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Alegrias Perdidas, Amizades Encontradas
Um Conto da Titia Larva
25/12/2016 22:35 - 5.198 visualizações - 1 comentário
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A terra de Lorwyn é a terra do eterno verão. Aqui o sol nunca se põe e a noite nunca traz seus temores. Apesar das tribos de Lorwyn viverem em constantes rivalidades, estes seres não conhecem, ou, pelo menos, não com a mesma frequência com que outros seres de outros planos, a tristeza e a maldade. Isso pode até parecer estranho, afinal os papões estão constantemente ferindo uns aos outros e perseguindo os kithkin. Os aristocráticos elfos veneram a beleza acima de tudo e matam, com desprezo e desdém, qualquer seca-olho que lhes atravessar o caminho. Seu senso de justiça é guiado pela beleza e qualquer ser, até mesmo um elfo, que é considerado elfo para seus padrões de beleza, receberá o título de Seca-olho.

 

 

Mas até mesmo esses elfos com essas atitudes estão longe de conhecer a verdadeira malícia e maldade, pois enquanto o sol brilhar com fulgor no firmamento, Lorwyn sempre jorrará sua luz sobre seus habitantes.


Porém parece que havia alguém que fazia oposição a força de Lorwyn. Seu nome era Aspperger, também conhecido como Asp
Encontrar um kithkin nervoso, chateado ou estressado é quase tão raro quanto encontrar um papão inteligente. Talvez seja porque suas cidades sempre transmitem uma sensação de conforto e aconchego, permitindo que sempre haja serenidade nessas criaturas. Mas como eu havia dito, Aspperger era um kithkin que fugia a regra. Todos em Prado Dourado o conheciam por ser desajeitado, de pouca fala e interação social. Prado Dourado sempre fora um dos clachan mais rústicos comparado com Kinsbaile ou Burrenton, e era essa simplicidade sempre atraíra outros para conviver ali.

 

 

Todos sabem que os kithkins possuem entre eles uma espécie de elo mental que os conecta. Os Cenn chamam-na de ‘trama-mental’ e custam apregoar que ela os une como um só ser, como se fizessem parte de uma teia intricada que se desataria mesmo que um só nó se desfizesse. Um clachan está conectado pela trama-mental e graças a isso, os kithkin compartilham suas esperanças e medos uns com os outros.


Mas Asp não veio para Prado Dourado por causa de seu aconchego e sim, porque já não aguentava ser alvo de zombarias em Kinsbaile e isso acontecia porque uma vez ele disse que durante o Lammastide – um feriado kithkin que envolve danças e fitas cerimoniais para fortalecer a trama-mental – ele havia visto o lendário Alternância, um dos Elementais Maiores que representava a transição e mudança das coisas. Mesmo os kithkin sendo supersticiosos e reverentes, eles não acreditaram em Aspperger por um simples detalhe: ele não estava conectado a eles pela trama mental.

 

 

Isso era um fato extremamente raro e desconcertante para os outros kithkins porque parecia que Aspperger não fazia parte do seu povo. Ele se sentia um estranho no meio deles e a falta de ligação pela trama-mental, fazia com que seus compatriotas debochassem dele. Por não se sentir como parte do próprio povo, os outros kithkin não o consideravam como um deles. Eles permitiam que ele convivesse com eles, mas não era a mesma coisa. Aspperger conseguia perceber a indiferença e, com o passar dos anos, ele se fechou em si mesmo. Desde criança ele já se sentia diferente e seu jeito desastrado sempre atraía olhares e críticas. Por não fazer parte da trama-mental, ele sentia grande dificuldade de se sentir acolhido por seus colegas, então ele começou a evitá-los. Somente quando havia os grandes eventos era que ele tentava alguma interação, porém ele não conseguia ser tão caloroso e eloquente quanto os demais. Ele já não dançava durante os Lammastide e, às vezes, até sentia repulsa quando o abraçavam.


Um dia Aspperger decidiu partir.
 

Kithkin são muito habilidosos com alquimia e engenharia por isso, o jovem kithkin construiu sua aeronave e partiu para Prado Dourado.

