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Wizards e o Online
Falhas contra a concorrência.
Por
20/02/2017 14:35 - 4.663 visualizações - 35 comentários
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Mais uma vez eu, GG, trago-lhes um assunto polêmico, porque pouco hate é bobagem.


Após seis anos de crescimento na casa dos 30% ao ano, eis que em 2016 Magic The Gathering começa a perder folego e ficar para trás. Quase todo jogador tem opiniões para explicar o que pode estar acontecendo de errado, na verdade quase todos os dias vários tópicos são abertos nas redes sociais para discussão do tema, mas antes de chegarmos a esse ponto vamos aos dados concretos.
 

A Super Data Research publicou agora em janeiro um report sobre card games físicos e digitais, dizendo o que aconteceu em 2016 e o que vai acontecer em 2017, e para a surpresa de poucos, Hearthstone é definitivamente o maior jogo de cartas colecionáveis do mundo, tendo uma receita de US$ 395 milhões. Apesar da coroação, o mercado físico ainda é maior que o mercado digital, mas de acordo com o report isso também vai mudar agora em 2017.


Claro que não dá para comparar os poucos TCGs/CCGs físicos contra a enxurrada de digitais que tivemos em 2016, praticamente toda empresa de jogos resolveu ter o seu card game online, mesmo sem trazer praticamente nenhuma inovação. Mas isso mostra que a concorrência da Wizards já deixou de ser localizada e que o mercado está respondendo com uma demanda agressiva, Shadowverse, por exemplo, com apenas 6 meses de vida arrecadou US$ 100 milhões.


Para tentar frear a concorrência, a Wizards em 2015 modificou seu gateway digital e lançou o Magic Duels, que na época foi vendido como algo que faria concorrência ao resto do mercado digital, em vez de servir apenas como porta de entrada a novos jogadores, mas no final se tornou um produto que nitidamente tem medo de fazer concorrência a seu irmão mais velho (Magic Online), além de dezenas de problemas técnicos, resultando em um produto como os antecessores que servem apenas como porta de entrada.


Com tudo isso acontecendo no mercado digital, e a previsão de perda de mercado, foi anunciado pela Hasbro em abril do ano passado a troca de CEO da Wizards, sendo o Chris Cocks a substituir o Greg Leeds, que vinha no cargo desde 2008. O emprego anterior de Chris foi na Microsoft como “Vice President OEM Technical Sales”, basicamente um dos chefões de vendas da gigante tecnológica. Junto com o anuncio de troca de CEO, foi falado de um novo produto online, chamado de Magic Digital Next, ou apelidado como Magic Next. 


Por que a Wizards não respondeu à altura do mercado online antes?


Bom, pra responder isso precisamos falar sobre o Magic Online, lançado em 2002, que já gerou muito dinheiro. Em 2007 Magic Online chegou a representar 40% do faturamento da Wizards of the Coast, e isso explica o porquê das ações tomadas ante a concorrência. Apesar de não ter tamanha expressividade atualmente, ele continua gerando um bom faturamento, e já gerou o suficiente para se ter um cuidado especial; você não pode simplesmente abandonar todos os jogadores que já gastaram muito, em prol de um novo produto. Em uma visão empresarial, isso representaria o que chamam de perda de credibilidade, e isso para um mercado bilionário é inadmissível.


Mas o problema do Magic Online é simples, ele não serve para trazer jogadores novos a marca e apenas mantém os que já existem, afinal, o MOL é totalmente pago, pouco amigável, visualmente feio e caro. Então se o jogador não tiver tido contato com o card game físico, ou não estiver disposto a gastar nos dois, ele terá grandes chances de não se tornar um Planeswalker online.

 


A verdadeira resposta a essa concorrência viria com o Magic Next, que foi confirmado apenas como um guarda-chuva onde diversas plataformas ficarão e não realmente um produto para bater o mercado, como foi anunciado recentemente,. Mas então chegamos a mais um problema, a ascensão dos E-Sports.
 

