Prerelease, Friday Night Magic, Preliminary Pro Tour Qualifier e Gran Prix são alguns tipos diferentes de torneio de que podemos participar. As principais diferenças entre eles são seus interesses e comprometimento em cada um. Enquanto um FNM pode rodar com apenas 8 pessoas, Grand Prixes de mais de mil pessoas são comuns. Nenhum desses torneios exige qualificação por meio de outros torneios, desde que você tenha um deck no formato correto, tudo o que você precisa fazer para jogar é se inscrever com seu DCI e pagar a taxa de inscrição. O que muda entre esses torneios não são os torneios em si, mas sim o jogador, pra ser mais preciso, o OBJETIVO do jogador.

 

Recentemente, Brad Nelson se tornou, novamente, Player of the Year. Isso quer dizer que ele foi o jogador que mais conquistou Pro Points desde a última Season do ano passado. Não é a primeira vez que ele fez isso — em 2010, quando era apenas conhecido como FFfreaK (seu nick no Magic Online), fez top 8 em múltiplos GPs e até em um Pro Tour. Isso quer dizer que ele joga bem, certo? Correto. Mas foi só por isso que ele chegou lá? Não completamente. O preparo não só te ajuda a chegar no topo, mas também a te manter lá! Vimos a semifinal de um Pro Tour ser definida porque um dos jogadores estava com o jogo ganho, se animou demais e anunciou fase de combate antes de ativar a Hazoret the Fervent, deixando-a inapta a atacar e perdendo na volta. Essa é uma das muitas coisas que o preparo pode te ajudar a não fazer!

 

O Preparo Técnico é aquele mais falado no meio do Magic. Testar matchups, entender como seu deck funciona, como sidear, postura de jogo, são diversas maneiras de aprimorar sua técnica. Algumas pessoas podem jogar torneios presenciais semanais e ao mesmo tempo ter o mesmo deck no Magic Online para maximizar o aproveitamento de informações obtidas a partir dos jogos, mas nem todos temos essa facilidade. O importante aqui é obter o máximo que pode da maneira que você consegue. Teve uma época que eu não tinha tempo para jogar torneios durante a semana, pois trabalhava de madrugada, então todo tempo extra que eu tinha, usava para ler artigos e discutir com conhecidos, usar o horário de almoço para ler ou montar esboços de decks no bloco de notas, e devo dizer que essa época era a em que meus resultados foram mais expressivos.

 

Muitos prós dizem que a melhor maneira de melhorar seu jogo é treinar com alguém melhor que você. Isso é balela! E se você for o melhor jogador ou jogadora da sua região, quer dizer que você não pode melhorar? Nananinanão. O John Finkel, consagrado como melhor de todos os tempos, só treinava com gente melhor que ele? Você se torna melhor APRENDENDO a melhorar, e pra isso você não precisa de alguém melhor que você, e sim de alguém com os mesmos objetivos. Eu era conhecido por ter alguns bons resultados de Valakut, e isso acontecia porque eu testava, grande parte do tempo, sozinho. Todas as conclusões a que eu chegava eram minhas, mas isso estava longe de ser ideal. Desde que comecei a treinar e discutir sobre o deck com o Sandoiche, minha visão sobre o deck melhorou mil vezes, o que me fez me arrepender de ter ficado tanto tempo dando murro em ponta de faca até aprender algumas coisas que teriam sido conclusões rápidas em equipe.

Encontre alguém que tenha os mesmos objetivos que você, duas cabeças pensam melhor do que uma. Discutam listas, estratégias de jogo — essa é a melhor maneira de melhorar sua performance.

 

Um time ou apenas parceiros de treino já podem te ajudar a melhorar seus pontos ruins, te ajudar a perceber quais são suas dificuldades no jogo, problemas na lista do deck e mais pontos de vista sobre escolha de decks para torneios.

 

É depois de um preparo Técnico que entramos com o próximo: o Fator Psicológico. Jogadores como Seth Manfield fazem o jogo parecer fácil — Campeão Mundial, constantes presenças em Top 8 de Pro Tour e pelo menos um Top 8 em GP por trimestre. Mas o que coloca Seth no topo não é só a capacidade técnica: ele também erra, ele também compra mal, ele também dá azar, somos todos humanos. O diferencial do Seth para um jogador médio é que ele sabe chegar ao topo, ele sabe conter as emoções e usá-las a seu favor.

 

Um dos meus primeiros artigos aqui pra Liga foi sobre preparação para um GP (que você pode conferir aqui), e nele eu falo da estratégia do Rocky Balboa de “One step at a time. One punch at a time. One round at a time”. Não se apresse, tome suas decisões calmamente, um turno de cada vez, uma rodada por vez; se possível, utilize o tempo do turno do seu adversário para arquitetar suas próximas jogadas e NÃO perca o foco na sua fase de compra. Algumas vezes, nós temos um plano de fazer a jogada X,Y e depois a Z, está tudo perfeito em nossa mente, até que chega a maldita fase de compra, te dá uma outra carta que poderia ser interessante, sua cabeça perde o foco e o plano vai por água abaixo.

