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Magic Artificial
Design de cartas feito pelo RNN.
Por
22/12/2016 14:00 - 5.422 visualizações - 6 comentários
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Olá pessoal da Ligamagic, este é o meu segundo texto aqui para o side, e continuarei com meu assunto favorito: design de cartas.É muito bom criar nossas próprias cartas ou pegar algo que gostamos e misturar com Magic; e existem muitas técnicas que podemos utilizar para ajudar a sistematizar esse processo de criação de uma coleção, a própria Wizards ensina bastante sobre a forma que eles mesmos fazem.


 Espalhadas pela internet, existem muitas coleções e baralhos de fãs a que podemos ter acesso (eu mesmo tenho duas que eu fiz e jogo com elas, pretendo apresentar no futuro), deixo como exemplos duas das mais famosas:
 

- Coleção de Magic com tema de Star Wars.

- Três baralhos com tema de Star Craft.

 

Mas no artigo de hoje vou falar sobre criação de cartas abordando um tema que está cada vez mais em alta, a inteligência artificial. Criar uma carta é um processo um tanto subjetivo, não sabemos muito bem-dizer o que é preciso ser pensado para isso, temos que estar inspirados, usar criatividade. Por isso é estranho pensar em programar um computador para criar algo, mesmo que seja normal os programarmos para fazer contas, executar processos complexos ou até jogar xadrez muito bem. Que algoritmo poderíamos inventar para que um computador criasse algo novo? Isso só seria possível se o computador pudesse fazer algo para o qual não foi diretamente programado.


Acredito que uma das grandes revoluções da tecnologia esteja acontecendo atualmente, em que inspirados por uma propriedade do algoritmo evolutivo, estamos passando a criar tecnologias sem compreendê-las. Nos últimos anos, começamos a fazer algoritmos que produzem coisas novas, fazem algo para o qual não foram programados. O que implementamos é algo como aprendizado e treinamento, e o computador simplesmente desenvolve capacidades. Um grande passo para a Inteligência artificial. Quero falar hoje de um pouco de processo criativo e apresentar o computador que cria cartas de Magic, seguindo um algoritmo deste tipo.

 

Este computador é uma RNN (recurrent neural network), rede neural recorrente. Basicamente, é uma rede que processa informação, inspirada nas propriedades dos nossos neurônios (que na rede são nós ligados por suas sinapses, ou módulos lógicos interconectados), que funciona com base em loops que processam e arquivam informação por meio da constante ativação de padrões na rede. Uma RNN é programada para receber um input externo, como um banco de dados, “processá-lo”, e então agir sobre regras preestabelecidas (como jogar um jogo) orientada por uma programação de reforço ou punição, para que possa aprender com a experiência, alterando os parâmetros da rede com suas repetições. A rede é capaz de jogar consigo mesma sem se cansar, ou processar continuamente cada vez mais informações a respeito do que deve saber, melhorando seu desempenho a cada dia. Então alguém resolveu dar a uma destas o texto de todas as cartas de Magic e colocá-la para criar cartas novas!


Agora, se tentarmos mesmo entender o que se passa conosco na hora de criar algo, poderíamos chegar a algo parecido com: nós relacionamos memórias a respeito do que queremos criar, nos baseando no que já experienciamos antes sobre aquilo, combinamos coisas que “soam” bem, apoiando-nos naquilo que é normal ser visto ou no que gostamos. Uma RNN consegue fazer isso! Ela sabe quais coisas aparecem juntas e a frequência das coisas que aparecem. Ela pode saber que uma mágica de dano vai ser vermelha, ela pode saber qual custo é normal para que uma criatura tenha baseada em seu poder e em sua resistência. O que “soa” bem para ela é o que existe mais, são os padrões que mais se destacam na história das cartas de Magic. Então, ela é capaz de recombinar tudo isso de uma forma que soe bem e criar cartas e até habilidades. Ela não precisa saber nem inglês e nem as regras do jogo, só “ver” as cartas. Vocês concordam que o processo criativo pode ser replicado com processos deste tipo? Quando temos epifanias ou entramos em um estado criativo, estamos apenas em uma condição de recombinar muito bem informações guardadas em nós, de forma concordante com os padrões que já gostamos, que fazem sentido. A medida de gosto da RNN é baseada em frequência, ela não vai fugir do padrão. De vez em quando nós fugimos, e concordo que não é só isso que compõe nossa criatividade no final, mas este é um importantíssimo passo.


