Ganhando vantagens no formato.
A ideia para escrever este artigo surgiu em uma discussão iniciada pelo jogador kungfutrees, em que ele questionava a importância do card advantage nos mirrors de decks midranges e controls no Pauper.
Se levarmos em consideração que boa parte do ambiente atual é formado por decks como UR Skred, Boros Monarch e UB Alchemy, sem contar as diversas variações de Tron, há grandes chances de você vivenciar algum destes confrontos, portanto entender melhor a necessidade de CA nestas partidas é fundamental para sua evolução como jogador do formato.
Antes de nos aprofundarmos no tema, é preciso entender de maneira simples e prática qual a definição de card advantage.
Gosto de explicar que Magic é um jogo de recursos, no qual cada jogador define a estratégia principal de seu deck e vai trocando recursos com seu oponente até alcançar um dos objetivos finais do jogo — reduzir a vida ou a quantidade de cartas do deck de seu oponente a zero.
Portanto, card advantage nada mais é do que uma forma do jogador obter uma vantagem via quantidade de cartas, fazendo com que possua mais recursos ao longo do jogo e, consequentemente, tenha mais chances de encontrar suas principais cartas-chave ou de decidir uma partida.
Existem diversas formas de obter essa vantagem e vou tentar explicar as principais utilizando alguns exemplos relacionados ao Pauper. A principal maneira é através de cartas que compram quantidades maiores de cartas, como por exemplo,
Deep Analysis. Veja que, com apenas uma única carta, você consegue comprar quatro novas cartas, levando em consideração a habilidade de flashback. Neste mesmo grupo estão cartas como
Lead the Stampede,
Thoughtcast,
Think Twice, e qualquer outra carta de compra que consegue te dar mais cartas além de se auto substituir.
Outro exemplo de card advantage muito utilizado pelos jogadores são remoções e disrupts no geral, que apesar de não te fornecerem novas cartas, afetam o status do campo de jogo, gerando vantagens em quantidade de recursos. Se seu oponente possui duas
Faerie Miscreant e uma
Spellstutter Sprite na mesa e você utiliza um
Electrickery, você está gerando card advantage por trocar três cartas de seu oponente por uma sua. A mesma situação ocorre se você conseguir utilizar cartas como
Pestilence,
Crypt Rats e
Swirling Sandstorm para lidar de uma vez só com as principais ameaças presentes no campo de jogo de seu oponente.
Agora, se este mesmo
Electrickery for utilizado para destruir três tokens de goblin gerados por
Hordeling Outburst, não há card advantage, já que na prática está sendo realizada uma troca de somente uma carta por outra.
Outra forma importante de gerar card advantage é através de cartas que se auto substituem, como são o caso de
Augur of Bolas,
Sea Gate Oracle e
Archaeomancer. Apesar de você não estar trocando uma carta por duas (ou mais) como é o caso de
Thoughtcast, entre outros exemplos citados anteriormente, cartas que se substituem te dão valor em termos de recurso, já que mesmo se seu oponente conseguir remover estas criaturas da mesa, sua mão continuará com a mesma quantidade inicial de recursos do turno, mantendo você apto a desenvolver o seu jogo sem perder recursos.
Voltando ao tema inicial do artigo, uma das principais explicações para o CA ser um dos fatores primordiais em mirrors de midranges e controls é o fato do Pauper, diferente dos demais formatos constructed, não possuir Planeswalkers ou cartas raras ou míticas que normalmente possuem um power level muito acima das opções disponíveis no formato das cartas comuns.
Como a grande maioria dos decks não possui threats que impactam significantemente o campo de jogo, a maioria das partidas avançam até o late game e, após uma incansável troca de recursos, o jogador que conseguir criar vantagens através do card advantage acaba assumindo o controle do jogo, aumentando consideravelmente a possibilidade de se tornar vitorioso.
Imagine o seguinte cenário:
UR Skred x UB Alchemy
Eis que o UR Skred compra um
Gush do topo, que encontra um
Augur of Bolas, que por sua vez, acha um
Skred e consegue lidar com o Gurmag, retomando o controle do jogo.
Quem foi o responsável pela vitória? O
Skred ou o
Gush e o Augur que conseguiram “tutorar” o
Skred? Qual seria a probabilidade do jogador de UR encontrar este mesmo
Skred caso não existissem no deck as cartas que geram card advantage?
Resumindo: não ter o
Skred para matar o
Gurmag Angler não é que o te fará perder o jogo, mas sim não ter cartas que gerem CA e que te permitem encontrar o Skred no momento em que você mais precisa.
É evidente que ter cartas que decidam o jogo ou que são capazes de responder as principais ameaças dos decks adversários é fundamental para qualquer arquétipo. No entanto, até que ponto é preferível aumentar a quantidade de cartas decisivas ao invés de aumentar a possibilidade de encontrar estas cartas ao longo do jogo?