 

 

Ele pensou que talvez o problema fosse o clachan em que ele vivia, afinal talvez indo para uma nova vizinhança tudo pudesse ser diferente. Mas mais uma vez, Aspperger não encontrou seu lugar ao sol. Ele não conseguiu se conectar a trama-mental em Prado Dourado e, para evitar futuros aborrecimentos, ele construíra sua cabana um pouco mais longe do centro da comunidade e raramente caminhava até o vilarejo.


Chegou à época do Lammastide e a cidade estava, como era de costume, inquieta. Os preparativos para o festival estavam em andamento. Mulheres arrumavam as mesas forrando-as com lençóis cor de cereja, os homens armavam as tendas para que a comida e a bebida fossem colocadas enquanto que as crianças decoravam as arvores com velas coloridas e as tradicionais fitas. Havia fitas de todas as cores espalhadas pelas árvores, uma mais colorida que a outra, e cada fita deveria ser rasgada por um kithkin para espantar os sonhos ruins.

 

 

Asppenger saiu de sua toca e foi participar do festival. Mas ao sair de sua casa, ele olhou ao sul do seu lar e teve a impressão de ter visto uma figura gigante. Devido à luz do sol ele não pôde enxergar com clareza, mas ele sabia que havia visto uma figura imponente bem ali perto da sua cabana. Foi nesse momento que ele teve um pensamento esclarecedor, pois uma vez que, aquele era o dia para se comemorar o Lammastide aquele que ele viu devia ser Alternância, aparecendo uma vez mais para ele. Talvez um presságio de algo que está por vir. Asp ficou inquieto. Se a aparição de Alternância fosse algum presságio, então ele deveria correr e conversar com o Cenn sobre isso. Ele já estava se preparando para fazê-lo quando, subitamente, ele parou e ponderou sobre isso.


“Se eu for e falar sobre isso, não acreditarão em mim como da última vez em Kinsbaile. Não, dessa vez eu farei diferente.”
 

Ele adentrou sua choupana, pegou sua mochila, os óculos de voo, colocou sua faca na bainha e deu a volta na casa para tirar da moita a sua aeronave. Dessa vez não zombariam dele porque ele pretendia encontrar o elemental e saber se havia ou não algum presságio. Apesar de sua convicção, ele não estava tão certo sobre essa missão uma vez que, naquela direção ficava o pântano e todos sabem que criaturas residem naquelas terras asquerosas.

 

 

Ele pensou na possibilidade de se encontrar com papões, mas colocou isso de lado. Se eles aparecessem, eles experimentaram o gosto de sua lâmina. Sua embarcação estava pronta e começou a levantar voo rapidamente. O dia estava quente, mas o vento estava inquieto e forte. A aeronave era mais do que forte para aguentar aquele tipo de vento, mas, mesmo assim, Asppenger decidiu voar um pouco mais baixo para poder ver se encontrava algum rastro de Alternância.


Na verdade, ele não chegou a pensar se Elementais Maiores deixam rastros, pois esses aparecem quando lhes apraz. Talvez ele devesse voltar já que a possibilidade de encontrar o elemental era remota. Enquanto ele pensava em tudo isso, Asppenger não percebeu o som de madeira caindo, mas somente quando a árvore que tombava fez sombra sobre ele foi que ele percebeu o desastre. 

 

Ele só teve tempo de conseguir fazer a aeronave desviar do impacto massivo, mas não escapou do ataque dos galhos. A asa foi golpeada pelos longos galhos da árvore e fez o kithkin rodopiar no ar. Com grande dificuldade ele conseguiu realizar um pouso forçado, porém não evitou o impacto contra um carvalho retorcido que estava bem a sua frente.
 

Por sorte ele não se machucou, mas estava com a cabeça zunindo por causa da colisão. Enquanto ele tentava se colocar de pé, ele percebeu das figuras vindo em sua direção correndo eufóricas, berrando e uma delas estava com um pequeno machado na mão.
 

“Nibb, parece que derrubamos um pele clara aqui.”
 

“Ahhh quem mandou voar naquela geringonça Gyik. Num vê que aqui tem monte de árvores? Mas que treco estranho é esse...”
 