Vamos discutir alguns exemplos de cartas, de forma a entender melhor o trabalho do programa. A RNN é colocada para processar as cartas e vai criando suas cartas continuamente; no começo cria coisas terríveis, mas à medida que os dias passam, ela é capaz de produzir cartas muito interessantes. Existe um perfil de twitter, chamado RoboRosewater, que apresenta “cartas artificiais” nos diferentes estágios de criação:

 

Ela cria o nome das cartas e todos os atributos pertinentes ao jogo, mas não faz nem imagens nem flavour texts. Eis dois exemplos das primeiras fases, em um deles o programa ainda está tentando entender como produzir as frases, em outro ele claramente ainda não entendeu o que é permitido fazer no jogo:

 

 

Abaixo, temos mais dois exemplos em uma fase um pouco melhor, agora ele já faz cartas compatíveis com o jogo, mas ainda não se ajeitou na colorpie. Esta habilidade de não deixar bloquear com mais de uma criatura não casa bem com a cor branca, que se beneficia com habilidades para criaturas pequenas. E não é sempre que vemos um goblin tão forte, ainda por cima nestas cores, o oposto do que um goblin é:

 

 

Agora, em uma fase mais avançada, vemos cartas bem mais interessantes. O hipnotista lembra muito a carta de máscaras de mercádia, Waterfront Bouncer, somente o fato de poder devolver terrenos para a mão de forma contínua pode ser um problema para o seu power level. Já o cavaleiro é uma carta muito boa, com um grande poder, mas sem ser quebrada. Acho comparável com a carta Enlightened Tutor, a habilidade é mais restrita e a busca não é em velocidade instantânea, além do custo ser maior, mas é uma criatura muito relevante. Ambas as cartas têm um bom design e estão em boa comunhão com a color pie:

 

 

E também alguns exemplos de cartas que apresentam habilidades novas, uma bem estranha que acrescenta um novo poder aos mana dorks, a outra é bem legal e está em uma carta muito divertida, com um ótimo design. Notem que os nomes das habilidades são variações grosseiras de habilidades que já existem, então aqui podemos ver uma possível limitação da RNN. Mesmo assim, isso poderia ser consertado, por exemplo, com uma melhoria específica no código da RNN:
 

 

A capacidade do programa de nos surpreender com sua criatividade é muito alta, acho particularmente fascinante a ideia de que boas ideias podem surgir de uma “mente” artificial. Mesmo as cartas menos bem feitas podem ser usadas como uma boa fonte de inspiração para nós mesmos termos ideias melhores ou as executarmos melhor. Aqui estão duas que servem muito bem a este propósito, um counter com bom flavour que poderia ter somente seu custo aumentado em 1, por exemplo, e uma carta hilária de um gato que dá ímpeto aos pássaros:

 

 

Por fim, mostro mais uma que é a minha preferida, gosto tanto dela que produzi uma proxy para jogar no meu cubo. Esta é a versão que eu fiz pra usar:

 

 

Acho que a RNN acertou muito com o nome, o tipo, o power level e a diversão que é usar a carta. Sob o ponto de vista do design, alguém poderia criticar que a carta tem um combo em si mesma, o que pode ser um pouco deselegante, forçado. Mas acho que a maneira com que isso foi feito não chega a forçar o combo, a carta é chata de um jeito legal, e permite ser usada como uma pequena quest dentro do jogo, evoluindo seu estado.