Ao desenvolver uma lista, existem diversos pontos que precisam ser avaliados, mas normalmente muitos jogadores pecam ao preferir encher o deck com mais cartas que podem lidar com decks adversários ao invés de otimizar a busca pelas melhores cartas existentes no deck.
Já pararam para pensar por que um deck como o Murasa Tron, que normalmente possui poucas win conditions, leva larga vantagem contra decks como
MBC e UB Alchemy, que possuem uma quantidade imensa de spot removals e descartes?
Esta versão de Tron apresenta uma série de cartas que geram card advantage como
Forbidden Alchemy,
Mystical Teachings e
Mulldrifter, sem contar a quantidade irrestrita de manas devido ao trio de Urza, fazendo com que o deck normalmente tenha recursos suficientes para desenvolver o seu jogo e, ao mesmo tempo, conseguir lidar com as principais remoções e disrupts do MBC e UB.
Cartas que compram novas cartas e/ou manipulam o topo do deck não só te ajudam a localizar as suas melhores cartas, como também te permitem encontrar com mais facilidade a carta que você precisa no momento certo, te ajudando a desenvolver o early game e a encontrar terrenos, entre outros recursos no momento adequado.
Vamos a mais um exemplo:
UB Alchemy x MBC
Qual a melhor opção de sideboard para enfrentar um MBC? Deep Analysis ou Duress?
Um dos conceitos utilizados neste artigo é o de que este tipo de confronto normalmente se estende ao late game, portanto descartes que realizam uma simples troca de uma carta por outra não geram o impacto necessário para influenciar no destino do jogo.
É preferível ter uma carta que te gera uma quantidade maior de recursos para lidar contra as principais ameaças do oponente do que uma carta que gera pouco impacto e demonstra ser uma péssima opção para o late game.
Como o UB é um deck repleto de recursos e dificilmente a partida irá ser resolvida em poucos turnos após a utilização do Duress, a pseudo-vantagem obtida por conhecer as cartas na mão do oponente acaba também não fazendo a diferença esperada.
Agora vejamos o exemplo abaixo:
UB Flicker x UR Skred
Ambos os decks apresentam uma infinidade de recursos e cartas que geram card advantage. Por qual motivo o UR Skred costuma ter vantagem neste confronto?
Quando é apresentado um confronto em que ambos os decks apresentam uma infinidade de recursos, o deck que possuir cartas que propiciam essa vantagem de maneira mais eficiente costuma ter acesso mais fácil a ela.
E de onde vem esta eficiência? Vem, principalmente, da relação entre custo de mana x card advantage. Como Ninja, Faerie Miscreant, Augur, Spellstutter e Ninja custam bem menos do que Sea Gate Oracle, Chittering Rats, Archaeomancer e Mulldrifter, o jogador de UR Skred consegue desenvolver o seu jogo mantendo manas abertos suficientes para lidar com o plano de jogo do UB Flicker sem perder a quantidade de recursos geradas via card advantage.
É perceptível que há outros fatores que influenciam diretamente este tipo de confronto, mas a importância dessa vantagem pode ser facilmente ilustrada com este exemplo. A ideia não é focar em qual deck é melhor do que o outro, mas demonstrar a influência do CA no desenvolvimento da partida.
Outro ponto importante sobre card advantage para este tipo de partida é que normalmente cartas que te oferecem novas cartas possuem um peso maior do que as demais maneiras de gerar CA. Utilizando um exemplo hipotético, um deck formado por Chittering Rats e Wrench Minds provavelmente apresentará dificuldades de enfrentar um deck formado por Sign in Blood e Night’s Whisper.
Contudo, em um confronto entre um deck Control vs um deck Aggro, cartas que geram essa vantagem e impactam diretamente o campo de jogo acabam tendo um peso maior por também contribuírem para que o jogo se prolongue e chegue ao late game (Exemplo: Echoing Decay e Prismatic Strands).
Há muito ainda para se aprofundar sobre o tema, mas tenho certeza que só os exemplos citados renderão boas discussões. Aprender sobre teoria e se aprofundar em conceitos importante do Magic como card advantage é muito mais importante do que decorar um side in / side out ou pegar uma lista pronta. Espero que tenham gostado do tema e sintam se a vontade para oferecer novos temas.
Possuem mais algum exemplo relacionado ao tema? Gostariam de tirar mais alguma dúvida específica sobre o conceito de card advantage? Aproveitem a sessão de comentários para tirar suas dúvidas, darem sugestões e contribuírem para o desenvolvimento do tema no decorrer da semana.
Obrigado novamente a todos pela leitura e até a próxima!