E-Sports e o Pro Club


Não é novidade para ninguém que o mercado de E-Sports tem crescido assustadoramente, e jogos de cartas fazem parte dele. E como produto competitivo virtual, a Wizards deve e já vem se preocupando com esse mercado, se preocupa tanto que nos slides para investidores para o ano de 2016, a Hasbro vendeu a imagem de que seu mercado no E-Sport estava em ascenção e que Magic era a quinta marca mais importante, infelizmente esqueceu de adicionar nesse slide que a marca é a quinta mais importante por causa do mercado físico, já que em número de audiência, mesmo em períodos de Pro Tour, ela mal consegue se manter na décima colocação em audiência. Mas se ela pretende manter o Magic Online para os profissionais, e o Duels para os casuais, isso pode vir a gerar um conflito entre os produtos de qualquer maneira. Afinal, apesar de os campeonatos promovidos pela Wizards, como o Pro Tour, não terem sido bem-sucedidos em propaganda a novos jogadores, isso não é uma verdade nos esportes tradicionais ou eletrônicos que envolvem uma pool prize na casa dos 7 dígitos; quando alguém de determinado país disputa uma premiação dessas, a mídia popular divulga, não importa qual tipo de atividade.
 

 

Os campeonatos profissionais com premiações assustadoramente grande são propaganda para qualquer tipo de produto, seja poker, tênis ou videogame, quanto maior a recompensa financeira por ganhar o campeonato, maiores são as chances de mostrar para quem não conhece que aquilo é respeitado e tem um público, e por isso o cheque gigante no final. Mas isso não é uma realidade para os integrantes do Pro Players Club do Magic, os custos de manutenção de baralho e locomoção são altas e as premiações são baixas, tendo uma premiação de Pro Tour na casa de US$ 50 mil para o primeiro colocado, ou US$ 250 mil de pool. Isso é tão ruim para o mercado que a Wizards tem feitos mudanças nas suas premiações, o problema que para rever a pool prize, ela também precisou mexer no incentivo a jogadores que foram chamados ao evento, isso é feito porquê diferente de um campeonato com patrocinadores, o Pro Tour e World Cup são apenas custos, todo o dinheiro envolvido sai dos cofres da Wizards/Hasbro, sendo considerado um custo de manutenção e propaganda do competitivo, que é a parte que traz mais dinheiro para o jogo, já que são muitas caixas de boosters abertas atrás das Staples. 


E ai que está o problema, se você quer que seu jogo competitivo seja realmente popular e gere bastante dinheiro, é inevitável que as E-Leagues surjam, haverá demanda do público e os empresários do mercado vão querer gerar a oferta. Mas e se esses campeonatos se tornarem maiores que os do Pro Club atual, como a Wizards gerenciaria o Magic Online com isso? Hoje temos o MOCS, Magic Online Championchip Series, uma série de torneios online que classificam para uma final com grande premiação e que dá o status de Platinum ao campeão, assim como o Pro Tour.


Nunca ouviu falar dos campeões do MOCS? Normal. A Wizards divulga pouco o evento, e se, o Magic Online é para um grupo pequeno de jogadores, o MOCS é a elite desse grupo, por maior que seja o nível do torneio, com Owen Turtenwald, Márcio Caravalho e o brasileiro Thiago Saporito, ainda é pouco promovido.


E o futuro do mercado físico?
 

Apesar do mercado físico de jogos de cartas competir diretamente com o digital, isso não quer dizer que o Magic IRL tem dias contados ou qualquer coisa parecida, na verdade um mercado digital bem estruturado só faria o bem para a marca no IRL, apesar de parecer contraditório. Todos os jogadores de Magic gostariam de poder algum dia participarem de disputas milionárias, mas todos os jogadores também querem participar da FNM, do Pro Club e quem sabe conseguir chegar a ter o tão sonhado anel de Hall of Fame. E outro dado que ajuda a afirmar isso é que as pessoas sentem necessidade de encontros reais, 78% dos jogadores de jogos de cartas online já fazem encontros na vida real, ou gostariam de participar.


O físico sozinho não consegue competir com o virtual?
 

A popularidade dos jogos digitais se deve a facilidade de se conhecer o jogo, e jogá-lo. Com apenas alguns cliques você faz o download gratuito, passa pelo tutorial de regras, e já está jogando com várias recompensas instantâneas, sem nenhum tipo de pressão social; diferente da pessoa procurar uma loja, alguém para ensinar e assim por diante. Mas a partir do momento em que aquela pessoa começa a sentir necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre o jogo e entrar em uma comunidade, ele começa a sentir a necessidade de fazer parte de algo mais tátil, e ai que entra o jogo virtual dando gás ao físico, e até mesmo à merchandising da marca de maneira geral.