 

Em algum momento, você VAI errar, e isso não te torna um mau jogador ou má jogadora. O importante é não deixar isso entrar em sua mente e te desequilibrar. A jogada errada foi feita e não tem como voltar, você tem duas opções: ou se remói de maneira desnecessária sobre algo que você não tem poder de mudar, ou você segue o jogo e foca no que importa — ganhar a partida.

 

Um grande amigo me ensinou que o que difere ótimos jogadores dos bons é o que ele chama de THE HUNGER (ou A FOME, em português). O jogador Faminto pela vontade de vencer sempre terá uma vantagem: ele não vai largar o osso.

 

A Fome de vencer é aquilo que te mantém concentrado no jogo, é aquilo que te faz olhar pra uma mesa cheia de permanentes problemáticas, olhar para a sua mão com pouca ou nenhuma resposta, e ao invés de se desesperar, pensar: eu tenho como ganhar, só preciso fazer tal e tal coisa. Pode ser que o seu deck não colabore e você perca, mas o importante é saber que, mesmo que você não saia do torneio com um troféu na mão, você continuará sendo um campeão, porque lutou arduamente com todas as forças que tinha.

 

Fator Tilt é outro problema bem grande. Grande parte das vezes ele ocorre durante o torneio, mas pode acontecer após também. No começo do ano, na final Modern do CLM, resolvi ir com meu confiável Valakut. Eu tinha BYE 1, estava bem treinado, achei que daria bom, mas, é… não deu. Fiz 3-5 da derrota enquanto o Matheus Akio Yanagiura (Sandoiche) ganhava o torneio com a mesma lista, que ficamos meses discutindo e treinando juntos. Eu fiquei muito feliz por ele, por ver que nosso esforço prévio havia sido recompensado, mas por mim eu não pude sentir nada mais que um sentimento de derrota e vergonha, quis dar um tempo no jogo, imaginando que o problema era eu. Após muito apoio dos meus amigos, eu vi que era apenas um dia onde a variância não estava ao meu lado, e que após muito preparo psicológico, eu sinto que estou preparado para o GP independente do que aconteça.

 

Não podemos nos esquecer de que a variância é parte importante do jogo, e que não temos como controlá-la, apenas respeitá-la. Jogue de mente blindada para os acontecimentos que você não tem controle (ter que mulligar mãos por não ter terrenos, topdeck dos adversários, enfrentar matchups que são abismais) e foque apenas no que importa: fazer o necessário para assinar a Slip e levar o resultado de vitória até o Scorekeeper.

A última coisa que eu acho interessante ressaltar é a Alimentação. Grand Prixes são eventos de pelo menos 8 rodadas e que podem chegar à 18 caso você faça Top 8 — concentração extrema é exigida em todas as rodadas disputadas, e fica bem difícil nos focarmos se estivermos com fome, apertados para ir ao banheiro ou com algum problema de estômago.

 

Eventos grandes como GPs geralmente são localizados perto de regiões com restaurantes, mas isso não quer dizer que você terá tempo de sair do salão de jogo para ir comer. Esteja preparado com snacks, sucos, isotônicos e água: manter-se hidratado é prioridade.

 

As comidas mais rápidas, tanto de comprar quanto de consumir, geralmente são salgados e coisas muito gordurosas, e nem todo mundo lida bem passando o dia inteiro apenas com fritura e salgadinhos de pacote. Se puder, leve lanches prontos dentro de embalagens térmicas na mochila, eles vão te sustentar por mais tempo e têm menos chance de te dar uma gastrite ou algum problema que estragaria seu torneio. Na dúvida, antes de ir para o local do GP, passe em uma padaria e compre suprimentos que vão te sustentar o dia todo. Chicletes e balas ajudam a manter o nível de açúcar.

 
Resumo da ópera:

 

 - Maximize o aproveitamento do seu treino, encontre um time que você possa apoiar e que possam te ajudar, aprendizado é uma via de duas mãos.
Foque em encontrar quem tem os mesmos objetivos, e não só quem joga “melhor” que você.
Preocupe-se apenas em jogar, erros são comuns, mas deixar o erro subir a sua cabeça com certeza vai atrapalhar seu aproveitamento.
 - Você não controla a variância, então não se preocupe se ela te atrapalhar. Não é nada legal parar no segundo terreno por 6 turnos ou ver o oponente topdeckar perfeitamente por 3 turnos seguidos, mas essas são coisas que você não consegue controlar, não deixe que isso te abale.
 - Eventos grandes não têm pausa para almoço, lembre-se de levar alguma coisa para matar a fome durante o dia, coisas rápidas, talvez chiclete/bala e sempre alguma bebida para não desidratar!

 

Agora é com vocês. GPs são eventos maravilhosos, eu sempre me divirto muito, muitas horas seguidas de jogo, paralelos divertidíssimos, comprar aquela cartinha que você estava procurando há tempos e conseguir encontrar aqueles amigos que você considera muito, mas que infelizmente vivem longe de você.

 

Não importa se você vai jogar o evento principal, paralelos ou se vai apenas para negociar cartas, não se esqueça de colocar a diversão em primeiro lugar!