Quando o papão tentou se aproximar da geringonça, ele foi surpreendido pela súbita recuperação de Asppenger que logo puxou sua faca em direção a eles. Os dois papões recuaram amedrontados, tentando demonstrar que não estavam procurando encrenca, porém os gestos não foram muito bem-aceitos, já que Nibb, o menor deles, gesticulava e fazia o machado rodopiar no ar.


“Nibb, bota o machado no chão porque parece que o pele clara ta bravo.”
 

O papão colocou o machado no chão e ergueu os braços mostrando que não tinha mais nada em mãos. Por um momento o kithkin ficou ali parado olhando para eles, em posição de alerta, mas quando percebeu o tamanho deles o jeito chegou à conclusão que deviam ser jovens papões. Como a natureza dessas criaturas é sempre duvidosa, visto que sempre estão sempre aprontando alguma traquinagem, demorou uns instantes até que Asp guardasse sua faca.
 

Após ter guardado a faca, ele olhou para eles com uma cara austera e perguntou.
 

“Por que tentaram me derrubar?”
 

Os dois pequenos papões se entreolharam e começaram a rir.
 

“Ninguém derrubou tua geringonça do ar. A gente derrubou árvore pra montar cabana. A gente quer montar cabana naquela clareira ali.”
 

Gyik apontou os dedos nodosos em direção a um pequeno espaço, cheio de mosquitos, lama fétida e um punhado de terra. Era nítido que se fizessem a cabana ali, logo ela começaria a afundar.

 

 

Asppenger olhou ao redor e percebeu uma coisa. Não havia outras cabanas de papões por perto e não parecia que haveria mais. Os dois papões, que possivelmente eram irmãos, estava construindo a cabana longe dos viveiros papões. Sua cabeça ainda lateja por causa de toda aquela emoção e foi preciso que ele se sentasse numa pedra que estava ali para poder pensar com clareza. Mal ele se distraiu, a dupla de papões começou a mexer nos destroços da embarcação. Papões não conseguem se conter e possuem o impulso de fuçar coisas novas e desconhecidas, mesmo quando apresentam algum perigo.


Ele se levantou e os puxou pelas orelhas, não que ele fosse mais alto, mas era mais forte do que eles. Ele pegou o machado deles, apenas por precaução, e o colocou na cintura, pois não era muito maior que sua faca, e, olhando de soslaio para eles perguntou o porquê de eles estarem construindo uma cabana tão longe assim.
 

A reação dos papões foi inusitada. Como duas crianças que são pegas no flagra e olham para o chão, eles abaixaram as cabeças e responderam quase que sussurrando.
 

“Nós roubamos e guardamos tudo pra gente. Pegamos os bodes daqueles kithkins e comemos. Dividimos não e aí, a titia Rocha pegou a gente e fomos exilados do resto.”

 

 

Entre os papões, há apena suma regra verdadeira: todos os novos tesouros e experiências devem ser compartilhados. Aqueles que acumulam seus presentes cometem o único pecado realmente imperdoável.


Aquela era uma situação inusitada em Lorwyn. Um Kithkin que não fazia parte da trama-mental junto com papões exilados. Imediatamente o kithkin lembrou-se do motivo que o trouxe ali e, ao se deparar com aquela cena, falou como se falasse consigo mesmo.
 

“Será que isso é coisa de Alternância?”
 

Os papões ouviram aquilo e ficaram intrigados.
 

“O que é Alternância?”
 

Ao perceber que pensou alto, Asppenger tentou mudar de assunto, mas a insistência deles o levou a falar. Então ele começou falando da sua situação, de como era tratado pelos outros de sua raça, das zombarias e do seu recluso. Havia algum tempo desde que ele tinha tido alguma conversa assim e, estranhamente, ele se sentiu reconfortado, mesmo que seus ouvintes fossem dois papões mentecaptos a sensação era de alívio. Ao final da sua prosa, os dois papões ficaram olhando-o como se perguntasse o que era toda aquela baboseira que tinha acabado de falar, mas foi Nibb que se pronunciou.


“Tu fala de coisas chatas e parece que ta sozinho nessa. Então a gente ajuda você a encontrar essa coisa e depois você ajuda a gente a fazer a cabana.”
 