 


Porém, enquanto uma resposta da Wizards of the Coast não chega ao mercado, a tendência é que a concorrência continue pressionando o mercado físico, e ele definitivamente não consegue sozinho competir de igual com o atual mercado virtual. Não pense em você trabalhador, pense na geração Clash of Clans/Candy Crush que tem muito tempo livre (como provavelmente você tinha quando adolescente), e no universo online consegue jogar o tempo inteiro, sendo bombardeado por recompensas gratuitas como quests e leveling.
 

Conclusões pessoais do GG: Manutenção de jogadores
 

Além da Wizards não ter agido de maneira rápida contra a concorrência virtual, ela enfrenta outro problema, a manutenção de jogadores do Magic IRL, e para mim isso foi gerado por diversos motivos além da concorrência. O primeiro motivo foi o boom de preços no mercado de terceiros, e a primeira tentativa de ajustes foi a criação das expeditions/inventions, mas pouco impactou no standard, e nada aconteceu nos formatos sem rotação, que carecem com a falta de reprints. Para completar, a Wizards precisou entrar em uma guerra declarada contra investidores, que seguram staples e selados, e viram a nova raridade como algo para aumentar seus lucros. 


O segundo problema, foi a falta de qualidade de alguns Standards, onde a predominância de 1 ou 2 decks era acintosa, isso gera um aumento de preço no meta competitivo, e desanima jogadores com rounds e mais rounds de mirror, e principalmente para quem quer entrar em um mercado de campeonatos virtuais, seria péssimo para a audiência. A primeira resposta foi a rotação mais rápida, uma a cada seis meses; depois desistiram e logo em seguida responderam com bans e mudança nas datas da atualização da lista, acrescentando uma atualização 4 semanas pós a realização do Pro Tour, ou seja, duas por expansão. Novamente mais uma propaganda ruim para jogadores que estão montando os seus decks, já que se um deck se destaca até o Pro Tour (como aconteceu com o Copy Cat), o medo de um ban rápido é real e justificável. O ideal era para de focar tanto no selado, e melhorar o balanceamento geral das cartas e sinergias. Infelizmente a maior parte da galera que integra o corpo de design do Magic hoje, tem como preferência o selado, e isso com certeza faz com que o foco sobre o selado seja acima do construído, por mais que se eles digam que não.


E o terceiro a dificuldade de chegar até os locais fora dos eixos, como Hawaii, nos EUA, que teve uma pressão por parte dos jogadores/lojistas, pelo alto custo de translado a RPTQs e GPs, e o baixo incentivo para isso (talvez por isso PT Kaladesh tenha sido lá, propaganda). Mas isso acontece em países europeus, e até no Brasil, você que mora fora do eixo sul-sudeste, provavelmente se identificou.

 


E por último, mas não menos importante, a falta de interesse de localização tanto do IRL quanto do virtual. Quando um país entra em crise, a tendência é que a demanda sob seu produto caia, mas para contornar isso as empresas tendem a diminuir seus lucros e manter o mercado, como é o caso de muitas empresas de jogos virtuais trabalharem com o dólar bem abaixo dos R$ 3,00, enquanto nos produtos Wizards a conversão é direta.
 

Conclusões pessoais do GG: Guerra ao Terror Investidores
 

De acordo com a Wizards, um dos principais problemas são os investidores inflacionando o mercado, e como foi dito,ela declarou guerra oficialmente. Por um lado ela está certa, apesar de o mercado de singles em lojistas ajudar os jogadores a conseguirem o que querem sem preocupação, e as lojas a aumentarem seus lucros, os investidores (que incluem lojas) que seguram cartas e produtos selados com a visão de valorização no futuro, na verdade atrapalham, transformam produtos nem tão raros em super-raros, retendo promos que deveriam chegar na mão de jogadores gratuitamente, ou com compras de lotes inimagináveis, que só vão ser abertos daqui a pelo menos meia década.


Canais no Youtube, como o Alpha Investments, a alguns meses estão reclamando das medidas impostas pela Wizards, e o último exemplo foi a enxurrada no mercado norte-americano na tiragem do Planechase. Basicamente a Wizards vendeu o Planechase, e óbvio que eles compraram em nível industrial a ponto de esgotar, mas pouco depois as distribuidoras ganharam lotes e mais lotes, fazendo lojas comuns venderem 20-30% abaixo do preço sugerido, e desvalorizando o que está na mão de que quem segurou.
 

