Olá meus amigos e oi também para os jogadores de Pox, tudo tranquilo por aí?
O GP SP está bem próximo e pensei em fazer um artigo sobre preparação, como tenho feito desde o GP 2017(caramba, como passa rápido!), mas acho que vocês merecem algo mais direcionado ao competitivo do que algumas informações básicas que, podem sim ajudar, mas para jogadores mais experientes não vão servir muito.
Sim, vou bater na mesma tecla de que você precisa se preparar para um torneio para saber como operar durante as decisões difíceis, mas diferente de um Coach quântico, não vou gritar no seu ouvido que você é FERA ou te dizer que é só acreditar que a melhor jogada vem, não, isso é coisa pra te vender curso Masterclass.
Suas jogadas fazem toda diferença sim mas existe um conceito que eu considero extremamente equivocado que é o de “jogadas erradas”. Claro, não dar um Empurrao Fatal na criatura que vai te matar é errado sim, mas no geral é tudo muito abstrato. Como existem muitas linhas de jogo, a jogada “errada” para você só é errada seguindo seus argumentos e estilo de jogo, enquanto para outras pessoas a sua jogada errada é a correta, também baseado em seus próprios motivos. O que temos é um universo de jogadas onde as coisas “funcionam” e “não funcionam”.
Se sua mão inicial tem um Raio, você pode decidir entre jogá-lo em uma Aves do Paraiso, ou não, tudo vai depender do que você sabe sobre como a partida funciona, não existe errado ou certo aqui, agora, se você decide dar o Raio em você mesmo e passa o turno(ok, sei que é absurdo), isso sim é uma jogada 100% errada.
Linhas diferentes têm diferentes resultados, para o bem e para o mal.
Informação é uma das coisas mais escassas numa partida, então é fácil dizer que o fulano jogou errado quando você está de fora e têm informação completa sobre o deck e mão dos jogadores, enquanto o Player A e B devem se basear apenas em conceitos abstratos de decklists e do que pode ser as mãos um do outro. E justamente por isso, o blefe pode cair como uma luva se solidificando como uma jogada que passa uma informação “clara” para o adversário, quando, na verdade, é o contrário e isso faz com que o oponente jogue “errado”, favorecendo sua mão e estratégia.
As jogadas “erradas” são feitas com alguma noção. Se você sair da jogada usual, deve se ter um motivo para isso. Como disse com a jogada do Bolt na Birds, você pode matá-la ou não, mas o motivo de cada uma das linhas deve ter justificativa.
Você finalizou a criatura no seu primeiro turno para impedir o oponente de rampar e estar sempre com a curva na frente da sua, ou você guardou o removal para uma criatura que te atrapalha mais, como uma Thalia, Guardia de Thraben ou um Marinheiro Espectral, muito mais importantes de se tirar da mesa, seja turno 2 ou 10, que uma Birds inofensiva.
Mas tenha em mente que a sinalização de uma jogada, ou abstenção da mesma significam algo para o oponente, e é relevante entender a linha de pensamento dele depois de fazermos(ou não)nossa jogada.
A maneira mais fácil de trickar seu oponente é quando se tem cartas reveladas. Seja por um Capturar Pensamento, Faccao Vendilion ou após uma Extracao Cirurgica, quando o oponente sabe sua mão(ou parte dela pois você comprou algumas cartas depois) você tem a desvantagem de estar revelado mas a vantagem de dar uma certa segurança para ele, acreditando que vai conseguir especular seus próximos passos.
Imagina que você abre com essa mão contra um oponente de Shadow, faz Floresta, Buscar pelo Amanha e passa.
Ele abre de Thoughtseize e resolve tirar a Centaura-cacadora de Crufix que é seu business.
Ao longo de dois turnos você compra um Castelo de Pontegaren e um Pacto do Invocador, e para esconder os draws, você faz a montanha + Busca Longinqua Turno 2.
O adversário tem a opção de passar com Negacao Persistente de pé em seu segundo turno, mas como o que ele sabe da sua mão é irrelevante para o Denial, ele faz Purgar Pensamento + Pescador Grumag, para pressionar.
Você simplesmente volta, faz o Castelo + Pacto para Tita Primordial e vence a partida na volta.
Aqui você fez sua jogada óbvia, escondeu o payoff e o conjurou no momento certo, mas o jogo muda na linha de pensamento do adversário: Como ele sabia grande parte do conteúdo da sua mão, pressionar era melhor que arriscar deixar um Denial à toa de pé.
Neste caso, a jogada “correta” dele de pressionar se torna a errada e a errada de deixar o counter de pé seria a melhor opção.
Como podem ver, certo e errado não têm uma linha muito tênue, pois consideramos a jogada do Shadow errada no geral, mas não consideramos que era a correta apenas com a decisão sabendo o conteúdo completo da mão do Valakut, e não uma fração do inteiro.
Essa conversa sobre informação me lembra uma jogada bem interessante que ocorreu na última LPL, aqui em Campinas. Eu estava jogando de Splinter Twin no Legacy(lista maravilhosa do Ganev), fui para a câmera e aconteceram coisas interessantes, vamos para a análise.
