Esse artigo é o primeiro de uma longa série de três artigos que vou escrever sobre o RUG Delver. A série vai contar a história do deck e sua formação; o ápice e a decadência; e por fim, seu retorno triunfal, tudo isso numa coletânea digna de uma epopéia homérica. Apertem os cintos!!
Toda vez que falam comigo sobre a década passada, eu me lembro de 1994 e o Brasil virando tetra. Felizmente estou ficando velho (odeio xóvens), e já posso falar que há 22 anos, quando eu conheci o MTG e era um moleque cheirando a peido, um doidinho chamado Alan Comer inventou um conceito de deck chamado de Turbo-Xerox, que foi o tataravô dos decks tempo de hoje em dia. O Orelha fez um artigo sensacional sobre ele, que você pode encontrar aqui.
A idéia básica por trás da construção do deck é que para cada DUAS cantrips você pode cortar UM terreno do deck. Diferentemente dos outros decks da época, que floodavam com mais freqüência em razão do alto numero de terrenos (principalmente os controles), esse deck sofria bem menos com isso, pois selecionava seus draws com mais eficiência, através Portent e Impulse.
Essa idéia básica persiste nos decks tempo de hoje em dia, que abusam do princípio de menos terrenos e mais mágicas, buscando uma otimização do deck através de cantrips, ou seja, através de seleção de cartas. Sabe aquele velho problema de comprar a metade errada do deck? Então, é isso que esse tipo de deck tenta evitar.
Por mais que o pacote de criaturas pareça estranhamente bizarro para os xóvens de hoje em dia, o tempo passou, as criaturas melhoraram e o deck evoluiu, nas mãos do mesmo criador.
A adição foi a Quirion Dryad, como uma forma de capitalizar o grande número de cantrips e spells do deck, através de uma criatura mais eficiente que aquelas do Turbo Xerox. Com isso, surgiu o bisavô do RUG Delver, que foi batizado de Miracle Grow.
Uma olhada atenta vai revelar que esse deck tem vários elementos dos decks tempo atuais. O primeiro deles é pacote de free counters: Daze, Force of Will e Foil. Essas mágicas eram importantíssimas nesse deck, pois propiciavam a conjuração bem cedo de uma ameaça, que ficava protegida sobre o manto desses counters, sem que houvesse a necessidade de mana aberta, para tanto, típica manobra de garantia de tempo advantage. O segundo elemento que lembra os decks tempo atuais é a presença de cantrips, na forma de Sleight of Hands, Gush e Brainstorm em conjunto com formas eficientes de se livrar dos terrenos devolvidos para mão, seja através de Foil, seja através de Brainstorm, essa ultima forma já bastante conhecida dos jogadores de hoje em dia.
Além desses dois elementos, a habilidade de controlar o desenvolvimento da mana do oponente com Winter Orb, é a precursora das formas atuais de controle de mana, exercidas com cartas como Stifle e Wasteland. Claro, Stifle não existia ainda, mas Orb sempre foi bastante sinérgica com Daze e nesse deck fez um ótimo trabalhado limitando os recursos de mana dos oponentes.
E por fim, mas não menos importante, o deck era cheio de criaturas eficientes e com evasão, que completavam o pacote de ameaças sinérgicas e de baixo custo, para a época. Algo familiar?
O tempo passou novamente, novas cartas foram lançadas e o avô do RUG Delver surgiu como a nova geração dos decks baseados na regra do Turbo-Xerox.
Ora, cantrips e free counters sempre foram bem eficientes em encher o cemitério. Com o lançamento de Werebear, que é um Goyf antes da Deca Durabolin, e do lindíssimo Nimble Mongoose (que é jogado até hoje) o deck se voltou para a mecânica de threshold e apareceu no top 8 do GP Houston, em 2002, com um splash para branco e um nome ainda mais esquisito de Super Grow, pilotado por Bem Rubin e Brian Kibler.
Em 2005, esse mesmo deck deu as caras no top 8 do primeiro GP Legacy da história, pilotado por Lam Phan e Bem Goodman, com uma versão minimamente atualizada, usando fetchlands. Isso mesmo! Se você estiver pensando o mesmo que eu estou pensando, foi nesse momento que Brainstorm virou nosso Ancestral Recall.
