaixo, Dwarven Shrine e Expropriate? Descreva no comentário sobre elas e comente sobre outras que você também conhece!
Até mais e nos vemos no próximo artigo!
Fontes – Wizards.com: http://magic.wizards.com/en/articles/archive/latest-developments/my-love-eggs-2006-12-15
http://magic.wizards.com/en/articles/archive/feature/magic-gathering-easter-eggs-2006-12-11-0
Referências:
BENEVOLO, Leonardo; HUYGHE, René. O poder da imagem. Edições 70. [s.l.], 1997. 235 p.
![](http://www.lmcorp.com.br/arquivos/img/no-picture.png)
Agora, o que seria realmente muito legal, se essa carta desses "pistas" de que moxes e True-Name fossem cartas secretas disponíveis em Conspiracy, já que a maior parte das referências são todas das lendárias do Plano.
Só que acho que a Wasteland não é a City of Brass. Parece, mas não é.