Pra você acompanhar exatamente minha decklist e entender meu pensamento, tá aqui as 75 que usei:
Fui para a câmera na segunda jogada, o link da transmissão total é esse aqui você pode conferir os jogos nessa marcação de tempo:
G1:01:24:00
G2:01:36:58
G3:01:54:20
A jogada que quero comentar se passa na marcação 02:03:48, onde eu já havia feito uma Extracao Cirurgica em uma Tempestade Cerebral vendo Forca de Vontade, Suplica aos Anjos, Espadas em Arados, Floresta Tropical Nebulosa. Ele tenta fazer o Entreat mas utilizou a Fetch UW para uma ilha então, mesmo com Astrolabio de Arcum não tinha 3 brancas para o custo normal do milagre. O juiz avisa isso e ele volta a mágica para a mão. No turno seguinte eu conjuro uma Vendilion Clique no passe que me revelou: Forca de Vontade, Suplica aos Anjos, Mago da Conjuracao-relampago, Conhecimento Acumulado e eu, erroneamente, escolhi o Snapcaster, para continuar batendo com o meu voador.
Eu tinha algumas escolhas nessa Vendilion, cada uma resultando num jogo diferente, elas eram:
● Tirar o Snapcaster e tentar anular o Entreat com minha Força da Negação com FoW de backup, tirar a kill condition principal dele e seguir o jogo procurando meus Okos e Chandras para finalizar.
● Tirar o Entreat, deixando-o sem finalização, e ir para o long game no grind, onde eu era desfavorecido no card advantage e card quality mas tinha mais cartas de alto impacto.
● Tirar o Conhecimento Acumulado e obrigá-lo a jogar sem card draw.
Escolhi a primeira opção. Se minha Fon resolvesse o Entreat seria anulado, então o Santuario Mistico não teria como recorrê-lo mesmo que fosse anulado por algo que não exile, além do fato de que a Vendilion tinha me dado a informação de que ele tinha a Fow e o Pitch, mas eu tinha mais counters. O que aconteceu depois foi o que tornou minha decisão, que no meu ponto de vista era o correto, errada…
Eu havia visto uma Misty Rainforest na mão dele, e por algum motivo eu acreditei que fosse uma Praia Inundada, que daria a terceira branca necessária para conjurar o Milagre da mão. Ele seria tentado em fazer a Súplica com uma FoW + Pitch e também porque qualquer fetchland o voltaria para o topo. Mas como eu confundi as fetchlands, ele não conseguiu fazer a mágica no turno correto que queria, dando tempo para ele comprar mais proteção enquanto eu comprava vento. No momento que ele resolve fazer a Kill condition eu acabo perdendo a counter war, ele resolve o Entreat pra 1 e faz uma Fetch habilitando o santuário, eu acabo perdendo o jogo por ter se estendido demais onde eu acreditei que seria mais curto.
Aqui a informação me deu confiança demais de que ele faria uma jogada X, a qual eu já tinha resposta, e uma ironia do destino onde ele fetchou errado com a primeira Fetch UW, inabilitando-o de fazer o Entreat na hora correta(para mim) faz com que o jogo se estendesse e minha linha virasse a jogada errada.
É a prova de que jogadas “corretas” nem sempre são a melhor opção, assim como o que parece errado pode se tornar certo. Uma jogada errada da parte dele(estourar a primeira fetch uw e não buscar uma planície apra garantir WWW para o entreat) fez com que meu jogo sucumbisse pela demora do jogo.
Nunca se esqueçam disso: Suas jogadas devem ter uma linha de raciocínio por trás, não existe “raio porque sim” ou “Quis fazer esse Brainstorm agora”, esse tipo de jogada sim é errada, enquanto as outras podem te levar à diferentes direções de jogo, incluindo quando você usa o poder do blefe.
Não apenas no Grand Prix, mas sempre que forem jogar Magic, utilize uma junção entre conhecimento do seu deck, do oponente e de como a partida é jogada para suas decisões, te garanto que a jogada “correta” virá mais vezes do que antes e os jogos vão parecer mais “previsíveis” já que você segue um pensamento só e não sai por aí distribuindo raios, só não se esqueça de jogar numa velocidade razoável para não empatar atoa! hahaha.
Até semana que vem meus amiguxos!
De verdade, fico muito feliz com as palavras, ce não sabe como é gratificante ler uma coisa dessas!
É engraçado esse lance de 1 jogada mudar nosso torneio inteiro. Já fiz 0-6 por causa de jogadas erradas(errei no round 1 e depois comecei a pegar matchups horrendas) e já abri muito bem em torneios por causa de um pequeno erro adversário.
Como jogo de uw no t2, modern, e pioner [ e se tivesse 4 force jogava no legacy ], pra mim é normal pensar até demais. Mas legal a parte que você disse que nada é absoluto. Gosto de usar um exemplo de como ganhei o pre de Theros novo de uw stoneblade fazendo 4x0, na primeira enfrentei um deck de balance e só ganhei pq o cara zicou feio, aí ganhei as outras 3 que foram peleadissimas [ ganhei a última na melhor de 3 e no 5 turno dos ultimos 5 lol ]. Aí penso se eu perdesse a primeira, podia ter perdido as outras 3. Isso é o legal do magic e o ruim ao msm tempo!
ps: Cara queria muito apertar sua mão no gp e agradecer por trazer tanto conteúdo bom para nós. Brigadão cara