Referência é uma posição difícil. Ser aquele em que os outros vão se espelhar, aquele que todos usarão como exemplo, que será o nome lembrado quando excelência for o tema.
Essa é pra mim a definição do Hall da Fama do Magic. Jogadores que são a referência no jogo, que são o melhor exemplo do que o Magic tem, e quando falo isso penso em resultados, mas também em atitudes, eu não gostaria de ter como exemplo desse jogo que tanto amo alguém tóxico, por exemplo. É como se todo HoF fosse um embaixador e sempre espero que o embaixador seja o melhor representante possível.
Ano passado eu tive a oportunidade de participar da votação do Hall da Fama e foi uma experiência bem legal pesquisar sobre diversos jogadores, seus resultados, suas contribuições para o Magic e claro, sua história no jogo. Esse ano eu terei novamente essa chance, além de ser uma honra receber esse convite novamente da Wizards of The Coast, é legal ver novos nomes e poder estudar mais ainda sobre o jogo e escolher quais candidatos mais me agradam.
Para que serve o Hall da Fama?
O Hall da Fama do Magic: The Gathering foi criado em 2005 para reconhecer os melhores jogadores da história do jogo. Além do prestígio de ser eleito, os membros do HoF tem direito a algumas regalias, as principais são: vaga para eventos profissionais (isso será melhor definido a partir dos novos eventos de 2020) e BYEs em Magic Fests.
A lista dos elegíveis para este ano está logo abaixo, sendo que para ser elegível é preciso estar a pelo menos 10 anos no circuito profissional, ter mais de 150 Pro Points Lifetime e pelo menos ter jogado no último dia de Pro Tour por duas vezes. Lembrando que os brasileiros Paulo Vitor Damo da Rosa e Willy Edel são membros do Hall da Fama.
Como Funciona?
Diversos jogadores profissionais e um colegiado da Wizards e de convidados é chamado a votar nos candidatos, todos têm direito a 5 votos, sendo que os candidatos que aparecerem em mais de 60% dos votos, são eleitos.
A lista dos elegíveis esse ano:
Akira Asahara
Samuel Black
Lukas Blohon
Nico Bohny
Marcio Carvalho
Patrick Cox
Andrew Cuneo
Jeremy Dezani
Javier Dominguez
Reid Duke
Chris Fennell
Ivan Floch
Justin Gary
Christophe Gregoir
Mark Herberholz
Yoshihiko Ikawa
Tsuyoshi Ikeda
Masashiro Kuroda
Joel Larsson
Matt Linde
Marijn Lybaert
Tom Martell
Guillaume Matignon
Pascal Maynard
Andrea Mengucci
Brad Nelson
Jamie Parke
Chris Pikula
Andrejs Prost
Carlos Romão
Tomoharu Saito
Eduardo Sajgalik
Thiago Saporito
Mike Sigrist
Geoffrey Siron
Matthew Sperling
Yuuta Takahashi
Sebastian Thaler
Gerry Thompson
Gabriel Tsang
Craig Wescoe
Kentaro Yamamoto
Ken Yukuhiro
Meus Votos
Meus critérios para votar são quantidade de top8s em Pro Tours/Magic Fest, o quanto e ajudou sua comunidade e “ficha limpa”. Basicamente eu prefiro votar em jogadores que passem por todos esses critérios, até porque os jogadores que mais admiram e estão no HoF tem essas características e eu não gostaria de indicar alguém “pior” para fazer companhia à essas embaixadores do jogo.
Para esse ano Saito e Duke são disparado os melhores em questão de Pro Points, o japonês inclusive tem mais pontos do que o americano e já até foi eleito para o HoF uma vez, mas acusações de trapaça e um ban tiraram dele essa condecoração. Saito é um caso complicado, ele é um dos jogadores mais icônicos do Magic, sendo um mestre do aggro e foi de uma geração brilhante de japoneses que quebrou o metagame, Kenjin Tsumura e Shota Yasooka são alguns desses jogadores, mas as várias acusações de trapaça mancham o currículo de um jogador brilhante. Zen Takahashi, pro player asiático, escreveu ano passado, na ocasião da candidatura de Lee Shin Tian sobre como os americanos ao não compreenderem algumas ações preferem chamar os outros de chaeaters e esse foi o pilar para eu ver com outros olhos as candidaturas de asiáticos e ter votado em Lee Shi Tian. Eu também aplicaria isso no caso do Saito, até porque já vi o japonês jogando e meu deus, é algo de outro mundo, mas também já vi de perto uma situação “shady” onde ele era acusado de trapaça e infelizmente não é o que quero para o Magic.
Reid Duke
Já sobre o Americano, o voto nele foi fácil, bons resultados, uma produção de conteúdo invejável e uma carreira marcada por trabalho duro e a ascensão merecida. Izi Bizi.
Carlos Romao Mike Sigrist
Aqui eu tive um embate interessante, eu gosto muito do modo de jogar do Mike Sigrist e dos seus textos, ele fala exatamente sobre a preparação e como pensou cada uma de suas escolhas, e eu me interesso muito por esse passo-a-passo, no geral meu voto seria em parte pelos resultados e em parte pela produção. Mas se vou falar de alguém com 3 top8s de Pro Tour, eu não posso ignorar “quem foi rei e nunca perde a majestade”, Carlos Romão, vulgo Jabiano. Ser campeão quando Finkel e Budde estavam no auge não é fácil, ser campeão vindo de um país que não tinha nenhum suporte é mais complicado ainda, e depois voltar, para fazer top8 em outro Pro Tour e ir muito bem na MPL, Jaba tem credenciais muito boas e tenho certeza que se tivesse mais um top8 de Pro Tour (no próximo MC, eu acredito!) ele estaria lockado no HoF, mas ainda briga por espaço e entre ele e Sigrist será o voto que definirei apenas aos 50 do segundo tempo.