Além da excelente função de shuffle que as fetchlands produziam (e ainda produzem), elas filtravam o deck, pois retiravam um terreno de dentro dele e colocavam em campo, e ajudavam a encher o grave, o que é excelente nas estratégias voltadas para threshold. Nimble Mongoose se tornou a criatura definitiva do deck, ao lado de Werebear que em conjunto com as cantrips rapidamente se transformavam em criaturas 3/3 e 4/4, respectivamente, pressionando o total de vida do oponente de forma bastante eficiente.
Em 2007, Future Sight apareceu e com ela o retardo mental em forma de criatura. Tarmogoyf, vulgo Tarmoboi, rapidamente ocupou seu lugar nas listas Treshold do Super Grow, tanto que no Legacy da GenCon do mesmo ano, a lista vencedora foi o pai do RUG Delver, abaixo, pilotada por Peter Olszewski.
Ok, eu sei que esse sideboard parece estranho e muita gente deve estar pensando no Miracles. Mas acredite, em um mundo sem Abrupt Decays, num deck com criaturas eficientes, counters baratos e estratégia de mana denial funcionando a todo vapor, o combo de Sensei’s Divining Top e Counterbalance era a cereja do bolo que selava a vitória.
Ainda, nesse mesmo evento, David Caplan levou para o top 8 uma lista parecidíssima, mas com vermelho para algumas burn spells:
Como ela apareceu no top 8 pilotada por um Canadense, David Caplan e, da mesma forma, estava sendo pilotada por outro canadense, Lam Phan (o mesmo cara que fez top 8 de Super Gro citado lá atrás), essa lista começou a ser chamada de Canadian Treshold.
Sem contar que a adição de Stifle, em combinação com Wasteland, criou uma forma de controlar a base de mana do oponente muito mais eficiente que Winter Orb. Até porque Stifle sempre teve várias outras aplicações no jogo, aplicações que Winter Orb jamais teria.
Em outras palavras, essa lista de 2007 exibiu uma combinação quase perfeita de mágicas baratas, free counters, mana denial e criaturas eficientes. De quebra, foi turbinada com burn, para completar os pontos de dano restantes para matar o oponente, quando ele conseguisse lidar com todas as criaturas do deck.
Ainda, com Lorwyn lançada em 2007, Ponder chegou para substituir Portent ou Opt de maneira definitiva, no slot de cantrips, e passou a ocupar a cadeira dos titulares ao lado de Brainstorm. Esse deck permaneceu firme no metagame até melhorar ainda mais em 2011. Como dito, em 2011 com o lançamento de Innistrad, Delver of Secrets, tomou de assalto o Legacy. É fato que Delver é simplesmente a ameaça mais eficiente já criada, desde que
dentro de um deck tempo com muita mágica instantânea e feitiço, por isso, no mesmo ano de seu lançamento passou a integrar o deck com quatro cópias, sem espaço para negociação na quantidade.
Como o bichinho azul foi amplamente adotado por todos que jogavam com o deck, o nome Canadian Threshold foi deixando de ser usado em favor do nome mais simples dado de forma genérica a todos os decks que usavamm Delver of Secretes: Delver Decks. Como esse especificamente tinha a combinação das cores R, U e G, ficou conhecido como RUG Delver. Behold the King:
É isso, o rei está posto. A combinação perfeita de mana denial, cheap countermagic e criaturas eficientes, turbinado por cantrips, estava montada. Foi um longo caminho percorrendo essa arvore genealógica desde 1997 e várias transformações aconteceram até chegarmos nesse deck em 2011.
Uma coisa é certa, esse caminho de geração em geração foi extenso mas não foi em vão. Basta imaginar 2011 com um metagame sem Deathrite Shaman, sem Abrupt Decay e com uma única remoção eficiente de CMC 1, que era Swords to Plowshares, que dá pra concluir facilmente que o RUG Delver nadou de braçada no Legacy por um bom tempo. E antes que você tente me lembrar que já existia Raio, eu digo uma coisa: Raio não mata Goyf!
Mas isso são cenas do próximo capitulo.
To be continued....
Apesar de ter conhecido o jogo em 1997, eu parei em 1999 e voltei a jogar somente em 2012. Logo, tive que pesquisar a história do deck para escrever artigo Como eu sei que você quer ter certeza da minha fonte, ainda mais em época de fake news, segue a relação dos artigos que usei como fonte para esse meu:
Primeira parte de um primer excelente sobre o deck.
Que me remeteu a esses dois outros, também excelentes:
Não deixem de conferir, pois são fonte de muita coisa boa.
Que massa! Alguns decks tem uma história interessante de formação. Com o RUG em alta de novo, achei que valia a pena revisitar. Vlw man!