Prece que não havia muita alternativa para Asp a não ser concordar com aquilo. E ele precisava sair daquele brejo e seguir seu caminho, então a ajuda dos papões serviria para alguma coisa. O estranho trio começou a caminhar para saírem do brejo, evitando passarem perto dos brejos de lamas mais fundos porque lá poderia haver esquadrões de lacrainha e as proximidades dos viveiros e cabanas da titia. Um encontro inesperado significaria o fim da aventura do kithkin.


Não demorou muito para que saíssem do brejo e se encontrasse no campo aberto. Era aberto, porém havia árvores enormes em suas laterais que se achegavam até a encosta de uma montanha. A diante deles estava um prado bastante verdejante com uma sinuosa montanha a oeste. Asp olhava ao redor e tentava encontrar algum vestígio do elemental, mas foi em vão. Enquanto ele procurava, ele percebeu que os papões não estavam do seu lado. Quando olhou ao redor viu que os dois estavam brincado em algo que parecia ser uma mine cratera, mas não era um buraco raso aberto no chão  e sim, um central com outros cinco buracos ao redor.

 

 

“Olhe Asp, buraco legal. Paramos aqui e brincamos um poucos.”


No fundo da pequena cratera havia um pouco de lama que foi o suficiente para que Gyik e Nibb começassem uma guerra de lama. Enquanto eles brincavam, Asp caminhou intrigado ao redor daquilo. Ele olhou mais de longe e quando percebeu do que se tratava gritou assustado para que eles saíssem do lugar.
 

“Saiam logo disso aí, isso é um túmulo de cinco dedos!”
 

A frase pareceu sem sentido para eles, afinal eles nunca ouviram essa expressão kithkin. Mas não foi o grito de advertência que fez os papões pararem com a brincadeira e sim, a figura aterrorizante que surgiu por detrás das copas. Um enorme gigante, provavelmente o mesmo que fez a pegada, surgiu de entre as árvores e, olhando para baixo, esticou seu longo braço e pegou o kithkin pelos dedos, segurando-o como se segurasse uma pedra frágil.


“Finalmente encontrei o terceiro ajudante. Venha pequeno, você tem trabalho a fazer.”
 

Asppenger se debatia e tentava, inutilmente, cortar o gigante com sua minúscula faca, mas era o mesmo que um mosquito tentar empurrar uma pedra. O gigante passou por cima dos goblins, ignorando sua existência, e partiu em direção a montanha.


Gyik e Nibb ficaram de boca aberta e agarrados de tanto medo, mas assim que o gigante se foi Gyik disse que não era certo abandonar um companheiro. Eles se dirigiram a montanha para encontrar o refúgio do gigante. Era muito provável que a essa hora Asppenger tivesse sido comido, mas, mesmo assim, eles foram atrás do companheiro perdido. Não era difícil encontrar a entrada do lar de um gigante, pois bastava procurar as pedras enormes e os robustos dólmen construídos ao redor da entrada.


As duas criaturas e esgueiraram pela entrada, tentando serem silenciosos como sombras. 
 

“Gyik, essa ideia não é boa. Vamos sair daqui.”
 

“Vamos entrar. Pegar os ossos do Asp e aí corremos.”
 

Mas a surpresa deles foi tamanha quando presenciaram a cena.

 

 

Havia três kithkin trabalhando e arrumando o lar do gigante enquanto ele lixava as unhas com o que parecia ser a espada de um deles. Mas o que mais chamou a atenção dos papões foi que o gigante tinha um bode alado. Nibb não conseguia conter sua alegria.


“Veja, veja, ele tem um bode alado. Um bode alado. Vamos roubá-lo!”
 

Papões costumavam roubar as cabras e bodes dos kithkin na esperança de treinar para um dia roubarem um gigante.


A ideia parece que agradou Gyik que começaram a olhar para o bode com cobiça e era bem provável que teriam tentado se não fosse um “psiu” que veio do alto. Quando eles ergueram a cabeça, viram Asp lá em cima penteando o pelo do bode.
 