Brad Nelson
Ainda no clube dos 3 top8s temos Brad Nelson, que já era elegível ano passado e não passei nem perto de votar. O que mudou? Brad fez um ótimo resultado em um Mythic do Arena e principalmente, expandiu sua produção de conteúdo, que já era ótima e agora conta com o podcast Brash Bros Podcast, com Brad, Brian Braun-Duin e Corey Baumesiter, a expansão de seu conteúdo, junto com mais resultados e se mantendo sempre constante é pra mim um bom motivo para votar nele.
Chris Pikula
Entender porque votei no Chris Pikula ano passado e votarei de novo esse ano é entender que o MTG tem característica únicas em sua comunidade. O grande problema que vejo em diversos jogos não são os jogadores em si, mas na cultura do jogo que torna a trapaça uma questão de habilidade e não de ética. Você rouba se consegue, se é pego, você precisa ser melhor. E sse “melhor”fica ambíguo, ele pode significar “jogar melhor e abandonar a trapaça” ou “trapacear melhor”. Magic era assim nos seus primórdios, a cultura do cheating existia forte nos altos círculos. Mas algo aconteceu e mudou tudo isso. Pikula aconteceu. Lá no começo eu falei da importância de ser a referência, e Chris Pikula era uma das figuras mais importantes do jogos em seus primórdios e ele levantou a importante bandeira de que cheating não era legal e que todos deviam se sentir lesados por isso, mais do que isso, ele começou a escrever sobre maneiras que você podia usar para evitar cheatings conhecidos, por exemplo pedindo para o seu oponente embaralhar olhando para você, mas o mais importante é a cultura que começou a ser criada, que Magic era sensacional quando jogado apenas na habilidade e que se você foi trapaceado não é porque você é burro, mas pela desonestidade do seu oponente e que todos tinham que se sentir incomodados com isso, ele não estavam roubando só um, mas todo o torneio e a comunidade. Magic mudou com isso, claro que chegamos ás vezes a extremos onde uma caça às bruxas pode começar, mas ainda sim, MTG tem bem menos cheaters porque um dia alguém usou a imagem e influência para ter um jogo melhor para todos.
Gerry Thompson
Outro que era elegível ano passado, mas que mudou e agora merece meu voto. Em tudo existe discurso e existem atitudes. Você pode ter um discurso radical, mas na hora colocar algumas coisas na balança e fazer uma atitude não tão radical. Mas Gerry Thompson por duas vezes alinhou fala e ações e chamou atenção para problemas que considerava graves. Durante o Worlds de 2018 ele anunciou minutos antes do evento começar que ele estava dropando do torneio e publicou um manifesto com diversas críticas à WotC. Com o começo da MPL ele fez a mesma ação, novamente criticando tudo o que estava acontecendo e usando o momento que tinha de visibilidade para apontar coisas que deviam mudar. Gerry Thompson apontou coisas que muita gente já discutia, mas usou uma ótima maneira para tal ação.
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Esses devem ser meus votos (com a situação Sigrist/Jaba ainda a ser resolvida), votar para o HoF tem sido uma honra e um momento bem legal de conhecer o jogo.
Quais seriam seus votos?
Até mais,
Rudá
No mais, ótimo artigo Rudá, como sempre bem elaborado.
Claro, no final tudo se resume a isso (HoF é um exemplo a ser seguido) resultados + integridade + comunidade... Assim sendo substituiria facilmente o Nelson pelo Jaba. 3 PT. O primeiro Bicampeão mundial, físico e online, diversos GPs, Streamer, Lojista e, agora, Noivo!
Jabaiano é o campeão do povo, saca? Venceu quando sequer cartas pra comprar aqui no Brasil a gente tinha, ganhando diversos mirrors de togão... Aí depois de um tempo afastado voltou e venceu outro mundial. Sem sequer comentar sobre o quão humilde é. Ano passado na BGS ele estava no Stand do MTG ARENA e muitas pessoas paravam ali só pra dar um alô, e foram ficando... Eu mesmo fiquei horas demais por lá (Jabaiano, Carol Moraes, Manowar, Café com Magic, Sakura Pronta, UmMotivo, Cabrito Montês... Só gente divertida e ainda esqueci o nome de alguns) só batendo papo... E não porque a feira não estivesse interessante, tava muito, porém o pessoal do MTG que me fez querer voltar esse ano.
Provavelmente por ter começado em 1996 que eu tenho essa visão do caso, acompanhei períodos bizarros daqui, e vi o quanto os brasileiros já se esforçaram pra chegar lá. Justamente por isso votaria também no Saporito. Na época dos Regionais eu me lembro de nunca vencer uma partida contra o Thiago ou o Dante, e em todos os que fiz Top 8 eles já tinham vaga pro Nacional.
Vou parar por aqui que esse comentário tá quase virando um artigo...
Só gostaria de jogar essa luz... A quantidade de americanos no HoF não é coincidência, alguns cheaters flagrantes chegaram lá na base do apoio comunitário. Assim sendo, se eu pudesse, votaria nos brasileiros sem olhar pra trás.
Abraços,
Engov
Acho que Duke é uma unanimidade de conceito entre players. Merece demais.