 

Ao mesmo tempo em que é tão animador pensar nessas novas capacidades da tecnologia e nesta nova forma de enxergar a inteligência artificial (já temos também exemplos de programas desse tipo que escrevem histórias e o programa, AlhpaGo, que derrotou os maiores mestres do mundo no jogo mais complexo que temos, o jogo chinês Go), é de se pensar também em coisas tenebrosas que podem estar nos aguardando no futuro. A neurosciência avança com cada vez mais força e está nos revelando cada vez mais reprodutíveis artificialmente; as redes neurais utilizam-se de poderes explorados pelo nosso arranjo cognitivo. Segundo uma perspectiva evolucionária, nossas criações têm o potencial de nos suceder na história evolutiva de dominação do ambiente em que vivemos, e quem sabe aprender com nós mesmos como tratar aqueles considerados subjugados. 

 

Podemos considerar mesmos problemas mais realistas, como a substituição de nossas capacidades pelas deles. Se até mesmo a criatividade está sendo domada, o que podemos afirmar que não será? Enquanto esperamos, nós que adoramos Magic, temos a chance de apreciar as cartas feitas por eles e em breve também será normal jogar com eles. 

 

Enfim, qual é o sentimento de vocês ao vislumbrar as novas capacidades dos computadores? Ficam felizes pelo seu crescente poder em nos ajudar, ou temerosos pelo seu crescente potencial para o poder?

 

 

Comentários
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- 25/12/2016 22:41:31
Quando tiver um pc q faça esse tipo de coisa, provavelmente não será usado p isso kkkkkkk.
Viria p os jogos dps de ser carne vaka em assuntos militares, governamentais etc...

Mas acho q seria o ultimate da computação a criação de inteligência artificial de vdd. Criativa e consciente.
(Quote)
- 25/12/2016 22:04:42
Quando tiver um pc q faça esse tipo de coisa, provavelmente não será usado p isso kkkkkkk.
Viria p os jogos dps de ser carne vaka em assuntos militares, governamentais etc...

Mas acho q seria o ultimate da computação a criação de inteligência artificial de vdd. Criativa e consciente.
(Quote)
- 23/12/2016 14:26:30

Gosto muito dessa área de pesquisa e imagino a capacidade de criação que elas tem seja enorme, mas minhas dúvidas (e não tenho prioridade no assunto, mas é só uma forma de continuar esse debate) é que por mais inputs que você alimente será que ela conseguiria criar um set novo por exemplo? Com uma temática diferente das já criadas? Será que seria viável comercialmente ter uma RNN que fizesse isso? São coisas que fico imaginando.

Em relação a erros grotescos acho que sempre acaba passando uma carta que a principio não é um problema, porém acaba sendo "quebrada" por algum pro. Já existe alguma RNN que faz esse serviço de analise de combos? De criação de decks? Como já disse é um assunto que eu acho interessante pra caramba e se deixar fico viajando e não termino meu serviço aqui

(Quote)
- 23/12/2016 14:06:42

Primeiramente, ótimo texto meeeeesmo.
Então, tipo, a questão é que nós humanos também "precisamos" de inputs externos... Basta ver que a ferramenta criativa que mais usamos é inspiração, como citado no texto, usamos memórias, experiências, coisas que gostamos para modificar e criar algo novo. Eu estudo Aprendizado de Máquina e digo: Elas ainda estão um tanto limitadas, essa RNN que faz cartas de magic mesmo nem é a coisa maaaaaaaaais avançada que ta rolando na área atualmente... Mas o potencial que elas tem de criação é tão forte ou ainda melhor do que o nosso e a tendencia é que as máquinas melhorem cada vez mais. Se ela começar a "estudar" o jogo, as mecânicas, analisar partidas, enfim, receber dados cada vez mais refinados, creio que a máquina tenha capacidade de criar coisas de forma mais efetiva que nós, e praticamente nos livrando de erros grotescos que geraram cartas idiotas, tipo Dig e Treasure Cruise

(Quote)
- 22/12/2016 18:06:36
Ótimo texto, parabéns!
_______________________________

Creio que não. Por mais que o computador aprenda a fazer as coisas ele não tem "criatividade" por assim dizer, necessitando de inputs externos para gerar uma habilidade inovadora.

Aqui, ela tenta emular com "Tromple" e "Shrord", mas dificilmente criaria um nome "diferente" do que as palavras já carregadas no banco de dados.
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