“Tirem-me daqui”
 

Ele mais sussurrou do que gritou, com medo de atrair a atenção do gigante. Um dos kithkin olhou para ele com ar de reprovação o que demonstrou que ele já havia se acostumado em trabalhar para o gigante. Mas o outro que varria o chão percebeu o movimento e a presença dos papões. Ele ficou na dúvida se devia chamar o gigante, correr ou enfrentar os papões, mas quando ele percebeu que Asp acenava para ele fazendo sinal que ficasse quieto, então ele compreendeu que talvez os goblins estivessem ali para o resgate. O que ele não compreendia era como um kithkin tinha amizade com papões.


Ele continuou varrendo o chão e, sorrateiramente, se aproximando dos goblins que estavam escondidos perto de uma fenda na rocha. Continuou caminhando e varrendo sem dar as costas para o gigante que parecia começar a entrar em estado de sonolência.


“Hey, vocês são amigos do novato?”. 
 

“Sim, a gente ajuda Asp. Vamos livrar ele do pé grande.” Respondeu Nibb.
 

“Certo, então prestem atenção. Logo será a hora do gigante tirar sua soneca. Ele nos prenderá em uma gaiola, mas deixará as chaves

em uma corda ao redor do pescoço. Vocês terão que subir no gigante e, sem despertá-lo, terão que cortar a chave do pescoço e depois...”


Toda a instrução foi interrompida quando o kithkin percebeu que os papões não estavam prestando atenção porque estavam procurando alguma coisa na bolsa deles.


“Você trouxe aquilo Gyik?”
 

“Ela nunca sai. Sempre ta aqui.”
 

“Ela tem que ta, Gyik.”
 

“Achei!” Exclamou Gyik eufórico e com ar de vitória.
 

O kithkin parou de varrer enquanto olhava sem entender o que era aquela pequena ampola nas mãos do goblin.

 

 

“Isso aqui pode derrubar uma montanha. Vamos por o pé grande para sonhar com as fadas.”


“Mas o que exatamente é isso?” Perguntou o kithkin incrédulo diante da perspectiva do papão.
 

“A gente num sabe o que é, mas pegamos dum elfo morto na floresta.” Respondeu Nibb, enquanto olhava para o vidro.
 

“Isso deve ser um extrato de luvalua. Cuidado com isso ou vai derreter até nossos ossos.”
 

Os papões não faziam ideia de quão mortífero era o que tinha naquele frasco, porém sob as orientações do kithkin serviçal eles não precisariam escalar o gigante para pegar a chave. Bastava derramar o extrato na fechadura que ela dissolveria o metal. Um extrato de luvalua diluído pode corroer até tecido vivo e em uma dose concentrada pode matar um gigante. Mas eles não queriam matar aquele gigante e por isso, apenas esperariam o momento certo. Os dois foram instruídos do que fazer, mesmo que confiar a execução de um plano a um papão não era uma ideia muito agradável, mas naquele momento não havia outra saída.


Os três kithkin foram presos na gaiola e o gigante pôs a dormir. Seu ronco fazia o ar da caverna parecer um minitornado. 

 

Cautelosamente, Nibb e Gyik se direcionaram para a gaiola, prontos para abrirem a fechadura. Asp e Dayan – nome do kithkin que ajudou na elaboração do plano - aguardavam com ansiedade pela abertura do seu cativeiro enquanto que o outro kithkin não fez a mínima questão de acordar do seu sono.


Ao se aproximarem da fechadura gigante, eles retiraram com cuidado o extrato de luvalua e derramaram uma gota para ver a porta se abria. Houve um pequeno chiado de metal sendo derretido, porém não foi o suficiente. 
 

“Tente mais uma gota.”
 

Nada.
 

“Mais uma.”
 

Nada outra vez.
 

Na quarta tentativa, farto de ficar esperando, Nibb pegou o frasco e o arremessou inteiro na fechadura. Houve um estalo, o som de vidro se quebrando, metal derretendo e uma leve fumaça com cheiro acre que subia ao ar. Mas por fim, eles estavam livres. Apesar do pequeno susto, rapidamente eles abriram a portinhola e começaram a correr. Mas o que eles não perceberam era que o cheiro infame subiu até as narinas do gigante que se ergueu subitamente, sem entender o que estava acontecendo. Sua pisada assustada fez o solo tremer e o grupo saltitar.