Essa tática da Wizards está sendo feita de maneira sútil, já que todo cuidado é pouco. Mas o fato de você estar recebendo promos ruins na sua FNM se dá por parte de culpa nisso, já que quando as cartas promocionais são realmente boas, nem sempre chega na mão de quem deveria chegar. E talvez por isso que o Event deck tenha virado o Planeswalker deck, quando Fetch e Tasigur sairam em Zendikar, geralmente o preço do deck ou era acima do sugerido, ou você não encontrava.
 

Infelizmente eu acho que a Wizards tem combatido de maneira sútil demais, mas essa guerra começou faz pouco tempo, e provavelmente vai seguir durante um bom tempo. Enquanto isso resta dos jogadores ter paciência, principalmente quando se trata de Modern/Legacy, o que não é uma boa coisa no atual mercado.
 

Palavras finais
 

Perder folego é normal para qualquer empresa, principalmente quando o mercado muda tão rápido quanto foi o de card game, e não é a primeira vez do Magic The Gathering, porém a Hasbro vem respondido bem a atual situação, com contratação de novos profissionais, mudanças administrativas e estruturais, sem medo... Mas o ideal era que a Wizards desse um jeito de levar a experiência do Magic ao Next, sem medo de canibalizar o Magic Online, e sem esquecer os mercados que não usam USD ou Euro como moeda. E no caso do IRL, desse um jeito no Standard, selado é legal e importante, mas o foco principal deveria ser sempre o formato construído, que é a porta de entrada para a grande maioria dos jogadores, de qualquer card game. As promos e os formatos sem rotação, com a casa arrumada depois se dá um jeito.


Mas e você, o que acha disso tudo? Acha difícil que a popularidade de um jogo tão complexo como Magic venha a ser como a de um jogo mobile? Ou que é bobagem e que se a Wizards não fizer besteira, o Next vem para dar uma chacoalhada no mercado? Diz ai nos comentários o que você acha das estratégias tomadas pela Wizards, até agora, para manutenção de jogadores e contra a concorrência do mercado.

 

Fontes
 

 - superdataresearch.com/market-data/digital-card-games/
 - dailydot.com/via/magic-the-gathering-esport/
 - forbes.com/sites/cameronkeng/2013/11/19/magic-the-gathering-losing-11-1-market-value-overnight-for-poor-customer-service
 - magic.wizards.com/en/articles/archive/news/announcement-concerning-changes-pro-club-2016-04-26
 

( dadnis)
Comentários
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- 23/02/2017 21:53:36
Dual lands deveriam ser reprintadas mais vezes salvo em alguns casos, lands são a base do curva de mana de qq deck, elas existem para tornar possivel q se jogue algo alem de monocolors... é uma tristeza ter q desembolsar fortunas para montar um simples dual color deck... :(
A land dos boosters significa um card a menos pro jogador, como disse anteriormente elas deveriam ser compradas baratissimas com os lojistas... vindas de packs para isso...
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- 23/02/2017 21:41:10
Acho que ao inves de propagar os planeswalker decks e event decks, a wizards deveria voltar com os decks baratissimos champion league dos tempos antigos, só pra galera for fun, vender uns cards assim... sem validade pra competição.
Tokens e as basic lands deveriam ser algo barato e disponivel aos lojistas em packs pra venda, o proprio visual dos cards pra ser mais atrativos poderiam sem custo algum pra Wizards ter full art. Tornariam os cards mais bonitos e atrativos,
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- 21/02/2017 16:57:11
Por uma plataforma de apoio da WTC maior e mais regional
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- 21/02/2017 16:56:09
POXA A LIGA NÃO PODE TOMAR FRENTE DISSO? COMEÇAR UM ABAIXO ASSINADO PELOS JOGADORES BRASILEIROS PEDINDO A VOLTA DO MODERN NOS GPS, UM APOIO MAIOR AOS OUTROS FORMATOS E POR MAIS REPRINTS? EU ACREDITO QUE ISSO TERIA ADESÃO DE TODA A COMUNIDADE E PODERIA SER IMITADO EM OUTROS PAÍSES.... A BANDEIRA"EU NÃO COMPRO UM JOGO QUE NÃO PROMOVE O QUE EU JOGO" PODERIA SER O TEMA
(Quote)
- 21/02/2017 16:00:43
Posso estar falando uma besteira absurda, mas ficar de frescura pra reprintar terrenos, que são a base do jogo, pra mim, é maldade da Wizards.
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