 

 

Enquanto o gigante tentava compreender o que estava acontecendo ali, os quatro correram para fora da cova, em direção ao campo aberto. Eles pareciam formigas desesperadas fugindo de uma criança com fogo. Assim que o gigante compreendeu que havia perdido seus serviçais, ele começou a perseguição deles através do campo. As quatro pequenas figuras estavam quase que sem fôlego quando, de repente, do meio da floresta, surgiu uma figura inesperada. Um elemental enorme, com a pele esverdeada.


Asp mal conseguia acreditar em seus olhos que, por um momento se esqueceu do gigante atrás dele, e apontou para o grandioso elemental.
 

“Vejam, é Alternância!”
 

“Esqueça isso, corra pela sua vida!” Gritou Dayan.
 

Então, algo inesperado aconteceu.


O elemental pareceu ter percebido a situação e correu em direção ao gigante e, para surpresa de todos, ele se avolumou e começou a crescer até ficar do tamanho do gigante. E não foi somente seu tamanho, mas sua forma que ficou diferente.

 

 

O colosso caminhou ignorando o pequeno grupo e indo diretamente ao encontro do gigante. Os dois começaram uma luta que fazia a terra se erguer de suas raízes. Quando perceberam que o gigante cessou sua caçada para combater o metamorfo, os quatro pararam para recuperar o fôlego e presenciar a luta colossal, todos olhavam com espanto e alegria, todos menos Asp.


O pobre kithkin estava arrasado. Aquilo que ele acreditava que havia sido algum evento místico, na verdade não passou de uma ação de um metamorfo. Todas as suas esperanças de alguma mudança ocorresse em sua vida ou no mundo ruíram diante dos seus olhos. A face da derrota estava estampada em seu rosto. 
 

“Isso não está certo. Eu o vi e aqueles que o vêm sabem que com sua aparição mudanças se seguem.Todo esse tempo eu corri atrás do vento.”
 

Seu mais novo companheiro, Dayan, sentiu a aflição de seu companheiro. Ele colocou a mão no ombro dele e disse pacificamente:
 

“Talvez algumas mudanças necessitem mais de ações internas do que eventos externos. Veja tudo o que você conseguiu realizar e como você, de alguma forma, conseguiu se conectar comigo e dois papões mesmo sem a trama-mental”


O jovem kithkin lançou um sorriso opaco para Dayan e acenou em concordância. Sim, de fato parece que Asp havia progredido durante sua aventura de tal forma que nem ele havia percebido. Ele percebeu que não precisava da trama-mental para fazer parte de um povo ou grupo e que, mesmo sem ela, ele ainda conseguiria interagir com os demais.
 

Olhando para Asp, e com medo que agora ele partisse repentinamente, o papão o lembrou de sua promessa.
 

“Pele branca não partir. Amigo de nós, ainda ajuda a construir nossa cabana.”
 

Asp deu uma gargalhada alta e os quatro partiram daquele local, deixando o gigante e o metamorfo brigando enquanto eles se dirigiam para o brejo para terminarem a cabana.


Parece que a final de contas, é verdadeiro o que o Livro dos Amigos e da Família diz “aquele cuja vida é abençoada encontra as soluções para todos os problemas no momento certo.”

 

Leandro Dantes ( Arconte)
Leandro conheceu o Magic em 1998 e, desde então, se apaixonou pelo Lore do jogo. Após retornar a jogar em 2008, se interessou por lendas, o que resultou por despertar a paixão pela escrita. Sempre foi mais colecionador do que jogador e sua graduação em Pedagogia pela Ufscar cooperou para que ele aprimorasse e desenvolvesse um estilo próprio. Autor de alguns contos, todos relacionados ao Magic, já traduziu o livro de Invasão e criou sua própria saga com seu personagem, conhecido como Arconte.
Redes Sociais: Facebook
Comentários
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- 25/12/2016 23:43:10
Tá aí um Lore que sempre quis saber mais, na verdade, de Theros para trás, nenhum deles foram tão bem difundidos quanto são hoje
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